30 de nov. de 2009

Fechamento do Mês - Outubro

Eu e o Renan decidimos fazer algo diferente em outubro. Achamos que seria legal se nós expandíssimos um pouco as análises dos filmes vistos durante o mês, então resolvemos convidar um colega nosso para que ele, junto conosco, avaliasse todos os filmes do mês passado. Desde que criamos o blogue, o Brean é um leitor assíduo, que sempre expressa sua opinião sobre os filmes e livros que ele conhece e sempre sugere alguns títulos para nós. Achamos que seria interessante se ele participasse de uma maneira mais efetiva. Prontamente, o Brean aceitou o convite e nós três, de um modo geral, analisamos 25 filmes em outubro.

Muitos foram filmes bons, outros tantos foram medianos. Pouquíssimos, felizmente, foram ruins. Todos, no entanto, ficaram com nota acima de 5, como você poderão ver na tabela disposta ao final desse post. Embora a nota do filme fosse composta pela média das três notas (a do Brean, a do Renan e a minha), alguns filmes acabaram empatando - curiosamente, houve empate no primeiro lugar! Muitos dos meus colegas me consideram muito crítico ao avaliar os filmes, mas as notas do Brean mostram que, se eu sou rigoroso, ele é muito mais! O Renan costuma ser mais generoso com suas notas, no entanto, ele foi o único que não se contentou totalmente com nenhuma obra e, por isso, não deu nota máxima a nenhum filme. Como verão na tabela, ainda que eu tenha sido muito bondoso em minhas análises, a maioria de minhas notas fica entre as do Renan e as do Brean.

Queremos aproveitar e agradecer ao Brean por ter aceitado o nosso convite. Queríamos realmente dizer que estamos gratos, afinal, ele disponibilizou seu tempo para nos ajudar nessa demorada (e também agradável) tarefa de avaliar os filmes e compor o ranking, que apresenta os oito melhores de filmes vistos no mês de outubro. Sem mais enrolação, vamos ao que interessa:

7ª posição: A Lista - Você Está Livre Hoje?. Nota: 7,8.

As pessoas têm criticado muito esse filme. Com exceção do final extremamente incoerente com o resto da trama e de alguns clichês ao longo do roteiro, o filme consegue entreter o espectador com um clima interessante, uma fotografia escura e interpretações um pouco acima de média. Embora tenha pontos negativos, é um filme que vale a pena ser visto.

6ª posição: Cleópatra. Nota - 7,9.

A princípio, as 4 horas de duração nos assustou. Mas como eu e o Renan decidimos que nós comentáriamos esse filme, nós o vimos para analisá-lo. Dividido em dois atos - respectivamente, o relacionamento da personagem-título com Júlio César e o relacionamento com Marco Antônio -, o filme entretém numa parte, mas falha na outra. Ainda assim, pela produção técnica e boas interpretações, conseguiu um lugar no ranking. Para ver a resenha, clique aqui.

5ª posição: Assassinato no Expresso do Oriente. Nota - 8,0.

Como usualmente, livros são transpostos para as telas. E esse filme é uma adaptação do ótimo livro de Agatha Christie e, como quase sempre acontece, o livro é superior à obra cinematográfica. Vale ressaltar, no entanto, que há ótimas interpretações e uma fotografia interessante, além de um clima que atrai o espectador. E como se isso já não fosse suficiente, há ainda Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, Vanessa Redgrave, Albert Finney... elenco de astros!

4ª posição: As Pontes de Madison. Nota - 8,1.

Na minha opinião, um filme apaixonante que merecia estar na segunda posição! Aborda o relacionamento de uma mulher casada com um fotógrafo, que a coloca diante de uma escolha muito difícil. Meryl Streep e Clint Eastwood nos presenteiam com uma atuação linda e envolvente, num filme que dá importância aos diálogos e, consequentemente, faz com que o espectador também converse com os personagens. Sem sombra de dúvida, um dos melhores romances já produzidos.

3ª posição: Sobre Meninos e Lobos. Nota - 8,3.

Ao verem a minha nota, não se assustem: ela é alta, mas nada tem a ver com o talento de Sean Penn, o ator principal. Sobre Meninos e Lobos fala sobre os efeitos de um acontecimento traumático na vida adulta e a desconfiança que surge entre várias pessoas. O filme foi bem conduzido por Clint Eastwood, que soube como mostrar o tom sombrio que a história necessita. Tim Robbins e Marcia Gay Harden estão unidos numa química perfeita e numa interpretação densa. Com ressalvas, é um bom filme!

2ª posição: A Partida. Nota - 8,6.

Lembro-me de que eu gostei do filme quando eu o vi. Hoje, no entanto o efeito positivo já passou e eu não me lembro de muitas coisas, a não ser da fotografia lindíssima que o filme possui. Captar os cenários mais bonitos é um dom dos orientais! Podem ver que as notas do Brean e do Renan são bem parecidas; os dois realmente gostaram do filme.

1º LUGAR: A Malvada e Entrevista com o Vampiro. Nota - 9,3.

Percebam na tabela abaixo que esses foram os únicos filmes a obter nota máxima de um dos votantes. São realmente grandes filmes. A Malvada é um clássico que, embora tenha hoje 59 anos, é completamente atemporal. Atuações fabulosas de Bette Davis e Anne Baxter, que dão um show em cena. Entrevista com o Vampiro é baseado no livro de Anne Rice e ela mesma parabenizou a performance dos atores. Bem mais recente, data de 1994, ou seja, tem apenas 15 anos. Brad Pitt e Tom Cruise nos mostram como são vampiros de verdade - famintos, perigosos, envolventes. Veja as resenhas dos filmes, respectivamente, aqui e aqui.

Como eu havia dito, a tabela com as notas individuais está disponível abaixo, para que vocês possam  ver como se formaram as notas e quais outros filmes também foram vistos no mês de outubro.



Não deixem de dar as suas opiniões sobre a nossa avaliação! Sugestões, reclamações, concordâncias, discordâncias... comentem!

Luís

28 de nov. de 2009

E Sua Mãe Também

Y Tu Mamá Tambíem. México, 2001, 98 minutos. Drama.
Foi indicado ao Academy Award na categoria Melhor Roteiro Original.
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Há muito queria ver esse filme, mas somente há pouco eu assisti a ele. A princípio, pensei tratar-se de uma obra cujo objetivo era inexistente e as cenas tentassem apenas se assimilar a um gênero erótico amador. Porém, subitamente, chegou o objetivo primordial do filme, que é narrar de maneira informal a jornada de dois amigos cujas mentes adolescentes, voltadas quase exclusivamente para o consumo de drogas e para o sexo, se abrem em função de novas descobertas. Descobri que E Sua Mãe Também é um dos filmes que mais me surpreenderam positivamente e que, portanto, tenho de recomendar a (quase) todos. Logicamente se imagina que venha a ocorrer uma viagem, pelo menos metafórica, num roteiro no qual os personagens principais são jovens que se drogam por diversão. A viagem, porém, se torna literal quando esses dois, Tenoch e Julio, convidam Luisa, esposa do primo de Tenoch, para se juntar a eles na busca pela praia Boca do Céu, que eles nem sequer sabem se existe. Então, esse filme do mexicano Alfoson Cuarón, que dirigiu o terceiro filme da franquia Harry Potter, é um dos mais interessantes road-movies a que já assisti, ficando apenas atrás do excelente Transamérica.

