26 de dez. de 2011

O Preço do Amanhã

In Time. EUA,  2011, 109 minutos, sci-fi. Diretor: Andrew Niccol.

O filme consegue trazer uma metáfora interessante a respeito do consumismo e ainda tem um ritmo interessante para se sustentar do seu começo ao filme. Não é uma obra-prima, mas não é um filme de ação como muitos que são lançados a cada ano.

Assim que li a respeito desse filme, pensei que seria “apenas mais um”. Havia alguma coisa na sua sinopse e nas informações técnicas que me fazia pensar que seria bem chatinho, até mesmo desnecessário. Mas resolvi dar uma chance ao filme e assisti às quase duas horas de ficção, na qual o tempo é o produto mais consumido - ele é fundamental para tudo e todos vivem em função dele: os trabalhadores querem mais tempo, os ricos o têm de sobra, o roubo de tempo nas periferias acontece sempre. No futuro registrado pelo filme, os avanços genéticos permitiram que as pessoas não envelhecessem além dos 25 anos e, chegado o vigésimo quinto aniversário, um relógio no pulso começava a marcar a quantidade de tempo que a pessoa tinha até sua morte: um ano. Então, é necessário acumular mais tempo a fim de viver mais.

 Gente rica demais e segurança de menos: roubar bancos nunca foi tão fácil.

O roteiro é também do diretor, então Andrew Niccol assina tanto a direção quanto o enredo. Na trama, ele se ocupa em mostrar a exploração dos personagens de uma das área mais pobres - eles são a classe operária de cuja vida é arrancado o máximo de trabalho possível e a quem se oferece pouquíssimo tempo (“dinheiro”) pelo esforço físico. Indubitavelmente, eles representam o grupo mais desvalorizado de pessoas e, por conseguinte, são aqueles que mais buscam uma estrutura capitalista como aquela na qual vivem. Excelente a idéia de transformar dinheiro em tempo, até porque vivemos justamente isso, com a diferença é que tempo continua sendo tempo enquanto dinheiro é fisicamente dinheiro, numa confluência bem menor do que a situação mostrada no filme. Os primeiros trinta minutos do filme se focam no personagem de Will Salas, um rapaz de 27 anos sempre acostumado a viver um dia por vez - isso porque o máximo de tempo que sempre tem é 24 horas. Sua vida se desestrutura depois de dois eventos: a morte da mãe, cujo tempo acabou subitamente devido aos valores exorbitantes cobrados pelos serviços públicos (transporte, saúde etc.), e o encontro com um homem que tinha um século de vida já vivido e outro século para viver. O homem, já cansado dessa imortalidade, passa todo o seu tempo a Will e depois se mata, deixando o jovem com tempo suficiente para ir em busca do que quer: “reforma agrária” do tempo.

A mudança de área, da mais pobre para a mais rica, e o fato de que a polícia e o Guardião do Tempo assume que Will roubou o homem de 100 anos reservados fazem com que o personagem passe a ser perseguido. Mais pra frente, encontra-se com Philipe Weis, um bilionário quase centenário, com quem se envolve num jogo de pôquer e de quem consegue mais uma boa quantidade de tempo. No entanto, acaba descoberto durante uma festa e, visando uma fuga mais segura, usa Sylvia Weis como refém. A garota, até então encantada pelo jeito altivo de Will, agora teme o comportamento dele e as conseqüências daquilo - estão, afinal, voltando para a área mais pobre, onde ela - com uma década acumulada - se tornará facilmente um alvo da máfia do tempo. É interessante notar que o roteiro basicamente se divide em dois momentos, retratando a expansão de Will para territórios além do que é naturalmente dele, e depois na relação de Will com Sylvia e na relação dos dois com os perigos que o cercam. A opção por nos fazer simpatizar com o personagem e com a situação dele antes de levá-lo aos extremos é inteligente, já que assim nós temos mesmo a impressão de que sabemos um pouco mais sobre ele em vez de simplesmente nos vermos na situação de meros espectadores de sua correria.

 Não importa a situação - ela sempre está de salto e fazendo loucuras!

Andrew Niccol também optou por não dar muita atenção aos momentos dramáticos, preferindo que a discussão a respeito dos dramas pessoais aconteçam pela ação e não necessariamente pelas atuações. Acho que isso foi um acerto, pois se escolhesse enfurnar a ação dando mais espaço pro drama decerto veríamos algo meio desastroso e incoerente. Até porque acho que os protagonistas não sustentariam bem o filme se ele fosse mais dramático - concordo que os dois são esforçados, percebemos que eles tentam o tempo todo não derrabar nos cacoetes de atuação, mas daí a atuar com todo empenho dramático é forçar a barra. Justin, que já havia mostrado em The Social Network que pode ser um bom ator, aqui também mostra que consegue lidar bem outro gênero (embora, convenhamos, ele está péssimo na comédia Bad Teacher!). Amanda Seyfried, por sua vez, já percorreu vários gêneros - comédia musical em Mamma Mia!; thriller em “O Preço da Traição”, romance em “Cartas para Julieta” - e mostra que ela também consegue participar de uma ação. E também prova que é plenamente capaz de realizar qualquer coisa - inclusive saltar e correr pelos telhados - de salto alto!

O filme de Andrew Niccol não é uma obra-prima, definitivamente. Mas ele tem ritmo adequado ao gênero, tem uma proposta de roteiro que extravasa o senso-comum, embora, claro, haja alguns defeitos ao longo da história - como o fato de os protagonistas serem imbatíveis e de os bancos contarem com tão ínfima proteção. Não é filme de se jogar fora e acho que ele facilmente entretém o espectador, desde que esse não espere uma super trama cheia de reviravoltas nem um filme todo complexo. E talvez a sua linearidade e simplicidade, agregadas a uma dinâmica interessante, sejam os principais motivos pelo filme ter dado certo.

2 opiniões:

Alan Raspante disse...

Acho a premissa bastante interessante. Quero ver por conta disso. E, ah, gosto da Seyfried! rs

Abs.

Júlio Pereira disse...

Lembro que vi e adorei, mas não sabia que a maioria havia odiado - só descobri depois que postei minha crítica dando 4 estrelas. Eu realmente gosto, dá uma revigorada, com uma trama interessante, ao gênero de ação. Mas vale mesmo pelas "sacadas" do roteirista, retiradas do universo interessantíssimo que ele cria.

Obs.: Não tinha percebido o lance do salto da Amanda =P