Brasil, 2011, 109 minutos, drama. Diretor: Marcus Baldini.
Uma obra que consegue manter a sua sobriedade no argumento e que consegue mostrar uma interpretação satisfatória de Deborah Secco, que, de algum modo, desmistifica a personagem Bruna Surfistinha.
Uma obra que consegue manter a sua sobriedade no argumento e que consegue mostrar uma interpretação satisfatória de Deborah Secco, que, de algum modo, desmistifica a personagem Bruna Surfistinha.
Não duvidei em momento algum que o livro escrito por Raquel Pacheco em 2005 viria a se tornar um filme. Vários temores me ocorreram: quem seria a intérprete, como o filme seria estruturado, como seria a sua composição final etc. Aí, no meio de 2010, a notícia de que Deborah Secco ficaria responsável por interpretar Raquel (a pessoa) e Bruna (a personagem) e não soube exatamente se me sinto confortável ou desconfortável.
Não vou me estender na história do livro, já que ele é biográfico e relata a história de Raquel, que saiu de casa aos 17 anos decidida a tornar-se garota de programa e, assim, enquanto prostituta, fez sucesso, conquistou clientes, conseguiu um bom dinheiro (e também o desperdiçou com drogas). Imaginei que o argumento do roteiro se aproveitaria de situações mostradas no livro e também faria uso de situações não expostas lá e pode-se dizer que é mais ou menos isso que aconteceu.
Antes de falar a respeito do por que acho que esse seja um filme bem sucedido, quero explicar o meu medo anterior e também expor o contraponto à minha posição a seu favor. É difícil não olharmos para Deborah Secco e pensar que o filme fará sobretudo uso de sua imagem antes de fazer uso de sua capacidade como atriz. O fato de ela estar dentro de um padrão de beleza que agrada à maior parte da população masculina, somado ao fato de que ela, nesse filme, interpreta uma prostituta, poderia ter servido como desculpa para que, em vez de desenvolverem a personagem com base na sua vida, nas suas experiências e nas situações pelas quais ela passou – isso, evidentemente, abordando o sexo também –, poderia ter sido feito da mulher sensual que Deborah representa, explorando assim muitas cenas de nudez que pouco acrescentassem à trama. E, felizmente, não é isso que acontece e, de certo modo, verifica-se inclusive o oposto disso: as cenas de sexo parecem mais ligadas à destruição física e moral do que à sensualidade do ato. E isso, como se nota ao longo da trama, é um ponto positivo.
Quanto ao contraponto, a respeito do qual não me estenderei muito, penso que seja algo no encadeamento da história. Embora o roteiro se esforce para criar uma personagem verossímil, existem algumas coisas no encaixe das cenas e mesmo na composição do roteiro que soam estranhas, havendo muitas quebras de expectativas ao longo da trama. Essa oscilação constante faz com que a dinâmica do filme se perca, pois temos sempre a impressão (sensorialmente, talvez) de que já passamos por uma determinada cena mais de uma vez. Por outro lado, a favor do roteiro e da interpretação de Deborah Secco, tenho a dizer que as duas personagens são muito bem distintas: Raquel Pacheco é de uma fragilidade notável enquanto Bruna, a Surfistinha, é muito obstinada. Percebemos que a fusão das duas na mesma pessoa é provavelmente o que mais dá funcionamento à trama, que mais faz girar a engrenagem dessa história. Não fosse essa distinção, decerto o enredo seria terrivelmente mais pobre e o espectador sairia do cinema muito insatisfeito. Já que isso não acontece: outro ponto a favor do filme.
Vale também apontar que não estamos diante de uma obra que escorra em muitos lugares-comuns. Não nego haver cenas bastante conhecidas, como aquela na qual Bruna faz uso do seu charme para convencer um policial a liberá-las da multa. No entanto, Baldini conseguiu dar algum charme aos elementos clichês da trama, suavizando-os. E também não estamos diante de uma obra pudorada, que teme mostrar cenas de sexo; no entanto, também não estamos diante de uma obra que chama a atenção pelas cenas de sexo. Na medida certa, o diretor soube como dosá-las, com alterná-las e usá-las sem comprometer o filme ao torná-lo um chamariz para fãs de cenas de sexo explícito.
