5 de jan. de 2011

Os Melhores e Piores Filmes de 2010

Não posso começar sem dizer que o ano de 2010 me trouxe muitos prazeres, em todos os sentidos possíveis. Tanto em minha vida pessoal tive grandes experiências como também as tive na minha vida acadêmica e na minha vida como cinéfilo e amante da literatura. Como o enfoque desse blogue é literatura e cinema, vou me abster de me focar na minha vida pessoal ou acadêmica e comentarei sobre tudo o que houve de bom e de ruim no ano anterior no que diz respeito àquilo que cabe ser comentado aqui.

Como de praxe, iniciei o ano assistindo a um filme. Na verdade, revendo um filme: O Silêncio dos Inocentes, o qual comentei recentemente aqui no blogue. Também como faço usualmente, finalizei o ano assistindo a um filme. Considerando as obras que para mim eram inéditas – ou seja, desconsiderando que o primeiro filme que vi em 2010 foi, na verdade, revisto – cito aqui as obras que deram início e término ao ano anterior. O primeiro filme foi Bandslam, pessimamente intitulado para High School Band – para aproveitar o recente sucesso de High School Musical. E o último filme visto em 2010 foi Harold and Maude, cujo título nacional é Ensina-me a Viver. Curiosamente, ambos me foram recomendados por colegas, respectivamente Bruno e Pedro. Agradeço aos dois, ainda que o Bruno tenha gosto cinematográfico duvidoso, pela gentileza de me sugerir os filmes e de, inclusive, passá-los para mim.

Acredito que o ano anterior foi bastante favorável em relação às novas obras. Vi uma porção de filmes, de várias nacionalidades diferentes, de várias décadas e também dos mais variados temas. Assisti a obras sobre racismo, violência, homossexualidade, ciúmes, obsessão, ménage à trois, solidão. Conferi também diversos gêneros, desde drama – que são os meus favoritos – até comédias estúpidas, as quais assisti a contragosto. Vi bastantes adaptações de livros – algumas muito boas, outras ruins. Das 128 obras cinematográficas conferidas, apenas 5 títulos ficam com notas abaixo da média, ou seja, apenas cinco obras conseguiram a proeza de receber nota inferior a 5,0. Devido a isso, mesmo que a média anual tenha sido mediana – 7,17 –, acredito que o ano de 2010 foi produtivo. Sem me prolongar mais, vamos então às listas dos melhores e dos piores, ressaltando que nelas só constam os filmes vistos pela primeira vez no ano passado.

OS MELHORES DE 2010

10ª posição: A Profecia (1976)
A história do garoto Damien foi regravada há apenas cinco anos, mas é o filme original que realmente contém aquele poder hipnotizador. Gregory Peck, Lee Remick, Harvey Stephens e Billie Whitelaw, dirigidos por Richard Donner, e acompanhados pela sinistra Ave Satani, são capazes de deixar o espectador ansioso pelo que há por vir. Uma obra que surpreende! E eu ainda o conferi com o Wilson, ou seja, em boa companhia.

9ª posição: O Retrato de Dorian Gray (2009)
Essa é a mais recente das adaptações do livro escrito por Oscar Wilde e essa versão consegue simplesmente mostrar um dos personagens mais fantásticos da literatura da melhor forma possível: amoral, intenso, sedutor. A história é envolvente, o personagem é cativante, a fotografia é muito boa. E não há como não querer não viver como Dorian, mesmo que vejamos tudo o que acontece com ele.

8ª posição: Despedida em Las Vegas (1995)
Provavelmente, é uma das história de amor mais incomuns do cinema: uma prostituta e um alcoólatra se encontram por acaso e iniciam um romance tumultuado. Enquanto Nicolas Cage realiza uma boa performance, Elizabeth Shue transforma o filme numa obra marcante – Sera, sua personagem, é uma das minhas preferidas!