O elenco jovem do filme - embora os atores sejam mais velhos do que seus personagens - traz um aspecto extremamente descompromissado à película, tornando-a mais divertida de se ver, afinal existe muita descontração na maneira como a história toda é conduzida. Um grande passeio pela mente adolescente masculina típica é proporcionada e os intérpretes, Gael Garcia Bernal e Diego Lunas (respectivamente Julio e Tenoch), atuam maravilhosamente bem, considerando o contexto no qual seus personagens estão inseridos. Aqui quero abrir espaço para um comentário acerca de uma características que muitos podem deixar passar: uma das principais abordagens de E Sua Mãe Também é a amizade. Não um relacionamento superficial, de falar bobagens e frequentar a casa um do outro, mas sim a amizade na qual se percebe que o alicerce é a afinidade e que ambos os lados sentem-se completamente livres para expor-se - mesmo que possa haver reações negativas à exposição - e ainda assim dar continuidade à sensação de serem livres, pelo menos um com o outro. Até mesmo as brincadeiras mais pervertidas corroboram o elo existente entre os dois amigos. Os conservadores, àqueles a quem não recomendo o filme, verão apenas perversão e imaturidade - talvez as garotas que venham a ler esse texto acabem atribuindo as mesmas características a mim -, mas ainda assim insisto na ideia de que agem daquela maneira devido à capacidade que têm de estar juntos sem se constranger. Não que isso perdure o filme todo, como percebemos quando concluímos de assistir, mas certamente o estopim para que os dois saiam dessa linha é a mente estreita cujas vontades resistem aos atos que, outrora impensáveis, tornam-se desejáveis.

O acréscimo de uma terceira personagem, Luisa, interpretada belamente por Maribel Verdú, aos dois amigos acontece definitivamente a fim de somar qualidade à estrutura dos personagens e à linha narrativa, que nos permite ver bons momentos de conversas eróticas tão abrangentes e simultaneamente tão específicas que faz com que aqueles cuja mente é aberta o suficiente para debates não tão cultos assim desejem ser o quarto personagem e estar naquela viagem junto com os três. Abusando do tom de comédia, o filme acerta ao expor também o momento dramático que rompe o cotidiano tranquilo de cada um deles. Se os dois amigos são extremamente livres, às vezes tão livres que se entediam, Luisa é mais conservadora e, como um teste de revista que ela faz a define, é uma mulher temerosa de tornar-se livre. Porém, a união desses três tipos faz surgir uma esperança nova: traz a diferença, provoca a ruptura da monotonia e traz à Luisa a esperança de sentir-se desejada e amada, da forma como bem entender sem sentimentos de culpa. Assim, embora o ciúme esteja presente em algum momento na relação dos três, o que definitivamente os une é a vontade de consumar o desejo sexual e de sempre ir adiante, conquistando tantos quantos conseguirem. Um quarto de hora é necessário até que você entre no clima, depois disso tudo funciona muito bem. O roteiro do filme não demonstra grande falhas e o ritmo dinâmico ajuda a reforçar a ideia do road-movie, animando-o, tornando-o ainda mais expressivo. Valia uma indicação, certamente. Mas não conheço os que concorreram com ele e, por isso, vou me abster se afirmar se merecia ou não o prêmio.

Acredito que somente os latinos, de uma maneira geral, conseguem mostrar cenas de sexo e abordar esse assunto com uma desenvoluta fantástica que não faz o espectador se constranger. Outra capacidade incrível é mostrar personagens em cenas do dia-a-dia, como fazendo xixi, e ainda assim deixar uma cena interessante. Em E Sua Mãe Também há cenas assim, assim como elas existem em Volver - quando Penélope Cruz vai banheiro -, entre outros filmes dirigidos por diretores de sangue mais quente. Assim, eis um filme que merece elogio completo e que, nas suas proporções, consegue se tornar uma excelente pedida para um sábado à noite sozinho - ou acompanhado, talvez. Tal como dito no primeiro parágrafo, não posso simplesmente recomendá-lo a todos, pois é necessário vê-lo com a mente aberta, sabendo, desde a primeira cena, que o sexo será abordado de maneira bem natural e sem grandes enfeites, mostrando-o, mesmo que não haja sexo explícito, de uma maneira bastante direta. Os conservadores, os retrógados, os que vêem o sexo somente em duas condições: papai-e-mamãe e com as luzes apagadas, podem desistir completamente de vê-lo, pois certamente terão problemas. Somente os de capacidade abrangente de absorção, os que são livres de pré-concepções, poderão assistir a esse filme sem criticar os adolescentes que criaram um manifesto no qual um dos itens é que morra a moral e que viva a punheta! Agora cabe a você se definir: mente ampla ou estreita?

Luís
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E Sua Mãe Também foi um dos melhores filmes que vi esse mês, e com certeza um dos melhores fora do circuito norte americano. No geral, o filme é alegre, pulsante e sensual, mais ou menos como imaginamos o México, país no qual se passa a história, além de ser o berço do diretor Afonso Cuarón. Aliás, Cuarón já fez parte de grandes produções, como Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, do qual foi responsável por introduzir na série uma cara mais adulta. Nesse longa, o diretor consegue juntar tudo que o filme pode dar de melhor transformando-o num filme com certeza recomendável.
Muita coisa ajuda no filme e aqui vou tentar falar um pouco delas. O teor sexual do filme é na medida certa. Não há exageros e nem drama no enredo (com exceção do final) com esse tema. Tudo é levado na empolgação e no espírito aventureiro de dois jovens, aliás, o filme já começa com uma cena de sexo e esse, é mostrado durante o filme todo, não só em relações sexuais propriamente ditas, mas também em cenas em que os atores e atrizes mostram suas partes íntimas. Outro ótimo ponto é a atuação e nesse quesito tenho que dar enfoque a dupla principal: Diego Luna e Gael Garcia Bernal. Os dois tem a química que uma amizade precisa ter pra ser verdadeira. E um ponto interessante do filme, é que ele não mostra uma amizade utópica que um não esconde segredos do outro, mas sim um sentimento real, onde há coisas que fazemos que devem ser guardadas para nós mesmos. Há também os belos cenários que são mostrados no filme como as praias exuberantes e também cenários mais pobres como as casas na beira da estrada.
A estória é narrada em terceira pessoa, mais ou menos como Vicky Cristina Barcelona e em E Sua Mãe Também, esse narrador tem um papel importante, que é o de contar o final de alguns personagens como Chuy, o guia que os leva de lancha até algumas praias, inclusive a Boca do Céu. Entre os personagens que tem o final revelado estão também os porcos (não que eu ache que porcos são personagens, mas faltou uma palavra melhor, pois eu não poderia escrever "entre os animais que tem seus finais revelados"). Graças a esse recurso, não temos aquela impressão de que faltou explicar alguma coisa de algum personagem. No total, o longa é um excelente filme que deixa os telespectadores satisfeitos com o resultado, além de nem notarmos o tempo passar, já que tudo flui perfeitamente.

