The Fighter. EUA, 2010, 115 minutos, drama. Diretor: David O. Russel.
Um filme cuja força está nas interpretações dasatrizes coadjuvantes Amy Adams e Melissa Leo.
Quanto mais eu conheço a Academia, mais eu tenho certeza de que os membros dela têm um apreço especial pelos lutadores. Talvez haja na disputa corporal presente no boxe algo que instigue os membros e fazem com que eles insistam em indicar filmes com essa temática à categoria principal e também distribuam algumas indicações aos seus atores. Isso aconteceu com muitos títulos – Rocky, Ranging Bull, Million Dollar Baby, Cinderella Man, The Wrestler, e, mais recentemente, The Fighter, filme de David. O. Russel, de cujo filme anterior, Huckabees, eu honestamente não gosto.
Devo dizer que a única coisa que realmente me motivou a assistir a esse filme foi a presença de Amy Adams, atriz por quem tenho certo apreço, principalmente porque acredito que ela tenha um potencial imenso para se tornar uma das maiores atrizes, haja vista que nos últimos seis anos, ela nos apresentou trabalhos notáveis nos filmes Retratos de Família e Dúvida, em papel secundário, e em Encantada, produzido pela Disney. Não quero, com isso, dizer que eu supunha que O Vencedor seja um filme chato ou desinteressante. Para ser sincero, dos filmes citados acima, apenas Touro Indomável é intragável para mim – os outros são filmes aos quais assisti sem muitos problemas. A história de Micky Ward, lutador que realmente existiu – e está vivo ainda! –, nos é contada nessa narrativa que visa nos mostrar a relação perturbada que Micky tinha com a sua família, bastante presente em sua carreira, como o irmão drogado que era o seu treinador e a mãe relapsa que era empresária assim como a sua relação com Charlene, uma garçonete de opinião forte que queria que Micky assumisse um compromisso maior com sua carreira, pois acreditava em seu potencial.
Assim que o filme terminou, fiquei com a nítida impressão de que essa é uma obra feito para os coadjuvantes. Honestamente, a estrutura fílmica do diretor realmente não me chamou a atenção, achei que é um filme bastante comum, principalmente para os padrões do Oscar – é o tipo de produção feita com a visão clara de conquistar indicações aos prêmios da Academia. O que realmente me deixou surpreso foi a atuação de Amy Adams e Melissa Leo, ambas impressionantes em seus retratos muito firmes de duas mulheres marcantes em sentidos opostos: enquanto Adams interpreta uma garota que enxerga com sensatez a carreira do namorado e com isso busca fazê-lo consciente, sem medo da família maluca dele, Leo interpreta Alice, a mãe cujo olhar se mantém exclusivamente no filho mais velho, que é o treinador de Micky. É quase impossível para o espectador não colocá-las em lados opostos, mesmo que ambas pareçam querer o melhor para Micky – uso "pareçam" porque tive muitas dúvidas em relação à personagem de Leo, que, embora seja totalmente desestruturada e egoísta, pode querer o bem a seu filho. Não nego que Christian Bale também esteja bem em cena e que todos os prêmios clamem por sua atuação. No entanto, tenho a impressão de que o personagem é maior do que o ator, caso semelhante ao de Mo’Nique, no ano anterior, que recebeu seu Oscar pela intensidade de sua personagem e não pela força de sua atuação. Bale, como o irmão de Micky, nos entrega uma personificação de uma pessoa fracassada, cuja vida vem sendo gasta sem um propósito notável e que afeta negativamente aos outros. A mudança física do ator é notável e isso impressiona muito, o que soma para a minha desconfiança em relação ao seu desempenho e a essa crescente onda de prêmios que ele vem recebendo: avaliam a sua atuação ou o personagem e o quanto ele mudou fisicamente para poder caracterizá-lo? Enfim, devo dizer que o quesito atuação é dividido por esses três atores, haja vista que Mark Wahlberg está surpreendentemente apático, incapaz de provocar qualquer reação no espectador.
Quanto à história, penso que ela realmente não tenha muito diferencial. É assim a vida de todos os esportistas: têm um sonho, passam por uma desilusão, enfrentam uma série de problemas e então sucedem maravilhosamente, conseguindo ser reconhecido por todos. E O Vencedor se mantém nessa fórmula, não muda nada – a direção de David O. Russel nem sequer é ousada. Não sugiro que modificassem a história de Micky Ward, mas poderiam tê-la retratado de um modo mais interessante e não tão exclusivamente convencional e, às vezes, repetido. Basta notar as cenas de luta: duas cenas são exatamente iguais. E eu realmente não entendi a finalidade delas, haja vista que a segunda, que deveria ser o clímax do filme, é bem anticlimática. Também não posso deixar de dizer que a história por si só é desinteressante, pelo menos para mim. Conhecer a carreira de Micky Ward não me fez qualquer diferença nem o filme me empolgou com essa narrativa – insisto, não quero dizer que seja ruim, só quero dizer que é convencional demais, é senso-comum. Mas o diretor pelo menos conseguiu manter uma linearidade na sua estrutura fílmica, então, assim que você entra no clima do filme, consegue assistir a ele sem grandes problemas e o tempo até passado rápido – ou então esse efeito se deve à Amy Adams, linda demais, perfeita em sua interpretação.
Não há como negar: O Vencedor é um filme de Oscar. Não desses que são reconhecidos pela Academia por uma qualidade excepcional, mas desses filmes cuja intenção é estar entre os nomeados por causa de sua narrativa típica de feel-good movie, bastante recorrente no cinema estadunidense. Essa obra é capaz de entreter, de te manter atento por quase duas horas, mas há poucas características nela que farão com você se lembra dela após algum tempo.
2 opiniões:
Muito bom seu blog. Literatura e cinema fazem um casamento perfeito.
Quanto ao filme "O Vencedor" concordo que a Academia tem paixão por filmes de boxe, mas acredito que ele só tenha a chance de levar o prêmio de ator coadjuvante. O tema do filme já tá muito batido e há cerca de seis anos um filme envolvendo esse esporte já foi premiado, o "Menina de Ouro". Até a Melissa Leo que é super cotava a vencer como coadjuvante pode não levar o troféu devido as propagandas que ela mesma bancou para influenciar os votantes.
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Tenho de te dar uma certa razão, principalmente em o "Mark Wahlberg está surpreendentemente apático". Não me conseguia lembrar de onde conhecia a Amy Adams e agora já sei, porque vi ambos os filmes que aqui referiste. Achei aliás, o " Dúvida" excelente.
Mesmo assim penso que o Christian Bale esteve bem e talvez merecesse o Oscar em relação aos outros candidatos.
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