14 de nov. de 2009

As Horas


The Hours. EUA, 2002, 116 minutos. Drama.

Indicado a 9 Academy Awards, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz Coadjuvante (Julianne Moore) e Melhor Ator Coadjuvante (Ed Harris). Venceu por Melhor Atriz (Nicole Kidman).
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As Horas, na minha opinião, é um dos melhores filmes da década! Não posso de mim mesmo furtar o prazer de começar a resenha com essa frase, pois ela faz jus à excelência do filme. Lembro-me que há muito tempo, quando ainda não era ligado às premiações nem tinha muita noção a respeito das obras de respeito no circuito cinematográfico, eu o peguei na locadora. Ao conferi-lo, considerei-o bom. Recentemente, eu revi essa produção e meu conceito mudou: creio tratar-se de uma ótima obra!

O filme é uma adaptação do livro homônimo, escrito por Michael Cunnigham. As vidas de três mulheres, que vivem em épocas diferentes, são mostradas ao espectador: a primeira delas, em 1923, é Virgina Woolf, escritora renomada que está escrevendo um romance; a segunda, em 1941, é Laura Brown, dona-de-casa que tenta preparar uma festa de aniversário pro marido, mas, devido à leitura do livro de Virgina Woolf, não consegue se concentrar naquilo que quer; a terceira, em 2001, é Clarissa Vaughn, que vive a história narrada no livro Mrs. Dalloway. Dessa maneira, temos num único filme a junção de três magníficas personagens, duas delas fictícias e uma real. O entrosamento entre elas, embora não vivam juntas, é totalmente perceptível e é esse elo um dos fatores que, provavelmente, fizeram do livro uma obra que se apresenta muito bem nas telas. Um dos nossos parceiros na blogosfera, Kau Oliveira, elaborou uma lista - de caráter pessoal, que fique claro! - a respeito das 10 melhores adaptações da década, que vocês podem conferir clicando no link. As Horas tem um lugar de honra no TOP 10 dele.

Não somente eu, mas muitos cinéfilos cultuam esse filme exatamente pela grandeza dele: as atuações são realmente boas, a direção é fantástica, o roteiro é ótimo; tudo parece se encaixar com facilidade em As Horas. Acho muito complicado falar a respeito, porque, por mais que eu elogie, ainda ficará aquém do que o filme merece. Stephen Daldry, em seu segundo filme, realizou de novo uma compsição muito boa, mesclando três personagens bem diferentes, sem fazer com que elas se misturem de forma errada. As opções do diretor por longas tomadas nas quais focaliza o rosto da atriz, seja ela pensando ou prestes a explodir de alguma maneira, acrescenta todo o pesar que o filme necessita para nos fazer compreender as emoções que cada uma delas sente. A edição, muito eficiente, permite que conheçamos aos poucos, um pouco de cada uma delas; como as cenas são rápidas, nos mostrando o suficiente da situação, não nos cansamos de uma personagem, nem percebemos nitidamente se há destaque mais para uma do que para outra, embora, logicamente, saibamos que é a atriz em papel principal e quem são as secundárias. E é sobre elas de que falarei no parágrafo seguinte.

Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep. Três fabulosas atrizes num único filme, interagindo, ainda que não de maneira direta, e mostrando aos espectadores o quão forte pode ser uma produção dominada pelas mulheres. Se em seu primeiro filme, Daldry mostrou o preconceito por trás de uma opção tomada, aqui ela mostra o universo feminino, com as forças e fraquezas. Meryl Streep, atriz veterana, que nessa mesma edição do Oscar, por Adaptação, concorreu com sua parceira Julianne Moore, é aquela cuja atuação menos nos empolga. Isso quer dizer que ela atua mal aqui? Não, não. Pelo contrário! No entanto, algumas passagens são um pouco monótonas e nós sentimos dificuldades em compreender a sua personagem, que, mesmo estando num relacionamento, apega-se de maneira cruel a um outro, submetendo-se a dor alheia, mas que, por amor, se torna a sua própria. Julianne Moore, num papel secundário, torna-se vibrante aos nossos olhos em todos os momentos em que aparece, o que justifica totalmente a sua indicação ao prêmio da Academia. Desde sua primeira aparição, ela nos surpreende, mostrando que está determinada a nos fazer acompanhar atentos as decisões de sua personagem, que, na minha opinião - e também na do Kau, que listou as 10 Melhores Coadjuvantes da Década -, é definitivamente uma das melhores atuações em papel secundário já visto. Se você ficar em dúvida ao longo do filme se a atriz mereceu ou não a indicação, na cena final você certamente saberá que pouquíssimas atrizes poderiam lhe ter tirado o prêmio das mãos - Catherine Zeta-Jones, por Chicago, conseguiu a proeza! Nicole Kidman, mascarada literalmente sob uma personagem muito complexa, nos apresenta aquela que eu considero uma das melhores de sua carreira e também da década. A atriz não se submeteu somente à mudança física para compor uma escritora cuja vida é desestruturada; submeteu-se, sobretudo, a uma mudança psicológica, o que interfere na sua atitude, na sua voz, na sua postura e, principalmente, na maneira como nos consegue fazer ver as coisas através de sua perspectiva. Excepcional a cena da estação, uma das mais densas do filme, na qual Virgina e Leonard discutem a respeito de vários assuntos, inclusive da vida. Nesse trecho, ela solta uma das frases mais marcantes de toda a obra, que, querendo ou não, se aplica a todas as personagens.

