4 de abr. de 2012

Oscar 2012 - Melhor Diretor


 
Michel Hazanavicius decidiu compor um filme de características bastantes ousadas: no terceiro milênio, século XXI, quem se interessaria por uma obra em preto e branco e, como se isso não bastasse, silente? Pois é exatamente “O Artista”, obra estruturada conforme os aspectos técnico-artísticos dos anos 1920, que rendeu ao diretor Hazanavicius o título de melhor diretor em 2012. Curiosamente, o vencedor era o único que jamais havia sido indicado anteriormente. Scorsese e Allen disputavam pela sétima vez o prêmio enquanto Alexander Payne e Terrence Malick, como diretores, recebiam a segunda indicação. Allen, Hazanavicius e Payne não foram, porém, indicados apenas como diretores – também conquistaram indicações pelo seus trabalhos como roteiristas, os dois primeiros pela composição de uma obra original, o último pela adaptação de um romance.

 Alexander Payne, por “Os Descendentes”
The Descendants segue a linha dos filmes de Alexander Payne: o ritmo é lento, os personagens são desenvolvidos interiormente para que depois conheçamos uma relação mais direta com o mundo à sua volta e, vale notar, os cenários são importantes para a construção relativa do personagem. E Payne capta bem toda a paisagem – seja o ambiente quase desolado do Havaí ou o interior desolado do personagem principal. O filme se desenvolve sem pressa, a edição é bastante regular, os enquadramentos são satisfatórios, e a trama, embora melódica, não inova: a indicação de Payne é um mistério.

Martin Scorsese, por “A Invenção de Hugo Cabret” 
Martin Scorsese apresenta um filme que decerto foge à sua sobriedade habitual, mas que, nem por isso, se torna afetado pelas características pitorescas que acompanham a película. Seu filme apresenta características bastante diversas que se conectam bem, imprimindo um tom ameno à história - isto é, não o torna pendente para nenhum lado, ainda que, como se vê, seja produto de bastante alegoria e, às vezes, carnavalização.

Michel Hazanavicius, por “O Artista”
Não acho que haja algo de muito particular na película de Hazanavicius, indicando, talvez, uma falta de “autoralidade” por parte do diretor, já que seu filme, grosso modo, em aspectos técnicos se assemelha a de outros diretores. Mas definitivamente, ele conseguiu compor uma obra interessante e conduzir seus atores com eficiência notável, não sendo de modo algum injusta a sua indicação. Ademais, a trilha sonora e a perfeita recriação dos anos 20 transportam o espectador para outra época, o que facilmente seria perigoso não houvesse mãos firmes para conduzir a trama. E indubitavelmente o diretor

Terrence Malick, por “A Árvore da Vida”
Ainda que o seu filme seja simplesmente o mais pedante dessa edição de premiações, a direção de Malick é assombrosamente eficiente, a ponto de ser difícil apontar qual o elemento que chame mais atenção nessa produção: os atores são muito bem conduzidos, a filmagem é excelentemente elogiável, a edição tem um refinamento palatável, a fotografia é chamativa e o resultado dessa obra, pelo menos quanto a algumas escolhas do diretor, é muito bom. Se está longe de ser uma obra interessantíssima – dada a sua pretensão desmedida –, trata-se ao menos de mais um trabalho de bom gosto de Terrence Malick.

 Woody Allen, por “Meia-noite em Paris”
Woody Allen realmente cria um filme com certo charme. O que mais chama a atenção do espectador é o modo eficiente com o qual o diretor transita temporalmente a sua trama, ora colocando em Paris, na atualidade, ora a situando nos anos 20. A fotografia acrescenta bastante charme à história e os atores, não em grandes momentos, mostram-se eficientes. Woody Allen conseguiu criar uma obra que tem carisma, mas definitivamente é pega-sabrina, sendo, a meu ver, o diretor que menos deveria estar nessa lista.

Luís
Concorda com a Academia: não.
Quem deveria ter vencido: Terrence Malick. Apesar de seu filme ser provavelmente o mais pedante dentre os indicados a Melhor Filme – aliás, provavelmente um dos mais pedantes da década que há de vir! –, Terrence Malick apresentou um cuidado técnico e artístico de conectar cada cena fluentemente, causando uma sensação de fluidez na maior parte do seu filme. Ademais, mostrou refinamento no cuidado com as imagens, na delicadeza de como filmar algumas cenas – nem mesmo o carisma que imprime falsa qualidade à obra de Woody Allen consegue ser tão impressionante quanto o produto da obra de Malick.

1 opiniões:

Júlio Pereira disse...

Concordo com você, foi injusto. Esse Oscar foi como o do ano passado pro Tom Hooper pelo Discurso do Rei. A direção d'O Artista é comum demais, assim como a do Meia-Noite em Paris (não acho que ambos mereciam indicações, ainda mais em ano de David Fincher). A do Scorsese é precisa e detalho ela no meu texto do filme - só os travellings por dentro do relógio já mereciam prêmios. O Payne tem uma direção natural, sem firulas, simples e minimalista, por isso a indicação - e nem ficaria tão triste se ele levasse. Concordo com você: Malick merecia. Sua direção é expendida, em todos os sentidos possíveis. Sua indicação só prova o quão antiquada e retrógrada a academia é. Mas no Prêmio Lumi7 fizemos jus ao seu talento =P