Harry Potter and the
Deathly Hallows – Part 1. EUA / UK, 2010, 146 min, fantasia. Diretor: David
Yates.
Possivelmente, o melhor filme de toda a série!
A série Harry Potter, iniciada
literariamente em 1997 e cinematograficamente em 2001, rendeu uma trajetória
bastante satisfatória nas telas, sobretudo pelo fato de que os diretores não
extrapolaram e transformaram a obra de J. K. Rowling num show de horrores.
Desde o primeiro filme, quatro diretores comandaram a trama – Chris Columbus,
nos dois primeiros títulos, apresentou uma boa linear com bons momentos de
tensão; Alfonso Cuáron, no terceiro, atribuiu um tom sombrio à narrativa,
fazendo-nos ver que, embora ainda com 13 anos, os personagens adolescentes
estavam afinal envolvidos numa situação muito adulta; Mike Newell, na quarta
parte, manteve à dinâmica das fitas anteriores, acrescentando uma edição mais
ágil e pontual nos momentos de interesse; por fim, David Yates assumiu a partir
de “Harry Potter e a Ordem da Fênix” (2007), e definitivamente inseriu os
personagens no período assombroso e perigoso no qual os bruxos vivem desde a
reascensão potencial e permanente de Lorde Voldemort.
Com a potencial volta efetiva de Voldemort, qualquer pessoa pode ser perigosa.
Não nego que o roteiro teve suas
falhas ao longo dos dez anos em que os sete livros foram transpostos para o
cinema. A sexta parte, por exemplo, deixou consideravelmente a desejar, já que
o livro é, sobretudo, pautado nas memórias de Dumbledore, enquanto o filme
praticamente ignora essas características. Mas, ainda assim, a atmosfera foi
provavelmente a mais adequada para chegar ao patamar do efeito conquistado em
“Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1” (2010). Penso que um dos
grandes méritos tenha sido a opção por dividir o último livro, datado de 2007,
em dois episódios, nos quais vemos a decisão de Harry, Hermione e Rony em sair
à procura das horcruxes a fim de destruí-las, nessa primeira parte, e a grande
batalha entre o bem e o mal que é travada em Hogwarts, no filme seguinte. Nesse
primeiro momento, ainda que convivamos o tempo todo com a tensão sempre
crescente de um grande embate entre os jovens bruxos e o mago das trevas, o que
se impõe no roteiro é verdadeiramente a relação interpessoal entre os três
amigos e as suas desventuras à procura dos objetos nos quais se encontram
pedaços da alma de Voldemort, o que eventualmente resulta em acontecimentos
verdadeiramente tumultuosos e perturbadores, como é o caso do encontro de Harry
e Hermione com Bathilda Bagshot.
Confesso que o começo do filme
não me anima, apesar de a primeira seqüência já explicitar bastante tensão por
causa do perigo que os personagens correm ao levar Harry à Toca, local no qual
se decidirá que próximo passo deve ser tomado. Uma edição eficiente – como,
aliás, em todo o filme – e uma trilha sonora bastante eficaz nesse momento,
mas, ainda assim, penso que o filme só emplaca mesmo depois de transcorridos
cerca de vinte minutos, quando finalmente os personagens protagonistas decidem
partir numa jornada solitária e dura em busca daquilo que eles sabem que devem
fazer: combater ativamente o Lorde
das Trevas. Honestamente, o grande mérito do filme é justamente o foco
praticamente absoluto na relação dos três jovens, que passam por grandes
desentendimentos, sobretudo por discussões sem fundamentos que advêm de um
medalhão que eles descobrem tratar-se de uma horcrux e que precisam mantê-lo
consigo até descobrir como destruí-lo – o medalhão, no entanto, tem energia
negativa e os afeta diretamente, fazendo-os voltar-se uns contra os outros em
alguns momentos.
Harry, Hermione e Rony - o início de sua aventura perigosa em busca da alma de Voldemort.
