Crazy, Stupid, Love. EUA, 2011, 118 minutos, comédia. Diretores: Glenn Ficarra e John Requa.
O roteirista e os diretores conseguiram transformar uma história singela em diversão com qualidade absurdamente superior a das diversas comédias românticas lançadas anualmente.
Ao ver notícias sobre esse filme, duas coisas rapidamente me passaram pela cabeça: “quero vê-lo”, pois no elenco está a belíssima Julianne Moore, atriz cujo trabalho eu admiro bastante, e “não quero vê-lo”, pois no elenco também está Steve Carell, um ator que, até essa atuação, ao meu ver, só esteve em uma obra interessante, que é Little Miss Sunshine. Se o visse e o achasse ruim, eu teria pouco a perder, então decidi conferi-lo.
E sorte que o fiz, porque a história é cativante e a sua singeleza envolve o espectador na desventura amorosa de Cal Weaver, um homem que, após ser deixado pela esposa, que revela tê-lo traído, ele se sente tão frustrado que passa a beber todas as noites num bar enquanto conta o seu problema amoroso. Lá conhece Jacob Palmer, um jovem bem sucedido que conquista todas as mulheres e que é, efetivamente, a representação da masculinidade. Palmer, então, decide ensinar Weaver a se valorizar e a recuperar a auto-estima, tornando-o, então um homem bastante seguro, o que, na verdade, não modifica o que ele ainda sente pela ex-esposa e nem faz com que ele deixe de se envolver em algumas confusões, principalmente quando ao seu redor estão o seu filho adolescente que é apaixonado pela babá, a babá que é apaixonada por ele (por Cal) e a ex-esposa, que o ama, mas que já não consegue se manter nem longe nem próxima dele.
Quando penso nas comédias românticas, penso sempre no arquétipo das situações-problemas que é apresentado. Dificilmente vemos algo que seja diferente de uma modelo já consolidado: o problema inicial, os conflitos pessoais que seguem humoradamente e, por fim, a solução com a união do casal principal. Crazy, Stupid, Love consegue justamente se afastar disso ao tornar os personagens e situações mais verossímeis, mais palpáveis e menos fantasiosos. Os problemas enfrentados por Cal e Emily são reais e os dois lidam com isso de forma real. Interessante notar a preocupação de Dan Folgeman, o roteirista, em não torná-la monstruosa – ela é simplesmente uma mulher que não consegue mais estar num relacionamento que não a motiva a continuar. Cal, por sua vez, por ter estado exclusivamente com Emily, não encontra em outra mulher razão para se envolver. Personagens completamente compreensíveis, bastante naturais e, sobretudo reais.
A somar, há mais a dizer sobre os personagens. Basta pensar no título principal para termos uma idéia do quanto as pessoas retratadas nessa filme são complexas: elas vivem momentos de loucura (abandonar um casamento de mais de vinte anos, tornar-se garanhão de repente), momento de estupidez (o modo como agem sovinamente, degradando a convivência em função de mesquinharias pessoais) e, indubitável e principalmente, momentos de amor – isso se verifica em todos os personagens e nas diversas relações vistas: amor conjugal, paternal, fraternal; mesmo entre Cal Weaver e Jacob Palmer se vê uma relação se amizade intensa, a qual, embora se abale – a estupidez aí –, não morre. Esse panorama da complexidade comportamental dificilmente é apresentado em outros filmes de comédia, que se limitam a personagens planos em situações unilaterais.
O lado cômico do filme se encontra basicamente nas personagens de Ryan Gosling, o qual, aliás, está bastante sedutor, e em Hannah, interpretada por Emma Stone. É claro que existem muitos momentos em que o humor se evidencia, podemos vê-lo claramente na personagem de Marisa Tomei, cuja participação é pequena, mas garante entretenimento. A escolha por intercalar momentos dramáticos e momento cômicos foi certa, isso evitou que o filme ficasse carregado, seja num gênero ou no outro – é interessante, sobretudo, perceber que a linha que separa o drama do humor é muito tênue: basta observar, por exemplo, as cenas nas quais Emily e Cal conversam no jardim, quando ela comenta que foi assistir Twilight, e quando eles saem da reunião com Kate, professora ex-alcoólatra do filho deles.
Acredito que outro fator positivo seja a dedicação dos atores. Todos estão confortáveis, mesmo Kevin Bacon, que é meio canastrão, se encontra à vontade na sua personagem. Os destaques vão evidentemente para Julianne Moore e Ryan Gosling, ambos enriquecem o filme com a sua presença. Muitas comédias são lançadas, mas poucas trazem consigo um bom elenco, um roteiro conciso e atrativo, uma direção eficiente e, ainda, um desenvolvimento – este ligado principalmente à direção – que percorre duas horas sem se deixar afetar pelos pequenos defeitinhos que existem ao longo de toda obra. Trata-se de um filme que diverte e se faz notável dentro do gênero.
É um filme bom mesmo, achei interessante tb q o filme trata os personagens como devem ser tratados, adulto como adulto, adolescente como adolescente e criança como criança. Não subverte isso, achei realmente louvavel, não por ser tradicionalista, mas por mostrar q muitas vezes as coisas devem seguir sua ordem natural. Abração!
ResponderExcluirTeu texto está excelente, meu caro, parabéns! concordo. É uma obra boa mesmo de se ver, afinal os personagens são tratados com respeito, bem humanos e não são superficiais - ainda que o filme não seja assim tão inovador, claro. Mas, agrada e é interessante, há momentos que podemos até refletir, pois as situações são bem próximas da realidade, como disse. E gostei muito de Moore neste filme, além de Gosling que é um ator muito criativo na interpretação. abs
ResponderExcluirUma belezinha de filme, né? Foi uma grande surpresa para mim, já que só fui ao cinema conferir por conta da Moore.
ResponderExcluirMuito bom!