The Deer Hunter. EUA / UK, 1978, 182 min, drama. Diretor:
Michael Cimino.
Uma obra cuja
duração não faz jus à sua eficiência fílmica e que nem é tão boa como todos a
julgam.
A chamada Guerra do Vietnã havia acabado há pouquíssimo
tempo quanto Michael Cimino se reuniu a Robert De Niro, Christopher Walken,
John Cazale, John Savage e Meryl Streep para realizar essa grande produção, o
grande hit Cult do ano, filme que
marcaria a grande premiação do Oscar de 1979, a primeira de muitas indicações
de Meryl Streep, o último filme de John Cazale (já bastante doente à época das
filmagens) além de ter se tornado um filme-referência para muitos títulos e
abordagens sobre a guerra que viriam e de notadamente ostentar uma visão
bastante norte-americana e patriótica acerca dos problemas dessa guerra que os
vietnamitas, em oposição aos estadunidentes, chamam de Guerra Americana.
O foco do filme é notadamente a relação dos personagens
centrais – Michael, Steve e Nick, todos russo-americanos – com as situações
pelas quais eles passam. Assim, é necessário um grande percurso de suas vidas a
fim de que a construção de suas perspectivas seja bastante concreta conforme a
história se desenvolve. Conhecemo-los em momentos anteriores ao casamento de
Stanley, outro amigo, com Angela, momento em que todos os amigos estão reunidos
e momento no qual somos apresentados a outros personagens, como Linda, namorada
de Nick, por quem Michael nutre sentimentos de amor e de quem tenta
escondê-los. Basta o começo para percebê-los em suas personalidades: Michael é
centrado, Steve é amistoso e Nick é bastante introspectivo. O que segue é a ida
deles à peleja. Conhecemos então a nova situação deles – o combate que eles têm
que enfrentar na Guerra do Vietnã – e, posteriormente no discurso narrativo do
filme, as conseqüências desse período em que eles foram combatentes.
Como disse – e reafirmo – se trata de um filme bastante
psicológico, ainda que inegavelmente haja inúmeras cenas de ação que permeiem
toda a produção, principalmente porque se trata de uma narrativa cujo plano de
fundo – dependendo do momento, sendo o foco principal – é a guerra e as suas
características próprias: desumanização, violência, dinamicidade e
periculosidade. Compreender a natureza bélica é fundamental para que, mais
tarde, também possamos compreender as conseqüências dela. Robert De Niro
comanda o elenco com seu personagem sério, séquito, próspero – é evidente que
Michael é o líder do grupo e que todos lhe dedicam confiança, basta notar as
cenas nas quais as ações advêm exclusivamente de suas decisões, como, por
exemplo, a famosa cena da roleta-russa, que mostra Michael e Nick prostrados um
a frente do outro, sob a pressão de vietnamitas que os obrigam a jogar um
contra o outro.
Aliás, aproveitando que citei a cena, cabe comentar que
ela é fundamental. Principalmente se considerarmos que ele precedeu o filme:
antes de ser uma trama sobre soldados na guerra, era uma trama de homens que
vão pra Las Vegas e se envolvem numa roleta-russa. Michael Cimino e Deric Washburn
tomaram as idéias de Louis Garfinkle e Quinn K. Redeker (que, a tempo, foram também creditados pela produção do
roteiro) e transformaram-na na narrativa a que assistimos ao longo de quase
três horas. Não fosse a cena do jogo, não haveria introdução à segunda parte do
filme, que consiste justamente numa análise do personagem Nick, interpretado
por Christopher Walken, que ficou permanentemente perturbado por essa
experiência traumática, e, não existindo o jogo no filme, também não haveria um
grande momento de tensão ao final da obra, que consiste justamente num
reencontro brusco entre Michael e Nick, que desaparecera sem deixar rastros.
Honestamente, apesar de as propostas do filme serem
majestosas, não o vejo como uma grande obra, a despeito do que dizem colegas
cinéfilos que apreciam a trama. Não penso que seja um desses filmes memoráveis
tampouco que seja uma produção digna de nota, de referências e, muito menos, de
grandes elogios, a não ser que eles se refiram à cena na qual Michael e Nick se
vêem pela última vez, ou à interpretação de Meryl Streep e Christopher Walken,
verdadeiramente talentosos nessa película e dotados de uma atuação potente,
ainda que singela no caso dela devido à pouca participação de sua personagem na
trama. A meu ver, os grandes momentos de interesse nessa produção realmente se
focam nos poucos momentos em que Meryl Streep aparece e na participação de Walken, que nos desperta o interesse pela sua história.
Se pensarmos em filmes que retratam as conseqüências da
guerra, há obras que certamente têm melhor execução e que conseguem manter o
espectador atento por muito mais tempo (até porque a narrativa de “O Franco-Atirador” não é capaz, por si só, de justificar toda a demora de exibição da
obra). Basta recorrermos ao cinema mais próximo de nós, mais “contemporâneo”:
“Guerra ao Terror” e “O Mensageiro” – este de 2009, aquele de 2008 – mostram
com a mesma eficiência (ou talvez até mais) aquilo que “O Franco-Atirador”
tenta nos mostrar. Jamais conseguiria explicar o que fez com que essa produção
se tornasse tão cultuada, mas, para mim, trata-se de barulho demais pra pouco
resultado. Acredito que nenhum dos personagens sejam verdadeiramente
desenvolvidos, apesar da longa duração do filme: Michael parece sempre uma
incógnita, assim como o relacionamento dele com Linda; Nick, cujos problemas se
intensificam – ou pelo menos deveriam se intensificar à medida que a trama
avança –, desaparece num momento para retornar só depois, num momento-surpresa,
seu ressurgimento já diagnosticando uma atitude autodestrutiva. Mistura de
previsibilidade com falta de cerzimento na trama, que é meio esfarrapada.
Se o tema for guerra, há decerto outros bons
filmes a ser explorados. Se o tema for trama pós-guerra, também penso haver
outras tantas obras que desempenham bem esse papel. “O Franco Atirador” me soa
obra pretensiosa cujo desenvolvimento se dá por aquilo que o espectador pensa
ver e não por aquilo que ele verdadeiramente vê e isso não é uma característica
boa, não numa obra de intenções tão simples e resultados tão pífios.
Reiterando: Meryl Streep vale a pena ser vista. O mesmo digo acerca de
Christopher Walken, numa interpretação maravilhosa, que cativa o espectador a
cada momento e que realmente nos faz crer em cada situação vivida. De um modo
geral, quanto ao resto, o filme não é tão interessante, mas se o espectador agüentar
à longa introdução, decerto será capaz de vê-lo até o final e concluir por si
só os aspectos bons e ruins desse filme.
3 opiniões:
Realmente, a introdução é muito longa, toda a primeira hora é entediante. Mas a partir do momento que eles vão para o Vietnam, o filme entra num ritmo diferente e a mítica cena da roleta russa é, sem dúvida, das mais intensas da história do cinema.
Eu considero um grande filme e o sucesso pode ser muito creditado a ser um dos primeiros longas a tocar na Guerra do Vietnã, que era um ferida recente no orgulho americano.
Abraço
Diferente do que alega, Luís, O Franco Atirador é um filme que divide cinéfilos e críticos. Na época que vi, eu adorei, mas tenho de rever. Os momentos da roleta-russa são extremamente tensos. Pra mim, nesse filme Meryl Streep tem pouca voz e é ofuscada pelo talentos de seus companheiros em tela!
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