Meryl Streep e o terceiro Oscar, conquistado na sua décima sétima indicação. |
1962, 1969 e 2003. Esses anos representam acontecimentos
singulares na história dos Academy Awards.
Bette Davis, no primeiro ano citado, 1962, tornou-se a primeira atriz a
conquistar dez indicações ao Oscar, tornando-se singular por seis anos, já que
Katharine Hepburn conquistaria sua décima indicação em 1968 e já ultrapassaria
esse recorde no ano seguinte, 1969, quando se tornou a atriz com o mais
número de indicações, superando o seu próprio recorde em 1982, quando recebeu sua
décima segunda e última indicação. Meryl Streep, em 2000, empatou com Hepburn,
e, em 2003, quebrou o recorde estabelecido pela outra, chegando, pois, à
décima terceira indicação, recorde somente quebrado por ela mesma, por quatro vezes seguidas, chegando nesse ano à décima sétima nominação e também a mais uma vitória, sendo a sua
terceira.
Ao escrever esse texto, inevitavelmente sou remetido à
série publicada no Cinema e Argumento, do colega Matheus Pannebecker, que
usualmente faz uma série de nome “As indicações de...” na qual expõe todas as
indicações ao Oscar de um intérprete e comenta sobre o que ele achou do
resultado. Ainda que esse texto seja parecido, não me aterei às indicações de
Meryl Streep como objeto em comparação, mas as analisarei em absoluto, ou seja,
se as julgo boas ou não, adequadas ou não a uma indicação, sem me ater às suas concorrentes. Tendo sido a
primeira indicação em 1979 e a última, até o momento, em 2012, são 33 anos e
que seu nome é recorrente nas cerimônias, praticamente uma indicação em anos
intercalados. Vale lembrar que somente na década de 1980, portanto num período
de 10 anos, Meryl foi indicada 6 vezes, e o máximo de anos que ela ficou sem
indicação foi o hiato entre “Lembranças de Hollywood” (1990) e “As Pontes de
Madison” (1995), ou seja, cinco anos. Se me estender mais, vou ao que importa:
as suas indicações.
1979 – O
Franco-atirador (1978)
1ª indicação: Melhor
Atriz Coadjuvante
Honestamente, o caráter ufanista do filme não me agrada e
acho que a obra está longe de ser uma grande película, embora muitos o tratem
como tal. Para mim, o verdadeiro destaque do filme são os coadjuvantes
Christopher Walken, cuja interpretação lhe rendeu o Oscar, e Meryl Streep, que
aparece pouquíssimo, mas consegue cativar o espectador com sua interpretação
densa e ao mesmo tempo singela. Penso que sua indicação aqui seja mais um
pequeno impulso na carreira de uma atriz com potencial do que um verdadeiro
reconhecimento pela sua interpretação, ainda que, como disse, há de se
reconhecer qualidade nesse trabalho de Meryl Streep, que, aliás, é apenas o segundo
trabalho feito para o cinema (o filme anterior é “Júlia”, de 1977, e houve
o trabalho “Holocausto”, também de 1978, feito para a TV).
1980 – Kramer vs.
Kramer (1979)
2ª indicação: Melhor
Atriz Coadjuvante
– venceu
Meryl Streep recebe seu prêmio devido a um desempenho
magnífico nessa obra de Robert Benton na qual ela interpreta uma mulher que é
sufocada pelo casamento, o que a motiva a abandonar sua família, mas que acaba
repensando sua vida e decide requerer a guarda do filho. As cenas são poucas –
quatro, mais ou menos –, mas em cada uma delas a atriz arrebata o espectador,
que não consegue julgá-la apta nem inapta para cuidar do filho, tão realista (e
por isso confusa) é Joanna Kramer, personagem construída por Meryl. A cena do
tribunal é maravilhosa e não há como dizer que seu trabalho aqui não é digno de
prêmio, ou, pelo menos, de atenção especial.
1982 – A Mulher do
Tenente Francês (1981)
3ª indicação: Melhor
Atriz
A meu ver, uma interpretação maravilhosa que é inclusive
superior ao filme. Ao interpretar Anna, uma atriz que interpreta a personagem
Sara num filme, Meryl Streep simplesmente me deixou petrificado. Como a
personagem-título, sua interpretação é dessas que impressionam e penso que esse
também seja o seu primeiro grande filme de destaque no cinema (basta reparar
que não cabe mais a ela personagens em participações limitadas, como em suas
indicações anteriores). Seu desempenho como lead
actress lhe garantiu merecidamente uma indicação.
