26 de dez. de 2010

Boas Festas e Feliz 2011!

Não vou me prolongar muito. Esse post é basicamente para desejar boas festas a todos os leitores do blogue e também a todos, de um modo geral. Que 2011 seja bom para todos nós.

A respeito de 2010, admito que foi um bom ano e que vivenciei coisas das quais gostei muito, que me fizeram crescer como pessoa. E também li bons novos livros e vi bons novos filmes; aproveito e cito, por exemplo, as obras, respectivamente literária e cinematográfica, O Retrato de Dorian Gray e Infâmia, que não são necessariamente novos - o primeiro data de 1890 e o segundo de 1961 - mas foram novos e importantes para mim. Aproveito também para citar algumas pessoas que foram importantes, ainda que esse blogue não tenha exatamente a finalidade de expor minha vida pessoal: agradeço a Jacqueline, que me apresentou filmes e livres interessantes, tendo inclusive me presenteado com um livro muito válido enquanto eu a presentei com uma afronta à literatura; agradeço também ao Marcelo, sempre presente, sempre comentando e sugerindo, sempre uma boa companhia no msn; agredeço à Nathália, com quem reaprenderei a analisar filmes no próximo ano e com quem farei longas maratonas temáticas; ao Pedro, que me passa filmes interessantes, mas nunca assisti aos que eu recomendo (e ainda teve a ousadia de sair sem concluir o maravilhoso As Pontes de Madison) e ainda me deve a mim e à Bette Davis uma promessa (a qual cobrarei 58 vezes); agradeço também ao Renan, que me morou comigo esse ano, me aguentou (e tive que aguentá-lo também), me ouviu reclamando, me viu bêbado melancólico. Enfim, um grande abraço a todos vocês.

Retomo as atividades do blogue Literatura e Cinema no ano de 2011.

E mais uma vez: boas festas!

Luís

Não vou me furtar o direito de terminar essa breve despedida sem uma citação. Como Saramago morreu esse ano, faço a ele minha homenagem:

"[...] porque três é número poético, mágico e de Igreja". - Levantado do Chão, p. 12.

23 de dez. de 2010

O Fantasma da Ópera

The Phanton of the Opera. EUA / Inglaterra, 2004, 143 minutos. Drama / Musical.
Indicados a 3 Academy Awards: Melhor Fotografia, Melhor Canção Original e Melhor Direção de Arte.
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Quando participou conosco no mês de janeiro, a Ciça escolheu três filmes. Um deles foi O Fantasma da Ópera de 2004, uma das várias adaptações que essa história já recebeu. Originalmente, Le Fantôme de l'Opéra foi escrito por Gaston Laroux e publicado em 1910. Desde então várias adaptações surgiram, tanto no cinema quanto no teatro, com destaque para a peça da Brodway, que se tornou a mais vista até hoje - superando Cats. Por enquanto, a obra de 2004, dirigida por Joel Schumacher, é a versão mais recente da história. Vale ressaltar que até mesmo Brian de Palma transpôs para as telas a história.

Christine Daae substitui Carlotta quando essa se irrita durante os ensaios e diz que não cantará no espetáculo de ópera. Todos se impressionam com o talento vocal de Christine, que diz que vem sendo treinada, mas não sabe exatamente por quem. Ela acredita que seja pelo seu pai, mas na verdade quem está por trás disso é o "Fantasma da Ópera". Ele vive no sob o teatro e praticamente domina tudo em sua casa, que definitivamente abrange muito mais do que o subsolo. Christine Daae, porém, se apaixona por Raoul, o que irrita o Fantasma, já que ele pensa que ela pertence a ele.

Vou comentar primeiro a respeito do que achei pior no filme: o elenco. Não entendi bem como um filme potencialmente bom conta com um elenco tão estranho. De um modo geral, não são atores ruins - Gerard Butler e Patrick Wilson, por exemplo, se mostraram interessantes em outras obras. Já Emmy Rossum, intérprete de Christine, não me lembro de qualquer filme que tenha visto com ela no qual ela tenha tido destaque.Mas é fato que eles decerto não se esforçaram o suficiente, porque todos parecem bem indiferentes ao que acontece em cena. Cheios de gestos bruscos, porém sem qualquer essência nesses movimentos, os atores realmente não parecem muito à vontade em cena. Talvez não seja desconforto; talvez eles apenas não encontraram o tom certo para interpretrá-los. Se suas expressões são estranhas, bastante alheias a qualquer elemento em cena, suas capacidades vocais estão muito boas, com sintonia perfeita. Aliás, estão tão bem que eu duvido mesmo que aquela voz seja de Gerard Butler.

Com exceção das atuações, o resto é destacável. A direção de arte e fotografia do filme são lindas mesmo. Tudo está em harmonia no cenário, desde utensílios como os móveis até as cores utilizadas e o contraste entre elas. O figurino do filme é bastante caprichado - os detalhes nas roupas, sejam a smais básicas ou as mais requintadas. É até mesmo impressionante a roupa do Fantasma, que consiste basicamente em uma capa cobrindo uma roupa escura. A trilha sonora também é muito boa, com várias intertextualidades, relacionando vários trechos de algumas canções do filme com outras mostradas mais adiantes. Diferentemente da maioria dos musicais, que contam com músicas com melodias grudentas, daquelas que ficam na cabeça por um mês depois que você viu o filme, O Fantasma da Ópera prima pelo lirismo e encaixa a melodia na letra e não o inverno, como High School Musical faz. O roteiro do filme não é grandioso, é bastante simples. Simples demais, talvez, o que faz com que algumas coisa soem estranhas. A relação entre Madame Giry e o Fantasma poderia ser deixada mais clara, menos encoberta - parece que ela não tem contato nenhum com ele, que o teme, mas mesmo assim ela toma atitudes que vão contra aquilo que ele quer. Aliás, é bastante curioso pensar no "mundo" em que o Fantasma vive... o que diabos é aquele rio embaixo do teatro? Quantos metros abaixo do teatro ele mora? A única saída é pelo teatro? Me fiz essas perguntas, mas talvez as respostas não sejam assim tão relevantes.

