20 de fev. de 2011

Cisne Negro

Black Swan. EUA, 2010, 108 minutos, suspense. Diretor: Darren Aronofsky.
Natalie Portman nos mostra o porquê de ser considerada uma boa atriz - decerto uma das que mais tem se destacado nos últimos anos. E Aronofsky nos mostra que sabe dirigir bem um elenco.

Com a aproximação da 83ª edição dos Academy Awards, todos os cinéfilos estão fazendo suas apostas para saber quem ganhará o prêmio máximo do cinema e também os outros prêmios relevantes da indústria cinematográfica, como o Globo de Ouro, SAG Awards, etc. O que mais tem chamado a atenção para esse filme é a presença de Natalie Portman, atriz jovem que desde cedo tem realizado bons trabalhos e que tem mostrado a todos que é provavelmente uma das melhores atrizes de sua geração. A somar, não podemos nos esquecer de citar o diretor do filme: Darren Aronofsky, que, por sua vez, é decerto um dos melhores diretores atuantes. Não podemos deixar de lhe dar os devidos créditos pelos bons filmes Réquiem para um Sonho, de 2000, e O Lutador, de 2008 – sendo esses dois títulos merecedores de atenção.

Então, em 2010, há a junção desses dois nomes e um filme que mostra os bastidores de um grande balé, uma versão da história de Odette, princesa que é enfeitiçada e vira cisne – a famosa história de O Lago dos Cisnes, que vocês provavelmente conhecem bem, tanto pela nossa própria cultura, que às vezes alude a esse repertório como pelo próprio cinema, haja vista que todo ano vemos a boneca Barbie interpretando uma versão muito comercial desse balé. Somos apresentados à história de Nina, uma moça de 28 anos que se dedica arduamente à dança e que aspira à posição principal na adaptação que Thomas, diretor de uma grande academia de dança. Porém, tudo parece mais complicado quando ela começa a perceber que Lily, outra bailarina, está competindo com ela pela personagem máxima do balé. Então, pouco a pouco, conforme se esforça ainda mais, experimenta coisas novas e ainda lida com a mãe, que lhe trata com muita severidade e cobrança, Nina não tem mais a certeza se o que presencia é real ou falso.

Não nego que o melhor que o filme tem é a presença de Natalie Portman. A atriz realmente concebe uma interpretação atenciosa, na qual mínimos detalhes não são esquecidos. Os seus olhares, os seus gestos – toda a sua postura em cena contribui para uma atuação elogiável. O modo como a atriz entrou em sua personagem é mesmo incrível e posso dizer que o filme funciona em sua maior parte pela excelente composição feita por Portman, que não se limitou em nenhum momento. Sua atuação ainda reforça algo muito interessante no roteiro do filme, escrito por três pessoas, sendo duas delas estreantes – em alguns momentos, temos a impressão de que o que acontece é real, noutros momentos concluímos que é imaginação da personagem. A relação do roteiro com a atriz principal funciona muito bem, pois um parece corroborar o outro. Ora o roteiro nos mostra uma coisa e a atriz acompanha com sua atuação, dando a entender algo; ora a atriz toma outro caminho, e o roteiro a acompanha, desfazendo aquela sensação anterior. O roteiro não mostra exatamente o que são todas as coisas que a personagem vê – o espectador então está livre para abrir a sua mente e depreender muitas coisas. Eu mesmo cheguei a pensar que se tratava de estresse traumático, por causa da relação dolorosa entre Nina e sua mãe; depois considerei esquizofrenia, haja vista que a personagem ouve e vê coisas que não estão necessariamente no plano da realidade. No final, não soube exatamente a que pensamento me ater.

Darren Aronofsky soube bem como utilizar as cores no filme. Se perceberem, verão que ele usa tons muito semelhantes em alguns momentos e que isso causa uma sensação incômoda no espectador. Reparem no quarto de Nina, com muitas cores claras, detalhes em rosa se destacando – chega a ser incômodo imaginá-la tão profissional e ao mesmo tempo tão infantil. E ver aquele quarto nos obriga a pensar em sua mãe, pois conhecemos a relação das duas e o modo como a mãe infantiliza a filha. O contraste entre o claro e o escuro é usado o tempo todo, desde cenas simples – como as idas e vindas de Nina no metrô – como nas cenas em que ela está nos ensaios. Reparem como o personagem de Vincent Cassel, Thomas, parece se opor à Nina – ela com roupas claras, tons cinzas; ele sempre com roupas pretas, sempre agressivo e muito firme. Aronofsky soube também como captar essas vertentes dos atores, soube como explorar cada um deles em suas várias cenas. Destaque especial para a coadjuvante Barbara Hershey, que compõe brilhantemente a mãe de Nina, uma mulher que abdicou da dança para poder ter sua filha e cuidar dela e que, exatamente por isso, trata com muita cobrança – cobrança disfarçada, o que é ainda pior – a sua filha.

Acho importante ressaltar as qualidades do filme sem exagerar no tom. Ainda que seja uma boa obra, eu penso que ela esteja aquém das obras anteriores do diretor, considerando os dois títulos que citei no primeiro parágrafo. Para mim, Cisne Negro tem o seu valor para o cinema, mas é importante não supervalorizá-lo, como já estão fazendo por aí – o mesmo tem acontecido com o filme mais recente de Fincher, A Rede Social. Black Swan decerto representa uma obra memorável na carreira de Natalie Portman, juntamente com outras personagens fortes já interpretadas por essa atriz, como Evey Hammond, de V from Vendetta, e Alice, de Closer. Vale ainda comentar que, como Nina, Portman consegue inclusive ocultar sua parceira de cena, Mila Kunis, que interpreta sua rival Lily.

2 opiniões:

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

ALELUIA!!! Esse texto tinha que vir de você. Das críticas que li, só o endeusamento desse filme parecia saltar e cobrir a tudo. Mas gostei do teu tom de análise e da ponderação quanto ao filme em si, principalmente a comparação com as outras maravilhosas obras do diretor.

A coisa da boneca Barbie foi hilário.

Agora, uma observação: Cisne Negro dá pé para uma supervalorização, agora A Rede Social... putz, quem de longe achar esse filme o melhor do Fincher, deve rever URGENTE os outros filmes do diretor...

=)

Jean Douglas disse...

Vanho com todo o prazer comentar sobre "Cisne Negro" e sobre minha atriz favorita... Natalie Portman. Mais uma vez - como de costume - ela deu um banho de talento e maturidade na telona.

Não é desde agora que admiro o trabalho da atriz. Na verdade, acho que comecei a dar o devido valor ao seu desempenho quando a vi em "Closer". E me apaixonei definitivamente quando conferi "V de Vingança", que se tornou o meu filme favorito, top 1. Mesmo com papéis sem muito destaque, ela consegue se sobressair, graças a seu talento, beleza e profissionalismo.

Quanto ao filme, sou suspeitíssimo para falar! Visto que já demonstrei absoluta afeição pela protagonista deste. Mas devo dizer que achei o filme absolutamente magnífico! É denso, picante, majestoso e em minha humilde opinião, acho justo todo engrandecimento que estão dando ao filme. Isso em comparação a outros filmes que, juntamente a este, foram indicados ao oscar. Mas não em comparação a outros filmes de Aronofsky, como o belíssimo "Réquiem Para Um Sonho". Nem menciono "O Lutador", porque o odiei!

Enfim... um ótimo diretor somado a um belo elenco, só poderia resultar em uma obra brilhante como é CISNE NEGRO.