Sommersturm. Alemanha, 2004, 98 minutos, drama. Diretor: Marco Kreuzpaintner.
Ainda que não seja inesquecível, essa produção alemã consegue apresentar uma história interessante e também proporcionar alguns momentos de questionamento ao espectador.
Tobi e Achim são amigos há algum tempo e entre eles não há timidez. Suas brincadeiras são bastantes e liberais e, de tão íntimos, são capazes até de se masturbar um na frente do outro. Surge, então, um impasse: como Tobi pode dizer a Achim que o ama sem que isso danifique a relação estável de confiança que há entre eles? Para intensificar o problema, Achim começa a namorar Sandra e Tobi se vê envolvido forçosamente com Anke, amiga de Sandra.
Decerto, o roteiro do filme tinha tudo para ser uma grande obra. Não imaginava que seria uma grande obra cinematográfica, mas a história de Tempestade de Verão poderia render uma excelente parte do universo de filmes bons que abordam a homossexualidade. Os roteiristas, Thomas Bahmann e Marco Kreuzpaintner – sendo este também o diretor, optam por algo bem sutil e leve, que mostra os problemas pelos quais Tobi passa, porém que não se aprofunda totalmente nos vários dilemas que ele enfrenta. Se por um lado, não se aprofundar é um pode ter sido um erro, por outro, é um acerto, afinal o tom suave é inerente ao filme e torná-lo um drama intenso talvez não fosse a melhor alternativa. Cabe ao leitor, então, depreender todas as questões que são feitas a fundo pelo personagem principal.
Uma característica boa do roteiro é não se focar apenas em Tobi. Conhecemos um pouco de todos os adolescentes que o cercam e um pouco dos dilemas de cada um. Sabemos do desejo de Anke por Tobi e como ela reage ao não saber exatamente se ele retribui o afeto ou não. Conhecemos os problemas de Sandra com o próprio corpo, o que a impede de entregar-se totalmente a Achim, melhor amigo de Tobi. Georg, um amigo de Tobi e Achim, me pareceu bastante misterioso, mas nele vemos a passagem de alguém preconceituoso para alguém que é capaz de interações convencionais – ignorando a opção sexual da pessoa com quem ele conversa. Gostei principalmente de Georg porque acho que nele há uma noção implícita de como é a vida de um gay enrustido. Embora não seja dito no filme que o personagem seja homossexual, acredito firmemente que ele seja. E isso torna a sua análise ainda mais interessante, pois tenho para mim que ele seja um homossexual que, para afastar dúvidas alheias quanto à sua própria opção sexual, finge desgostar de gays. Tanto é que, mais tarde, quando ele conversa com um personagem abertamente homossexual e de segundas intenções bastante explícitas, ele se porta sem qualquer problema e quando o personagem o beija, ele reage mal, talvez instintivamente, a fim de proteger a reputação de heterossexual que ele buscava manter.
Logo depois de assistir ao filme, eu cheguei à conclusão de que não havia gostado dele. Achei que os gays assumidos do filme – no caso, um time de atletas da “QueerSchlang” – eram muito pejorativos, afinal dois eram muito afeminados, outro só pensava em sexo. Mas, analisando com atenção – não o filme, mas o meu próprio pensamento -, concluí que não havia nada errado ali, afinal, tal como há heterossexuais machões e outros cujas mentes são apenas voltadas para o sexo, tem que haver isso em relação ao homossexuais também. E, numa das cenas do filme, podemos ver que há também um gay que é bem romântico e não-estereotipado, o que representa uma excelente noção de sociedade composta por Bahmann e Kreuzpaintner: há heterossexuais e homossexuais num mesmo ambiente e há, entre todos, vários tipos sociais sendo representados: ninfomaníacos, infantilizados, vulgares, sensatos, românticos, etc.
Acredito que não haja características contra esse filme. Tempestade de Verão é uma obra suave, que apresenta questionamentos interessantes quanto às atitudes que devem ser tomadas e sobre como as relações são modificadas de acordo com a visão que uma pessoa tem sobre outra pessoa. Tempestade de Verão é uma produção alemã que merece ser vista por dois motivos: prmeiro, porque é uma obra muito válida dentro desse gênero de filme; segundo, para sair do mundinho hollywoodiano. Não posso finalizar esse texto sem antes agradecer ao Ewerton, dono do blog Cereja do Bolo, já que foi ele quem me recomendou e emprestou o filme para que eu assistisse. Recomendo, além de ver o filme, que confiram o blog dele – lá há relatos e crônicas interessantes de sua própria autoria.
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