20 de fev. de 2012

Professor Godoy

Brasil, 2009, 15 minutos, drama. Diretor: Gui Ashcar.
Um curta-metragem interessantíssimo, que garante entretenimento e um bom questionamento: vale colocar o desejo pessoal à frente da ética profssional e, com isso, arriscar muitas coisas? Basta um quarto de hora para que o espectador seja influenciado a pensar a respeito.

Esse é um filme curta-metragem nacional, dirigido por Gui Ashcar e estrelado por Roney Fachini e Kauê Telolli, composto como forma de conclusão de curso. Como ultimamente tenho me interessado por curtas-metragens, decidi baixar esse e conferi-lo, a fim de ver se ele era tão bom quanto parecia ser – haja vista que a sua temática havia me chamado a atenção e a sua sinopse indicava tratar-se de uma obra significativa.

E devo dizer que o filme é exatamente isso: uma lição de cinema em poucos minutos. A história do professor Godoy é narrada ao longo de catorze minutos, mas isso é suficiente para que compreendamos a sua rotina e a desautomatização de sua vida a partir do momento em que Felipe, um de seus alunos, começa um jogo de sedução, mandando-lhe bilhetes com pequenos códigos, criando situações para que os dois fiquem sozinhos na sala de aula. Quando disse acima que a temática havia me atraído, não me referia especificamente à propensão à homossexualidade – tema que o curta-metragem sutilmente aborda –, mas me referia às circunstâncias delicadas nas quais o homem está inserido, afinal ele precisa lidar com a ética profissional e, ao mesmo tempo, com os seus próprios desejos.

É necessário dizer que os três envolvidos – Ashcar, Fachini e Telolli – conseguiram compor algo de extremo bom gosto. Na figura do professor, Fachini soube interpretá-lo sem exageros, criando uma personalidade distante e com a meticulosidade de um professor secundário, que deve estar preparado para lidar com a arrogância e impertinência de alguns alunos – como nós próprios podemos ver numa das cenas – e ao mesmo tempo criou uma figura serena e humana, que se encontra diante de uma situação-problema e sem nenhum heroísmo admite não poder resolvê-la. Tanto é que ele não diz nem sim nem não para o garoto, apenas finge ignorar a situação, empurrando-a para frente sem resolvê-la. O garoto, por sua vez, é uma figura quase mítica – ele ao mesmo tempo represente o bem e o mal na vida do professor. O jovem se insinua, demonstra o que quer, é objetivo quanto ao que pensa e não respeita as ordens do professor, que lhe diz para parar com as brincadeiras – e não respeita porque diz saber que a vontade do professor é exatamente oposta àquela que ele diz. É um pequeno jogo de gato e rato que dura um ano letivo, que incendeia a mente do homem.

Professor Godoy não é um debate sobre as escolhas de uma pessoa e o modo como elas podem atingir o seu campo profissional. Também não é um interrogatório sobre a homossexualidade. É uma obra sobre a relação entre duas pessoas, principalmente. Subentende-se aí a ética profissional e a homossexualidade, mas Gui Ashcar soube como não tornar esses dois tópicos assuntos centrais de sua trama e exatamente por isso ele conseguiu criar uma excelente composição artística, capaz de entreter e, ao mesmo tempo, fazer pensar. A somar, há as atuações dos atores, que não erram, não saem do tom e conseguem com isso exercer um fascínio maior no espectador, que durante catorze minutos assiste com extrema curiosidade e ansiedade o que está se desenvolvendo. Definitivamente, em pouco tempo o diretor-roteirista conseguiu reunir todas as informações de que precisávamos para concluir que essa é uma obra muito válida para o nosso cinema.

1 opiniões:

Hugo disse...

O tema é interessante e polêmico, misturar a complexidade de uma sala de aula com desejo proibido entre professor e aluno.

Renderia um bom longa metragem nas mãos de um Michael Haneke por exemplo.

Abraço