1983 – A Escolha de
Sofia (1982)
4ª indicação: Melhor
Atriz – venceu
A Academia se rendeu à interpretação de Meryl Strep como
Sofia Zawistowski, refugiada polonesa cujo drama não reside exclusivamente no
passado no qual ficou presa num campo de concentração, mas, sobretudo, por uma
escolha que fez quando foi levada para lá. Honestamente, reconheço qualidade
nesse trabalho da atriz, acho-o ótimo, mas penso que houve momentos mais
adequados para lhe conceder um prêmio, como, por exemplo, no ano anterior ou em
1996, quando concorreria por “As Pontes de Madison” (1995). Inegável, porém,
que seu esforço e seu desempenho merecem mesmo
as nossas atenções, porque é com esse filme que ela prova ser capaz de dar o
máximo de si (emagreceu, aprendeu a falar polonês e alemão e ainda chegou a
implorar ao diretor para que lhe concedesse essa personagem) e que não deixa a
desejar em momento nenhum. Não tiro o mérito de sua vitória, mas insisto: penso
que houve interpretações melhores.
1984 – Silkwood:
Retrato de uma Coragem (1983)
5ª indicação: Melhor
Atriz
Trata-se da primeira indicação de Meryl Streep por
interpretar uma personagem verídica. Karen Silkwood foi operária numa usina
nuclear e que eventualmente descobriu ilegalidades no método de produção, o que
potencialmente a levou a ser assassinada. Sob a direção de Mike Nichols, a
atriz apresenta aqui sua personagem mais distinta das outras que havia
interpretado: ela não é sempre polida, não se porta como uma dama, não é
melancólica ou introspectiva. Enfim, Meryl Streep compôs um bom momento que
alterna humor e drama sem jamais deixar que isso interfira na credibilidade que
sua personagem necessita. Penso que seja uma indicação mais do que merecida.
1986 – Entre Dois
Amores (1985)
6ª indicação: Melhor
Atriz
Segunda indicação por interpretação uma personagem
verídica. O épico cujo cenário é a alaranjada África, mais especialmente o
Quênia, nos apresenta a vida de Karen Blixen, baronesa que se casou pela
conquista do título e que acabou envolvida emocionalmente com o então marido,
mas também apaixonada por um caçador de espírito livre. Penso que a
grandiosidade desse filme advenha dele todo: da direção eficiente de Sidney
Pollack, das interpretações dos atores, do magnífico cenário. E ao se tornar
alvo dos nossos olhares, Streep prova ser uma grande atriz – nem mesmo um filme
desse porte a faz sumir. O seu sotaque dinamarquês lhe garantiu mais uma
nominação, a qual eu considero justa.
1988 – Ironweed
(1987)
7ª indicação: Melhor
Atriz
Ao interpretar Helen, uma mulher que terminou vivendo nas
ruas devido ao fracasso de sua vida como cantora de rádio, a Academia prova
certo queridismo por Meryl. A começar pelo fato de que ela nem sequer é
protagonista da história e realmente esse filme não oferece suporte a nenhuma
atuação, seja dela ou de Jack Nicholson, que também foi nominado. Só me soa
como uma demonstração de carinho pelos então mais notáveis atores modernos
(Nicholson chegou à sua nona indicação). Eu jamais indicaria qualquer um dos
dois por suas interpretações apáticas nesse filme monótono, então realmente não
compreendo a indicação de Meryl aqui.
(continua)
3 opiniões:
Meryl Streep é sensacional e acho que sua presença eleva o nível até do pior dos filmes. Assistir seus trabalhos deveria ser uma obrigação para qualquer uma que deseja ser atriz.
Meryl Streep, pra mim, é a maior atriz de todos os tempos. Todas essas indicações que você citou, nesse primeiro post, pra mim, são incontestáveis. E as duas vitórias dela, nesse período, também, pra mim, são incontestes.
Ela chegou a um determinado nível, tanto de atuação, quanto de fama junto a academia, que com certeza terá novas indicações.
É a melhor atriz dos últimos trinta anos.
Abraço
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