7ª posição: Na Natureza Selvagem (2007)
Já disse isso na minha resenha: Sean Penn dirige muito melhor do que atua. A sua obra conta com uma fotografia fantástica, um enredo interessante – baseado em fatos reais – e um conjunto elogiável de atuações; destaque para o protagonista, Emile Hirsch. Sem errar no tom, a obra se mantém etérea e não cai no melodrama, o que é uma fator muito positivo.

6ª posição: Apagar os Rastros (2007)
Curiosamente, baixei esse filme pensando ser outro e, ao conferi-lo, me detive diante de uma das melhores obras mexicanas da década passada. A história do filme é envolvente e marcada por uma sutileza sentimental que aproxima o espectador dos acontecimentos, tornando-o ainda maiores aos nossos olhos. Uma descoberta fantástica, que merece chegar até os outros cinéfilos.

5ª posição: Central do Brasil (1998)
Muitos podem achar estranho, mas somente em 2010 eu assisti a esse filme do começo ao fim. E fiquei estarrecido com a interpretação da maravilhosa Fernanda Montenegro, que por si só faz o filme valer a pena. Mas o mérito não é só dela: os trabalhos de Walter Salles como diretor e da dupla João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein, responsáveis pelo roteiro, também são essenciais para que eu possa fundamentar a minha opinião: esse é o melhor filme brasileiro já lançado!

4ª posição: Julgamento em Nuremberg (1961)
Montgomery Clift, Marlene Dietrich, Judy Garland, Maximilian Schell, Burt Lancaster e Spencer Tracy – um elenco assombroso numa obra sobre um julgamento de oficiais nazistas que cometeram atrocidades durante a II Guerra Mundial. Ainda que haja aquele não muito sutil tom heróico estadunidense, o filme se sustenta como uma obra cinematográfica muito boa.

3ª posição: Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (1966)
O casal Burton e Taylor em mais um filme. E nessa obra, mesmo interpretando um casal, eles se opõem histericamente o tempo todo. São duas horas de pressão psicológica, de atitudes extravagantes, de ofensas baixas e falsos testemunhos. A somar, os coadjuvantes George Segal e Sandy Dennis completando a magnífica atuação dos atores principais. Ao terminar o filme, estava no mesmo estado de destruição dos personagens – de tão intensa que a obra é.

2ª posição: Desejo e Reparação (2007)
O filme dirigido por Joe Wright é dotado de uma fotografia invejável, um roteiro muito bem adaptado, uma direção de arte elogiável, um elenco muito intenso, uma trilha sonora originalíssima e uma magnífica cena de plano-sequência. Eu me esqueci de dizer que o filme é também excelentemente bem dirigido? Pois é, tem essa qualidade também, por isso conquistou o segundo lugar.

1ª lugar: Infâmia (1961)
É nesse filme que conhecemos a mentira que antecede o falso testemunho do filme Desejo e Reparação. Em The Children’s Hour, conhecemos o quão inconseqüente pode ser a atitude de uma pessoa que mente. Audrey Hepburn e Shirley MacLaine protagonizam essa obra e elas se somam ao enredo intenso, que aborda com franqueza a relação da sociedade com a homossexualidade na década de 1960. Memorável e inesquecível principalmente pela sua cena final.

Agora que vocês já conhecem o TOP 10 de 2010, não posso me esquecer de alguns filmes que, mesmo não estando entre os dez primeiros, foram obras que me marcaram de certo modo, seja pelo seu roteiro, pelo elenco, pelo diretor – ou mesmo por um conjunto qualquer de fatores. Enfim, são obras que merecem uma menção especial. Abaixo, cito brevemente alguns deles.

Corra, Lola, Corra (1998) – Demorou bastante para que eu assistisse a esse filme, mas quando eu o conferi, constatei ser uma obra interessantíssima, que trabalha o tempo de modo fantástico. Decerto uma obra alemã muito válida.

Direito de Amar (2009) – Excelentes atuações de Colin Firth e Julianne Moore, que está linda como sempre. A acrescentar, uma fotografia maravilhosa.