O Fantasma da Ópera é um filme com defeitos, mas há bastantes qualidades também. E talvez estas estejam mais intensas do que aqueles, de forma que o filme seja recomendável e interessante para qualquer tipo de público, principalmente aqueles que gostam de musicais. Não acharão tão brilhante como Moulin Rouge nem há coreografias interessantes como em Chicago, mas decerto é uma história divertida, que cativa o espectador. Eu gostaria de saber o que fez com que o rosto do fantasma ficasse daquele jeito - só para constar, ele não é tão feio assim. Até que Gerard Butler continua bonitinho. Se as pessoas da históia achavam-no feio, imagina se vissem o Homem-Elefante vivido por John Hurt...

21 de dez. de 2010

Um Copo de Cólera

Brasil, 1999, 70 minutos. Drama.
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Não me lembro exatamente o que me levou a querer ver esse filme, mas desde que decidi vê-lo, conferi-lo tornou-se um martírio. Curiosamente, nenhuma locadora dessa cidade tem esse filme disponível no catálogo, o que me obrigou a pedir a um ex-professor - a quem agradeço mais uma vez - a me emprestá-lo. A desculpa que há por aqui é de que "é uma obra áudio-visual muito antiga" (o filme é de onze anos ou de cento e onze anos atrás?), mas, por fim, pude assistir a essa produção pra lá de estranha.

Nada no filme fica exatamente claro. O início mostra um casal que, pelo monólogo dele, se conheceu antes daquele momento, provavelmente tendo tido algum relacionamento no passado. Usando a tática de ignorá-la, mostrando-se indiferente a ela, ele rapidamente consegue o que quer: levá-la para a cama. Já no outro dia, durante o café-da-manhã, ele descobre que as saúbas destruíram parte da plantação e fica furioso, batendo de frente com ela, que começa a ironizar a sua raiva. Entre eles, surge uma forte briga, na qual os dois proferem xingamentos um ao outro.

Como eu disse: nada é objetivo o suficiente para que fique claro desde o primeiro momento. Nem sequer sabemos o porquê de a jornalista querer entrevistá-lo. O encontro entre eles parte de um motivo desconhecido, que não é mencionado durante o filme. A consumação do ato sexual parte, pelo menos ao que me pareceu, do simples desejo que ambos nutrem um pelo outro, mas mesmo isso não justifica nenhuma das coisas pelas quais eles passam. Muitos consideram as cenas desse filme bastante densas, muito picantes. O erotismo é mesmo bastante explorado no início do filme, tanto é que surgiu até o boato de que haviam feito sexo durante as cenas - o que acho improvável, afinal eles são bem profissionais e nenhuma cena requer explicitação, como muitos gostam de sugerir. Pouco depois do primeiro ato - que consiste basicamente na relação sexual - vem o que deveria ser o mais intenso dos atos: a discussão. No entanto, esse momento deixa a desejar e infelizmente é praticamente 3/4 do filme. Assim, essa obra deixa muito a desejar.

O grande defeito é a desconexão em relação aos diálogos dos personagens. Parece que eles não respondem às perguntas que um faz ao outro, já que não conectivo entre pergunta e resposta. Como se isso não bastasse, há ainda muita superficialidade na maeira como eles interagem, há excesso de expressões rígidas - num momento, por exemplo, depois que ri, ela mantém o rosto congelado na expressão de sorriso debochado de 15 segundos atrás. Há um tom teatral demais nos diálogos, que certamente estão cheios de referências a elementos literários que passam despercebidos e soam pedantes. Eu reconheci algumas alusões, mas não pude identificá-las efetivamente. E isso somente piora a situação, pois o espectador não somente não capta a essência da discussão, como ainda se sente imbecilizado. Alexandre Borges e Júlia Lemmertz apenas se repetem, interpretando a mesma cena por vários minutos sem parar, embasados apenas em uma ou outra expressão. As falas do texto são muito teatrais, muito rebuscadas, de difícil compreensão. E é muito exagerada a reação dele desde o princípio... não sei exatamente o que levou os atores a participar dessa produção, mas, decerto, não foram felizes na escolha.

Definitivamente, não recomendo esse filme. Ainda que ele te faça ficar curioso a respeito de como o embate entre os personagens será concluído, de resto nada presta. É difícil compreendê-los bem como a partir dos 18 minutos tudo soa superficial e exagerado. A química dos atores se encontra apenas na cena de sexo - talvez por já serem um casal. Alexandre até convence de que está mesmo irritado, mas, honestamente, não sou ator e consigo conceber interpretação semelhante. É por causa de filmes assim que muitos acabam torcendo o nariz para cinema nacional...