Renan

26 de nov. de 2009

Dissecando Stephen King

Conversations on Terror with Stephen King. EUA, 1990, 265 páginas (editora Francisco Alves).
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Passando entre as patreleiras da biblioteca, vi esse livro. Somente pelo título, gostei bastante. "Dissecando" sugere uma análise profunda do autor, o que me agrada bastante, uma vez que Stephen King é um dos meus autores preferidos e desta vez eu leria uma obra sobre ele e não feita por ele. Lê-lo também foi importante para elaborar o perfil do autor, que pode ser lido aqui.

O livro na verdade não é uma análise sobre SK, mas sim uma coleção de entrevistas que o autor concedeu a várias revistas ao longo de vários anos. Tim Underwood e Chuck Miller resolveram colocar num único livro as perguntas às quais King já respondeu. O mais interessante é que temos o conhecimento das opiniões do autor pelas próprias palavras dele e vários assuntos são abordados ao longo de cada entrevista, desde os sentimentos que ele tem quanto a escrever e até mesmo o que o fazia ter medo quando criança.

Devido à liberdade com que se expressa, muitos trechos são realmente divertidos. King conta, pro exemplo, que uma vez viu uma senhora lendo Carrie, A Estranha num avião. Ela foi a primeira pessoa que ele viu lendo um livro seu e, ao perguntar o que ela achava do livro, surpreendeu-se com a resposta: "Uma porcaria! Nunca li um livro tão ruim na minha vida!". E pouco antes ele pensara em se apresentar como autor do livro e, se precisasse, até mesmo mostrar a identidade para que ela acreditasse! King tem uma visão muito sóbria das suas obras; nem mesmo suas grandes obras são motivos de orgulho excessivo e ele as trata como livros comuns, narrativas detalhadas sobre um determinado tema. Algumas respostas nos reveleam curiosidades interessantes, como o fato de o autor pensar que O Cemitério Maldito - o meu preferido - seja o livro mais dramático quanto ao terror que ele expressa. Também é revelado que muitos livros tiveram que ser modificados e suavizados, pois os editores pensavam que seria mal recebidos pelo público se mostrassem aquele tanto de violência. Hoje sabemos que, se King escrever estórias extremamente violentas, continuará vendendo tanto quanto se escrevesse romances que nada tem a ver com horror.

Particularmente, as perguntas que mais me interessaram foram aquelas que se referem às opiniões de King a respeito de seus livros que foram adaptados. O resultado final de O Iluminado realmente não agradou o escritor, embora ele tente ser bastante sutil em relação a maneira como expressa o seu desagrado. Devo concordar totalmente com ele quanto ao pensamento sobre a adaptação, que está bem longe de ser uma boa adaptação, embora seja um excelente filme. Ao longo das entrevistas, há sugestões de que King poderia vir a atuar como diretor ou escrever roteiros especialmente para filmes e não escrever livros para ser adaptados. O fato é que King anos depois finalmente dirigiria um filme e criaria uma história diretamente para um filme, para exemplificar, posso citar Caminhões (Trucks, no original) e A Tempestade do Século.

Os fãs do autor têm que ler o livro, para conhecer um pouco das opiniões do autor ditas por ele mesmo. A coletânea é realmente interessante e nos mostra bastantes coisas a respeito desse autor, que é um dos mais vendidos atualmente. Comparado a grandes nomes da literatura do horror, com Edgar Allan Poe e Lovercraft, King é um autor que merece ser lido! Sugiro, portanto, que leiam esse livro e que se deliciem com as várias entrevistas - algumas delas contam com Peter Straub, escritor que é amigo de Stephen King e que inclusive já escreveu um romance chamado O Talismã junto com o autor. Totalmente recomendável.

Luís

24 de nov. de 2009

Os Infiltrados

The Departed, 2006, 149 minutos. Drama.

Vencedor de quatro Academy Awards nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Edição.

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Martim Scorcese dirige um excelente filme que agrada o espectador durante as mais de duas horas de produção. Como o próprio nome sugere, a história fala sobre dois personagens que estão infiltrados: um deles trabalha para a máfia e está entre os detetives investigadores da polícia estadual enquanto o outro está junto a máfia, embora seja investigador. Essa é basicamente a premissa dessa história, que aos poucos se desenvolve, mostrando boas atuações e um final muito bom.

Leonardo DiCaprio e Matt Damon protagonizam de maneira extremamente satisfatória esse filme. Funcionam ainda mais se repararmos no aspecto de inocência que os dois têm, sempre com olhares calmos e expressões neutras. Quando ao primeiro, tem seus grandes momentos enquanto irritado, já que perde a paciência facilmente e a noção do lugar onde está, simplesmente distribuindo socos e chutes; ver DiCaprio assim é bastante interessante. Damon, ainda que um pouco abaixo do nível de DiCaprio, também é muito eficiente e sua atuação é segura, sem momentos que fazem o espectador questionar sobre a veracidade das suas ações e emoções. Mark Walhberg, indicado a Melhor Ator Coadjuvante ao Academy Awards, participa pouco, sua presença deve somar, no máximo, uns 20 minutos. Mas isso não impede que o ator faça um bom trabalho, impondo seu personagem em todas as cenas em que aparece, com o tom sempre feroz da fala, que sempre desfere ofensas ao seu interlocutor. Não acredito que valeria uma indicação, ainda que o ator se mostre bem no papel. Mas é lógico que o destaque do filme cabe ao fabuloso Jack Nicholson, que a princípio não queria integrar o elenco do filme, mas acabou mudando de ideia por sentir saudades de interpretar um vilão, coisa que há anos não fazia. As suas falar são ótimas, principalmente por vermos a maneira simples como diz frases de impacto: "Alguns querem ser bandidos, outros querem ser policiais. Quando uma arma está sendo apontada pra sua cabeça, que diferença isso faz?".

O filme vai se desenvolvendo mostrando os altos e baixos pelos quais passam os infiltrados e também os problemas que os policiais e os mafiosos encontram para tentar descobrir qual é o rato, aquele que está disfarçado. Pouco a pouco, surgem dúvidas e indagações, até mesmo testes para descobrir quem é o trapaceiro e isso mexe com o espectador, deixando-o tão tenso quanto os personagens. Porém, eu acho que algo não foi bem caracterizado nesse filme: os encontros entre os personagens com os grupos a que pertencem são sempre feitos em locais abertos, onde podem ser facilmente rastreados, como um cinema ou um píer. Dá a impressão de que a máfia é meio desorganizada quanto à segurança, oq ue sabemos ser mentira; ao mesmo tempo, parece que a polícia é estúpida por não ver o quão óbvio está em relação ao trapaceiro. E isso ocorre durante todo o filme, mas eu acabei considerando que isso faz parte do universo mostrado. Eu gostei bastante da trilha sonora e das cenas, muito bem organizadas, bastante ágeis quando necessário e causando o clima certo, na medida ideal.

Não há como não recomendar esse filme, pois é uma obra muito boa, com atuações que valem a pena conferir. Isso para não comentar o fim de cada personagem, extremamente breve, mas que prolonga no espectador uma sensação de euforia quase descontrolada, devido à maneira caótica como se ligam as cenas finais, proporcionando um verdadeiro grand finale. Na época em que foi lançado, foi supervalorizado; acredito que esse não seja o tipo de filme que perde o charme com o passar do tempo. Vale a pena vê-lo com certeza! Quando começam os créditos, percebemos que aquela frase que Jack Nicholson fala categoricamente é extremamente real... que diferença faz?