Honestamente, penso que se trata de uma obra nacional que vale a pena ser vista, principalmente pelos elementos que eu já disse acima e pela presença magnífica de Drica Moraes, que está ótima como a cafetina responsável pelo primeiro emprego de Bruna. A combinação Secco-Moraes rende boas cenas, nas quais ambas se destacam e chamam a atenção. Mais um desabafo honesto: penso que seja necessário mais filme como esse do que as tantas continuações de Se Eu Fosse Você.
Não dava um níquel para este filme até eu ser seduzido pelos comentários elogiosos. A figura Raquel Pacheco aka: Bruna Surfistinha continua apática e sem graça. Já disse inúmeras bobagens de sua vida de garota de programa a mulher bem sucedida e realizada que se contradizem. O filme não é nada disso. Ele tem uma direção esperta de Baldini que manipula a platéia com seu jogo na trilha sonora (por sinal excelente) e cenas necessárias de sexo que só provocam (pra que chocar?), drama e um tom de comédia (mostrando os clientes mais estranhos que Bruna atendeu). E, evidentemente, a atuação ótima de Secco que se entrega ao papel.
ResponderExcluirCreio que foi necessário apagar de seu cérebro a própria Raquel para poder fazer algo zerado e mais interessante. Juro que se fosse obra de ficção e não autobiográfico seria mais interessante, mas na verdade isso nem afeta o filme e pouco importa. Como eu disse, Baldini tem gosto cinematográfico e gostei do modo como ele segura a platéia.
Ótimo você expor os seus contrapontos, seu preconceito por pensar que só iriam vender a imagem de Deborah como a gostosa (ainda mais no papel que ela vinha fazendo naquela novela) e que por uma grata surpresa, você diz ter aprovado o bom aproveitamento dela como atriz, sim ela atua mesmo! Drica Moraes e a Fabíula Nascimento idem.
Só não entendi seu ponto de vista com relação a algumas passagens do roteiro. Acho o filme redondinho demais, bem linear. O que deu a impressão de Déjà vu na premissa, por exemplo? E o que isso afeta na construção da personagem. " Embora o roteiro se esforce para criar uma personagem verossímil." você diz. Não ficou de ótimo agrado a fusão Raquel-Bruna?
Ótima crítica Luís, talvez a mais confessional que li sobre este filme.
Abs.
Eu também gostei bastante. O filme é bem feito e tem excelentes atuações. Também prefiro uma obra como esta do que as detestáveis Se eu fosse você...
ResponderExcluirAbs.
O filme é interessante na primeira parte ao mostrar o início de carreira da personagem, como vc bem citou, a boa participação de Drica Moraes e as cenas de sexo bem filmadas e até ousadas se considerarmos que Deborah Secco é uma estrela de novelas.
ResponderExcluirA história se complica na parte final, quando o roteiro passa correndo pela vício da personagem, misturando com o glamour da vida na flat, esquecendo da violência e do lado negro da profissão.
É um filme mediano, mas ainda assim melhor do que eu esperava.
Abraço
Seu texto e os comentários me fizeram mudar minha opinião a respeito deste filme que ainda não assisti porque não me simpatizo com a atriz e a história de Bruna Surfistinha soava para mim como puro caça-níquel. Depois que ela participou de A Fazenda minha impressão sobre ela piorou, mas vou procurar ver o filme, afinal a história da ex-prostituta poderia muito bem ser idêntica a de uma americana, também chegaria aos cinemas e provavelmente eu assistiria. É um preconceito a ser vencido.
ResponderExcluirAproveito e deixo o endereço do meu outro blog. Abs!
http://cineinteresseespecial.blogspot.com