8 de jun. de 2011

Pânico

Scream. EUA, 1996, 116 minutos, suspense. Diretor: Wes Craven.
Trata-se, para mim, de uma obra interessante e muito válida, ainda que possua alguns pequenos defeitos. O gênero terror é discutido numa metalinguagem excepcional.

O ano era 1996 e todos os filmes de terror do momento provinham de inúmeras sequências de franquias já bastante conhecidas – e muitas delas bastante gastas – nas quais jovens eram atormentados por um assassino muito peculiar: as garras nos dedos, no caso de Nightmare on Elm Street; a máscara de hóquei, em Friday the 13th; o rosto especialmente branco de Michael Myers, de Halloween. É válido notar que, dentre os filmes produzidos entre a década de 1970 e o meio da década de 1990, todos os assassinos eram conhecidos pelo público e todos eles possuíam características que pareciam torná-los invencíveis, mesmo que fossem essencialmente humanos, como é o caso de Michael Myers, Leatherface e o grupo de indivíduos estranhos de The Hill Have Eyes.

Ao assistirmos à produção de Wes Craven, escrita por Kevin Williamson, perceberemos que o assassino não difere muito dos seus outros colegas de matança – ele é muito obstinado, difícil de matar, parece estar em todo lugar, é assombrosamente rápido (ainda que burro, muitas vezes). A diferença notável está no fato de que Sidney Prescott, a personagem protagonista, é perturbada por inúmeros assassinatos que envolvem seus amigos sem que ela – ou nós, espectadores – saibamos quem é o responsável pelos crimes. A máscara de ghostface não apenas cria uma característica especificadora à série Pânico como também impede de que saibamos quem é o assassino. Quando o passado de Sid é revirado, principalmente no que diz respeito à morte brutal de sua mãe um ano antes, tanto o espectador quanto os personagens encontram-se na mais completa escuridão, em evidente oposição à situação exibida nos outros filmes, quando sabemos quem Freddy Kruger, Jason Voorhees, Chucky são e do que eles são capazes de fazer.

No universo ginasial apresentado por Williamson, conhecemos os personagens e parte de suas mentalidades. Todos adolescentes, vemos a garota traumatizada, a sua melhor amiga, o namorado estúpido da melhor amiga, o namorado da protagonista e, ainda, o garoto que entende tudo sobre filmes de terror e que é capaz de guiar os outros nas situações de esclarecimentos. A somar, há o xerife local e um repórter bastante oportunista, que visa qualquer tipo de benefício à custa de outras pessoas. Inequivocamente, esses sete elementos serão colocados à prova quando um assassino resolver revolver o passado e trazer à tona a problemática da morte da mãe da personagem principal, que vive atormentada pelo que aconteceu à sua mãe. Figura importante na história é também à do assassino, que é composto de modo diferente da maioria dos que lhe precederam: ele não é movido exclusivamente por instintos; ele age racionalmente, premeditadamente, seguindo um padrão e deixando pistas que permitam levar à sua identificação.

Pânico, então, nos apresenta uma história de histeria entre personagens que estão prestes a morrer e um assassino disposto a fazer mais vítimas. Paralelamente, há também uma notável linguagem autoexplicativa no roteiro, que explica as concepções básicas de filmes de terror – curiosamente bem colocadas num filme de terror. Logo na cena introdutória, vemos um diálogo no qual Casey e o assassino conversam pelo telefone; ele está notavelmente interessado na opinião dela a respeito de filmes de terror e acaba propondo um quiz, que lhe valerá a vida. Os diálogos são muito bem estruturados de modo a apresentar aspectos dos filmes desse gênero – percebe-se interessantemente a inclusão das regras de como se sobreviver num filme de terror e algumas situações irônicas, como aquela em que Sid diz ao telefone que jamais correria para o andar de cima em vez de ir pra fora da casa só para depois precisar correr para o andar de cima, haja vista que havia trancado a porta e não a conseguia abrir.

As figuras de poder da trama estão focadas em duas personagens: Sidney Prescott e Gale Weathers, respectivamente interpretadas por Neve Campbell e Courtney Cox-Arquette (que, à época da produção do primeiro filme, não carregava o sobrenome do ator David Arquette, com quem veio a se casar). A primeira é a heroína mais desaventurada do cinema de horror: passou por quatro filmes de intensas perseguições e muitas lutas. Se afirmamos que os vilões são, às vezes, quase sobre-humanos, não há muita margem de erro se dissermos que Sidney Prescott também é. Gale é também mocinha, como se verificará no longo da série, mas ela é inevitavelmente uma personagem intragável a princípio. É exatamente essa oposição que a torna tão interessante quanto Sidney – a meu ver, talvez até mais interessante! Não creio que haja, apesar de eu achar as personagens interessantes, espaço para grandes atuações e efetivas demonstrações do talento das atrizes – ou mesmo dos atores, de um modo geral. Pânico é uma produção que choca pelo seu visual e pelo seu efeito estético: o assassino é bastante irônico e muito humano, tanto é que não é nem um pouco difícil despistá-lo.

Considerando todo o modo como a obra se compõe, acredito que Scream seja um título que valha a pena ver. Não apenas pelo seu conteúdo, que eu acho bastante divertido, mas também pelo seu impacto na época e que, ainda hoje, gera efeitos, principalmente quando consideramos que, depois de 11 anos desde a última sequência (Pânico 3, em 2000), foi lançado a terceira continuação dessa série iniciada em 1996. Enredo divertido, clímax na medida certa, trilha sonora bem aplicada (alguém é capaz de esquecer Red Right Hand tocando?) – enfim, um filme que marcou uma geração e que ainda é capaz de atrair a nossa atenção.

6 opiniões:

Jean Douglas disse...

De fato "Pânico" fez história! O lançamento do 4º filme me fez rever todos os anteriores e é impressionante quando a gente avalia de uma maneira mais profunda, percebendo a originalidade colocada no mesmo.

Sidney Prescott será a "eterna perseguida" e por mais que esse rótulo soe clichê aos nossos ouvidos, ainda assim nos aprofundamos no drama da personagem e nos simpatizamos com a humanidade que a atriz Neve Campbell consegue transmitir através de seu sutil desempenho.

É um dos meus filmes favoritos e com certeza vale a pena ver de novo, pois, obras primas deste gênero está difícil de ser ver nos dias de hoje.

Abraço! :)

Hugo disse...

O filme deu novo alento ao gênero na época, com um roteiro que ao mesmo tempo tira sarro dos clichês e os utilizava para entreter o público.

A trilogia é ótima pedida, apesar de que temos o quarto filme que eu ainda não assisti.

Abraço

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Ótimo texto, Luiz. O filme é realmente muito bom. Vi o 4º volume da série e gostei também. É uma junção de coisas que para mim deixou tudo mais interessante, apesar da obviedade final.

=)

K disse...

a série Pânico marcou minha adolescencia. Era muito divertido assistir e tentar adivinhar quem era o assassino. É divertido e nos surpreende.
blogtvmovies.blogspot.com

Alan Raspante disse...

Até agora eu só vi "Pânico" e ainda não conferi suas continuações. Gosto bastante deste primeiro filme. Acho hilário =)

Jefferson Reis disse...

Gosto pakas da Gale Weathers. Ela é a figura da jornalista obstinada.