22 de jan. de 2011

The Sex Movie

The Sex Movie. EUA, 2006, 84 minutos, comédia. Diretor: Colton Lawrence.
Filme feito para ser visto numa noite sem nenhuma grande pretensão e agrada principalmente aqueles que gostam de ouvir diálogos sobre sexo - e eventualmente ver cenas de sexo.

“A beleza da vida quase sempre é encontrada quando desistimos de controlá-la”.
The Sex Movie é um filme sobre sexo e isso fica claro pelo péssimo título original. Infelizmente, acho que esse filme não foi lançado no Brasil nem sequer em DVD e muito provavelmente ficará sem vir para cá por muito tempo, porque provavelmente não deve ser muito conhecido nem mesmo no país que o concebeu.

O cenário do filme é a casa de Kris, que convidou os seus três amigos – J.D., Heidi e Rafe, respectivamente um heterossexual, uma lésbica e um gay – para passar uma tarde em sua casa, como nos velhos tempos. Os quatro trabalham nos bastidores de ensaios pornográficos, então o sexo é algo bastante natural pra eles. E é exatamente sobre isso que eles discorrem ao longo do filme: tabus, medo, machismo exacerbado, a sociedade e a sexualidade, os defeitos masculinos, os defeitos femininos, etc.

Como disse acima, o cenário é a casa de Kris e é nesse ambiente que os personagens ficam durante os 84 minutos de filme. O roteiro privilegia os diálogos e as constatações de cada personagem, garantindo que cada um tenha o seu espaço em cena e que exprima claramente as suas opiniões sobre o tema que debatem. Não acredito que nenhum personagem seja coadjuvante, porque fica bastante evidente a importância de cada um na trama: todos têm o mesmo peso em cena e o diretor optou por intercalá-los; se um fala, os outros se tornam secundários, vão revezando, um tendo destaque em cada momento. Como todos têm opiniões fortes e são bastante rígidos nas suas convicções, muitas discussões sérias acontecem ao longo do filme e todas as elas são bem estruturadas, apresentando então argumentos mais fortes para defender os posicionamentos dos personagens. Vale ressaltar que eles estão sob o efeito do álcool e de ¼ de pílula de ecstasy – logo perder o controle fica bem fácil. E assim eles começam não apenas um jogo de palavras e debates, mas também um jogo de sedução, no qual brincadeiras ousadas são propostas o tempo todo, desde as garotas se beijarem e se acariciarem até os rapazes mostrarem os seus pênis e se beijarem também.

É curioso notar o uso da expressão “no calor do momento”, que é dita pelo personagem heterossexual quando o homossexual o beija inesperadamente e ele retribui. Todos os acontecimentos que os personagens vivenciam têm a ver com a situação daquele momento e não de experiências anteriores entre eles. Tanto é que eles são amigos e inimigos ao mesmo tempo; há neles o conforto da amizade e a fúria da arqui-inimizade. A proximidade entre eles causa um conflito muito intenso em cada um, já que todos estão envolvidos no jogo perigoso proposto pela anfitriã: sexo e sentimentos, não apenas fazê-los, mas também senti-los. Acredito que a melhor personagem, aquela é mais desenvolvida seja Kris, a dona da casa. Ela se mantém coerente ao longo do filme todo e apresenta argumentos irrefutáveis sobre vários assuntos, como, por exemplo, a evolução do ser como criatura bissexual. Os outros personagens são instáveis em muitos momentos. J.D. é de uma arrogância extrema e num momento diz que acha homossexuais uma aberração, principalmente se considerar os preceitos religiosos, e noutro momento diz que não tem nada contra eles; Rafe e Heide envolvem-se num jogo de confidências que não é respeitado nem por um nem por outro; Rafe é submisso demais enquanto Heide é muito extremista, mas depois a situação inverte e explode – no final do filme, todos os personagens já discutiram com todos, houve agressão, objetos atirados na parede, uma cena de sexo. Acho que o grande problema do filme é o final, que parece totalmente fora do contexto da obra, já que tudo se voltou para um romantismo errôneo e destoante, que definitivamente deveria ter sido evitado nessa obra em particular.

Há um tom meio amador no filme, principalmente nas tomadas externas, quando os personagens são filmados andando na rua – a câmera não deve ser profissional e isso resultou naquela imagem meio ruim. Os atores provavelmente não são profissionais também. Em alguns momentos, eles parecem amadores. A exceção fica por contra de Michelle Mosley e Mathew Tyler, intérpretes de Kris e J.D., que mantém a sua boa atuação do começo ao fim. A simplicidade da atuação de Mike Fallon, o Rafe, me irritou, porque o seu personagem precisava de um tom menos submisso e miúdo e o ator simplesmente se deixa desaparecer ao lado dos outros atores. Eleese Longino, Heide, é aquela que mais discute em todo o filme. Suas discussões se baseiam em gritos, o que me perturbou um pouco, e em algumas cenas, ela parece bem confusa quanto àquilo que deve demonstrar sentir.

Creio que The Sex Movie seja uma obra interessante, mas não é grandiosa nem pretensiosa e talvez esse seja o seu acerto. Não há nela grandes expectativas – é uma produção cujo único fim é entreter o espectador. E eu devo dizer que consegue fazer isso bem se o espectador conferi-la também sem grandes esperanças. O ponto alto do filme são os diálogos sobre sexo e as constatações críticas apresentadas ao longo do filme. Não é um filme do qual você sempre se lembrará, mas decerto é um entretenimento para uma noite fria em que você está sozinho em casa. Pensando bem, talvez seja mais legal vê-lo acompanhado...

2 opiniões:

Rodrigo Mendes disse...

Ual! Interessante, rs!

Abs.
Rodrigo

Cristiano Contreiras disse...

Eu acho que esse filme mostra bem a juventude que verbaliza suas ações, seus sentidos e anseios sexuais. E o filme apenas exerce só isso mesmo: a sexualidade à flor da pele. Em breve posto ele no Apimentário, mas seu texto é ótimo!

abraço