Dando continuidade ao post no qual comentei as sete primeiras indicações da atriz, seguem as outras dez indicações que compõem o currículo de Meryl Streep.
1989 – Um Grito no
Escuro (1988)
8ª indicação: Melhor
Atriz
O sotaque australiano rendeu à Meryl Streep sua oitava indicação - e, curiosamente, mais uma delas interpretando uma personage verídica, que nesse caso é Linda Chamberlhain, uma mulher cujo bebê é morto por um dingo e que acaba sendo condenada pela morte da criança justamente pela ausência de provas. Se o filme é mediano, decerto as interpretações de Streep e Neill não são e a presença cênica da atriz é tão grande que ela fez por merecer estar entre as indicadas. Contida às vezes, noutras vezes explosiva, a atriz soube conduzir bem sua personagem e tornou-a interessante, o que é meio difícil com o roteiro duvidoso.
1991 – Lembranças de
Hollywood (1990)
9ª indicação: Melhor
Atriz
Bom humor define a interpretação da atriz nesse filme.
Linearidade também. Não entendo a indicação de Meryl nesse ano, considerando
que sua participação aqui é apenas satisfatória, sem nada que realmente chame a
atenção na sua atuação como uma atriz de Hollywood que vive chapada e que acaba
voltando a viver com a mãe, com quem não se dá bem. Aliás, a mãe, Shirley
MacLaine, merecia muito mais ser lembrada pela Academia do que Streep, que,
apesar de divertida, está bastante aquém de suas outras interpretações e de
suas concorrentes daquele ano.
1996 – As Pontes de
Madison (1995)
10ª indicação:
Melhor Atriz
Trata-se de uma das interpretações mais emocionais que já
vi e, com certeza, aquela que indubitavelmente deve ser nominada e, talvez, até mesmo premiada. Não conheço o
desempenho de Susan Sarandon em “Os Últimos Passos de um Homem” (1995), que se
sagrou vencedora, mas acredito que ele deva ser muito mais perfeito que o de
Meryl, pois a interpretação desta é realmente magnífica. Só de me lembrar do
filme, me dá vontade de revê-lo inúmeras vezes, só para vê-la olhar-se no
espelho, admirando-se, ou então para ver a sua indecisão em sair do carro do
marido e ir correndo em direção ao homem com quem quer passar o resto de sua
vida.
1999 – Um Amor
Verdadeiro (1998)
11ª indicação:
Melhor Atriz
Filme razoável no qual Streep definitivamente não é
protagonista e sua indicação na categoria principal, mais do que mostrar o
quanto a Academia gosta dela, nos faz crer que ela é um tapa-buraco
extremamente eficiente: na ausência de um quinto nome na lista de indicações,
basta colocar o dela e não haverá erro, já que sua interpretação jamais será
ruim, no máximo linear e comum, como é o caso desse filme no qual ela
interpreta uma matriarca que se descobre com câncer e cuja doença reúne os
familiares, exaltando as deficiências naquela família. Para mim, em seu lugar,
Renée Zellweger poderia facilmente ter sido indicada.
2000 – Música do
Coração (1999)
12ª indicação:
Melhor Atriz
Pela obviedade desse filme que mostra a batalha de uma
professora de violino por manter o seu projeto em vigor, Streep empatou com
Hepburn no número de indicações e concorreu com interpretações estupendas, como
as de Julianne Moore, Hilary Swank (a vencedora) e Anette Bening. O único filme
que não é de terror dirigido por Wes Craven garantiu uma participação
interessante de Meryl Streep, que torna o filme mais interessante de ser visto.
Ainda que sua interpretação tenha seus bons momentos, é apenas linear, e mais
uma vez me ficou a sensação de que ela estava ali completando a lista porque a
Academia não encontrou ninguém melhor para indicar.
2003 – Adaptação
(2002)
13ª indicação:
Melhor Atriz Coadjuvante
Poderia ter sido também por “As Horas” (2002), mas foi
pela sua participação no filme estranho e genial de Spike Jonze que Streep
conseguiu bater o recorde de indicações dentre os intérpretes. E o fez merecidamente,
já que sua atuação como Susan Orlean é maravilhosa, dessas que misturam todos
os sentimentos possíveis e apresentam-lhes com eficiência – ora triste, ora bem
humorada, ora toda sentimental. E ainda nesse ano, como já havia acontecido em
1980, quando Meryl disputou o prêmio com uma colega de trabalho, aqui ela
divide espaço com Julianne Moore, sua parceria no filme de Daldry. Justíssima a
indicação, principalmente por se tratar de uma das interpretações mais completas
da atriz.
2007 – O Diabo Veste
Prada (2006)
14ª indicação:
Melhor Atriz
Evidente que Meryl Streep dá vida a uma personagem
coadjuvante nesse filme. Miranda Pristley, a chefe-dragão, é o elemento que
causa empecilhos na vida de Andy Sachs, interpretada por Anne Hathway, a
verdadeira atriz principal. Penso que, mais do que uma indicação, Streep teria
aqui conquistado o seu terceiro Oscar, pois de fato é um dos seus grandes
momentos no cinema. Pena que estava indicada na categoria errada, o que acaba
justificando premiar uma atriz que fosse mesmo lead actress. Mas definitivamente meu referencial para chefe cuzão
mudou: antes era apenas aquele que cobrava demais, agora é também aquele que
simplesmente te despreza.
