Ironweed. EUA, 1987,
136 minutos, drama. Diretor: Hector Babenco.
Jack Nicholson e
Meryl Streep - dois dos maiores atores da atualidade não conseguem tornar essa
produção interessante.
Hector Babenco já havia proporcionado pelo menos dois
grandes títulos ao cinema, sendo eles “O Beijo da Mulher-Aranha” e “Pixote - A
Lei dos Mais Fracos”, sendo esse último um título vindo de uma co-produção
entre Estados Unidos e Brasil, chegando inclusive à lista dos indicados e
premiados do Oscar no ano de 1986. Em 1987, o diretor traz às telas a história
escrita por William Kennedy em seu romance homônimo a respeito de duas pessoas
que tiveram uma vida bem sucedida, mas que, à época registrada, no ano de 1938,
se tornaram dois mendigos que mal conseguem sobreviver.
Dois dos maiores intérpretes da atualidade - Jack
Nicholson e Meryl Streep - dão vida a Francis e Helen, que carregam consigo
tristeza pelo que lhes aconteceu no passado e com que ele não conseguem lidar,
nem mesmo esquecer. Ele, há 22 anos, deixou que o filho pequeno caísse ao chão,
levando-o à morte - acontecimento que Annie, sua esposa, manteve omisso,
permitindo então que ele não fosse visto com maus olhos, fosse pelos parentes
ou pelos amigos; afinal, como ela mesma disse, não havia sido culpa nem dele
nem dela, não havia por que espalhar dando margem a interpretações equivocadas
ou propositadamente más. Helen, por sua vez, foi uma grande cantora das rádios,
colecionava fãs, e era a herdeira do dinheiro de sua família; o irmão, porém,
roubou-lhe tudo, deixando-a miserável, sem ter como se virar - inevitavelmente
foi às ruas, onde passou a viver e onde, ao acaso, encontrou Francis, que
estava doente e de quem cuidou, tornando-se assim companheira dele.
Um pequeno brinde, mesmo sem saber onde dormirão à noite ou ainda se sobreviverão ao frio.
Acredito que esse foi o apenas o segundo filme a que eu
assisti em que não vi Jack Nicholson interpretando um sujeito “peculiar” ou
radical, como as criaturas por ele interpretadas nos filmes “Batman - O
Retorno”, “O Iluminado”, “Um Estranho no Ninho”. O seu personagem é tão
seguramente banal que é inevitável não gostar dele, não acho simpático, mesmo
quando ele, por desespero, num misto de raiva e humilhação, dá umas
chacoalhadas em Helen, por ela portar-se de modo mesquinho. A interpretação
dele é bastante convincente e não me surpreende que ele tenha chegado em 1988 à
sua nona indicação ao Oscar pelo seu desempenho em Ironweed, mesmo sendo o
filme uma das obras mais potencialmente chatas a que já assisti. Os dramas
pessoais de Francis só não se tornam maiores e mais interessantes, porque estão
inseridos num filme sem vida, de desenvolvimento lento demais para pouco
enredo; fosse de outro modo, decerto teríamos as nossas emoções bem mais
acessíveis à história.
Pode-se dizer o mesmo de Meryl Streep, embora, a meu ver,
sua interpretação é menor que a dele, assim como o seu espaço em cena, que
parece bastante limitado, não cabendo a ela o tempo adequado para que sua
personagem possa se desenvolver. A parte do enredo na qual ela é inserida é
bastante pífia, tornando-a uma ranzinza que fica murmurando e gemendo para lá e
para cá, havendo apenas uma pequena cena logo no começo que dá alguma amplitude
psicológica a Helen, fazendo assim com que nós nos aproximemos um pouco mais
dela - mas, como já disse, o filme chato não permite que compreendamos mais a
situação da co-protagonista. A Academia se rendeu ao talento de Meryl em
transformar sua pequena participação em uma atuação notável, mesmo que bastante
simples e nem tão grande a ponto de merecer uma indicação ao Oscar. Mas,
afinal, estamos falando do ano de 1988, quando blasfemaram ao indicar “Nos
Bastidores da Notícia” como Melhor Filme; não havia por que não colocar Meryl
como uma das melhores atrizes do ano.
Catarse falha: nem o momento mais trágico gera emoção no espectador.