19 de dez. de 2010

Limite Branco

Escrito por Caio Fernando Abreu, 1970, 184 páginas. Romance.
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Confesso que sempre li boas opiniões a respeito das obras do autor brasileiro Caio Fernando Abreu, mas nunca havia lido nada dele. Então, uma colega – a Verônica, a quem aproveito para agradecer – me emprestou esse livro dele e, embora me dissesse que “não era um dos melhores dele”, disse que valia a pena lê-lo por ser o único romance escrito por esse autor (todos os outros publicados eram contos).

Então, sem esperar muito, comecei a lê-lo e fui conhecendo um pouquinho do estilo de Caio F. É claro que não me embaso nesse único livro para pressupor o estilo do autor, pois, como Limite Branco foi a sua primeira publicação, a sua escrita ainda estava em formação e muito provavelmente mudaria nos anos seguintes. O livro nos conta a história de Maurício, que era filho único e que começou a ficar meio perturbado com a vinda de um irmão. A narrativa acompanha a trajetória de sua vida, desde criança, quando tem bastante admiração pelas pessoas até o seu envelhecer, quando começa a enxergar com mais realidade. Paralelamente, somos apresentados ao seu diário, no qual um Maurício de 19 anos vai contando como se sente em relação ao mundo em que vive e em relação às pessoas com quem convive.

Queria tanto dizer que eu gostei muito do livro. Não vou mentir: achei que Limite Branco é realmente maçante, sem muito a acrescentar a quem lê. Não é um grande livro nem é criado com base em acontecimentos aventurosos, de modo a entreter o leitor. Simplesmente, é uma série de pensamentos e idéias do autor, que foram postos ali sem uma intenção visível. Ficou muito evidente para mim que o autor se confunde facilmente com o narrador pelas partes em que o diário é mostrado. O dono do diário curiosamente tem a mesma idade que o autor tinha à época em que escreveu Limite Branco. Logo no início do livro, há uma carta escrita pelo próprio Caio F., na qual ele comenta o quanto “imaturo” era o seu livro, tendo ele composto o seu personagem numa indefinição sexual, temendo a repreensão da época. Ele mesmo assume ter composto o seu personagem assim, muito indeciso quanto à sua sexualidade – e penso que isso tenha sido uma forma de o autor, que depois assumiu sua homossexualidade, colocar no personagem aquilo que ele vivia.

Talvez o que tenha sido mais incômodo para mim foi o modo como o autor concebeu o seu relato. Ainda que não aventura, como citei acima, isso não seria problema e ainda assim o livro poderia ser bastante interessante. O problema reside no fato de que parece também não haver muita predisposição a uma análise mais psicológica, restando ao leitor apenas um série de palavras. Em alguns momentos, parece que um determinado acontecimento vai modificar a história, dando-lhe intensidade. Aproveito para comentar sobre o momento em que Maurício flagra o episódio sexual entre um casal – o modo como ele comenta sobre os dois dá a entender que entraremos intensamente em sua mente e que nós o descobriremos todo, desde o seu íntimo, passando por tudo que o aflige, até a sua camada mais exterior, na qual os desejos se evidenciam. Mas, como também comentei acima, a indefinição sexual do personagem se revela e o autor escapa à essa demonstração daquilo que o personagem é.

Acompanhar a evolução do personagem é realmente maçante. Mesmo mais velho, ele não consegue ter uma personalidade interessante, não conseguiu me atrair. Se há uma característica positiva no livro, eu asseguro que ela se revela num único momento, que é quando o personagem principal finalmente concebe que mesmo as pessoas que potencialmente viveram de modo não-alienado, como o seu primo Edu, acabam caindo no senso-comum e se tornam vítimas do tipo de vida do qual fugiam. Eis a crítica forte do livro, a qual considero muito válida, porque ela, embora também me pareça mal construída ao longo dessa obra, consegue desautomatizar um pouco daquilo que é clichê nesse romance, o qual eu definitivamente não recomendo.

Acredito que Caio Fernando Abreu possa ser um excelente escritor, mas definitivamente a sua força deve estar nos contos, porque esse romance é realmente incômodo. Não sei se posso ou não atribuir a culpa ao autor, pois, como ele mesmo admite no prefácio, era bem novo quando o escreveu e talvez lhe faltasse a experiência dos anos para ajudá-lo a compor uma obra marcante.

16 de dez. de 2010

Inferno na Torre

The Towering Inferno. EUA, 1974, 165 minutos. Drama.
Ganhador de 3 Oscar (Melhor Montagem, Fotografia e Canção Original). Indicado a outros 5 Oscar, incluindo Melhor Filme e Melhor Ator Coadjuvante (Fred Astaire).
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Não sei exatamente o que me motivou a ver esse filme. Devo ter lido a respeito dele em algum site e acabei interessado. Depois de não encontrá-lo em nenhuma locadora em que procurei, acabei descobrindo-o perdido numa das prateleiras da locadora em que jamais pensei que poderia encontrá-lo. Comecei a vê-lo, mas desisti após ver vinte minutos - talvez o sono e o lento desenvolvimento inicial me fizeram perder o interesse. Ao decidir que definitivamente o veria, me preparei para o que seria mais de duas horas de entretenimento.

