RU / Irlanda, 2011, 113 minutos, drama. Diretor: Rodrigo Garcia.
O filme, por si só não é muito interessante, mas a interpretação magnífica de Glenn Close faz valer a pena conferir a essa produção anglo-irlandesa.
O filme surgiu já com os boatos de que Glenn Close seria, mais uma vez, aplaudida pela seu trabalho cinematográfico pela atuação em “Albert Nobbs”, filme cuja temática é trabalhada em cima da crítica à falta de espaço decente dado às mulheres no começo do século na Irlanda. A atriz, que fora indicada cinco vezes na década de 1980 ao Oscar – mas que jamais ganhara –, surpreendeu ao auxiliar também na composição do roteiro e ao escrever a canção-tema Lay Your Head Down, a cuja letra foi agregada a melodia de Brian Byrne. A somar, Close também produziu o filme.
Todo esse empenho realmente indica que a atriz estava decidida a se fazer notar novamente no universo cinematográfico, de onde estava relativamente sumida, já que nos últimos anos estava quase exclusivamente dedicada à série de televisão “Damages”, da qual participa desde 2007. É justamente com Albert Nobbs – uma mulher que se traveste de homem para poder ter mais liberdade numa sociedade machista – que Glenn retorna ao cinema e, ainda, nos presenteia com uma belíssima interpretação, que, embora menor do que seus grandes feitos como “Atração Fatal” (1987) e “Ligações Perigosas” (1988), vale a pena observar.
A história se inicia e nós conhecemos a rotina de Albert Nobbs, um mordomo que trabalha no hotel da Sra. Baker, uma mulher que abusa dos seus empregados visando o maior lucro possível. Nobbs, que na verdade é uma mulher, sonha em abrir seu próprio negócio e poder tomar parte naquilo que acredita ser seu por direito: pretende casar-se, morar na sua própria casa, e, enfim, não depender mais do trabalho como garçom no hotel. Num momento desventurado, na companhia de Page, o pintor contratado para pintar uma sala do hotel, Nobbs se descuida e revela que é mulher, descobrindo, pouco depois, que o Sr. Page é, também, do sexo feminino.
Gleen Close e Mia Wasikowska dão vida a Albert e a Helen, interesse amoroso do "rapaz".
Praticamente, a história se divide em três linhas de ação, sendo que a primeira é aquela na qual conhecemos a vida de Nobbs e o seu comportamento sempre submisso a fim de evitar complicações maiores que o levariam a revelar seu verdadeiro gênero. A segunda linha narrativa é aquela que nos mostra o romance entre Helen Dorse, uma das empregadas, e Joe, um rapaz interesseiro, que quer ir para os Estados Unidos e, para isso, está disposto a tudo, inclusive se aproveitar da bondade de Albert Nobbs. Por fim, a terceira unidade de ação é aquela que nos leva ao conhecimento da vida de Page e é como conhecemos de onde advém o súbito desejo que Nobbs sente de ter um lar e viver como as famílias normalmente vivem. As narrativas principais são a primeira e a segunda, porque são elas que dão corpo à história, elas que fazem com que a história siga a trajetória que tem. Assim, tanto Glenn Close quanto Mia Wasikowska protagonizam a trama, sendo que os seus núcleos são extremamente importantes para a trama e são eles que trazem momentos de maior tensão emocional à história.
De um modo geral, o filme acontece de modo muito linear, quase previsível. Não há grandes surpresas no roteiro, não há nada que seja assombrosamente elogiável na história nem nada que fuja a um senso comum que parece predominar do começo ao fim. Enfim, não é pelo roteiro que o filme chama a nossa atenção, apesar de o trabalho de Glenn Close e John Banville não seja de modo algum desagradável. Talvez o momento máximo da história seja quando Nobbs e Page saem, pela primeira vez, vestidos de mulher, usando vestidos longos, relembrando-se da época em que eram efetivamente mulheres. Ainda que previsível, a semântica da situação é tão forte que inevitavelmente choca o espectador e traz consigo uma vaga de emoção muito forte.
As interpretações indicadas ao Oscar de Glenn Close e Janet McTeer.
Indicado ao Oscar pelo trabalho de maquiagem, não se pode negar que o esforço dos maquiadores é realmente notável, principalmente no que diz respeito à transformação de Glenn Close em Albert Nobbs, que é verdadeiramente incrível! A atriz ficou praticamente irreconhecível, tendo muitas das suas características modificadas, desde o cabelo até o formato do rosto, das orelhas, resultando numa mudança extremamente valiosa e fundamental para que o espectador creia mais na verossimilhança da história, que realmente alcança bom nível devido à maquiagem. Curioso notar a indicação de Glenn Close, sendo ela uma das várias atrizes que receberam indicações por atuar como uma pessoa do sexo oposto – Alberts Nobbs é uma mulher que se faz passar por homem; Bree, de “Transamérica” (2005), é um homem que pretende se transformar em mulher; Brandon Teena, de “Meninos Não Choram” (1999), é mulher, lésbica, que se passa por homem para namorar. Se Glenn Close ficou excelente transfigurada, Janet McTeer ficou assombrosamente feminina, apesar da altura (1,85m) – é impossível crer que as pessoas por tanto tempo a tomaram por homem.
Pode parecer que o filme seja bem comum, e acredito que seja mesmo. No entanto, toda a essência do filme reside na interpretação madura e muito bem focada da atriz principal, que consegue eficiente transpor em emoção tudo que o personagem sente, fazendo com que tudo aflore com extrema facilidade – mas não sem dor, já que há um incômodo persistente que trespassa a vida toda de Albert Nobbs. Glenn Close fez por merecer a sua indicação e, infelizmente, parece que concorre com atrizes em momentos mais “relevantes” pro cinema, como Viola Davis, duvidosamente cultuada por “Histórias Cruzadas” (2011), e Meryl Streep, com quem Glenn já concorreu duas outras vezes no passado.
Não fosse a criação eficaz de Glenn Close, o filme seria menor, quase banal o suficiente para que não lhe déssemos muita atenção. No entanto, garanto que vale a pena ser visto, senão por ele per si, pelo que a atriz tem a nos oferecer. E se trata de uma história emocional, mesmo que mais à paisana: sem exageros melodramáticos, a história transcorre bem, numa linearidade assistível.
2 opiniões:
Comentei a uns dias atrás aqui, Luis, mas acho que acabou dando algum erro no momento do envio. Quanto ao filme, eu ainda não vi. Estava até empolgado, mas por ver alguns comentários negativos acabei desanimando, mas agora volto a ficar curioso pelo mesmo. É o texto mais otimista que li sobre "Albert Nobbs",maleável até mesmo na hora de citar os defeitos do mesmo. Já admiro o trabalho da Glenn Close só pelas imagens e o comentário confirma essa supremacia que há na obra, dado por sua parte.
Abraço!
Glenn Close perdeu a chance de ouro dela. Como atriz, está ótima. Mas, como roteirista, estraga o próprio potencial de seu personagem. Se "Albert Nobbs" fosse mais intenso e menos previsível, certamente a veterana teria um grande desempenho. Está ótima, mas nada além disso.
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