22 de mai. de 2011

Audrey Hepburn - Ranking e Comentários

Eu sempre achei Audrey Hepburn uma atriz icônica. Não importa quanto tempo se passe, ela será sempre a bonequinha de luxo, aquela garota gentil que carrega consigo a imagem contraditória da infância alegre e da vida adulta marcada por discernimento intenso. Audrey Hepburn representou os mais diversos personagens em sua carreira: prostituta, freira, jovem apaixonada, mulher de extremo senso crítico, florista simplória, deficiente visual em apuros etc. Ao longo de sua carreira, ela mostrou extrema eficiência ao representar os seus personagens e ao conceber atuações bastante concisas e coerentes, que sempre me agradaram.
Decidi relacionar abaixo, numa lista decrescente, os filmes com essa atriz que eu já vi e registrar algumas impressões e opiniões a respeito deles.

7ª posição - Minha Bela Dama, 1964.
Todos se lembram muito bem desse filme. Junto com Breakfast at Tiffanny’s, esse filme é um dos mais memoráveis da carreira dessa atriz. Não penso, no entanto, que essa obra mereça todos os elogios que lhe dedicam. Como musical, esse filme é antifuncional, porque muitas das músicas são extensas e não-ritmadas, o que me incomodou verdadeiramente. Posso aceitar num musical, como Chicago, por exemplo, atores que cantem mal (como é o caso de Renée Zellweger); não posso, porém, aceitar que, numa obra musical, as músicas sejam verdadeiramente desinteressantes, antimelódicas, monótonos e apresentam tão pouca relação com o andamento da obra. Tudo num filme deve funcionar de modo a dar andamento à trama e infelizmente isso não acontece aqui. A prova máxima disso é a extensão do filme, que muito bem poderia acontecer em 90 minutos em vez de acontecer em 280 minutos. Definitivamente, é Audrey Hepburn quem salva o filme, com a sua interpretação bela e simples. Provavelmente, esse será o filme de que menos gostarei em toda a carreira de Audrey.

6ª posição - Sabrina, 1954.
Audrey, Humphrey e Willian compõem a tríade de personagens que se envolvem numa relação amorosa perigosa. Hepburn é a mocinha que, de filha do chofer se torna uma mulher marcante; Bogart é o primogênito, centrado nos negócios, sem tempo para o amor; Holden é o mulherengo, que adora romances e aventuras. Os três se descobrem envolvidos – ambos sentem apaixonados por ela, que fica em dúvida para decidir de quem realmente gosta. Audrey está belíssima no filme, com uma interpretação bastante segura, mas, ao mesmo tempo, se vê nela uma delicadeza incrível, o que apenas acentua a beleza de sua personagem. Sabrina é uma figura dócil, da qual o espectador não se esquece facilmente e isso se deve principalmente à atuação de Hepburn, de não hesitou em torná-la fantasticamente simpática. Destaque à cena na qual ela e Humphrey Bogart conversam no escritório dele, pouco antes de Sabrina decidir cozinhar para ele. Todo o desenrolar dessa cena é fantástico – aposto que bastou isso para que Audrey conseguisse a sua segunda indicação ao Oscar.

5ª posição - Charada, 1963.
Essa é a famosa obra que se parece com um filme do Hitchcock, mas que não é. Interpretando Regina Lampert, tendo como parceiro de cena Cary Grant, Audrey nos revela uma faceta adorável: de extrema sensualidade, a personagem de Hepburn nos cativa o tempo todo. Todos os momentos em que aparece em cena são lindos! Destaque especial a personagem fumando. Eu não faço apologias ao fumo, mas não nego que adoro ver personagens fumando, principalmente quando eles têm o glamour de Audrey Hepburn num filme que investe no seu potencial de sedução. A junção de thriller com a participação de Audrey me surpreendeu: tão bela que é, principalmente nesse filme, eu às vezes até me esquecia dos perigos pelos quais ela passava. Aliás, acredito que esse filme seja intenso exatamente por causa do que ela nos oferece.


5ª posição - A Princesa e o Plebeu, 1953.
Esse foi o seu primeiro filme nos Estados Unidos. A atriz amadora que fazia filmes na Europa estreou na América e já se revelou como uma charmosa atriz, que potencialmente teria uma carreira de futuro. E isso se mostrou verdadeiro, já que nos quinze anos seguidos Audrey faria muitos filmes marcantes, que a colocariam inclusive num patamar icônico do mundo cinematográfico. Como uma princesa russa, Audrey mostra-se encantadora numa concisão inocente de criança – a atriz soube como se colocar na essência da personagem, tornando-a portanto deveras verdadeira. O envolvimento que ela tem com Gregory Peck é bastante divertido e, de certo, causa no espectador uma sensação curiosa de nostalgia – como se nós, algum dia, tivéssemos estado na Roma da década de 1950 aproveitando o que ela nos tem para oferecer. A singeleza de sua interpretação lhe rendeu uma justa indicação ao Oscar e, mais justo ainda, a estatueta de Melhor Atriz em 1954.