O roteiro do filme foi trabalhado sobre duas outras obras. No ano de 1974, a Fox e a Warner compraram direitos de adaptação de dois livros, que tinham uma temática bastante parecida: problemas num edifício. Como ambos os estúdios pretendiam fazer filmes grandiosos, em vez de cada um adaptar o seu livro e criar o seu próprio roteiro, decidiram unir forças e produzir um único filme. Desse modo, os personagens principais de The Glass Inferno e de The Tower foram reunidos numa única história, que deu origem a The Towering Inferno. Vale ainda constatar que o nome do edifício - The Glass Tower - é uma junção dos títulos do livros em que a história foi embasada. De um modo bastante, a Torre de Vidro é o prédio mais alto do mundo e ele será inaugurado com uma grande festa. Durante a tarde, um curto-circuito dá início a um incêndio em um dos depósitos, mas por causa do sistema de alarme e vigilância, o fogo não é percebido. À noite, inúmeros convidados chegam para a festa, que ocorrerá na cobertura. Doug, o arquiteto responsável pelo prédio e o bombeiro O'Hallorhan começam uma incrível jornada para salvar as pessoas quando o fogo toma proporções bem maiores e se aproxima cada vez mais do topo do edifício.

Acho que o mais interessante do filme é não criar dramas fúteis. Ainda que longo, o filme é bastante objetivo ao mostrar as complicadas situações pelas quais passam os personagens, com direito a focos em vários deles, mostrando um pouco de cada um, desde os principais, vividos por Paul Newman e Steve McQueen, até os coadjuvantes, interpretados por Jennifer Jones, Fred Astaire, Fay Dunaway. Outro grande acerto é captar bem os momentos de desespero. Isso é mostrado não por expressões exageradas por parte dos atores, mas sim pelos ótimos enfoques nos desastres acontecidos no prédio. Por exemplo, numa das cenas, 4 personagens estão descendo uma escada, quando uma explosão destrói o chão, criando um imenso buraco, de modo que os personagens têm que descer pelos ferros tortos que restaram das escadas até um andar abaixo. Não há muito o que ser mostrado no filme, já que a partir da primeira hora, tudo o que vemos é uma luta pela sobrevivência. De um modo interessante, o filme capta bem a sensação de claustrofobia - mesmo que estejam num lugar bem amplo, eles estão literalmente presos, já que não podem ir a qualquer lugar sem que o fogo os mate.

A fotografia do filme não é das mais bonitas, mas defintivamente há qualidade naquilo que é mostrado. Não sei foi incapacidade minha, mas creio que na maior parte do filme, não seja tão precisa a altura do prédio. Muitas vezes, eu tive a impressão de que o edifício parecia pequeno demais. Apenas nas tomadas aéreas e externas é que se podia ter uma noção mais apropriada do tamanho real do prédio. Dentre as atuações, não vi nenhum grande destaque. Os personagens são carismáticos e, dada a situação em que eles se encontram, nossa simpatia por eles aumenta. Paul Newman e Steve McQueen têm bastantes cenas de ação - o primeiro nem precisa fazer muito para compor uma boa atuação. McQueen está igualmente bom, sem defeitos visíveis, muito bem nas cenas de ação e também nas cenas mais dramáticas. O casal Jennifer Jones e Fred Astaire estão bem simpáticos, mas atuam juntos por pouco tempo, já que têm maior destaque em cenas individuais - curiosamente, ela tem mais espaço em cena do que ele, no entanto, é ele quem levou a indicação como melhor em atuação em papel secundário. Vale ressaltar ainda que a primeira e única indicação de Astaire veio por um filme bem diferente daqueles em que estamos acostumados a vê-lo.

Inferno na Torre é um filme sincero na sua proposta: quer mostrar o desespero causado pelo confinamento numa situação trágica. À sua maneira, considero-o um filme interessante, com boas cenas de drama, ótimos momentos de ação e, sobretudo, muito eficiente naquilo que propõe. Desse modo, vê-lo não é nenhum sacrifício, embora realmente não seja superdivertido ficar quase três horas vendo o desenrolar de uma história que basicamente mostra uma galera tentando sair de um prédio. Acredito que seja um filme recomendável e decerto interessante.

13 de dez. de 2010

Oscar 2010 - Melhor Ator

Jeff Bridges recebendo a estatueta dourada.

Continuando a seqüência de posts sobre o Oscar 2010, dessa vez nós comentaremos sobre os atores que foram nomeados e preencheram a lista dos cinco nomes. Vale comentar que a Academia concedeu o prêmio ao veterano em indicações Jeff Bridges, que já contava com cinco indicações no seu currículo – muitos inclusive comentam que ele recebeu o prêmio por Mikey Rourke, indicado no ano anterior, que interpretou um personagem bastante parecido. George Clooney, como ator, já havia recebido uma indicação e já tinha ganhado um Oscar como diretor, e Morgan Freeman, em sua quarta indicação, também já havia conquistado uma estatueta – são, portanto, atores bem conhecidos pela Academia. Os nomes novos são os de Colin Firth e Jeremy Reener, este indicado por Guerra ao Terror e aquele indicado por Direito de Amar.

Sobre o convidado especial desse post, que era o Cristiano, do blog Apimentário, comento que ele não pôde participar, de modo que eu mesmo avaliarei o indicado que cabia a ele avaliar. Logo, esse post será montando por apenas quatro jurados. Vamos lá, então:


Colin Firth, por Direito de Amar – primeira indicação.
Não me restam dúvidas de que esse seja um bom ator. Os seus filmes não obtêm grande destaque, mas a capacidade de atuação do ator parece ser facilmente percebida. Em Direito de Amar, ele nos surpreende ao conceber uma interpretação poética e sensibilíssima, na qual ele nos mostra o quão intenso pode ser numa interpretação difícil, que facilmente poderia cair numa caricatura. (por Luís)

