26 de nov. de 2011

Eu e o Cara da Piscina


Brasil, 2011, 8 minutos, curta-metragem drama. Diretor: William Mayer.
Um curta-metragem absurdamente eficiente ao mostrar as vontades por baixo das aparências e tudo aquilo que, embora não dito explicitamente, existe de modo indubitável.

A primeira coisa que me chamou a atenção nesse curta-metragem foi o modo como as cores parecem ressaltar todas as informações que pretendem ser passadas ao longo dos oito minutos. Sinto que antes mesmo de falar da sinopse, devo comentar a importância das cores, e só então comentar que a história percorre o momento de encontro de dois rapazes que estão num clube aparentemente vazio e que acabam se envolvendo.

Poucas vezes dois elementos – a história e algum recurso fílmico – conseguem confluir de tal modo que é impossível desassociar um do outro. E é justamente isso que acontece nesse filme dirigido por William Mayer, no qual as cores são fundamentais para a intensificação da sensação que se busca fazer o espectador sentir. Outro elemento fundamental é o calor – embora não o sintamos efetivamente, podemos senti-lo sinestesicamente – justamente por causa do uso das cores quentes que têm destaque na trama. Impossível não assistir a esse curta e não querer estar junto com os personagens. E essa aproximação causada serve ainda mais como elemento intensificador, porque, pelo prazer do ambiente, parece querermos buscar também o prazer da companhia e assim nos irresistivelmente chegamos perto desses personagens, que partilham de um momento aparentemente único, devido à diversão que parecem ter.

 A confluência das cores com a simbologia representada no enredo.

Em contrapartida, penso que a edição falha ao tentar criar a dinâmica do filme. O ritmo aconteceria gradualmente somente pelos elementos presentes: trilha sonora, cores quentes (que estão inevitavelmente associadas à velocidade), o próprio ambiente, por se tratar de um clube e, teoricamente, em nenhum clube reside a monotonia. Por algum motivo que eu desconheço, optou-se por cenas rápidas, de cortes velozes demais, quase bruscos às vezes, e isso faz com que o espectador, que pouco a pouco se envolvia na história dos personagens, acabe tendo a atenção dispersada para outro elemento, que nem acaba se mostrando um recurso artístico muito positivo. Também, talvez, a busca pela sensualidade tenha sido meio exagerada: chegaríamos ao momento no qual o sensual – e, até então, já não lidávamos com o sensual (sentido)? – se sobreporia a qualquer outra coisa mostrada e, assim, caminharíamos personagens e espectadores num único sentido.

Quanto a essa questão da busca pela sensualidade, creio que ela causou algum problema aqui porque estamos lidando com uma câmera objetiva que mostra a subjetividade do pensamento de um personagem. A distinção entre objetivo e subjetivo não se fundem bem quanto o diretor parece querer nos obrigar a, assim como o personagem, sentir atração pelo outro personagem. Se estávamos quase chegando na interiorização de um personagem, logo isso se rompe com essas cenas. Mas, conforme a história se desenrola, isso acaba sendo retomado, sem maiores complicações. Ainda assim, o anticlímax criado é um pouco desfavorável.

De um modo geral, penso que esse curta-metragem seja realmente interessante, principalmente pelo efeito de mise em abyme que acontece no final e, mais ainda, pela abordagem do enredo, que mostra justamente tudo aquilo que um amigo sente em relação ao seu melhor amigo, mas que, por motivos muitos – que não cabiam ser explicados –, não podem ser ditos. E os atores têm participação importantíssima, pois eles realmente convencem ao propor que são amigos e, no plano da imaginação, podem também ser amantes. Vale a pena conferir.

2 opiniões:

Rodrigo Mendes disse...

Fiquei curioso. Gostei de sua descrição quase minuciosa do filme. É difícil escrever sobre curtas.

Irei conferir. Creio que será uma experiência sensorial interessante.
Ótima sugestão.

Abs.

Jean Douglas disse...

Preciso dizer que não gostei do curta. Só o prelúdio conseguiu quebrar todo e qualquer clima que pretendiam passar. E explico o porquê. A narração mais do que péssima de um dos atores, me deu a impressão de estar vendo um filminho amador. Os passos tensos, os olhares fixos e os movimentos, soaram - ao meu ver - muito falsos e coreografados. Não senti da parte dos atores entrosamento ou sequer a sensação de estar à vontade. A excitação do curta se encontra nas cenas retiradas de filmes pornográficos gays. Mas tudo isso se resume a uma coisa só... perspectiva individual. E a minha não foi favorável! :/