13 de jan. de 2011

Os Melhores e Piores Livros de 2010

Assim como 2010 foi um ano de bastantes filmes, também foi um ano de muita leitura, ainda que eu tivesse me dedicado muito mais aos filmes do que aos livros. Muitos dos títulos que eu li foi com finalidade acadêmica, então não vou ficar escrevendo aqui sobre livros teóricos, já que eles não se enquadram exatamente no que eu chamo de “literatura”.

Eu conheci algumas boas obras e li também algumas que não me causaram uma boa impressão. Também tive o prazer de reler algumas obras e, infelizmente, abandonei a leitura de algumas no meio, por falta de tempo e por outras necessidades. Não vou me estender muito com esses meus comentários, vou direto à lista dos melhores e dos piores livros que eu li no ano anterior. Optei por não elencá-los numa lista de preferência, então vou apenas dividi-los em “gostei” e “não gostei”. Começo, então, pelos que mais me chamaram a atenção:

Uma Casa no Fim do Mundo, de Michael Cunningham – o enredo narrado por quatro vozes é fantástico. O autor não se limitou ao compor a história de Jon e Bobby, garotos que se conhecem e se tornam amigos – e mais tarde envolvem-se amorosamente. Já adultos, conhecem Clare e acabam envolvidos numa relação a três. Sem medo de se aprofundar nas relações psicológicas, Cunningham compôs uma obra que merece ser lida por causa de seu tema delicado e pela forma – igualmente delicada – com a qual o autor soube conduzir a história. E ainda tenho um apreço especial por esse romance porque ele me foi recomendado por alguém de quem eu gosto bastante: a Jacqueline. Um beijo pra você!

Gota D’Água, de Chico Buarque e Paulo Pontes – inspirado pela tragédia clássica Medeia, os autores reinventaram a história da mulher que faz tudo pelo marido e é trocada. A personagem grega Medeia tornou-se a carioca Joana, o herói Jasão, homônimo na obra contemporânea, é um cantor bem sucedido. A história, com isso, recebeu um charme a mais, atingindo o leitor com a sua intensidade mórbida. Acredito até que ela seja capaz de atrair o interesse pela obra original, de Eurípedes.
Jogo Perigoso, de Stephen King – nunca neguei: esse é o meu autor preferido. Acusam-no de só saber escrever histórias de terror, mas eu garanto que Stephen King vai muito além disso. Nessa obra, ele invade o psicológico de uma personagem algemada a uma cama, obriga-lhe a reviver sua infância problemática, faz com que ela assista a um cachorro esfomeado devorar o corpo do marido morto (morte da qual ela é responsável) e ainda faz com que ela se confronte com seu próprio corpo e suas necessidades fisiológicas. Uma viagem intensa para o leitor.
O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde – Dorian Gray é um personagem que me marcou. Wilde não poupou filosofia e questionamentos ao escrever o seu único romance. A vida de Dorian é ao mesmo tempo transgressão e pecado, é imoralidade e blasfêmia – tudo isso apresentado de modo muito simbólico e provavelmente distorcido, já que me parece que nenhum pecado é de fato pecado e a imoralidade é, na verdade, a maneira como as pessoas definem tudo aquilo que elas querem fazer e, por medo do pensamento alheio, não fazem.
Leite Derramado, de Chico Buarque – mais uma vez na lista dos melhores, Chico Buarque me encantou com a história de Eulálio, um senhor hospitalizado que divaga sobre a sua vida e conta de modo não-linear a sua vida e a vida dos seus ascendentes e descendentes. Escrito com um estilo muito próprio e superelogiável, essa obra de Chico Buarque registrou-se para mim como uma amostra de que autores brasileiros têm produzido boas obras.



Infelizmente, nem todos os livros que eu li me causaram emoção ou gratidão. Custou-me muito tempo para ler alguns, mesmo eles sendo obras curtas, que eu usualmente leria em menos de uma semana. Ainda bem que eles não foram muitos ao longo do ano. Vamos à lista dos meus pequenos incômodos.