Luís

22 de nov. de 2009

Melhor Ator Coadjuvante - Oscar 2009

Eu neDando seqüência a nossas análises sobre algumas categorias do Oscar 2009, decidimos postar sobre os Atores Coadjuvantes. Em 2009 houve muita diversidade nos atores, pois ao mesmo tempo havia filmes nos gêneros de ação, drama e comédia, onde o melhor dentro do seu gênero ganhou uma indicação. Lembrando que já analisamos a categoria de Melhor Atriz Coadjuvante onde concordamos que Amy Adams deveria ser a vencedora. Os textos de Josh Brolin, Heath Ledger e Tobert Downey Jr foram escritos por mim (Renan) e os textos do Philip Seymour Hoffmann e Michael Shannon, pelo Luís. Sem mais delongas, vamos analisá-los.

Josh Brolin, por Milk - A Voz da Igualdade - Primeira indicação ao Oscar
A indicação de Josh Brolin parece ter sido um "acerto de contas" da Academia, já que o mesmo não foi indicado pelo ótimo "Onde os Fracos não tem Vez". Sua atuação em Milk é mediana, mas consegue passar com eficiência o recado que seu personagem tem que passar. Talvez o maior empecilho na sua indicação, seja seu companheiro de filme James Franco que conquista a simpatia de todos logo nos minutos iniciais do filme. De modo geral Josh Brolin foi bem, mas há outros atores que foram melhores.

Philip Seymour Hoffman, por Dúvida - Terceira indicação ao Oscar
Esse é um ator que vem nos mostrando que consegue compor bons personagens. Em Dúvida, sua interpretação como o Padre Flynn, consegue cumprir com o objetivo do roteiro: nos deixar na cabeça a imensa incógnita que é sua relação com o aluno. O ator soube mesclar bem os momentos de fúria e os momentos dramáticos, soube como fazer com que simpatizássemos com seu personagem, mesmo que estivéssemos nos perguntando a respeito de seu caráter. Certamente, sua indicação foi justificável e acredito que ele tenha sido um forte candidato ao prêmio.

Robert Downey Jr, por Trovão Tropical - Segunda indicação ao Oscar
Me pergunto qual foi a finalidade da indicação de Robert Downey Jr ao Oscar. Seu personagem, que era pra ser o mais engraçado, (pois satiriza o cinema de uma forma inteligente) se torna chato e esquecível, assim como o filme todo. Aliás, o filme todo é uma perda de tempo, e Robert não consegue se destacar dos outros colegas de cena, que também são dispensáveis, e sendo assim, ele certamente não merecia a indicação e muito menos o prêmio.

Heath Ledger, por Batman - O Cavaleiros das Trevas - Segunda indicação ao Oscar.
Heath Ledger em seu papel de Coringa conseguiu se sobressair ao verdadeiro protagonista do filme. Seu personagem é sarcástico, irônico, maquiavélico, mas não deixando de ser bem humorado. Além disso, inovou com uma maquiagem borrada e uma frase que marcou o ano "Why you so serious?". Desse modo, Ledger conseguiu fazer que a estatueta de Melhor Ator Coadjuvante fosse não só uma homenagem, mas principalmente uma prova da sua capacidade de interpretação.

Michael Shannon, por Foi Apenas um Sonho - Primeira indicação ao Oscar
Sua participação em Foi Apenas um Sonho é bem curta, mas o ator mostrou-se eficiente em seu propósito: desmascarar os personagens centrais. Talvez a sua indicação se deva à carga dramática contida nas cenas em que ele foi inserido e não exatamente pelo desempenho do ator, mas, de qualquer forma, Shannon mostra-se eficaz ao interpretar o perturbado John, que nos presenteia com belas agressões verbais ao instáveis personagens Frank e April.

Como vocês devem ter percebido, gostamos pouquíssimo da indicação de Robert Downey Jr pois nada no filme, nem o enredo e muito menos a atuação dele e dos seus companheiros de cena melhoram com o decorrer do longa. Não achamos a atuação de Josh Brolin ruim, mas também não é espetacular, fato esse que faz seu personagem ficar na média.

E todos os cinéfilos receberam um presente ao ver a atuação de Heath Ledger com (possivelmente) um dos melhores Coringas da história. Ledger conseguiu afastar todos os personagens do enredo e tomar a estória para si abafando qualquer Cristian Bale e por isso concordamos plenamente com sua vitória sobre os demais concorrentes. Infelizmente, Heath foi encontrado morto aos 28 anos com comprimidos do lado, antes de ver sua carreira chegar ao ápice. Houve muitos boatos que ele teria se matado por conta do seu personagem Coringa, e ele mesmo chegou a declarar que "as filmagens do novo Batman o deixaram física e mentalmente exausto e que precisou tomar pílulas de um remédio chamado Ambien para conseguir dormir".

Renan e Luís

20 de nov. de 2009

A Passagem

Para a resenha de hoje, teremos um convidado especial. Uma vez ele nos recomendou que víssemos esse filme e, uma vez tendo dito que gostou bastante da obra, achamos que seria interessante se ele mesmo viesse aqui expressar sua opinião acerca do filme sugerido. Ele me disse que é a primeira vez que faz uma resenha sobre um filme; como achei seu texto muito bom, eu penso que ele me enganou e que há algum tempo vem escrevendo sobre filmes!! Pois bem, hoje o nosso convidado especial é o Jean, que conhecemos em uma comunidade sobre filmes no orkut. Com prazer, eu e o Renan o recebemos aqui no Literatura e Cinema.
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Stay. EUA, 2005, 100 minutos. Drama / Suspense.
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A história em si é complexa e parece não fazer qualquer sentido. Todavia, em segunda análise, ficamos muito felizes quando conseguimos juntar os pauzinhos e compreender tudo. Este é um daqueles filmes que em seu lançamento deve ter provocado reações inesperadas na platéia, pessoas saindo no meio da sessão, adolescentes no final dizendo que não entendeu bulhufas e por aí vai. No entanto o roteiro é muito bom e dá pra quem presta atenção nele, todas as dicas possíveis.

Henry (Ryan Gosling) é um jovem que está em crise. Tendo seu suicídio metodicamente datado e planejado em sua mente, ele é um desafio para o psiquiatra Sam (Ewan McGregor), que assumiu o caso do rapaz após a estafa mental de sua psiquiatra anterior. Enquanto tenta impedir que Henry cometa o suicídio, Sam tem de lidar com seus próprios problemas. Especialmente porque o caso se parece muito com o de sua mulher, Lila (Naomi Watts), ex-paciente que também tinha idéias suicidas. (fonte – yahoo cinema)

Quero primeiramente comentar a respeito do elenco, que foi bem coeso e bastante talentoso. Destaco Naomi Watts e Ryan Gosling, este último trouxe ao filme todas as características que o seu personagem – Henry – precisava, desde diálogos bem construídos a expressões faciais que deixam a película muito mais densa. Cheguei a me perturbar com todo o clima pesado que ele trazia à tela, sem contar inúmeras imagens confusas que apareciam em seus pensamentos e em ambientes em que se encontrava. Outra atriz que preciso destacar é Kate Burton, que conseguiu com maestria interpretar uma mãe perturbada.

