Chronicle. EUA / RU, 2012, 84 minutos, sci-fi. Diretor: Josh Trank.
Uma obra que, apesar de madura e sóbria, não é verdadeiramente interessante.
O subgênero found footage apareceu no cinema com bastante freqüência desde “A Bruxa de Blair” (1999), no qual um tape registra as imagens de uma aventura de três jovens numa floresta na qual supostamente vivia uma assombração – o fato de os jovens terem desaparecido e o vídeo ter sido encontrado faz com que pressuponhamos suas mortes e talvez isso comprove a existência do perigo sobrenatural na floresta. Mas os ambientes desse subgênero do cinema não aparecer apenas em filmes de terror tampouco requerem a presença de ambientes escuros. “Poder sem Limites”, ou Chronicle, conforme o original, nos mostra justamente isso: os três protagonistas dessa trama são jovens do ensino médio que vivem rotinas bastante ordinárias e que subitamente se vêem ante uma nova experiência de vida.
Os três jovens prestes a passar pela mutação que lhes concederá poderes.
Apesar de um tom bastante sobrenatural que às vezes presenciamos e da história que, por si só, já apresenta aspectos inerentes à ficção científica, o filme facilmente transita entre o terror e o drama, apresentando um gênero híbrido e, pelo menos nesse aspecto, bastante funcional. Basta vermos como gradualmente o ritmo do filme muda, bem como a sua atmosfera, que fica cada vez mais sombria conforme a narrativa avança. Porém, os elementos dramáticos não se perdem, co-existindo pacificamente e intensificando cada cena. Logo no começo do filme, vemos a proposta dos personagens de viverem e registrarem em fita as suas rotinas e, também no começo da película, vemos a fonte dos novos poderes que Andrew, Matt e Steve adquirirão – quando descem a uma caverna, descobrem uma parede cristalina colorida e fluorescente que parece emitir ruídos peculiares. A partir de então, observam as novas características conquistadas: capacidade de mover objetos com a mente.
Os garotos são adolescentes e, sem a maturidade apropriada, compreendem a princípio o poder como uma brincadeira. E fazem uso dos novos poderes para atitudes jocosas – construir castelos de lego, mover copos sobre a mesa, fazer móveis tremerem e, já mais hábeis, moverem os carros nas vagas do estacionamento. Mas, à medida que seus poderes aumentam e eles tomam consciência de que podem ficar descontroláveis, decidem que precisarão obedecer uma série de regras para o bom uso de suas habilidades. Parece meio clichê, pois sabemos que personagens com capacidades sobre-humanas são naturalmente falhos e decerto as usarão em momentos inadequados – e isso acontece nessa película, como pressupúnhamos. Percebemos, porém, bastante maturidade no roteiro para lidar com essa situação de forma gradual em vez de torná-la abusiva: Andrew vai pouco a pouco cedendo à pressão social, seja por parte do seu pai, que é um alcoólatra agressivo, ou seus amigos, que mesmo querendo ajudá-lo conseguem inibi-lo ainda mais.
Andrew, já totalmente descontrolado e perigoso.
Honestamente, penso que o filme tenha verdadeiramente os seus bons momentos, com direito a personagens verossímeis e situações que são cabíveis na narrativa. No entanto, há algo que não me chamou a atenção, embora eu não saiba precisar esse elemento com facilidade. Simplesmente a história não me agradou na totalidade e muitas vezes eu me vi querendo que o filme acabasse logo. Não me sentia muito interessado no drama dos personagens e isso não se deve a momentos que parecem “falhos” no roteiro, como, por exemplo, a ausência de explicação para o objeto extraterrestre ou com capacidade físico-químicas não desobertas – percebemos que o foco do filme – inclusive sua própria estrutura – não permite que esse assunto seja abordado com naturalidade. Alguns podem se incomodar com essa não-explicação, mas eu a considerei excelente na história, tirando dela a responsabilidade por eu não ter apreciado tanto o filme.
De um modo geral, não creio que seja uma obra desagradável de ser vista, até mesmo porque o filme é bastante curto, os atores são eficientes, os efeitos visuais, ainda que não os ache excelentes, não perturbam as cenas, a direção é, senão maravilhosa, pelo menos objetiva e clara no encadeamento dos elementos narrativos. Acredito que possa ser um bom entretenimento, dependendo do humor com o qual assistirem a esse filme, que, a meu ver, é mais satisfatório do que insatisfatório, mas, ainda assim, nada que verdadeiramente entretenha.
7 opiniões:
Luís, a história também não me agradou. Acho até que o filme tem uma abordagem narrativa interessante, mas ele se entrega a muitos clichês, especialmente porque o Andrew é uma caricatura, o jovem revoltado, excluído. Você sabe que, a partir do instante em que ele ganha aquele super poder, alguma besteira poderá acontecer. Uma outra coisa que me incomodou profundamente foi que achei a solução narrativa final muito simples e desenvolvida de uma forma muito corrida...
eu ainda não assisti, mas só o trailer já deixa a desejar, parece um filmeco para adolescentes, de qualquer forma eu assisto quando assisto em dvd õ/
Tenho que dizer que gostei do filme, mas do que achava até. Enfim, achei uma maneira bem interessante de contar uma história de "super-herois". Me divertiu e a sequência final é muito boa. Abs!
Entendo seu desapontamento parcial. É um filme com algumas potencialidades, mas que falha em alcança-las. A trama tem momentos interessantes, mas esses momentos são mal dimensionados pelo roteiro que escolhe seguir caminhos tradicionais que exigiriam uma linguagem distinta da adotada pelo filme - e que é seu maior hype. Essa "esquizofrenia" o compromete definitivamente.
Abs
Interessante, mas ainda havia criado o cenário.
Gostei do seu texto. Ainda vou esperar um pouco para ver este filme porque ainda não estou convencido ...
Eu, como você bem sabe, adorei. Não acho ele clichê - a não ser que você tinha visto Akira, que inspirou claramente Poder sem Limites. Acho o desenvolvimento do seu personagem e o cuidado narrativa, além da direção precisa, no mínimo, admiráveis. Ainda mais em um sub-gênero tão saturado. Já os efeitos acho louváveis, muito bem feitos, me impressionaram. Ademais, o omissão do cometa é, pra mim, muito acertada, visto que isso não teria menor propósito narrativo - o que interessa para a história é a aquisição de poderes, não de onde eles vem.
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