George Clooney, por Amor sem Escalas – terceira indicação.
Geoge Clooney já é quase uma figura carimbada nas cerimônias de entrega do oscar, recebeu indicações em 2005, 2008 e 2010. Sua última indicação foi pelo filme "Amor Sem Escalas", onde mais uma vez mostrou ser um dos melhores atores de sua geração. (por Thiago)
Jeff Bridges, por Coração Louco – sexta indicação.
Na pele de um cantor country em fim de carreira, Bridges convenceu a Academia, com uma inspirada interpretação que se resume numa só palavra: entrega. (por Marcelo)
Jeremy Renner, por Guerra ao Terror – primeira indicação.
Como um combatente de guerra, Jeremy atua linearmente ao longo do filme. Não creio que seja uma grande interpretação, penso apenas que a sua indicação sirva para justificar a vitória de Guerra ao Terror como filme vitorioso. Mais sobrevalorização do que reconhecimento real, mas ainda assim, Jeremy Renner faz um trabalho elogiável. (por Luís)
Morgan Freeman, por Invictus – quarta indicação.
Morgan Freeman se mostra, mais uma vez, como um ator competente ao encarnar um dos maiores líderes da história. Como Nelson Mandela, Freeman traz ao espectador uma pessoa bondosa que guia uma nação a um novo rumo. Trazendo a tela uma metáfora, ele guia um time de rugby a uma melhora incrível fazendo que a população sul-africana (que até recentemente sofria com o apartheid) se veja unida em torno de um sonho compartilhado por todos. Como disse, ele se mostra um ator competente, porém nada incrível. Ele consegue cativar o público, embora o filme – por muitas vezes – dê a impressão de um grande clichê levando consigo os seus atores. De modo geral, concordo com a academia, que deu a ele uma indicação merecida, mas não o prêmio. (por Renan)

Vamos às considerações dos jurados (vale lembrar, dessa vez, somos apenas quatro pessoas):

• Luís
Sobre a categoria: acho difícil comentar essa categoria, porque não vejo força em todos os representantes indicados. Penso que as duas atuações que me deixaram impressionados foram a de Jeff Bridges e a de Colin Firth. Nem mesmo Morgan Freeman, que considero ser um bom ator, me impressionou com a sua atuação. Clooney também não mostrou muito impacto, mas ainda assim lhe reconheço certo carisma.
Concordo com a opinião da Academia: Sim, porque Jeff Bridges foi aquele cuja interpretação mais me comoveu. Firth também interpretou bem, mas a concretização dramática de Bridges me soa mais poderosa.
Quem eu premiaria: Jeff Bridges.

• Marcelo
Sobre a categoria: Sinceramente, este foi um ano em que todos os indicados me agradaram. Devo salientar, porém, que há muito tempo não conferia uma atuação tão intensa como a de Bridges.
Concordo com a opinião da Academia: sim.
Quem eu premiaria: Jeff Bridges (pelos motivos citados acima)

• Renan
Sobre a categoria: Gostaria de dizer que essa foi uma das categorias que gostei de todos os indicados, obviamente uns mais que os outros. Minha principal dúvida ficou entre o ganhador Jeff Bridges (por, Coração Louco) e o novato em indicações Colin Firth (por Direito de Amar). Contextualizando o ator com o filme e com a ligação dele com a sua coadjuvante, certamente escolheria Colin Firth. Mas reavaliando, a atuação do ator, somente, optaria pelo ganhador Jeff Bridges. Ou seja, minha lista ficaria assim: Jeff Bridges, Colin Firth, Jeremy Renner, Morgan Freeman e George Clooney.
Concordo com a opinião da Academia: Sim, pela atuação acertada de Jeff Bridges que consegue transmitir toda a carga emocional que seu personagem requer.
Quem eu premiaria: Jeff Bridges, por Coração Louco.


• Thiago
Sobre a Categoria: Quando os indicados foram anunciados, Jeremy Renner foi a grande surpresa da lista, ninguém esperava sua nomeação. Ele realmente está bem Guerra ao Terror, mas não a ponto de bater de frente com os outros concorrentes. E apesar de George Clooney, Morgan Freeman e Colin Firth estarem ótimos, o falatória mesmo estava voltado para a atuação de Jeff Bridges.
Concordo com a Opinião da Academia: Sim
Quem premiaria: Colin Firth está absurdamente inclível em Direito de Amar, mas sou muito fã do Jeff Bridges e isso pesa muito na hora de tomar um decisão, por isso também o premiaria.

Dessa vez, foi consenso: todos os votantes concordaram com a escolha da Academia. Jeff Bridges realmente pareceu a escolha certa para o prêmio.

10 de dez. de 2010

Cálculo Mortal

Murder by Numbers. EUA, 2002, 120 minutos. Suspense.
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Uma vez, estava passeando pelas prateleiras da locadora e acabei pegando esse filme. Esses dias, decidi revê-lo. Um dos motivos principais por eu gostar desse filme é a presença de Sandra Bullock, que desta vez optou pro atuar num filme que fuja do gênero ao qual ela quase sempre está envolvida: comédias românticas e/ou romances. Não somente atuou como também dirigiu esse thriller, que fala sobre dois adolescentes de comportamentos bastante diferentes que decidem orquestrar um crime incapaz de ser solucionado. O crime começa a ser analisado por Cassie e Sam, ela já experiente e ele novato, e aos poucos eles descobrem que tudo parece realmente complicado demais...