Geração Maldita (1995) – Esse filme é cheio de simbolismos e faz uma crítica muito boa a uma geração de jovens que vivem inconseqüentemente e que se focam na tentativa de “ser diferente”, o que apenas acaba por torná-los iguais.

A Princesa e o Plebeu (1953) – Comédia romântica que nos cativa pela presença da belíssima Audrey Hepburn, em seu primeiro filme nos Estados Unidos.

Procura-se Amy (1997) – Kevin Smith dirige uma obra simpática que debate a homossexualidade de modo descontraído e ainda apresenta um questionamento interessante sobre direcionar a amizade para o caminho do amor. Tudo isso de forma simples e despretensiosa.

Rocky Horror Picture Show (1975) – Ver Susan Sarandon aos 29 anos e ver o personagem de Tim Curry num mesmo filme é simplesmente muito bom. Destaque para as canções, que são engraçadas exatamente pela sua estranheza. Agradeço ao Pedro por recomendá-lo para mim.

Os Sonhadores (2003) – Bertolucci homenageia o cinema com a história de Matthew, Isabelle e Theo, três jovens que se envolvem num relacionamento a três e compartilham do gosto pela arte cinematográfica, proporcionando uma série de referências a grandes nomes, como Chaplin, e também a títulos marcantes, como Scarface. Isso sem esquecer um período histórico-social importante: o ano de 1968. Agradeço ao Marcelo por recomendá-lo para mim.

Durante o ano, porém, não vi apenas filmes bons ou medianos. Vi também obras intragáveis, quase insuportáveis e que me irritaram profundamente. Vou listar, então, os cinco filmes que obtiveram nota menor do que 5,0 e explicar o porquê de eu considerá-los desagradáveis.

OS PIORES DE 2010

5ª posição: Minha Mãe (2004)
Filme francês dirigido por Christophe Honoré, que também é o roteirista. Não entendi qual é a sua finalidade, haja vista que não apresenta uma crítica social, não apresenta um argumento de roteiro forte, não apresenta nada verdadeiramente novo – apenas choca gratuitamente o espectador com a história de um garoto que é envolvido nos jogos sexuais promovidos pela sua mãe. Louis Garrel e Isabelle Huppert totalmente desperdiçados.

4ª posição: Ken Park (2002)
Dirigido por Larry Clark, responsável pelo também polêmico Kids, e co-dirigido por Edward Lachman, a obra nos conta a história medíocre de quatro adolescentes medíocres que tem atitudes medíocres, como maltratar os avós, se masturbar enquanto se enforca, transar com a namorada e também com a mãe dela e fazer sexo oral no coleguinha correndo o risco de ser flagrada pelo pai ultrarreligioso. Num filme com propostas sérias, cada uma das situações que eu citei poderiam ser muito válidas; aqui, é apenas lixo barato com direito a uma cena final de sexo a três bastante explícita.

3ª posição: Glue (2006)
A “história do adolescente no meio do nada” é bastante metafórica, quase metalingüística – o personagem realmente está no nada, pois sua vida é contada num filme onde não há direção, nem roteiro, nem interpretações válidas. Nem sequer descobri qual era a proposta de Aléxis dos Santos, diretor e roteirista, que, por um instante, pensou que poderia compensar o espectador com uma cena muito extrovertida de “pegação” a três no final do filme – isso apenas mostra a falta de direção do filme.

2ª posição: Brüno (2009)
Sacha Baron Cohen já havia me incomodado anteriormente com Borat e, ao estrelar Brüno, ele me convenceu de que é realmente retardado. O filme é cheio de elementos ofensivos e praticamente não possui humor nenhum, o que incomoda ainda mais, porque o filme é vendido como uma comédia. Enfim, péssimo.