E nesse mundo de mulheres, surge Ed Harris, um escritor com AIDS, antiga paixão de Clarissa Vaughn. Ainda que apareça pouquíssimo em cena, uns 15 minutos, no máximo, Harris realiza um trabalho muito bom, alternando drama com consternação sem soar pedante, incoerente. A maquiagem acrescenta aquilo que falta ao tom do personagem; juntas, atuação e maquiagem, o personagem está completo e muito bom. Quero afirmar que não estou, embora pareça que sim, fazendo marketing pro Blog do Kau Oliveira, mas eu confio bastante no gosto cinematográfico dele e sugiro, postando mais uma vez o link, que vejam a presença de Ed Harris na lista dos Melhores Atores Coadjuvantes que o Kau fez. Estou me estendendo demais e, assim, o Renan ficará sem espaço para dizer o que pensa. Mas, ainda quero ressaltar algumas coisas: a fotografia do filme é excelente. Podemos observar a qualidade dela. Gosto muito de uma cena na qual vemos Laura Brown observando o marido ir trabalhar. O enquandramento é tão fabuloso que nos vemos a personagem exatamente como ela vê sua vida: como se um vidro a separasse do mundo rela. O mesmo se pode dizer da cena em que Virginia contempla o pássaro morto, captando a preocupação dos outros para com o animal e percebendo as mudanças que seguem à morte.

Considerando tudo isso que falei até agora, eu sugiro que vocês confiram o filme. Vejam-no com empenho, pois é um filme que merece todo o nosso carinho. Sugiro também que vejam a entrega do prêmio à Nicole Kidman, pois é um vídeo interessante e está disponível no youtube. Espero que eu tenho conseguido fazer com que compreendam o quanto gosto do filme...

Luís

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As Horas está na minha lista de filmes que eu recomendo. Poucas vezes vi As Horas está na minha lista de filmes que eu recomendo. Poucas vezes vi um filme tão inteligente, tão bonito e tão bom. A estória se passa em três tempos diferentes e mesmo que pareça um pouco confuso, quando se entra no ritmo do filme, o longa se torna claro.

Já pelo elenco feminino principal temos três nomes de peso: Nicole Kidman que interpreta Virginia Woolf que está escrevendo seu livro Mrs Dalloway. Nesse parte temos um visual campestre muito bonito que combina com a solidão e depressão que a escritora está sofrendo. Há também elementos fortes nessa etapa como a maquiagem de Nicole Kidman (que nariz é aquele ?) o figurino e o próprio cenário juntamente com uma boa fotografia. A segunda integrante é Julianne Moore que faz um papel incrível e com certeza mereceu a indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante. O ano em que ela vive é 1951, e de acordo com o ano temos aquela visão de família de pote de margarina onde todos parecem felizes, mas isso não ocorre com ela. Sua interpretação é tão boa que faz o telespectador sentir a angustia da vida dela tendo que levantar, cuidar da família, fazer a comida e dormir. É ela que faz uma das cenas mais bonitas do longa que é quando ela está deitada no quarto do hotel e entra toda aquela água no quarto. Lembrando que a ligação dela com a primeira, é que sua personagem Laura está lendo o livro escrito por Virginia. Das três, Julianne Moore fica com o menor tempo em tela, mas mesmo assim ela consegue ser mais marcante que a terceira parte do elenco feminino: Meryl Streep. Particularmente gosto bastante da atuação de Meryl Streep mesmo tendo visto poucos filmes dela. Sua personagem é Clarissa, que em 2001, vive a estória do livro. Clarissa se mostra uma mulher forte, e livre dos preconceitos, já que vive um relacionamento lésbico com Kitty, interpretada pela Toni Collete (do ótimo Pequena Miss Sunshine). Clarissa tem também uma forte ligação com o personagem masculino de mais destaque do filme que é Richard, interpretado por Ed Harris. Richard mostra toda a conturbação de um escritor em crise que está quase morrendo por conta da AIDS. O que mais chama a atenção é a capacidade do diretor (que também dirigiu O Leitor) de juntar todos esses núcleos diferentes e torna-los tão próximos. Claro que há uma ligação entre eles, mas com o decorrer do filme, tive certeza que as personagens principais não são unidas apenas pela estória do livro. Há uma ligação incrível entre elas que eu não consigo explicar. Não há como não indicar As Horas, pois é um filme muito, muito bom e que vale a pena ser conferido.