A história não é assim tão nova. Muitos outros filmes já abordaram supostos "crimes perfeitos", mas apesar de não ser supercriativo, Cálculo Mortal é um filme interessante, capaz de render bons momentos de entretenimento. A escolha do elenco foi bem importante, afinal os astores Ryan Gosling e Michael Pitt já tem aparências antagônicas. No filme, estão em sincronia e concebem uma afinidade surpreendente entre os personagens, que cambiam entre a amizade e o romance. Ainda que não seja explícita, fica clara a relação homossexual entre eles, principalmente quando percebemos a maneira gentil e romântica com a qual Richard acaricia o rosto de Justin. Só faltou um beijo pra selar o compromisso dos garotos. Cassie certamente era a pedra no sapato deles. Já li alegações de que o filme peca por ela desconfiar deles sem motivo. Acredito que aquilo que faz com que ela rapidamente desconfie é a experiência que ela tem, não somente como investigadora, mas também como pessoa, uma vez que ela guarda aquele segredo bem mal desenvolvido ao longo do filme.

O que mais empolga no filme é o desenvolver da investigação. Os garotos são realmente espertos e devem ter visto bastante CSI antes de planejar aquele crime. A convicção de Cassie provém primeiramente do fato de o "perfil não se encaixar no perfil", como ela mesma diz. É só uma questão de tempo até ela relacionar os dois, o que acaba acontecendo. Praticamente dura metade do filme a investigação, depois o resto corresponde à tentativa de conectá-los efetivamente à cena do crime, que se mostra bastante complicado. O roteiro se desenvolve lento, intercalando o caso que os policiais tentam desvendar, o desenrolar da vida pessoal dos dois garotos e, a somar, o envolvimento romântico entre Cassie e Sam e ainda os problemas que ela enfrenta. Quanto à atuação, elas certamente são interessantes, com destaque para o complexo Justin, numa interpretação interessante de Micharl Pitt - que já parece estranho sem trejeitos de nenhum personagem. Ryan Gosling faz o típico sedutor - sua presença é notável, sua fala é macia, seu jeito conquista. Sandra Bullock em nada lembra as mocinhas românticas dos seus filmes anteriores. Mesmo que sorria às vezes e que faça algumas piadinhas, sua personagem é essencialmente fechada e distante, caracterizando uma interpretação mais sóbria e séria, mostrando que Bullock é carismática mesmo quando não está digirindo ônibus a 100km/h ou esperando que homens acordem ou ainda vivendo policiais em concursos de beleza. Ben Chaplin dá um bom suporte às cenas, mas é inegável que ele some quando está ao lado de Bulloock.

Cálculo Mortal definitivamente não é melhor filme de suspense que você vai ver, mas vê-lo garante bom entretenimento e uma boa dose de raciocínio, já que o espectador precisa compreender algumas coisas junto com os investigadores. Certamente é um filme válido para se ver numa noite de chuva ou numa noite em que você quer pensar, mas sem se desgastar com teorias complicadíssimas.

7 de dez. de 2010

Elizabeth

Elizabeth. Inglaterra, 1998, 124 minutos. Drama.
Indicado a 6 Academy Awards, incluindo Melhor Filme e Melhor Atriz (Cate Blanchett)
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Assisti a esse filme por causa da escolha da equipe do blog Um Oscar por Mês, já que decidimos analisar os premiados do ano de 1999. Confesso que esse filme nunca tinha me chamado a atenção e mesmo depois de vê-lo não senti muita densisdade nesse relato histórico sobre a ascensão de Elizabeth I, também conhecida como A Rainha Virgem.

Para começar, eu preciso dizer que é necessário um mínimo de conhecimento a respeito dos acontecimentos que dominavam a Inglaterra e a Europa naquele momento, que corresponde ao ano de 1554. O filme por si só não é capaz de transmitir tudo o que é preciso saber para compreender o porquê de tanto conflito. Abalada pela cisão religião, a Europa se encontrava em conflitos entre protestantes e católicos. Na Inglaterra, havia tanto uns como outros e, com o domínio de Mary, surgiu uma onda de "caça às bruxas", na qual os protestantes eram perseguidos impiedosamente a fim de "limpar" a Inglaterra. Sem herdeiro legítimo, a morte da Rainha Mary traria ao trono sua meia-irmã - filho do rei Henrique VIII com Ana Bolena -, Elizabeth, que era protestante. O que a Corte temia era que Elizabeth transformasse a Inglaterra numa nação protestante. Como instruções papais determinavam ser heresia quaisquer outras religiões que não a católica, o caos se instalou na Europa, fazendo com que nações se posicionassem contra outras nações, de religiões diferentes.

Óbvio que eu não poderia esperar muita História de um filme, afinal se o fizessem assim, provavelmente ele se tornaria bem maçante e comprido. Ficção foi necessário e omissões a eventos históricos também. Pelo menos, o filme focou-se naquela que foi uma das maiores preocupações dos momentos iniciais do reino elizabeteano: os confrontos religiosos. Outros eventos ainda são mostrados, mas não são bem esclarecidos, deixando o espectador em dúvida do porquê aquilo tem que ser daquele jeito. Um bom exemplo são as várias discussões sobre Elizabeth casar-se e gerar um herdeiro, para garantir o trono. Ainda que lógico, não fica bem explicado no filme o funcionamento disso e creio que fosse necessário maiores esclarecimentos a fim de que o filme atingisse também àqueles que não conhecem esse período da história inglesa. A ascensão da Igreja Anglicana também é mostrada de maneira muito sutil, sem a pompa que merecia. Depois de vermos conflitos religiosos o filme todo, o final apenas mostra Elizabeth intocável, sem esclarecer bem qual a decisão a respeito da religião.

