Contagion. EUA, 2011, 106 minutos, drama. Diretor: Steven Soderbergh.
A dose de realidade presente na obra é simplesmente assustadora e creio ser esse o elemento que mais chama a atenção do espectador.
Me lembro de que assim que comecei a ouvir rumores a respeito desse filme, ouvi que se tratasse de uma obra sobre zumbis. E achei curioso pensar no enredo, já que o elenco todo parecia destoar desse subgênero de filmes. E eu estava correto ao supor haver erro nesses boatos: a história aborda uma epidemia viral desconhecida, da qual se desconfia a origem, mas não se sabe muitas informações a respeito. A única informação realmente necessária é que a infecção é altamente contagiosa e que a busca por uma solução deve ser imediata.
Há uma série de filmes que abordam situações apocalípticas, mas a que se vê nesse filme é absurdamente assustadora. Por uma série de motivos, as populações se vêem lacradas em suas cápsulas governamentais, que são uma série de histórias ditas às pessoas com uma infinidade de razões. E, à primeira vista, não fôssemos nós observadores dessa história, poderíamos facilmente dizer que a doença apresentada no filme é, em suma, uma forma de criar o caos nos povos e, assim, colocá-los sob a proteção do Estado, tornando-os mais submissos às formas várias de pressão que se mostram na sociedade. Também, se não descobríssemos como tudo aconteceu, poderíamos suspeitar de ataques terroristas com armas biológicas, pois, não se pode negar, a questão política é extremamente relevante para grupos partidários a ponto de eles agirem com atitudes extremistas a fim de provar-se superiores.
A história assusta porque ela é real. Simplesmente por isso. Vemos a contaminação de várias pessoas e também vemos os dois lados presentes: o das populações, que clamam por ajuda, que esperam ser ajudadas e, no desespero, assumem estar abandonados ou pensam que não é dada a eles a devida atenção; e o lado dos cientistas, que buscam lidar com as dificuldades de um elemento danoso que eles não conhecem e, a somar, com o modo com a qual cada notícia deve ser divulgada, de modo a não causar mais caos do que aquele que já se vê nas ruas. A tensão conflituosa do filme se dá nesses dois âmbitos e assim vemos as situações, por exemplo, de Mitch Emhoff (Matt Damon) e sua família e de Alan Krumwiede (Jude Law), que representam a questão social, e de Dr. Ellis Cheever (Lawrence Fishburne), Dr. Leonora Orantes (Marion Cotillard) e Dr. Erin Mears (Kate Winslet), que representam o posicionamento científico.
A obra está bastante longe de ser um retrato pacífico de um período conturbado. Vemos a todo momento situações de instabilidade, de denúncia, de crises e violência. O que se vê no filme é, em maior escala, aquilo que nós passamos em 2009, quando a chamada “gripe suína” aterrorizou as pessoas e, no caso do Brasil, impediu o funcionamento de escolas, de instituições públicas, e encerrou as pessoas em suas casas. Verifica-se, nesse filme, que, às vezes, nem ficar em casa é suficiente para evitar o contágio e, mais interessantemente ainda, todos podem se contaminar e sucumbir. Muitas cenas são cruéis no que mostram e o narrar com determinação temporal é ainda mais desesperador: a associação da doença e da morte com o tempo – sendo o número de mortos proporcional ao tempo passado – é tenebrosa e nos remete mais ainda à idéia da realidade bruta que estamos acompanhando.
Não nego que o elenco seja de peso, mas a força do filme não está nas atuações. Seu poder reside na sua crítica à irracionalidade humana e também no esforço humano – lembrando: o filme mostra os dois lados da mesma situação; vemos tanto os que combatem o caos quanto aqueles que, através do sensacionalismo, criam o desespero como forma de arrecadar com isso. Não nego, porém, que o elenco é fundamental para o desenvolvimento da obra, embora, penso, que os atores poderiam ser utilizados de uma maneira melhor dentro do roteiro, que, às vezes, simplesmente se esquece deles, como se vê facilmente com Marion Cotillard, que, a partir de um determinado momento, simplesmente some na trama e não lhe é dada qualquer atenção, sendo o seu final uma incógnita.
Não me estenderei no quesito atuação, porque realmente não está aqui a força do filme, ainda que os atores, de um modo geral, estejam cabíveis em seus personagens e não se destacam de modo algum negativamente. Se há aspectos ruins quanto a eles, decerto reside na direção ou no roteiro, mas não em seus trabalhos. Quanto à direção, aliás, é interessante notar que Soderbergh parece finalmente ter composto algo mais parecido com um “filme do Soderbergh”, como aqueles dois que vimos em 2000 – Erin Brokovich e Traffic, mais a esse do que àquele. Se ele voltou a criar bons filmes, que se mantenha assim, a fim de não desaparecer como fez na última década, na qual mal ouvimos falar dele.
Contagion é um filme um pouco extenso desnecessariamente, mas, ainda assim, consegue eficientemente transmitir sua mensagem, mesmo havendo nele algumas falhas e desvios que interferem numa apreciação máxima. O filme vale, no entanto, pela sua sobriedade e funcionalidade ao retratar a situação caótica à qual as pessoas são submetidas. E também vale, sobretudo, pela última cena, quando descobrimos o que aconteceu no Day 1.
1 opiniões:
pode ate ser um filme eficiente, mas pouco emocional, o q me distanciou da obra, q achei meio media, mas talvez a intenção fosse fazer um registro mais perto possivel do real.
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