3ª posição - Infâmia, 1961.
Fiquei em dúvida se esse filme merecia segundo ou terceiro lugar nesse ranking, porque ele e Breakfast at Tiffanny’s são duas obras que, para mim, estão no mesmo plano. Num contexto social, eu diria que ambos pesam igualmente: um aborda a construção da mulher enquanto figura liberta socialmente e o outro – este, no caso – aborda a questão do preconceito e das conseqüências dele. Como, porém, eu compus esse ranking visando avaliar a interpretação de Hepburn, coube a The Children’s Hour o terceiro lugar dessa lista. Num papel dramático bastante envolvente, Audrey mostra-se bastante segura em sua atuação, principalmente se considerarmos que a sua personagem se posiciona contrariamente àquilo que ditava o pensamento social do momento: ela raciocina colocando a amizade e a relação afetiva sabiamente como elementos mais importantes do que o amor “incompreensível” que Martha, sua amiga, sentia por ela. Audrey e Shirley interpretam magnificamente. A cena final, na qual Karen, personagem de Audrey constata a opção feita por Martha, personagem de Shirley, é simplesmente chocante – jamais esquecerei aquela expressão de dor e desespero que Audrey Hepburn nos apresentou.

2ª posição - Bonequinha de Luxo, 1961.
Esse é o filme clássico de Audrey Hepburn – acredito que todas as suas cenas são marcantes: Holly caminhando na rua; o seu passeio pela Tiffanny’s; ela, à janela, cantando Moon River; ela fumando com a sua piteira; sobretudo, Audrey Hepburn, de um modo geral. Pode-se dizer que Holly Golightly chega a preceder Audrey Hepburn – basta pesquisar o nome da atriz no Google Imagens para que se verifique que imagens da personagem aparecem antes mesmo de imagens da atriz. Nesse filme, ela se porta encantadoramente: dócil e impulsiva, austera e atrevida, vejo sua personagem não apenas como extremamente feminina e feminista, mas também como uma excelente amostra de como uma pessoa é construída: a busca pela independência, a tentativa de encontrar uma identidade. Audrey não deixa a duvidar de que mereceu sua quarta indicação por sua interpretação, a qual, ainda que não seja a minha preferida, é, sem sombras de dúvida, inesquecível.

1ª posição - Um Clarão nas Trevas, 1967.
O que mais me atrai nessa obra – e exatamente por isso é o meu filme preferido estrelado por Audrey Hepburn – é a personagem principal, que parece bastante diferente de todas as personagens já interpretadas por essa atriz. O filme é todo composto num ritmo crescente de suspense, a cada nova cena nos é apresentado um argumento que intensifica o temor do momento anterior – não há, como usualmente acontece por defeito em alguns filmes, um momento anticlimático: Susy Hendrix, deficiente visual, é atormentada por três bandidos que lhe querem roubar um objeto valioso que está em sua casa. Audrey compõe maravilhosamente a personagem – não é à toa que recebeu a sua quinta e última indicação ao Oscar, justamente no ano em que decidiu abrir de sua carreira como atriz para se dedicar à sua carreira de mãe. Indubitavelmente, é impossível esquecer-se dos momentos de intensa euforia de sua personagem enquanto prepara armadilhas para contra-atacar aqueles que lhe impõem medo: como o título original sugere, é necessário esperar até ficar escuro para se ver o auge do filme – que é, aliás, belíssimo.

Termino essa sessão – e também esse mês, o qual dediquei à essa atriz maravilhosa – com breves comentários a respeito do que constatei pelas obras que já vi. Para mim, Audrey Hepburn conquista e me cativa ainda mais quando interpreta personagens mais maduras. Não me refiro exclusivamente a personagens mais adultas, mas às personagens cuja personalidade já está bem delineada e que, com o decorrer do filme, situações contribuem para que essa personalidade se firme e, como efeito catártico, conheçamos uma faceta mais humana e racional do que infantil. Por isso prefiro personagens como Karen Wright, Susy Hendrix e Holly Golighty – ou Lula Mae, como se descobre mais tarde – às outras personagens. Se notarmos, são essas três personagens, aliás, que mais colocam a mulher como ser independente. A Princesa Ann amadurece conforme se aproxima do personagem de Gregory Peck; Sabrina evolui em personalidade por causa do amor que sente pelo personagem de Willian Holden e pelo contato com o personagem de Humphrey Bogart; Regina Lampert está envolvida pelo poder de proteção que o personagem de Cary Grant pode lhe oferecer. Karen, Susy e Holly – respectivamente de Infâmia, Um Clarão nas Trevas e Bonequinha de Luxo – são personagens cuja própria vida fez com que elas discernissem a respeito das atitudes que lhe são mais viáveis. Não proponho uma análise intensa do feminismo, por isso não me estenderei nesse ponto, mas acredito que esse aspecto na estrutura do roteiro faz com que a atriz se envolva e, sobretudo, se desenvolva muito mais.
Enfim, é isso.

2 opiniões:

Unknown disse...

Excelente post de uma das maiores atrizes do cinema. Muito bonito seu blog, fico feliz de ver pessoas que se interressam por cinema de qualidade. Vlw.

http://umanoem365filmes.blogspot.com/

Alan Raspante disse...

Todos os posts do especial da Audrey ficaram um verdadeiro primor. Parabéns!