Já há algum tempo leio os textos - muito bons, aliás - que o Alan Raspante, dono do Satélite Assassino, escreve em seu blog e sempre gostei do estilo de escrita do rapaz. Assim, não via por que não convidá-lo para escrever um texto para o Literatura e Cinema, convite que ele prontamente aceitou, fazendo do texto abaixo a sua primeira participação aqui. E espero que outras venham em breve e que a nossa parceria se prolongue.
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por Alan Raspante
"A Hora do Espanto" (1985), creio, nasceu de uma forma bastante discutível. Afinal, qual a verdadeira intenção do filme? Se você parar para analisar, "A Hora do Espanto" não possui nada em que possa haver uma discussão ou algo parecido. É apenas um filme que nasceu para arrecadar cifras gigantescas no cinema. E foi dito e feito. O filme foi um verdadeiro sucesso e garantiu algumas continuações. E até serviu de inspiração para outros filmes como caso de "Os Garotos Perdidos". A história realmente não é grande coisa, mas o filme possui qualidades insuperáveis (nem tanto) e aquela sensação de velha infância. Eu sei que nem deveria tocar neste assunto, mas é impossível não ver "A Hora do Espanto" e não pensar que a década de 80, talvez, tenha sido a melhor década de todos os tempos. O clima aventuresco presente no filme é de uma ingenuidade ímpar, mas consegue cativar da melhor forma possível. O vampiro Jerry consegue exatamente isto: cativar a sua platéia. Algo que muitos vampiros atualmente não conseguem. Sim, isso foi uma indireta para o Edward Cullen. Aquele vampiro vegetariano que ainda não descobriu a pinça para dar um jeito naquela sobrancelha desastrosa.
Jonathan Stark e Chris Sarandon: o aprendiz de vampiro e o vampiro-mestre.
A história é simples, Charley (William Ragsdale) começa a achar estranho o comportamento do seu novo vizinho, Jerry (Chris Sarandon) e acaba descobrindo que o mesmo é um vampiro. Afinal, assassinatos vêm acontecendo atualmente e o adolescente acaba presenciando um desses assassinatos (ou melhor: ouvindo). Charley chama a polícia, tenta impedir que a sua mãe convide o vampiro para entrar em sua casa e tenta até mesmo transformar o seu quarto em uma feira ao apostar no velho mito de quê vampiros e alho não se misturam. Claro, o pobre jovem não obtém sucesso e ainda por cima vira a caça principal do vampiro Jerry. Em paralelo, acompanhamos um desgaste no relacionamento do protagonista com a namorada, Amy (Amanda Bearse). Claro que, esta história paralela é pura encheção de linguiça e vai apenas servir de trampolim para o fato da jovem ser a cara de uma antiga paixão de Jerry. Ou seja, "A Hora do Espanto" não é muito inovador em seu roteiro e nem tenta isso. Do mesmo modo como o filme não consegue ser suficientemente bom como um filme de terror. Mas, digamos, que o filme não precisava ser bom nesses dois aspectos. "A Hora do Espanto" vai um pouco mais além.
Colin Firth reprisando o personagem que foi de Chris Sarandon. |
O filme, em suma, é despretensioso. Talvez essa seja a maior qualidade do filme. É impossível esperar por algo plausível ou verdadeiramente bom de "A Hora do Espanto" e por isso acaba sendo uma surpresa que o filme consiga ser, ao menos, tão divertido assim. O roteiro clichê possui um bom desenvolvimento e tenta ao máximo criar um bom clímax final. O personagem interpretado por Chris Sarandon, o vampiro Jerry, consegue ganhar a simpatia do seu espectador. Afinal, Jerry não é explicitamente um vilão. Ele apenas possui uma natureza que o leva a agir desta forma. Sem contar que o filme possui excelentes efeitos especiais. Desses que de tão ruins, acabam convencendo e sendo divertidos. Os efeitos são pura nostalgia e até mesmo uma aula cinematográfica. Afinal, houve um verdadeiro esforço para que o resultado fosse o mais aceitável por isso. "As Hora do Espanto" de 1985 é pura nostalgia e acaba arrancando aquela sensação tão bem tratada no último filme de Woody Allen: seria melhor termos nascido na década de 80.
Remete sutilmente a "A Morte do Demônio" (1981). |
Como você, meu caro leitor, deve saber, "A Hora do Espanto" ganhou um remake no ano passado (2011). Fui conferir o filme com muita expectativa. Não que eu estivesse esperando por algo melhor que o original, e sim pela curiosidade em saber como "A Hora do Espanto" pode ser visto no ano de 2011: quase trinta anos depois. O que aconteceria com aquele tom ingênuo tão presente na fita oitentista? Enfim, claro que o remake não conseguiu revitalizar isso, muito pelo contrário. Mas acabei me surpreendendo ao ver que o filme atual não ofende ao filme original. As mudanças são tão grandes, que este filme atual poderia ter outro nome e dizer apenas que se baseia no filme original. Claro que o remake é discutível e diferente do original, foi apenas concebido para tentar conquistar uma fatia daqueles que gostam de "Crepúsculo". O tirou -neste sentido- saiu pela culatra. Pois o remake não obteve o sucesso esperado. O motivo de não ter este sucesso eu não sei explicar, mas posso afirmar o que já disse no início deste mesmo parágrafo, "A Hora do Espanto" é um filme completamente diferente do que eu podia esperar.
O encontro do adolescente com o vizinho vampiro.
Para começar, a cena inicial não é a mesma do filme original. Logo de início já vemos o vampiro em ação. O personagem principal consegue ser mais idiota que a versão original e a mãe do protagonista ganha mais destaque. Sem contar que mudaram a cidade onde tudo acontece e principalmente a forma como as situações acontecem. Peter Vincent é mais novo, possui namorada e não é apenas um apresentador de um programa de televisão, e sim um mágico ilusionista que tem certa obsessão por vampiros. O personagem principal ganha contornos mais complexos por namorar a garota mais bonita do colégio e, claro, vemos mais cenas de ação. O roteiro que também foi escrito por Tom Holland (diretor e roteirista da obra original) tenta trazer de volta aquele clima de aventura, mas tudo acaba sendo confundido com adrenalina. Não há uma sensação crescente, apenas cenas que tentam ao máximo levar o seu espectador ao delírio. O filme consegue entreter, mas não chega ao ponto crucial. Em um resultado final, não posso negar que eu gostei, mas, obviamente, não consegue superar o original. Porém, o filme não deve ser deixado de escanteio ou ter ser esquecido. Assim como o original, é um filme feito para arrecadar bilheteria e possivelmente entreter. Simples assim.
4 opiniões:
Foi ótimo participar, Luís! Obrigado e espero que tenho gostado do texto que ficou quase bom ;)
Não assisti a nova versão, mas a antiga eu adoro. Super nostálgica e com o climão das sessões de terror tão comuns na década de 1980 quando as pessoas costumavam se reunir pra ver filme. Ai que saudades daqueles tempos.
Belo texto Alan!! ;)
Bjs
Não dei uma olhada ainda na nova versão, mas a antiga é genial.
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