Falta um lampejo de vida à história de Hector Babenco, que
se mostrou mais apto nos seus filmes anteriores. A história é cansativa,
deveras lentas, o filme escorre, faltando a ele um ritmo mais aguçado. Qualquer
amador sabe que é necessário fazer com que haja velocidade numa composição artística,
seja filme, história em quadrinhos ou poesia. Encha os quadrinhos com muitos
balões e veremos rapidamente uma dificuldade na leitura e compreensão; componha
uma poesia cheia de palavras de significados pouco conhecidos, obrigando o
espectador a procurar no dicionário a cada duas três sílabas poéticas e haverá
notadamente desinteresse. É justamente esse problema que acontece em Ironweed,
cujos tradutores nem sequer souberam como transpor o título original para uma
adaptação em português a fim de torná-lo mais atrativo. Como apontei, as
histórias de Francis e Helen parecem potencialmente interessantes, mas se
mostram aborrecedoras devido à lentidão do filme, que ultrapassa duas horas
embora nós tenhamos a sensação de que vimos material para apenas quarenta
minutos. E a pergunta que fica é: o filme foi esticado?
Nem mesmo os momentos oníricos de Francis
alicerçam o interesse do público. Os seus devaneios e as suas alucinações, que
deveriam trazer maior profundidade ao personagem, acabam por limitá-lo a um
“será que sou louco?”. A questão dos mendigos que morrem por falta de proteção
também é rapidamente esquecida bem como a discussão acerca do preconceito
sofrido por eles quando as pessoas nem sequer sabem que motivos os levaram
àquela vida que, segundo Helen, às vezes nem corresponde à “dignidade humana”.
Estamos falando de Hector Babenco, Jack Nicholson e Meryl Streep: três pessoas
extremamente competentes que não dão ao filme ares de qualidade. Infelizmente,
o filme é esquecível e a sua sutileza poética acaba sendo desmerecida pela
falha de execução do diretor.
8 opiniões:
Pocha... Já tinha ficado animado com o elenco e a direção, mas já que o filme é tão chato assim, eu nem vou me arriscar, rs
Melhor deixar pra lá...
Primeira vez que entro no seu blog e já de cara gostei muito. A ideia de escrever sobre todos os filmes indicados ao Oscar de Meryl Streep foi muito boa. Eu mesmo não vi todos os filmes. Tenho o costume de fazer peregrinações pela obra de diretores que julgo importantes, mas elas acabam se tornando mais espaçadas, não tão organizadas como aqui.
Sua crítica me desanimou, com certeza. Um dia irei ver, já que amo a Meryl, mas não será agora.
A maioria dos críticos considera o filme chato, mas mesmo assim ainda tenho curiosidade em assistir.
Abraço
Eu ainda não assisti, mas eu também ainda tenho curiosidade de conferi-lo, esta questão sobre ser chato ou não acho que acaba sendo mais pessoal, depende muito do quanto você se envolve com a trama.
Acredita que esse é um dos filmes que tinha mais interesse da carreira da Meryl Streep? Na verdade, já o procurei em várias locadoras e não encontrei. Seu texto me deixou meio borocochô, mas ainda acho o título curioso e pretendo ver. Aliás, sobre o Jack Nicholson, recomendo um maior aprofundamento na carreira dele (quem sabe o próximo homenageado do blog?), pra conhecer mais de seus papéis "normais, que são vários e os melhores!
Ironweed é o retrato de uma sociedade perdida, fracassada e sem esperanças. Hector Babenco consegue captar essa angústia nos dois personagens Helen e Francis. A história de amor áspera e amarga, repleta de angustia e traumas nos deixam emocionados e inquietos. A grande direção de Babenco e as interpretações de Meryl e Jack não memoráveis. E o filme não é lento coisa nenhuma. é que estamos mau acostumados com os filmes de Hollywood que são rápidos demais. É o tempo do filme é o tempo de suas vidas, que andam sem direção e sem nenhuma proteção. Um grande filme sem dúvidas!
É devo descordar de alguns comentários sobre o filme Ironweed.
O filme não é lento coisa nenhuma. É que estamos habituados a rapidez dos filmes de hoje e quando cruzamos com uma obra como essa, humanista, crua e cheira de sígnos como Hector Babenco já havia usado no espetacular "Pixote" e "O Beijo da mulher aranha" achamos um pouco lento. E quanto as interpretações são dignas de Oscar. Meryl e Jack fazem um casal de Mendigos carregados por fortes traumas e insatisfações que entre um conflito e outro podemos sentir na pela a culpa, a dor que os domina. Parece uma despedida eterna, a caminho do precipício. Um história de amor áspera e amarga de terminará num beijo de afogados.
É um grande filme que mostra um lado que os americanos não gostam de se lembrar, como os assassinatos a mendigos a sangue frio. Um belo filme, assistam e comprovem!
William Di Castilho, Arcoverde-PE
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