Children of the Damned. R.U., 1964, 88 minutos, terror. Diretor: Anton Leader.
A adaptação britânica do romance de John Wyndham é bastante inferior à versão de 1995 de John Carpenter - e olha que essa versão já não é muito boa.
Confesso que somente assisti a esse filme porque me enganei e acabei por baixá-lo em vez de baixar a produção estadunidense de 1960, que é a que eu gostaria de assistir. Mas, como já tinha baixado o filme, acabei assistindo - vai que se tratasse de uma obra de terror excepcional que me fizesse ter medo, como há bastante tempo não acontece. Pois bem, isso não aconteceu ao longo da hora e meia em que assistia á história de seis crianças que têm capacidades extraordinárias de raciocínios além de poder se comunicar umas com as outras, mesmo estando em partes diferentes do mundo.
As crianças de diversos lugares do mundo e uma refém.
Logo no começo do filme, nos seus minutos iniciais, percebemos que a figura do jovem Paul é bastante sinistra: a criança é extremamente silente, de olhares fixos, e, embora seja um garoto bastante bonito, há algo nele que refreia o nosso pensamento de que ele seja angelical. Não demora a que descubramos outras duas coisas: ele é extremamente inteligente e consegue influenciar as pessoas a fazer aquilo que ele quer que a pessoa faça - incluindo se matar. É justamente isso que acontece com sua mãe, a quem ele odeia e que, em retribuição, também o odeia. O geneticista Tom Llewellyn e o psicólogo David Neville, ao comporem e aplicarem um teste de QI em todo o mundo a fim de descobrirem as crianças mais dotadas, descobrem outras cinco crianças que têm exatamente as mesmas características de Paul. Achando o fato curioso, eles reúnem as crianças para examiná-las sem evidentemente saber que elas realmente queriam estar juntas.
Confesso que as cenas introdutórias são realmente interessantes e não deixam a desejar. Todo o clima criado favorece a atmosfera do horror, principalmente quando vemos o jovem garoto induzindo sua mãe a vagar pelas ruas, indo em direção a uma morte potencial. Ainda vemos as figuras do geneticista e do psicólogo discutindo e propondo inúmeras possibilidades em relação aos dotes extraordinários do garoto, o que aumenta ainda mais a suspeita do espectador em relação àquilo que há por vir. Infelizmente, esse ambiente de medo se perde gradualmente e não consegue se sustentar nem mesmo quando as crianças estão cometendo assassinatos, quando evidentemente deveríamos estar extasiados e amedrontados. Um pouquinho do clima ressurge nas cenas finais, quando o clímax se torna crescente - mas, misteriosamente, ele é interrompido bruscamente, numa amostra da má execução do filme.
O desespero do psicólogo (aliás, ele não parece uma versão mais velha do Ryan Reynolds?) para manter as crianças protegidas das ameaças governamentais.
A partir de um determinado momento, o filme perde sua característica dinâmica e fica lento, mas não escorrendo a ponto de o espectador não conseguir vê-lo. Mas definitivamente lhe falta algum ritmo que o torne mais próximo de um filme de terror - nem mesmo Rosemary’s Baby, que 136 minutos, - quase duas horas a mais que esse filme - consegue ser tão antimelódico, apesar de sua longa duração. A parte boa é que as crianças conseguem, por si sós, manter um aspecto sombrio, mas acho que essa é uma coisa mais minha do que do filme: sempre que vejo crianças em filmes de terror - “Os Outros”, “O Sexto Sentido”, “O Cemitério Maldito” ou mesmo “A Profecia” -, tenho a impressão de ver nelas algo muito mais monstruoso do que elas realmente são. Se as crianças são um ponto positivo, incluindo aqui alguns truques de câmera para torná-las ainda mais medonhas, os atores não condizem exatamente com o nível de medo sob o qual eles parecem estar. Falta aqui o desespero de Deborak Kerr em “Os Inocentes”, produção também britânica de quatro anos antes que é, a meu ver, muito mais ousada do que essa.
Decerto não é uma obra que incomode, longe disso! Mas realmente não faz jus ao suspense que esperamos sentir. Admito que haja um ou outro momento bom na história, mas, de um modo geral, é um filme morno, que não empolga, mas que também não prejudica o espectador por ser ofensivo em sua execução. Porém, eu realmente escolheria outro filme caso quisesse indicar uma boa produção de suspense e/ou terror às pessoas, incluindo todos os outros títulos que citei aqui. Aliás, eu fico me perguntando que pessoa desejaria assistir a um filme cujo nome é “A Estirpe dos Malditos” - acho que esse é um caso interessante de obra que merece ser analisada com cuidado num artigo do tipo “Que títulos não dar a um filme a fim de não afastar o público”, por que, convenhamos, “estirpe”? Que ousa usar essa palavra? Enfim, vale uma conferida se não tiver mais nada que ver...
6 opiniões:
Esse romance é tão poderoso, q o Iron Maiden escreveu disco inteiro praticamente sobre ele (Piece of Mind). Confesso q tb não curto muito nenhuma das adaptações, mas acho q a de 1964 eu gosto mais. No entanto teria q revê-las, pois faz tempo q assisti. Abraço.
A premissa parece ser interessante, mas pelo que entendi o filme coloca tudo a perder. Isso frequentemente acontece com a maior parte das produções atuais do gênero. Refletindo sobre o assunto cheguei à conclusão de isso talvez seja porquê os nossos medos hoje são outros e cada vez o sobrenatural nos assusta menos...
Se não me engano, esse filme é a continuação do de 1960, que você queria ver em primeiro lugar. Nunca vi esse, mas parece ser daquela triste linhagem de sequências ruins de terror.
Bom texto!
Não conhecia esse filme ainda, mas seu texto está muito interessante. Pena que suspenses estão sempre fora da minha prioridade cinematográfica...
Olá, parceiro, depois de umas pequenas férias, O FALCÃO MALTÊS está de volta, disposto a continuar celebrando sua paixão pelo cinema clássico.
Cumprimentos cinéfilos!
O Falcão Maltês
É um exemplo de inspiração que não tem sua força traduzida em tela. Me decepcionei ao conferi-lo pela primeira vez e volto a me decepcionar por perceber que é uma sensação mútua. Ótimo texto.
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