Todos os diálogos de personagens secundários, à primeira vista não fazem nenhum sentido. Porém são estes diálogos que nos faz compreender - mesmo que implicitamente - o real motivo de tudo aquilo estar acontecendo. E isso trouxe um aspecto muito positivo ao filme, porque acaba testando o quão perspicazes estamos sendo em relação ao que está sendo transmitido. O uso de repetições durante a trama, também é de se considerar, apesar de às vezes se tornar cansativo.

Um ponto que achei interessante foi a de terem usado uma das histórias que consta nas obras completas de Freud... Onde ele descreve um homem cujo filho está morrendo. O pai senta ao lado da cama do filho noite após noite e depois que o menino morre, ele quer acordá-lo, e faz um círculo de velas em volta do corpo do menino. O pai está exausto e adormece, e sonha com o filho, em pé ao seu lado e segurando seu braço. Sussurrando: “Pai, você não vê que estou pegando fogo?”. Isso fala muito sobre o filme! E há algo que também precisamos saber. Existem estímulos externos e internos que influenciam o sonho. Como por exemplo, vozes, emoções e estado corporal. O que quero dizer com tudo isso é: [SPOILER] O que acontece na realidade são apenas o acidente, o socorro e o tumulto em volta de Henry. Todo o resto é sonho ou devaneio. [FIM DO SPOILER]

“A Passagem” é um filme excelente, com cenários e ambientações que nos transporta para o clima certo do filme, belíssima fotografia e trilha sonora. E, o mais interessante é que, ao passar de uma cena pra outra, usam o último movimento de uma cena pra continuar a próxima e, ainda, os seus cortes rápidos, com um fundo musical tenso, de uma cena pra outra dando assim, o tom de suspense ao filme.

Devo dizer que este é realmente um filme essencial! Fazer uma obra dessas é extremamente complexo... São muitos detalhes e todos eles são super importantes na trama e na absorção da obra, como linguagem, pelos espectadores.

Jean
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Antes, nunca havia ouvido falado desse filme. Os atores são conhecidos e eu conheço um pouco sobre a carreira de cada um deles, mas nunca havia atentado para esse filme que fizeram. Devido à escolha que o Jean fez de comentar A Passagem, eu o vi e antes de escrever essa resenha, eu o conferi pela segunda vez, o que modificou bastante da minha opinião anterior.

À primeira vista, estamos diante de um filme que nos remete à famosa - e usualmente complicada - viagem no tempo. Logo nas cenas iniciais, vemos o personagem principal, Henry, prevendo chuva de granizo, que acaba acontendo em seguida. Com o desenvolver do filme, essa impressão continua e, acrescida a ela, surgem potenciais fantasmas e um clima de suspense meio que alienado, como se tudo aquilo que é mostrado não se encaixasse no próprio tema. Há uma série de eventos que vão moldando o filme, vão transformando-o naquilo que ele é, tornando-o um filme bastante inteligente, mesmo que complicado.

Há várias cenas que parecem não acrescentar muito, mas eu tenho certeza de que todas têm uma finalidade e que juntas elas dão embasamento quase absoluto à proposta do filme. Eu usualmente costumo gostar dos detalhes, pois eu os acho fundamentais para a composição de uma obra. Em A Passagem, os detalhes são muitos, talvez em excesso - o que provoca um probleminha com o entretenimento. O que quero dizer é: são tantos em quantidade, que os detalhes tornam-se, às vezes, o único atrativo e os olhos dos espectadores voltam-se para elementos de pouca significância em cena. Desde o começo percebi que devia atentar às coisas que via; com o passar do filme, no entanto, acabei focando o cenário e o ângulo da câmera, o que me fez dispersar do que os atores diziam e, por isso, tive que voltar o filme uma ou duas vezes. Vale ressaltar que o filme caminha com sucesso para uma boa conclusão. Poderia, no entanto, ser mais curto, talvez ter uns quinze minutos a menos, já que nem tudo é realmente necessário e, mesmo depois de ter visto duas vezes, ainda fiquei com algumas dúvidas.

Os trabalhos dos atores são bastante positivos e todos estão bem em seus personagens. Grande destaque para a coadjuvante Naomi Watts que, embora participe pouco, nos presenteia com uma interpretação muito expressiva. Ryan Gosling é o caso de ator muito bom que dificilmente cai no gosto do público - é difícil vê-lo num filme que chame a atenção. Sua atuação é favorável ao que o filme propõe e, mesmo soando contraditória em muitos momentos, poderemos chegar aos motivos que levam o personagem a agir daquilo maneira. Talvez haja um quê de exagero em alguns momentos, como quando pede ajuda e depois ameaça Dr. Sam com uma arma, mas creio que isso se deve a um deslize do diretor e não dos atores em cena. Achei meio difícil acreditar a princípio que Ewan McGregor fosse um psiquiatra. Ao longo do filme, no entanto, achei-o totalmente cabível no personagem, indo fundo em busca da obsessão que aquele caso estranhíssimo causou em si. Não tenho muito o que dizer sobre os outros personagens, pois eles pouco aparecem e suas atuações são bem medianas, principalmente a da mulher que interpreta a mãe de Henry. Ela erra o tom e chega ao ponto de ser meio caricata, às vezes.

Como dise parágrafos acima, o filme é cheio de detalhes e as metáforas estão presentes o tempo todo. Para vê-lo, é necessário estar totalmente atento e ser paciente. Se houver algo que pareceu sem sentido, minha sugestão é que volte um pouco e reveja o trecho confuso, pois ele pode ser de importante significância. Na primeira vez, fiquei com essa dúvida e a segunda vez que vi o filme não fez com que isso ficasse claro. Àqueles que ainda não viram esse filme, aconselho a não ler as enumerações seguintes:

  1. Talvez a questão mais importante: tudo aquilo que vemos durante o filme é um delírio do personagem enquanto morre ou é exato momento da passagem? Eu poderia facilmente ficar inclinado a pensar que se trata daquilo que o título sugere, mas vale lembrar que o título original nada tem a ver com o nacional - e esse, portanto, pode induzir o espectador a pensar outra coisa.
  2. Quando Lila está em sua casa e percebe que os quadros foram todos pintados por Henry, ela chega à conclusão de que há algo importantíssimo para fazer. Então ela corre e pára diante de um portão, por onde não consegue passar, pois está trancado - numa clara alusão de que a verdadeira Lila, embora quisesse, não poderia mais ajudar Henry a viver. No plano ficcional, a personagem olha para um canto do cenário e dá um breve sorriso. Alguém sabe o que aquilo significa?
  3. Depois que Henry permite que o Dr. Leon volte a enxergar, o velho se encontra com o Dr. Sam e os dois têm uma conversa breve. Em seguida, cada um se separa e o velho caminha por uma alameda bem estranha, com várias luzes, que se assemelha ao local onde houve o acidente. Pouco a pouco a cena vai escurecendo. Outra incógnita para mim.

Primeiro, eu pensei se tratar de um filme mediano. Agora, depois de vêlo de novo e concluir que seu roteiro é bem interessante além de ser uma composição muito bem elaborada, eu devo realmente dizer que esse é um filme que vale a pena ser visto. Ele não garante entretenimento supremo, pois o excesso de detalhes faz com que ele se prolongue desnecessariamente. No entanto, quando a película chega ao fim, nós somos obrigados a ficar pensando sobre tudo o que vimos e com certeza vamos ficar com vontade de vê-lo novamente, com outros olhos.