1ª posição: Um Copo de Cólera (1999)
O filme possui apenas setenta minutos. Nos primeiros trinta minutos, temos uma seqüência bastante extensa de cenas de sexo, muito explícitas, algumas até vulgares e incômodas, por parecerem gratuitas demais. Nos quarenta minutos restantes, temos uma seqüência histérica de ofensas trocadas pelos personagens, que se enfrentam rebuscadamente, impedindo que o espectador possa acompanhar os diálogos – a não ser, é claro, que ele pause o filme o tempo todo para procurar no dicionário o significado de algumas palavras. Só para constar, não duvido de que alguns tenham feito isso somente para depois dizer que o filme é fantástico e que sua semântica é incrível. Para mim, a coisa à qual os diálogos pretendem aludir torna-se inacessível. Se um sinal concreto – como a comunicação – não é emitido ao espectador, ele obviamente não lhe responde e isso faz com que um filme se torne desnecessário. É o que acontece aqui.

Abaixo aproveito para citar outros filmes que, mesmo conseguindo notas maiores que a média, não me agradam totalmente e inclusive me incomodaram por algum motivo.

A Casa do Fim do Mundo (2004) – Foi pessimamente adaptado do livro Uma Casa no Fim do Mundo e todos os relacionamentos debatidos no livro se perderam no filme. O que esperar, afinal, de um filme no qual Colin Farrell interpreta alguém emotivo?

Delicada Atração (1996) – Filme mediano que aborda a homossexualidade de dois garotos adolescentes. Tudo vai bem até que o roteiro começa a criar situações inverossímeis e incômodas – como, por exemplo, toda a sociedade aceitando a relação entre os dois jovens.

Do Começo ao Fim (2009) – Obra brasileira de gosto extremamente duvidoso. Ao terminar de ver o filme, fiquei em dúvida a respeito das intenções do roteirista: ele realmente queria que acreditássemos que o que acontece nesse filme pode ser real? Se sim, de que planeta será que ele veio?

Nine (2009) – Daniel Day-Lewis, Nicole Kidman, Penélope Cruz, Marion Cotillard e Judi Dench e o resultado é isso? Rob Marshall não conseguiu repetir o sucesso de Chicago, cujo elenco, em qualidade, é consideravelmente inferior.

Enfim, esse é o post sobre os melhores e piores filmes de 2010. Em breve, publico outro post apenas comentando sobre os livros lidos e o que eu achei deles.

5 opiniões:

Anônimo disse...

'a profecia' me causa arrepios até hj


http://filme-do-dia.blogspot.com/

Rafael disse...

É legal ver que filmes mais antigos entraram na lista dos melhores; mostra que boas obras não dependem dos avanços tecnológicos..pelo menos se o que você procura for densidade e boas interpretações, que acho que é a linha que se segue por aqui. Agora, para o gosto medio(cre), não sei se dá pra encarar um filme da década de 60...

E eu queria ser igual ao Dorian Gray: amoral e intenso...porque ser sedutor é consequencia disso. Os canalhas são sempre os mais bem sucedidos.

Hun, acho que me interessaria pelo Minha Mãe. Gosto de perversão, apesar de não me imaginar em jogos sexuais promovidos pela MINHA mãe, pode ser interessante imaginá-los com a mãe dos outros.

Marcelo A. disse...

Gostei do post, man! Achei bacana a sua ideia de listar não apenas os melhores de 2010, mas os seus melhores de sempre e os seus piores também. E, como acabei de comentar no msn, achava mesmo que não gostaria tanto de Desejo E Reparação - mais por você e não pelo filme que, pra mim, é um dos grandes de todos os tempos.

Ansioso agora para conferir a listinha literária...

Beijo!

Rafael disse...

Isso não é um comentário.
Só vou dizer que, se todos os filmes aqui tem algum artigo no seu blog, você poderia por os links deles aqui na lista (na imagem ou no título, por exemplo). Ia ficar bacana.

Falo isso porque tava procurando o artigo do Dorian Gray pra passar pra um amigo e demorei pra encontrar, pq não consegui pela pesquisa =P.

Abraço.

Wallace R. disse...

o filme "Do começo ao fim" tem um público bem dividido: entre aqueles que amam, e os que o odeiam. Eu particularmente gostei, por celebrar apenas o amor e não a realidade.