As interpretações são boas, na minha opinião. Todos estão bem, mas não há nenhum grande momento para nenhum personagem. A indicação que Cate Blanchett recebeu certamente se deve às cenas em que ela ri, porque sua risada é o tempo todo muito espontânea. A princípio sutil, a Rainha vai se tornando mais forte - essa é a gradação da interpretação de Blanchett. No começo do filme, ela parece bem bonbinha, com olhares dispersos e imaginativos. Ao longo do filme, Cate deu o tom austero e decisivo à Elizabeth. Honestamente, não sei se eu a indicaria, mas, no máximo, haveria apenas uma indicação mesmo. Vale ressaltar que sua interpretação é mais intensa do que a de Gwyneth Paltrow, que acabou vencendo na categoria em que concorriam. Joseph Fiennes e Geoffrey Rush também estão presentes aqui, tal como estiveram em Shakespeare Apaixonado, e suas interpretações são comuns, sem grandes atrativos. O destaque vai mesmo para Blanchett.

As seis indicações que o filme recebeu não o sobrevalorizam. Mesmo que seja um pouco superficial quando ao roteiro, seus elementos técnicos são realmente impressionantes, como a direção de arte, os figurinos, a direção, fotografia, etc. Eu acho que Elizabeth se trata de um filme mediano, sem alcançar o ápice que merecia. No entanto, é divertido vê-lo e tem alguns momentos legais, principalmente os que se referem à transformação pela qual passa a Rainha. É insteressante criar uma ponte: será que a Elizabeth simpática de Cate Blanchett se tornou a Elizabeth arrogante vivida por Judi Dench, em Shakespeare Apaixonado? Como curiosidade, as duas concorreram na cerimônia de 1999 por essa personagem.

4 de dez. de 2010

Thelma e Louise

Thelma and Louise. EUA, 1991, 130 minutos. Drama / Aventura.
Indicados a 6 Academy Awards, incluindo Melhor Diretor e Melhor Atriz (Susan Sarandon e Geena Davis). Vencedor do Academy Award de Melhor Roteiro Original.
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Thelma e Louise é um dos poucos filmes do cinema que realmente retratam a mulher da maneira que merecem: livres, aventureiras e, sobretudo, leais à sua própria causa. Sem sombras de dúvida, esse é um grande trabalho de Ridley Scott, que, em parceira com as duas grandes atrizes principais desse longa, compôs uma pequena pérola do cinema. Há aqueles que dizem não se tratar de uma obra essencial para os cinéfilos; eu prefiro acreditar que, mesmo não sendo uma obra-prima do cinema, seja um filme extremamente válido e, na pior das hipóteses, pode apenas entreter o espectador.

Thelma é uma dona de casa submissa aos despropósitos maritais. Louise é uma garçonete que implica com o jeito com o qual Thelma vive sua vida. Um dia, elas combinam de sair para passar dois dias fora - pescando e se divertindo. No entanto, um acontecimento inusitado faz com que elas cometam um crime e rapidamente se tornam fugitivas procuradas, com direito a inclusão do FBI na investigação e perseguições policiais.

A história do filme poderia facilmente fazer o espectador pensar que se trata de uma aventurazinha boba - e a sinopse até pode fazer parecer com que seja mesmo -, mas o filme grande proporções grandiosas e se mostra um excelente road-movie, com excelente mistura de elementos dramáticas, policiais e aventureiros. O grande acerto dessa obra é não se preocupar em criar situações que nos façam julgar as personagens, mas sim compreendê-las na totalidade de seus atos, quase sempre libertários. O tema principal do filme não é as aventuras pelas quais passam as personagens. O foco se mantém na transformação pela qual passam Thelma e Louise ao longo do filme e no quanto são capazes de conhecer-se através dos perigos que encontram. As duas levam vidas comuns e sem grandes perspectivas, até que têm a oportunidade de se tornarem realmente livres, sem receios e sem arrependimentos. E o grande charme do filme é mostrar isso com delicadeza e segurança, sem fazer com que nós nos sintamos em dúvida em relação ao comportamento dos personagens - elas são mulheres de posicionamento firme e, embora impulsivas, vêem nisso a chance de serem elas mesmas. [SPOILER] O final do filme apenas prova o quão verdadeiro é o que eu digo: dada as circunstâncias, as personagens optam pelo ato libertário, uma vez que a morte é a prova de que elas realmente estão em paz consigo mesmas e que, sobretudo, elas são livres o suficiente para fazer essa escolha e ainda ser felizes com ela. [FIM DO SPOILER]

Ridley Scott compôs uma obra impressionante, na minha opinião. A maneira como soube captar as expressões e as cenas envolvendo as duas atrizes foi fascinante, principalmente porque ele consegue fazê-las ser uma só: Louise, a princípio extrovertida, torna-se temerosa em relação a que atitude tomar; Thelma, bastante submissa, mostra-se forte incentivadora das atitudes impulsivas. Dessa maneira, elas se completam e o diretor soube como mostrar isso com eficiente. Destaque especial para as ótimas paisagens fotografadas - mesmo que boa parte da viagem dela consista em percorrer o deserto, Ridley Scott soube como tornar o deserto um cenário interessantíssimo. O cenário, aliás, serve como contraponto em relação às personagens: ainda que isoladas geograficamente, elas estão muito bem acompanhadas - por elas mesmas. Susan Sarandon e Geena Davis estão fabulosas. A primeira compôs uma personagem difícil, que passa por uma provação emocional muito forte. Mesmo que não saibamos exatamente o que aconteceu no Texas, temos certeza de que isso é peso dramático na vida de Louise. Sarandon soube como mostrar o peso e a leveza da personagem, nos presenteando com ótimos olhares, ótimas cenas. Geena Davis faz da impulsividade de Thelma um elemento favorável. A atriz a torna engraçada, traz humor às cenas, faz-nos rir com as suas atitudes inconsequentes. Não me resta dúvidas de que o filme mereceu as indicações que recebeu, porque provavelmente esse é um dos melhores road-movies já criados.