Luís

18 de nov. de 2009

Os Contos de Beedle, O Bardo

The Tales of Beedle the Bard – J.K Rowling, 2008, 107 páginas, Contos.
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J.K. Rowling parece não ter se desvencilhado do personagem que levou seu nome à ama: Harry Potter. Depois de criar uma das sagas de mais sucesso no mundo com seus 7 volumes, ela ainda fez mais dois livros ligados a série, livros que os personagens leriam no mundo de Hogwarts. Foram eles "Quadribol através dos tempo" e "Animais mágicos e onde habitam" e mais recentemente "Os Contos de Beedle, o Bardo" que é uma coletânea de contos que os bruxos leriam para que seus filhos dormissem, algo parecido com as nossas histórias infantis, como Chapeuzinho Vermelho e A Branca de Neve. Como fã, fico feliz por ter mais livros obre a série sendo lançados, e até a própria J.K já disse que pode ser que faça mais outros, mas nada confirmado, pois ela alega precisar de tempo. Ao mesmo tempo que fico feliz, acho realmente que ela deveria tentar lançar outros livros, pois até a Stephenie Meyer (que em termos de escrita acho inferior a J.K) já lançou livros diferentes.

Os Contos de Beedle, O Bardo ajudaram muito o trio principal, Harry, Rony e Hermione na última parte da saga, Harry Potter e as Relíquias da Morte, pois é dentro dessa pequena coletânea que está “O conto dos Três Irmãos", conto esse fundamental para o desfecho que a estória tem. Falando do livro em si, achei-o bem pequeno com um total de 107 páginas, com letras do tamanho do normal e sendo que a escrita não usa toda a folha, pois há adornos nessas. Levei mais ou menos umas duas horas para lê-lo, tempo relativamente pequeno, por isso, preguiça de ler um livro grande pela demora não é desculpa nesse caso.

No total são cinco contos. São eles: "O Bruxo e o Caldeirão saltitante", "A Fonte da Sorte, "O Coração peludo do Mago", "Babbitty, a Coelha, e seu Toco Gargalhante" e "O Conto dos Três Irmãos". Como disse acima, trata-se de contos infantis por isso, em todos os contos há uma certa lição de moral (assim com há nos contos dos "trouxas"). Por exemplo: No primeiro conto, o mago aprende a ajudar todas as pessoas que o procuram, pois se não o fizer, terá um caldeirão saltitante o seguindo. Os melhores contos do livro, na minha opinião, é o terceiro e o quinto pelo seu enredo um tanto macabro. Não citarei a história de todos os contos aqui, mas achei que J.K Rowling (como sempre) fez mais um bom trabalho, pois soube dosar uma quantidade de humor e até certa aventura nos contos, tornando-os agradáveis de serem lidos. Para aumentar o volume das páginas, no final de cada conto há uma observação do próprio Alvo Dumbledore, onde ele analisa conto por conta tirando conclusões sobre a mentalidade da época, sobre se alguns fatos dos contos seriam verdades ou não, e assim por diante.

No total, recomendo Os Contos de Beedle, O Bardo, pois além da idéia de reverter o lucro para uma instituição que ajuda crianças com problemas (e mesmo que elas sejam européias e não brasileiras), o livro se mostra agradável e bom para quem pensou que esse era apenas mais um livro para a autora enriquecer ainda mais.

Renan

16 de nov. de 2009

Milk - A Voz da Igualdade

Milk. EUA, 2009, 128 minutos. Drama.
Indicado a 8 Academy Awards e ganhador nas categorias Melhor Ator (Sean Penn) e Melhor Roteiro Original.
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Gus Vus Sant, cujo trabalho inclui outras boas obras como Elefante, nos apresenta com competência a história de Harvey Milk, o primeiro homossexual a ocupar um cargo público por votação direta. O título original, infelizmente, recebeu o péssimo acréscimo de um subtítulo, como usualmente acontece no Brasil; não sei se isso me desagrada ou agrada, afinal, poderiam ter traduzido e eu talvez assistisse Leite em vez Milk - A Voz da Liberdade. Encabeçado por Sean Penn, o elenco conta com uma variedade um tanto assustadora de atores, que inclui James Franco, de Homem Aranha, que para mim foi uma adorável revelação; Emile Hirsch, de Na Natureza Selvagem; Josh Brolin, de Onde os Fracos Não Têm Vez; até mesmo Lucas Gabreel, o Ryan, de High School Musical, está presente no elenco.

Acredito realmente que o filme funciona como uma ótima cinebiografia, mas, de um modo geral, foi superestimado, já que não há motivos para tantas indicações. Com exceção do ritmo lento a que somos apresentados, o filme não tem muitos erros; eu quase diria que eles quase não são vistos, de tão pequenos que são. Ainda assim, foi recepcionado com mais fervor do que talvez mereça, uma vez que, principalmente no quesito atuação, as duas indicações que recebeu não estão bem embasadas. Sean Penn é um ator com o qual eu simplesmente não consigo me identificar; tenho sempre a impressão de que sua expressão é a mesma em todos os filmes e que sempre ele se interpreta, pois está sempre igual. Milk lhe rendeu seu segundo Oscar, mas acredito que somente consegui gostar levemente do seu personagem graças aos outros que dão suporte a ele e que infelizmente têm destaque ínfimo. Como disse acima, minha surpresa se deve à presença - e logicamente à atuação - de James Franco, cujo personagem é extremamente carismático e nós acabamos gostando mais dele do que do protagonista. Nas cenas iniciais, a interação entre Penn e Franco é tamanha que não pude deixar de crer que eles realmente fossem um casal, porque há todo o clima certo para que possamos depreender que a afinidade entre os seus personagens é imensa. Josh Brolin está no nível de todos os outros coadjuvantes e por isso não compreendi o porquê de sua indicação ao prêmio, já que não há um aspecto muito claro acerca do que o difere de quaisquer outros atores. Sua presença no final marca importância e o ator segue numa atuação estável, sem deixar a desejar, mas ainda assim ele não se destaca suficientemente. O intérprete de Cleve Jones, Emile Hirsch, é bastante convincente como gay; não participa de maneira fantástico da obra, mas está presente nos momentos mais adequados e certamente auxilia para a boa condução da cena.

Algo que a princípio me causou estranheza é o excesso de trejeitos homossexuais em alguns momentos. Não é preconceito de minha parte - apenas uma falta de costume. Nos outros filmes a que já assisti, cujo tema central é a homossexualidade, não vi características tão óbvias que pudesse definir como gay um personagem. Não posso, no entanto, deixar de considerar que em Meninos Não Choram e O Segredo de Brokeback Mountain, por exemplo, os desejos sexuais são encobertos devido à pressão que a sociedade exerce e, embora aqui também haja pressão, Milk e seus companheiros partidários são mais livres para expor-se e isso talvez permita que os trejeitos aflorem com mais facilidade. Ainda levando isso em consideração, achei um pouco caricata a primeira aparição de Cleve, entre outros gays que surgem ao longo da trama. Em compensação, um dos grandes feitos do filme, assim como acontece nos que estão linkados acima, é a capacidade de mostrar cenas que podem afugentar olhos mais conservadores sem que haja vulgaridad; assim, os mesmos olhos que resistiram à cena, acabam cedendo a ela. Um bom exemplo, é a cena inicial, na qual Milk e Scott, personagem de Franco,estão na cama a brincar em relação ao que acabara de acontecer entre os dois - leia-se sexo - e a cena é tão gentil que percebemos o carinho existente entre os dois e não resta a ninguém a possibilidade de recriminá-los.