Emma Watson é provavelmente a
atriz mais subjugada na trama e é, curiosamente, a que demonstra maior
capacidade interpretativa. Não é à toa que os grandes momentos desse filme a
envolvem, embora, infelizmente, nunca lhe é dado tempo suficiente em cena, ou mesmo
destaque, para que ela possa despontar verdadeiramente e roubar a cena. O
amadurecimento de Daniel Radcliffe ao longo da série decerto é maravilhosamente
válido, especialmente porque esses dois últimos episódios, não fosse sua
eficiência em cena, acredito que muito do filme seria perdido. Esses dois
atores são importantes para essa trama, porque grande parte da narrativa se dá
somente com os dois, já que há uma separação entre o trio – Rony os deixa
depois de discussões, justamente por ser ele o mais afetado pelo medalhão de
Voldemort. Aliás, é nesse momento do enredo, quando Harry e Hermione estão
sozinhos, que grandes méritos do filme se fazem ver: a direção de Yates é
bastante promissora quando fotografa os personagens no ambiente sombrio de
Godric’s Hollow e os capta com extremamente pontualidade por toda a seqüência
na casa de Bathilda – verdadeiramente, é um dos grandes momentos do filme.
Harry, Rony e Hermione - os dois últimos disfarçados - na invasão ao Ministério da Magia.
Aproveitando que citei a
fotografia, penso ser fundamental discorrer sobre ela, uma vez que o filme
também atinge a qualidade que tem devido à fotografia escura, mas nítida, com
uma iluminação que de forma alguma perturba o que é sombrio – é praticamente
algo barroco. E lindo! Talvez a cena que melhor mostre isso que eu disse seja a
última, aquela na qual Lorde Voldemort, depois de finalmente descobrir o
detentor de uma das relíquias da morte – a Varinha das Varinhas –, invade o
túmulo de Dumbledore (que foi assassinado no capítulo anterior) e rouba a
varinha do bruxo. Uma cena que apresenta o melhor do filme: uma direção
eficiente, uma fotografia maravilhosa, edição de som que se empenha, com
sucesso, em nunca deixar que a tensão desapareça. Visualmente, o filme é
pitoresco do jeito certo; quanto ao áudio, é uma obra também primorosa.
Honestamente, como se percebe pelo meu texto e pelos meus vários elogios,
trata-se do filme que considero o melhor de todos os sete lançados até então e
também superior ao que o sucederia.
David Yates teve sua carreira moldada por poucos
filmes – havia produzido muitos filmes para TV, alguns curtas-metragens e
minisséries para a televisão britânica. Seus títulos cinematográficos de maior
repercussão certamente são as fitas da série Harry Potter, as quais ficaram sob
sua responsabilidade nos anos de 2007, 2009, 2010 – esse seu melhor momento, eu
penso – e, por último, 2011. “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1”
é, a meu ver, o mais prazeroso filme da série, não apenas pelo entretenimento,
mas pela qualidade que se encerra nessa película de Yates, a qual recomendo
totalmente.
6 opiniões:
Meu favorito da série. É o mais sombrio, complexo e emocional dos filmes, além de possuir uma boa leva de momentos marcantes.
http://avozdocinefilo.blogspot.com.br/
Não é meu favorito, gosto mais do dirigido pelo Cuaron, mas é digno, abre bem a dualogia final.
Concordo com o que dizes sobre a qualidade questionável de algumas das adaptações da série, mais concretamente no 6º capítulo, mas este final é qualquer coisa de espectacular. Mérito para os actores também, claro. Abraço
http://onarradorsubjectivo.blogspot.pt/
Eu vi no cinema e etc, mas foi por ver mesmo... Não sou muito fã da saga...
Adaptação surpreendente da primeira parte do livro, que é uma verdadeira monotonia. Certamente, está entre os melhores da série!
Concordo plenamente: é o melhor da série. Bem melhor que o posterior. Acho o mais denso e maduro de todos. Mas remetendo ao Celo, talvez o do Alfonso Cuáron seja mesmo o mais importante. O grande diretor (Filhos da Esperança é lindo!) mudou absolutamente a atmosfera da série.
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