Thelma e Louise é um filme interessante, do qual gosto bastante. Vê-lo é um prazer; revê-lo é um prazer maior. A cada vez que eu o vejo, descubro novas características nas personagens e as enxergo ainda maiores, bem mais fantásticas do que da vez anterior. Ridley Scott em sua melhor obra? Talvez. E reafirmo aquilo que disse no primeiro parágrafo: esse filme é uma pequena pérola do cinema! Nenhuma mulher pode se dizer feminista se não tiver visto ao menos uma vez Thelma e Louise, porque essas duas personagens são realmente a figura simbólica da alma feminina livre.

1 de dez. de 2010

Os Sonhadores

The Dreamers. França, 2003, 115 minutos. Drama.
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Muitos consideram os Sonhadores um hino dos cinéfilos. Chamam-no de obra-prima, cultuam-no, tratam-no como se fosse um filme indispensável aos adoradores da sétima arte. E talvez o filme seja mesmo tudo isso. Não somente representa bem a arte do cinema como também defende a arte do sexo sem culpa e sem preceitos limitadores. De um modo bastante original, o filme capta o prazer de ver filmes, de gostar de sexo e, sobretudo, de como uni-los num só.

O primeiro acerto do filme é o momento em que une os personagens principais. Matthew depara-se com dois jovens irmãos da mesma idade que são extremamente espontâneos e cativantes. Não demora para que eles estejam em sintonia. O mesmo acontece com o espectador, que entra no mesmo ritmo que Matthew, Isabelle e Theo - que demonstram ardente desejo pelo cinema e pelo sexo. Já situando os três ao tema do filme, fica muito mais fácil fazer com que o espectador vivencie as experiências junto com eles. Theo e Isabelle não são apenas irmãos - eles estão dentro um do outro, captam com facilidade o que sentem e assim, praticamente, tornam-se um só. Matthew é um aprendiz sexual dos dois irmãos, mas é tão experiente quanto eles no quesito cinema. Eu acredito que a razão pela qual esse filme atrai tantas pessoas é a excelente junção de temas. Os cinéfilos se impressionam quando vêem tantas alusões a outros filmes e se impressionam quando vêem o sexo mostrado de maneira aberta.

Enquanto eu via o filme, não pude me conter em relação a realmente participar junto com os personagens. Vê-los debatendo sobre qual é melhor - se Keaton ou Chaplin - foi um deleite para mim. Isso para não falar das cenas em que Isabelle imita Greta Garbo ou quando entra no quarto dançando com um espanador. Ver tantas referências ao cinema é, para um cinéfilo, uma sessão de orgasmos. O relacionamento dos personagens também é envolvente. Assustador, no começo, mas, assim como Matthew, logo nos adaptamos ao estilo de vida liberal dos irmãos Theo e Isabelle. Até mesmo a cena em que Theo se masturba na frente dos outros dois não soa pedante - ainda que surpreenda a princípio, soa natural depois. Destaque especial para a excelente cena em que os Matthew e Theo estão conversando na banheira cheia de espuma e, mais tarde, Isabelle fica ali com eles: falam sobre amor de uma maneira interessantíssima.

A minha única ressalva em relação ao filme vai para a construção dos personagens. Eles começam em perfeita sintonia, mas depois parecem se desajustar àquilo que eles mesmos programaram. Theo começa a ficar com ciúmes de Matthew e Isabelle e dessa maneira eles não podem realmente se aprofundar em seus desejos. Os três dizem que se amam, mas não chegam a consumar todo o desejo que sentem. A somar, há uma cena que soa incoerente com o resto: Matthew e Theo estão num diálogo mais acalorado, muito próximos, quase se beijando e, de repente, Isabelle os interrompe com o que parece ser uma crítica ao comportamento deles. Isso soa incoerente, porque eles mesmos - os dois irmãos - propuseram uma vida sexual mais aberta a Matthew. Acredito que faltou realmente uma cena de sexo entre os três personagens e, ainda, uma cena que mostrasse algo entre os dois rapazes, a fim de deixar claro que não há limitações ou preconceitos. Eu fiquei meio desconcertado com aquela cena e com a atitude de Theo, afinal, no lugar de qualquer um eu estaria me divertindo totalmente e não arrumando problemas que impossibilitassem o prazer total. Vale ressaltar que, como depois eu soube, há cenas de menáge à trois

Eu realmente devo dizer duas coisas. Primeiro tenho que recomenda esse filme a todos os amantes de cinema. Não sei se se trata de uma obra-prima, mas é fato que esse filme de Bertolucci é realmente inspirador - em qualquer aspecto a respeito do qual falarmos. Agora, devo agradecer ao Marcelo, que me recomendou o filme e usou argumentos muito bons para me fazer crer que valia a pena vê-lo. Enfim, essa é uma obra que merece ser vista, apreciada e compreendida com uma visão bastante ampla - depois, cabe a nós admirá-la.