Sophie’s Choice. EUA
/ RU, 1982, 150 minutos, drama. Diretor: Alan J. Pakula.
Trata-se de um filme
de trajetória agridoce que perturba o espectador.
Penso que a escolha feita por Sofia seja um dos grandes
dilemas cinematográficos. Impossível não ouvir o título desse filme e ser
remetido à tristeza que se impôs na vida de Sofia, personagem interpretada por
Meryl Streep, cuja vida é marcada por uma série de altos e baixos, sendo que o
seu passado – e, evidentemente, a escolha por ela feita – resulta na maior
depressão de sua vida e que é capaz de instaurar a agonia até mesmo no
espectador que acompanha ao filme.
Penso que seja difícil apresentar uma sinopse completa e
eficiente para esse filme. Tenho a impressão de que ele se resume em si mesmo,
sem tirar nem por, tamanha a força de seu enredo. Sofia é uma mulher polonesa
de cerca de 30 anos que vive nos Estados Unidos junto com Nathan, seu
companheiro. A vida do casal é modificada com a chegada de Stingo, um jovem que
pouco a pouco se aproxima dos dois e que vai descobrindo o plano de fundo da
história da personagem-título, desde as experiências dela com a II Guerra
Mundial até o porquê de ela se relacionar com Nathan, cujo temperamento é
extremamente variável, chegando inclusive à agressividade.
Penso que antes mesmo do roteiro, nota-se o nome de Meryl
Streep e o modo como ele está associado ao filme, já que essa obra rendeu à
atriz, em 1983, seu segundo Oscar, dessa vez como atriz principal (o anterior
havia sido conquistado três anos antes, pela sua participação como atriz
secundária no filme “Kramer vs. Kramer”, de 1979). Se a história do filme não
fosse por si só bastante pesada e o seu roteiro não fosse bem conduzido,
decerto o espectador ficaria exclusivamente à mercê da atriz, que conduz a
trama com extrema habilidade, passando dos bons aos maus momentos, das alegrias
parciais às súbitas ondas de tristeza – não acho que seja a sua melhor
interpretação, mas não duvido de que seja um de seus momentos mais marcantes no
cinema.
A personagem Sofia é bastante complexa. Difícil
compreender perfeitamente suas motivações, o que a faz efetivamente permanecer
ao lado de Nathan e, mais ainda, difícil conseguir saber como é a relação dela
consigo mesma e com a escolha que ela fez – escolha essa que, embora todos
saibamos qual é, só é vista ao final da película, sendo praticamente uma das
últimas cenas. De perseguida e torturada até o momento no qual a vemos na
presença de Stingo, parece que a personagem se livrou de um dos piores momentos
de sua vida, mas o nome do filme está ali para não nos deixar esquecer, nem
mesmo por um momento, que o maior drama da personagem talvez não tenha sido às
situações pelas quais ela foi obrigada a passar, mas sim aquele no qual ela
tomou uma decisão que a afetaria para sempre, mesmo depois que aquela “fase
ruim” passasse.
O roteiro não se compõe exclusivamente de Sofia, ainda que
sua personagem seja a central e o seu conflito o mais notável. Vemos também
Nathan, cujo temperamento instável faz com que fiquemos o tempo todo
apreensivos, e a proximidade de Sofia com Stingo somente intensifica o nosso
receio de que algo ruim possa acontecer a qualquer minuto. O triângulo que se
forma entre os personagens é bastante confuso, principalmente porque parece
meio nebulosa a relação entre eles, já que não se sabe se Nathan percebe as
investidas de Stingo e, ao mesmo tempo, me soou meio complicado perceber o que
significa a interação entre os personagens masculinos, havendo uma vibração
amorosa entre eles também.
Ao longo de 150 minutos, Alan J. Pakula consegue
impressionar o espectador com a narrativa, principalmente nos momentos mais
tensos, como as cenas nas quais Sofia está no campo de concentração e Meryl
Streep se apresenta praticamente destruída. Um colega meu comentou que esperava
um filme mais emocional, que fizesse chorar, menos monótono – quanto a isso,
posso concordar apenas com o último comentário, já que acho que falta mesmo
certo ritmo ao filme, que poderia ter sua história contado num tempo mais
curto, com alguma velocidade a mais, mas a meu ver se trata de uma obra
emocional se caráter também descritivo: não é à toa que vemos tantas cenas dos
problemas enfrentados nos campos de concentração.
A grande cena do filme – a escolha – foi gravada
numa única vez e ela é dolorosa, sendo potencialmente o que mais marca o filme,
principalmente porque é ali que vemos a total entrega da atriz principal ao
personagem. Há, no entanto, grandes outros momentos que se unem e transformam
essa obra numa produção elogiável: Kevin Kline faz por merecer as atenções,
dada a sua performance pungente, que infelizmente não recebeu nominação ao
Oscar; Peter MacNicol também não fica a desejar, ainda que por vezes suma ao
lado dos seus colegas (a culpa não é toda do ator: seu personagem é menos
interessante que os outros dois); Pakula extraiu o máximo dos seus atores e
conseguiu atribuir ao filme um caráter que, apesar de mórbido, causa certo
fascínio – não é à toa que há tantos fãs que irrevogavelmente acham que esse é
um dos melhores filmes do cinema. Enfim, é uma opção para gostos variados: para
quem gosta de Meryl Streep, para quem gosta do tema (Segunda Guerra Mundial),
para que gosta de triângulos amorosos perturbados etc.
2 opiniões:
Esperava que o filme todo fosse passado na época da escolha do título. Por isso, minha decepção quando descobri que era narrado em flashbacks. De qualquer forma, Meryl está sensacional. Incrível a dedicação dela!
No final, adicionaria: quem gosta de bom Cinema. A Escolha de Sofia é mesmo um drama doloroso e belíssimo, com um triângulo amoroso realmente complexo. Meryl Streep, claro, dando show, com um sotaque muito elogiado por todos! Discordo apenas em relação ao tema, que, pra mim, é certinho. Algo mais apressado podia atropelar a narrativa e tirar sua vertente mais contemplativa e paciente.
Postar um comentário