Rocco e i suoi Fratelli. Itália / França, 1960, 168 minutos,
drama. Diretor: Luchino Visconti.
Uma obra que prima
pela verossimilhança, sobretudo com sua direção bastante realista.
Esse é o meu primeiro filme de Luchino Visconti a que eu
assisto e confesso que, embora o filme em si não tenha e contagiado, fiquei
bastante satisfeito com a direção sólida que se apresenta por todo o filme. A
história da família Parondi - Rosaria, a
mãe, Simone, Rocco, Luca, Vincenzo e Ciro –, da sua migração aos conflitos
pessoais, nos é contada ao longo de quase três horas de filme, nas quais vemos
os irmãos Rocco e Simone se enamorando da mesma mulher, Nadia, ao mesmo tempo
em que a família tenta manter-se num lugar fixo e tenta conseguir dinheiro para
se sustentar.
Não se pode ignorar a estética fílmica a que essa obra
pertence. Estando localizada no Neorealismo Italiano, movimento que se focava,
sobretudo, nos dramas da classe trabalhadora e nas suas dificuldades de convívio
com a sociedade, principalmente por causa das questões financeiras a que a Itália
havia sido submetida após a Segunda Guerra Mundial, compreendemos a importância
do trabalho para a família Parondi, que se vê não apenas sem condições de arcar
com o valor da atual moradia, como já pensando no que farão quando forem
despejados, passando, então, a viver às custas do governo. Ainda que inserida
no neorealismo, não é o contexto social o verdadeiro foco do filme, uma vez que
o que se tem aqui é apenas uma rápida visualização da situação do momento
social, de grande perturbação para a Itália pós-guerra.
Nadia e Rocco, personagens que se envolvem depois do relacionamento dela com Simone, irmão de Rocco.
O foco do filme reside no triângulo formado por Simone,
Nadia e Rocco. A prostituta é primeiro vista quando seu pai, furioso, quer lhe
aplicar uma surra, da qual ela foge desesperada, encontrando eventualmente
Simone, um rapaz de baixa auto-estima, com quem ela acaba enamorada. Mas ela
adverte – estão juntos, mas não se trata mesmo de um namoro. A moça é livre,
prima por isso, prima por viver como quer, inclusive chocando a família logo na
sua primeira aparição na casa: passeia livre pelo cômodo em roupas sedutoras,
conversa com cada jovem ali, pouco a pouco os cativando, somente para depois
fugir assim que Simone pede a um oficial que acompanhe a moça, já que seu pai
lhe havia querer de agredir de novo. E Nadia é um intermédio das figuras de
Simone e Rocco, o rapaz seguro, que, embora quieto – o protagonista, para se
ter uma idéia, só surge enfaticamente a partir dos 30 minutos –, é bastante
convicto em suas ações. O bambear que se vê em Simone não se verifica em Rocco,
de postura quase altiva – só não o é, porque sua essência é humilde.
Embora extremamente realista, pelo menos na direção de
Visconti, que prima pela dinâmica e pelo retrato bastante cru dos personagens,
há um quê de fabular nas personagens. Podemos ver a dualidade presente na
narrativa: o bem vs. o mal nas figuras de Rocco e Simone, respectivamente. E
tudo que os cerca – salvo Nadia, figura dúbia, que, como disse, está entre os
dois – parecem se apresentar numa dialética de oposição: o declínio de Simone
no boxe paralelo à ascensão de Rocco; o gradual desapego de Simone à família em
paralelo à constante tentativa de Rocco para manter a família unida; o ter de Simone (em relação à Nadia) e o querer de Rocco, situação que depois será
revertida. É como se, de modo paulatino e intenso, fôssemos nos apegando a um
ideário fantasioso de bem e mal, nas abstrações da crença, não na
concretude do que é palpável – em alguns momentos, Rocco e Simone são idéias, não
mais pessoas. Nessas constantes dicotomias, Nadia se encontra a perturbar e a
expurgar os sentimentos dos personagens, o que culmina num final bastante
doloroso e incômodo, numa cena de violência que, embora voltada contra Nádia,
afeta os três personagens e o modo como eles se enxergam.
Potencialmente, a obra perderia sua força se seus atores não
estivessem tão bem envolvidos com seus personagens. Essa produção
franco-italiana encontra poder na crueza com que as criaturas – chegam a um
ponto de serem criaturas mesmo – são enquadradas
e apresentadas a nós, desde a dificuldade financeira e o já primeiro
contratempo com a família da namorada de Vincenzo, um dos filhos, até o final
desgostoso, que implica toda a brutalidade que se vinha acumulando ao longo das
quase três horas de filme. A meu ver, um título interessante de ser conferido,
mas, também, bastante difícil de ser digerido, sobretudo pelo modo lento da
narrativa, que disseca os personagens até um ponto que parece não haver mais o
que extrair deles – e depois recomeça o processo de caracterizá-los,
atribuindo-lhes mais fulgor. A dificuldade da obra consiste em sua densidade,
também conquistado pela atmosfera constante de perturbação ao longo da trama –
a crise na família Parondi, que antes se resumia à questão financeira, agora se
resume aos sentimentos entre os irmãos. Vale a pena assistir a esse filme,
conhecer Rocco e seus irmãos e ver como pessoas que sempre conviveram podem
rapidamente se desgraçar.
4 opiniões:
Mais um filme que eu ainda não assisti. Mais um grande texto seu!
este é outro que está na minha lista dos 'próximos a serem assistidos' já faz alguns meses, outra vítima de minha falta de tempo...
Assim que eu conseguir driblar a falta de tempo eu vou escrever sobre ele!
http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2012/07/o-pequeno-principe.html
Ótimo texto, amigo. Eu gosto muito do filme, mas concordo que não seja uma obra das mais fáceis.
É o melhor filme que já vi...
O Falcão Maltês
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