Eu realmente acho que Milk seja agradável para aqueles que gostem de cinebiografias e que se entretenham com histórias documentadas, como é essa produção. Gus Vus Sant realizou um ótimo trabalho atrás das câmeras, numa direção realmente espetacular. O filme, porém, é meio longo e, como eu disse, o seu ritmo é lento; isso me deu a impressão de já estar a três horas assistindo a algo que parece não querer acabar. Eu realmente não daria a Sean Penn o prêmio por essa atuação, mas, como eu não entendo bem os quesitos da Academia - ou talvez seja apenas implicância minha com o ator -, vou me abster de criticar a decisão que foi tomada.
Luís
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Milk - A Voz da Igualdade, como a grande maioria dos filmes, tem pontos positivos e negativos e se sobressai por ter mais pontos a favor do que contra, mas, depois de assisti-lo, realmente achei um filme sobre valorizado.

Vamos aos prós. A atuação de Sean Penn é muito boa, e com certeza valia a indicação, embora ainda ache que Mickey Rourke foi melhor em O Lutador. Seu personagem, Milk, é um ativista gay que luta por direitos iguais nos EUA dos anos 70. Ainda sobre a atuação, Penn tem todos os trejeitos de um gay afetado, mas mesmo assim esbanja masculinidade na hora de tratar sobre os assuntos que são de interesses para os gays. Josh Brolin como Dan White também está bem, embora esteja mil vezes melhor em Onde os Fracos não tem vez e ainda acho que a indicação de Melhor Ator Coadjuvante deveria ter sido dada ao seu companheiro de cena James Franco, o Scott, e mais conhecido no cinema como o filho do Duende Verde de Homem Aranha. Aliás, Dan e Scott são personagens interessantes nesse longa. Scott está presente na primeira metade do filme, fazendo um belo casal (melhor que muitos casais "normais" do cinema) com Milk e o apóia em sua luta para entrar na política, e quando Milk consegue esse feito, Scott sai de cena rapidamente dando lugar a Dan que mostra mais o lado político, juntamente com Harvey, do enredo.

Outro ponto bom do filme foi à capacidade do diretor de mesclar bem a causa homossexual com a política sem fazer com que o filme se tornasse um apelo a causa gay, mas também não o exagero no quesito política, ou seja, o filme é bem dosado. Há também o figurino que reconstrói com muita clareza a época em que os fatos ocorreram.

Agora, vamos aos contras. Se há um prêmio que Milk - A Voz da Igualdade não merecia, era o de Melhor Roteiro Original e isso fica mais claro quando vemos o seu maior concorrente: o belíssimo "Rio Congelado". O enredo é meio parado e tem aquele tom de documentário que faz os 128 minutos de filme parecem, por vezes, muito mais que isso. Durante o longa, falta um pouco de emotividade, não que não haja, mas há pouco. [SPOILER] Alguns poderão citar a cena em que Milk acha Jack enforcado com aquele bilhete muito macabro, mas poucas vezes vi um personagem tão chato quanto ele e fiquei internamente feliz pela possibilidade de Scott e Milk reatarem [FIM DO SPOILER].

No final, Milk - A Voz da Igualdade se passa como recomendável, pois há boas características no filme, (em especial a atuação de Sean Penn), mas friso novamente que nem tudo são rosas no filme.
Renan

14 de nov. de 2009

As Horas


The Hours. EUA, 2002, 116 minutos. Drama.

Indicado a 9 Academy Awards, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Atriz Coadjuvante (Julianne Moore) e Melhor Ator Coadjuvante (Ed Harris). Venceu por Melhor Atriz (Nicole Kidman).
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As Horas, na minha opinião, é um dos melhores filmes da década! Não posso de mim mesmo furtar o prazer de começar a resenha com essa frase, pois ela faz jus à excelência do filme. Lembro-me que há muito tempo, quando ainda não era ligado às premiações nem tinha muita noção a respeito das obras de respeito no circuito cinematográfico, eu o peguei na locadora. Ao conferi-lo, considerei-o bom. Recentemente, eu revi essa produção e meu conceito mudou: creio tratar-se de uma ótima obra!

O filme é uma adaptação do livro homônimo, escrito por Michael Cunnigham. As vidas de três mulheres, que vivem em épocas diferentes, são mostradas ao espectador: a primeira delas, em 1923, é Virgina Woolf, escritora renomada que está escrevendo um romance; a segunda, em 1941, é Laura Brown, dona-de-casa que tenta preparar uma festa de aniversário pro marido, mas, devido à leitura do livro de Virgina Woolf, não consegue se concentrar naquilo que quer; a terceira, em 2001, é Clarissa Vaughn, que vive a história narrada no livro Mrs. Dalloway. Dessa maneira, temos num único filme a junção de três magníficas personagens, duas delas fictícias e uma real. O entrosamento entre elas, embora não vivam juntas, é totalmente perceptível e é esse elo um dos fatores que, provavelmente, fizeram do livro uma obra que se apresenta muito bem nas telas. Um dos nossos parceiros na blogosfera, Kau Oliveira, elaborou uma lista - de caráter pessoal, que fique claro! - a respeito das 10 melhores adaptações da década, que vocês podem conferir clicando no link. As Horas tem um lugar de honra no TOP 10 dele.

Não somente eu, mas muitos cinéfilos cultuam esse filme exatamente pela grandeza dele: as atuações são realmente boas, a direção é fantástica, o roteiro é ótimo; tudo parece se encaixar com facilidade em As Horas. Acho muito complicado falar a respeito, porque, por mais que eu elogie, ainda ficará aquém do que o filme merece. Stephen Daldry, em seu segundo filme, realizou de novo uma compsição muito boa, mesclando três personagens bem diferentes, sem fazer com que elas se misturem de forma errada. As opções do diretor por longas tomadas nas quais focaliza o rosto da atriz, seja ela pensando ou prestes a explodir de alguma maneira, acrescenta todo o pesar que o filme necessita para nos fazer compreender as emoções que cada uma delas sente. A edição, muito eficiente, permite que conheçamos aos poucos, um pouco de cada uma delas; como as cenas são rápidas, nos mostrando o suficiente da situação, não nos cansamos de uma personagem, nem percebemos nitidamente se há destaque mais para uma do que para outra, embora, logicamente, saibamos que é a atriz em papel principal e quem são as secundárias. E é sobre elas de que falarei no parágrafo seguinte.