A Paixão Segundo G.H., de Clarice Lispector – não sei bem qual é o problema desse livro, mas acho que ele é totalmente disperso e, por causa disso, desagradável. Diferentemente de A Hora da Estrela, não qual o efeito metalingüístico é fantástico, aqui as incursões da narradora em sua própria mente é realmente chata, divagando na maioria das vezes sem propósito. Ainda bem que também reli o outro título citado, a fim de manter o meu carisma pela autora. G.H. pode parecer legal para muita gente, mas para mim ela é apenas uma mulher chata que um dia, por despropósito do destino, encontrou uma barata, esmagou-a e a comeu por falta de algo mais produtivo pra fazer.

Limite Branco, de Caio Fernando Abreu – o primeiro livro que leio do autor me causou extremo desagrado, porque ele, assim como A Paixão Segundo G.H., é cheio de divagações desnecessárias, que atrapalham o desenvolvimento do romance. Aliás, nem sequer descobri o que Caio F. quis mostrar com essa sua obra, haja vista que o enredo é por si só muito cansativo e limitado por si mesmo.
O Terceiro Travesseiro, de Nelson Luiz de Carvalho – enquanto as duas obras de cima simplesmente não se desenvolvem, essa obra nos conta uma história que flui; e flui tão bem que eu a li em apenas um dia. O problema reside no bom gosto estético, uma vez que esse livro conta com um enredo cheio de clichês e numa estrutura narrativa muito primária, isso para não citar o estilo trágico de escrita do autor, que parece ter escrito o romance quando tinha 12 anos de idade! Desse modo, o triângulo amoroso formado por Marcus, Renato e Beatriz é simplesmente descartável para a literatura nacional – e o pior de tudo que é que isso virou peça de teatro e vai virar um filme. Pra quê?

Então, esses são os melhores e os piores de 2010. Li alguns outros livros, mas basicamente os que chamaram a atenção – positiva ou negativamente – ao longo do ano anterior foram esses títulos citados.

5 opiniões:

Marcelo A. disse...

Uma Casa No Fim do Mundo e Jogo Perigoso são os livros que eu não li dessa lista. No restante, concordo contigo. Agora, é inegável que, O Terceiro Travesseiro é, disparado, não só o pior livro lido por mim em 2010, como certamente será o pior lido em toda minha vida. E sinceramente? Aos 12, eu escrevia melhor que aquilo...

=P

Beijo, man!

Jac disse...

Eu concordo completamente com a primeira lista. Adoro todos esses livros, principalmente o Dorian, que você sabe, é meu novo amor verdadeiro. Já com a G.H., acho que você pegou pesado, eu tirei muita coisa das divagações da moça, não subestime a pobre. Não é uma obra inesquecível para mim como foram TODAS as da primeira lista, mas ainda assim me fez refletir em vários momentos, de modo que simpatizo com a protagonista e até mesmo com as imagens do livro, o deserto, o quarto branco, achei bem interessante sim. Não li Limite Branco, imagino que seja imaturo mesmo, mas ainda recomendo enfaticamente os contos, esse cara é muito foda. E, por fim, acho que você pegou leve com os travesseiros, impossível definir essa coisa sem o uso de alguns palavrões. Um beijo pra você também, corasao, saudades!

Lari Bohnenberger disse...

Eu tenho um seríssimo problema com indicações de livros: sempre que leio uma sinopse ou uma resenha que me agrada, eu PRECISO comprar o livro em questão, tipo, IMEDIATAMENTE! Já fui à falência este mês por conta de tantas indicações que recebi, e agora que passei por aqui estou com o cartão de crédito coçando...
Ai que vida difícil...

Pedro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jane disse...

Desculpe, acabei de espiar o teu blog e esse post dos melhores e piores me chamou a atenção. Quando terminei de ler seu comentário a respeito de o Terceiro Travesseiro, que nem li, não resisti. Agradeço o post, pois não perderei tempo lendo. Mas quando questiona o motivo de uma literatura tão crua ser motivo de virar peça de teatro e anda filme, acredito que isso só prova o quanto nos tornamos superficiais. Indispostos de realmente entender ou perceber e sentir o que jaz sob as máscaras que usamos. Literatura nos ascende esses reflexos. Estórias contadas por esse viés de literatura, não chegam tão longe.