Renan

9 opiniões:

Ricardo Martins disse...

E agora, será que sou o único que não gostou desse filme? Achei tão chato, lento... As atuações para mim sobressaem no filme. Nicole incrivelmente fantástica na sua transformação para o personagem!

Mas espero não ser o único a não gostar!

ABRAÇO

Rodrigo Mendes disse...

Caras,

é um ótimo filme e vocês fizeram um excelente texto.

São 116' de filme? sério?

Fiquei entorpecido que nem vi as Horas passarem. Bato palmas para o trio feminino - Meryl, Julienne e Nicole.

Abs!

Roberto Simões disse...

Concordo absolutamente, tanto com o Luis como com o Renan, que fizeram excelentes textos, parabéns. É um filme extraordinário. Um dos melhores da década, sem dúvida! Como digo na minha crítica: «'As Horas' é um ensaio magnífico, tão lúgubre quanto a própria morte, sobre a busca da felicidade no tempo... quando esta não vive senão na inquietude do instantes presentes». 5*

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema

Macaco Pipi disse...

VI DUAS VEZES!
MUITO BOM O MODO COMO CONTAM A HISTÓRIA!

Cristiano Contreiras disse...

Um filme marcante, totalmente único realmente. É assombroso observar Nicole Kidman com olhar, voz e postura de corpo encarnando a escritora atormentada Virginia Wolf, é impressionante seus trejeitos e forma de atuar.

Julianne Moore, concordo, concretiza uma personagem que é difícil esquecer: mas, mesmo assim, apesar do tom vibrante - eu acho Velma Kelly de Zeta-Jones mais intensa, mais versátil e mais sensacional, premiar a Catherine, talvez, tenha sido mais a solução, até porque ela dificilmente ganhará outro oscar na vida.

Meryl Streep é sempre Meryl Streep!

Este filme é um dos meus de cabeceira! Pra todo sempre.

Bom post!

Ps, apesar da 'estreia' formal por Billy Elliot(que, por sinal, é outro belíssimo filme!) - Stephen Daldry - que é meu diretor favorito...sim, é...- ele fez, antes, o longa "Eight" de 1998.

Abraço pros dois, sumidos!

Fotograma Digital disse...

Um dos melhores filmes da década

Marcelo A. disse...

Cara, eu vi "As Horas" no cinema e até hoje me lembro de como saí da sala: extasiado. Extasiado pela história, que é ótima, mas, sobretudo, pela atuação dessas três atrizes que, pra mim, são das melhores de todos os tempos. Em relação ao Stephen Daldry... putz, o cara dirigiu Billy Elliot! Ali já dava pra ver que vinha coisa muito boa pela frente...

Luís (ou será o Renan que vai ler dessa vez?! Uahahhahaaaaa!), eu me aventurei a escrever sobre Cinema lá no blog e gostaria que você desse uma olhada. Pode ser?

www.marcelo-antunes.blogspot.com

Te espero lá! Abração!

Luís disse...

RICARDO: Tenho alguns colegas quue também não gostaram do filme, mas eu considero As Horas um filme muito bom. Acho que o filme tem um ritmo lento, mas essa característica combina com a estória e Nicle Kidman realmente está perfeita ali.

RODRIGO: Sim, são quase duas horas de filme, mas parece mesmo que o tempo passa bem mais rápido. O trio feminino é espetacular, as três estão ótimas.

ROBERTO: Nossa, sua reflexão é bem profunda. Como leigo apenas achei o filme muito bom e também acho que está entre os 10 melhores da década. Valeu pelos elogios.

NOVA QUAHOG: Concordo que o modo como contam a estória é o que diferencia o filme. Muito bom mesmo.

CRISTIANO: Ainda estou em dúvida sobre Julianne Moore ou Catherine Zeta-Jones. Gostei das duas. Nicole Kidman nem parece ela e, como você bem disse, Meryl Streep é sempre Meryl Streep. Tenho muita curiosidade de ver Billy Elliot, pois o diretor Stephen Daldry parece só fazer filmes bons como esse e O Leitor.

FOTOGRAMA DIGITAL: Concodo.

MARCELO: Minha sessão teve menos glamour pois assisti em casa, rs, mas mesmo assim tive a mesma impressão que você. Os comentários sobre Billy Elliot estão me deixando curioso. Pode deixar que passaremos lá. Valeu!

Renan

CJ disse...

na minha opinião, um dos melhores filmes que já fizeram pq conta com grandes nomes do cinema e atuações muito boas
as três atrizes estao ótimas com grande destaque pra irreconhecível Nicole kidman que ficou bonita, mesmo que não esteja como é. Juliane Moore fez um trabalho dos melhores e aquele oscar tinha que ser dela, sem dúvida.
Catherine pode nunca mais ser indicada e talvez por isso deram o oscar pra ela, mas foi meio injusto isso ppq julianne tava mto melhor