11 de jun. de 2012

A Escolha do Sofia


Sophie’s Choice. EUA / RU, 1982, 150 minutos, drama. Diretor: Alan J. Pakula.
Trata-se de um filme de trajetória agridoce que perturba o espectador.

Penso que a escolha feita por Sofia seja um dos grandes dilemas cinematográficos. Impossível não ouvir o título desse filme e ser remetido à tristeza que se impôs na vida de Sofia, personagem interpretada por Meryl Streep, cuja vida é marcada por uma série de altos e baixos, sendo que o seu passado – e, evidentemente, a escolha por ela feita – resulta na maior depressão de sua vida e que é capaz de instaurar a agonia até mesmo no espectador que acompanha ao filme.

Penso que seja difícil apresentar uma sinopse completa e eficiente para esse filme. Tenho a impressão de que ele se resume em si mesmo, sem tirar nem por, tamanha a força de seu enredo. Sofia é uma mulher polonesa de cerca de 30 anos que vive nos Estados Unidos junto com Nathan, seu companheiro. A vida do casal é modificada com a chegada de Stingo, um jovem que pouco a pouco se aproxima dos dois e que vai descobrindo o plano de fundo da história da personagem-título, desde as experiências dela com a II Guerra Mundial até o porquê de ela se relacionar com Nathan, cujo temperamento é extremamente variável, chegando inclusive à agressividade.



Penso que antes mesmo do roteiro, nota-se o nome de Meryl Streep e o modo como ele está associado ao filme, já que essa obra rendeu à atriz, em 1983, seu segundo Oscar, dessa vez como atriz principal (o anterior havia sido conquistado três anos antes, pela sua participação como atriz secundária no filme “Kramer vs. Kramer”, de 1979). Se a história do filme não fosse por si só bastante pesada e o seu roteiro não fosse bem conduzido, decerto o espectador ficaria exclusivamente à mercê da atriz, que conduz a trama com extrema habilidade, passando dos bons aos maus momentos, das alegrias parciais às súbitas ondas de tristeza – não acho que seja a sua melhor interpretação, mas não duvido de que seja um de seus momentos mais marcantes no cinema.

A personagem Sofia é bastante complexa. Difícil compreender perfeitamente suas motivações, o que a faz efetivamente permanecer ao lado de Nathan e, mais ainda, difícil conseguir saber como é a relação dela consigo mesma e com a escolha que ela fez – escolha essa que, embora todos saibamos qual é, só é vista ao final da película, sendo praticamente uma das últimas cenas. De perseguida e torturada até o momento no qual a vemos na presença de Stingo, parece que a personagem se livrou de um dos piores momentos de sua vida, mas o nome do filme está ali para não nos deixar esquecer, nem mesmo por um momento, que o maior drama da personagem talvez não tenha sido às situações pelas quais ela foi obrigada a passar, mas sim aquele no qual ela tomou uma decisão que a afetaria para sempre, mesmo depois que aquela “fase ruim” passasse.

O roteiro não se compõe exclusivamente de Sofia, ainda que sua personagem seja a central e o seu conflito o mais notável. Vemos também Nathan, cujo temperamento instável faz com que fiquemos o tempo todo apreensivos, e a proximidade de Sofia com Stingo somente intensifica o nosso receio de que algo ruim possa acontecer a qualquer minuto. O triângulo que se forma entre os personagens é bastante confuso, principalmente porque parece meio nebulosa a relação entre eles, já que não se sabe se Nathan percebe as investidas de Stingo e, ao mesmo tempo, me soou meio complicado perceber o que significa a interação entre os personagens masculinos, havendo uma vibração amorosa entre eles também.

Ao longo de 150 minutos, Alan J. Pakula consegue impressionar o espectador com a narrativa, principalmente nos momentos mais tensos, como as cenas nas quais Sofia está no campo de concentração e Meryl Streep se apresenta praticamente destruída. Um colega meu comentou que esperava um filme mais emocional, que fizesse chorar, menos monótono – quanto a isso, posso concordar apenas com o último comentário, já que acho que falta mesmo certo ritmo ao filme, que poderia ter sua história contado num tempo mais curto, com alguma velocidade a mais, mas a meu ver se trata de uma obra emocional se caráter também descritivo: não é à toa que vemos tantas cenas dos problemas enfrentados nos campos de concentração.

A grande cena do filme – a escolha – foi gravada numa única vez e ela é dolorosa, sendo potencialmente o que mais marca o filme, principalmente porque é ali que vemos a total entrega da atriz principal ao personagem. Há, no entanto, grandes outros momentos que se unem e transformam essa obra numa produção elogiável: Kevin Kline faz por merecer as atenções, dada a sua performance pungente, que infelizmente não recebeu nominação ao Oscar; Peter MacNicol também não fica a desejar, ainda que por vezes suma ao lado dos seus colegas (a culpa não é toda do ator: seu personagem é menos interessante que os outros dois); Pakula extraiu o máximo dos seus atores e conseguiu atribuir ao filme um caráter que, apesar de mórbido, causa certo fascínio – não é à toa que há tantos fãs que irrevogavelmente acham que esse é um dos melhores filmes do cinema. Enfim, é uma opção para gostos variados: para quem gosta de Meryl Streep, para quem gosta do tema (Segunda Guerra Mundial), para que gosta de triângulos amorosos perturbados etc.

2 opiniões:

Matheus Pannebecker disse...

Esperava que o filme todo fosse passado na época da escolha do título. Por isso, minha decepção quando descobri que era narrado em flashbacks. De qualquer forma, Meryl está sensacional. Incrível a dedicação dela!

Júlio Pereira disse...

No final, adicionaria: quem gosta de bom Cinema. A Escolha de Sofia é mesmo um drama doloroso e belíssimo, com um triângulo amoroso realmente complexo. Meryl Streep, claro, dando show, com um sotaque muito elogiado por todos! Discordo apenas em relação ao tema, que, pra mim, é certinho. Algo mais apressado podia atropelar a narrativa e tirar sua vertente mais contemplativa e paciente.