2009 – Dúvida (2008)
15ª indicação:
Melhor Atriz
Padre Flynn diz categórico que “a dúvida pode ser um elo
tão forte e perigoso quanto a certeza”. Se a irmã James convive com a dúvida, a
irmã Aloysius, personagem de Streep, convive com a certeza abrasadora de que o
padre é pederasta e pedófilo. Muitos dizem que sua interpretação é exagerada,
mas eu realmente a vejo como adequada, sem grandes exageros e totalmente digna
de uma indicação, sendo esse outro grande momento seu no cinema. Destaque
especial para a cena na qual ela conversa com a senhora Miller e se choca com
as opiniões da mãe do garoto que supostamente vem sendo aliciado pelo padre.
2010 – Julie &
Julia (2009)
16ª indicação:
Melhor Atriz
O grande escândalo: uma atriz como Meryl Streep perdeu o
Oscar para Sandra Bullock, atriz mediana em filme mediano. Mas essa indicação
de Meryl, a meu ver, é simplesmente como aquela acontecida em 1991 e em 1998,
com a diferença que o filme de 2009 é ainda mais mediano que os outros dois com
os quais comparei. Filme chato, atuação chata, mesmo que ela tenha ficado
bastante parecida com a personagem que interpreta (trata-se de mais uma
indicação por interpretar uma personagem real). Eu nem sequer a indicaria por
esse filme.
2012 – A Dama de
Ferro (2011)
17ª indicação:
Melhor Atriz - venceu
Finalmente o tão esperado terceiro Oscar, que poderia ter
vindo um pouco antes. Um hiato de 29 anos separa o segundo do terceiro prêmio e
os fãs comemoram a estatueta concedida à atriz que interpretou Margaret
Thatcher num filme cuja função é exclusivamente valorizar Meryl Streep, já que
seu roteiro não é muito focado em apresentar o período conhecido como
thatcherismo. Para mim, é indubitavelmente a melhor performance da atriz, a
mais eficiente em qualquer aspecto que se possa avaliar e consegue ser tão
completa e até mais complexa que aquilo que ela concebeu em “As Pontes de
Madison” (1995) e “Adaptação” (2002). Confesso que fiquei felicíssimo com sua
vitória, justamente porque tinha a impressão de que lhe tirar esse Oscar seria
um dos maiores roubos que poderia acontecer na história da Academia, tão grande quanto ou ainda maior que aquele que aconteceu em 2006, quando Witherspoon venceu Huffman na
categoria principalmente de atuação feminina.
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Não acredito que as indicações se encerrarão.
Aliás, com o lançamento de Hope Springs,
já em pós-produção, e com o lançamento de August:
Osage County, no qual partilha cena com Julia Roberts, penso que mais
indicações virão, e por que não um quarto Oscar? É evidente que Meryl, enquanto
fizer filmes, se mostrará extremamente dedicada, o que lhe possibilitará novas
indicações (por merecimento ou por tapar buraco) e talvez prêmios. Só resta
esperar.
4 opiniões:
Concordo com o seu comentário em "Julie & Julia". É um filme que eu não entendo tanto badass, é chato e Meryl está apenas verossímil. Só isso!
Gosto de "Adaptação", mas acho que ela merecia ter sido indicada por "As Horas"... E vou rever "As Pontes de Madison" hoje. Deu vontade, rs
Caro Luís,
Gostaria de elogiar seu blog, muito bem estruturado e com uma crítica ótima nos filmes analisados. Parabéns!
p.s: Meryl Streep impressiona qualquer um com sua beleza e sua interpretação!
Para mim, em 1999 e 2000, a Meryl recebeu indicações ao Oscar justamente por ser Meryl Streep. Esses dois anos foram muito fracos em termos de performances femininas.
Eu confesso que sou apaixonada pela atuação da Meryl em “Um Grito no Escuro”. Acho uma coisa de outro mundo e, por mim, ela teria levado seu terceiro Oscar por esse filme. O quarto Oscar viria por “As Pontes de Madison”. O quinto viria por “Dúvida” (até hoje não me conformo com a vitória da Kate Winslet, pois ela estava na categoria errada por “O Leitor”). O sexto viria por “A Dama de Ferro”. Será que isso teria acontecido mesmo de verdade?? ssrsrsrsrsrs Enfim, são performances favoritas minhas e estão guardadas comigo como algumas das melhores da carreira da Meryl.
Dos 10 filmes, assisti a 6 deles (Um Amor Verdadeiro, As Pontes de Madison e os quatro trabalhos mais recentes).
Acho que, como todo mundo,Meryl tem aquela capacidade de fazer com que todos gostemos dela. Os trabalhos dela são incríveis e merecidamente reconhecidos.
Concordo com você em cinco críticas dos seis que eu vi (principalmente em relação a Julie & Julia), mas discordo no caso de Um amor Verdadeiro. Apesar de achar que ela não é atriz principal, o filme é belíssimo com uma ótima atuação da atriz.
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