True Grit. EUA, 2011, 110 minutos, faroeste. Diretores: Ethan Coen e Joel Coen.
Eu confesso que esperava menos desse filme, ainda que não esperasse pouco. Acabei surpreso com essa mais recente produção dos irmãos Coen.
Parece que toda vez que vou escrever sobre algum filme dos irmãos Coen, eu começo falando a respeito do quanto eles são elogiados e aclamados – até mesmo pela Academia. Embora às vezes possa ocorrer a superestimação desses diretores e roteiristas, é indubitável para mim que isso decorre do maravilhoso histórico fílmico desses dois. Em 2010, os irmãos escreveram e dirigiram True Grit, que, segundo eles, é uma nova adaptação do romance de Charles Portis e não um remake do filme de 1969, estrelado por John Wayne, vivendo o personagem que lhe concedeu o Oscar de Melhor Ator e que, nessa nova versão, concedeu a Jeff Bridges uma indicação na mesma categoria.
Confesso que, num primeiro momento, a história de Bravura Indômita não me agradou. Não que houvesse total desapego à história, mas a sinopse simplesmente não me chamou a atenção. Fui motivado, no entanto, a conferi-lo devido à presença de Bridges como lead actor e dos irmãos Coen na direção – isso, afinal, deveria significar alguma coisa boa, certo? Corretíssimo. O filme, que nos conta a aventura de três personagens no velho oeste, é definitivamente uma obra interessante, provavelmente uma das que mais se destacam nessa temporada de premiações. Acredito que o principal elemento de destaque é a dinâmica das cenas, fazendo com que a história de Mattie Ross, uma garota cujo pai foi assassinado por um homem que escapou, se tornasse atrativa para o espectador.
É inegável que o charme do filme está no modo como muitos elementos são misturados, parecendo haver um espaço para o drama, o suspense, a guerra e até mesmo para o humor – é este, aliás, o responsável pelo filme ser bastante leve, embora seu roteiro apresente elementos bastante violentos, que não foram amenizados durante as filmagens. O humor reside em duas coisas: primeiro, no personagem de Jeff Bridges, o agente federal que “não faz prisioneiros”, porque, sem querer, segundo o próprio personagem, acaba por matá-los; em segundo lugar, por causa das características pessoais de Mattie, uma garota inverossimilhantemente esperta. Quando ela contrata Rooster Cogburn para caçar Chaney, o homem que matou o seu pai, Mattie encontra-se diante de um homem muito complicado: um beberrão sempre disposto a alguns tiros para mostrar o quanto é bom e disposto a acertar umas contas com o seu passado. Ao embarcar na viagem com ele – viagem à qual o espectador também vai –, Mattie descobre-se numa verdadeira selvageria, principalmente quando outro homem, também à procura de Chaney, se junta a ela e a Cogburn.
Eu realmente gosto do modo como o humor negro dos irmãos Coen transparece em cena. Basta notar o modo agradável como eles unem comédia e violência, tornando algumas cenas tão impactantes no seu lado cômico, que acaba fazendo com que o espectador não se choque tanto com algumas mutilações, alguns tiros – um tiro no rosto, fabulosamente filmado – e muito sangue. Convenhamos que o jeito como eles misturam realidade e irrealidade também é divertido. Por exemplo, nenhuma garota é como Mattie – ela conhece tudo, desde termos referentes a lei até métodos de discurso capazes de confundir e coagir o seu interlocutor. Ela é simplesmente inacreditável e é exatamente por isso que ela se torna ainda mais engraçada. É evidente que não se poderia atingir tal feito se Hailee Steinfeld não a interpretasse de maneira espontânea, sem parecer pregada à construção da identidade de sua personagem. Penso que a sua indicação ao Oscar tenha sido válida, ainda que ela notável e notoriamente seja lead e não supporting, categoria à qual foi indicada. Os irmãos Coen souberam como, principalmente, filtrar bem aquilo que queriam mostrar: o filme me pareceu bastante coeso, sem exageros, feito nas medidas certas, com destaque para a fotografia e para o uso de alguns elementos dramáticos, como a seqüência final, que nos remete ao quão perigosa foi a aventura dos personagens.
Diferentemente do ano passado, na qual outro filme dos Coen recebeu indicação (A Serious Man, como Melhor Filme e Melhor Roteiro Original), desta vez a obra deles faz por merecer a categoria principal e a categoria de direção, que muitos reclamam ter sido “tirada” de Christopher Nolan, por Inception, mas eu tenho muitas dúvidas quanto a isso. Ainda que eu tenha gostado muito da direção de Nolan, acredito que os Coen fizeram por merece a indicação que receberam, porque, como disse, eu realmente gostei desse filme e acredito que ele esteja entre os melhores da categoria Melhor Filme. Toda essa qualidade também se deve aos atores Jeff Bridges, Matt Damon e Josh Brolin, intérpretes de Cogburn, LaBoeuf e Chaney, respectivamente. São interpretações bastante maduras, todos esses atores souberam como se portar corretamente dentro das roupas de seus personagens – em nenhum momento soam caricatos ou desnecessários, compondo então, juntamente com Hailee Steinfeld, um elenco correto e em sintonia.
Eu realmente penso que Bravura Indômita seja um bom filme para entreter e acredito que seja entretenimento com qualidade, independentemente de ter sido indicado ao Oscar ou independentemente de não ser o melhor filme já filmado pelos Coen. O que importa é que, nos seus padrões, o filme consegue atingir o espectador, desde que esse, evidentemente, não fique cobrando mais do que deve. Por si só, creio que essa obra coeniana seja capaz de promover momentos interessantes de diversão – eu, pelo menos, me diverti ao longo dos cento e cinco minutos de filme.
2 opiniões:
Bom, não gosto muito de western, mas pretendo ver esse filme.
Sua visão do filme me fez me animar para vê-lo, haha.
Não concordo que Mattie seja inverossímil.
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