Nicole Kidman, Julianne Moore e Meryl Streep. Três fabulosas atrizes num único filme, interagindo, ainda que não de maneira direta, e mostrando aos espectadores o quão forte pode ser uma produção dominada pelas mulheres. Se em seu primeiro filme, Daldry mostrou o preconceito por trás de uma opção tomada, aqui ela mostra o universo feminino, com as forças e fraquezas. Meryl Streep, atriz veterana, que nessa mesma edição do Oscar, por Adaptação, concorreu com sua parceira Julianne Moore, é aquela cuja atuação menos nos empolga. Isso quer dizer que ela atua mal aqui? Não, não. Pelo contrário! No entanto, algumas passagens são um pouco monótonas e nós sentimos dificuldades em compreender a sua personagem, que, mesmo estando num relacionamento, apega-se de maneira cruel a um outro, submetendo-se a dor alheia, mas que, por amor, se torna a sua própria. Julianne Moore, num papel secundário, torna-se vibrante aos nossos olhos em todos os momentos em que aparece, o que justifica totalmente a sua indicação ao prêmio da Academia. Desde sua primeira aparição, ela nos surpreende, mostrando que está determinada a nos fazer acompanhar atentos as decisões de sua personagem, que, na minha opinião - e também na do Kau, que listou as 10 Melhores Coadjuvantes da Década -, é definitivamente uma das melhores atuações em papel secundário já visto. Se você ficar em dúvida ao longo do filme se a atriz mereceu ou não a indicação, na cena final você certamente saberá que pouquíssimas atrizes poderiam lhe ter tirado o prêmio das mãos - Catherine Zeta-Jones, por Chicago, conseguiu a proeza! Nicole Kidman, mascarada literalmente sob uma personagem muito complexa, nos apresenta aquela que eu considero uma das melhores de sua carreira e também da década. A atriz não se submeteu somente à mudança física para compor uma escritora cuja vida é desestruturada; submeteu-se, sobretudo, a uma mudança psicológica, o que interfere na sua atitude, na sua voz, na sua postura e, principalmente, na maneira como nos consegue fazer ver as coisas através de sua perspectiva. Excepcional a cena da estação, uma das mais densas do filme, na qual Virgina e Leonard discutem a respeito de vários assuntos, inclusive da vida. Nesse trecho, ela solta uma das frases mais marcantes de toda a obra, que, querendo ou não, se aplica a todas as personagens.

E nesse mundo de mulheres, surge Ed Harris, um escritor com AIDS, antiga paixão de Clarissa Vaughn. Ainda que apareça pouquíssimo em cena, uns 15 minutos, no máximo, Harris realiza um trabalho muito bom, alternando drama com consternação sem soar pedante, incoerente. A maquiagem acrescenta aquilo que falta ao tom do personagem; juntas, atuação e maquiagem, o personagem está completo e muito bom. Quero afirmar que não estou, embora pareça que sim, fazendo marketing pro Blog do Kau Oliveira, mas eu confio bastante no gosto cinematográfico dele e sugiro, postando mais uma vez o link, que vejam a presença de Ed Harris na lista dos Melhores Atores Coadjuvantes que o Kau fez. Estou me estendendo demais e, assim, o Renan ficará sem espaço para dizer o que pensa. Mas, ainda quero ressaltar algumas coisas: a fotografia do filme é excelente. Podemos observar a qualidade dela. Gosto muito de uma cena na qual vemos Laura Brown observando o marido ir trabalhar. O enquandramento é tão fabuloso que nos vemos a personagem exatamente como ela vê sua vida: como se um vidro a separasse do mundo rela. O mesmo se pode dizer da cena em que Virginia contempla o pássaro morto, captando a preocupação dos outros para com o animal e percebendo as mudanças que seguem à morte.

Considerando tudo isso que falei até agora, eu sugiro que vocês confiram o filme. Vejam-no com empenho, pois é um filme que merece todo o nosso carinho. Sugiro também que vejam a entrega do prêmio à Nicole Kidman, pois é um vídeo interessante e está disponível no youtube. Espero que eu tenho conseguido fazer com que compreendam o quanto gosto do filme...

Luís

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As Horas está na minha lista de filmes que eu recomendo. Poucas vezes vi As Horas está na minha lista de filmes que eu recomendo. Poucas vezes vi um filme tão inteligente, tão bonito e tão bom. A estória se passa em três tempos diferentes e mesmo que pareça um pouco confuso, quando se entra no ritmo do filme, o longa se torna claro.

Já pelo elenco feminino principal temos três nomes de peso: Nicole Kidman que interpreta Virginia Woolf que está escrevendo seu livro Mrs Dalloway. Nesse parte temos um visual campestre muito bonito que combina com a solidão e depressão que a escritora está sofrendo. Há também elementos fortes nessa etapa como a maquiagem de Nicole Kidman (que nariz é aquele ?) o figurino e o próprio cenário juntamente com uma boa fotografia. A segunda integrante é Julianne Moore que faz um papel incrível e com certeza mereceu a indicação ao Oscar de Melhor atriz coadjuvante. O ano em que ela vive é 1951, e de acordo com o ano temos aquela visão de família de pote de margarina onde todos parecem felizes, mas isso não ocorre com ela. Sua interpretação é tão boa que faz o telespectador sentir a angustia da vida dela tendo que levantar, cuidar da família, fazer a comida e dormir. É ela que faz uma das cenas mais bonitas do longa que é quando ela está deitada no quarto do hotel e entra toda aquela água no quarto. Lembrando que a ligação dela com a primeira, é que sua personagem Laura está lendo o livro escrito por Virginia. Das três, Julianne Moore fica com o menor tempo em tela, mas mesmo assim ela consegue ser mais marcante que a terceira parte do elenco feminino: Meryl Streep. Particularmente gosto bastante da atuação de Meryl Streep mesmo tendo visto poucos filmes dela. Sua personagem é Clarissa, que em 2001, vive a estória do livro. Clarissa se mostra uma mulher forte, e livre dos preconceitos, já que vive um relacionamento lésbico com Kitty, interpretada pela Toni Collete (do ótimo Pequena Miss Sunshine). Clarissa tem também uma forte ligação com o personagem masculino de mais destaque do filme que é Richard, interpretado por Ed Harris. Richard mostra toda a conturbação de um escritor em crise que está quase morrendo por conta da AIDS. O que mais chama a atenção é a capacidade do diretor (que também dirigiu O Leitor) de juntar todos esses núcleos diferentes e torna-los tão próximos. Claro que há uma ligação entre eles, mas com o decorrer do filme, tive certeza que as personagens principais não são unidas apenas pela estória do livro. Há uma ligação incrível entre elas que eu não consigo explicar. Não há como não indicar As Horas, pois é um filme muito, muito bom e que vale a pena ser conferido.

Renan

12 de nov. de 2009

Stephen King

Quando o Renan e eu decidimos vir para o blogspot, nós consideramos algumas possibilidades de interação. Acreditamos que seria mais interessante se os leitores do nosso blog pudessem escolher o perfil que eles querem ver. Começamos então com a disputa entre o escritor Stephen King e a série Harry Potter e o resultado proveio das escolhas, que corresponderam a 64% a favor do escritor. Uma vez que o vencedor foi King, nada mais justo do que chamar uma pessoa que, assim como eu, gosta bastante dele. A Ciça participou do Literatura e Cinema há algum tempo, também escrevendo sobre uma obra dele. E, mais uma vez, nós a recebemos com muito carinho para mais uma resenha. Pela primeira vez no LeC, duas pessoas (eu e a Ciça) escrevem juntas!
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Stephen King nasceu em Portland, Maine, em 21 de setembro de 1947. Sua família passou por dificuldades financeiras quando ele era criança, chegando inclusive a ponto de passar fome. Sua infância e adolescência foram bastante ativas: lia muitos livros de ficção, que misturavam realidade com terror sobrenatural; escrevia contos e novelas de terror e vendia a seus amigos e uma vez testemunhou a morte de um amigo, que foi atropelado por um trem. Graduou-se em Inglês numa faculdade do Maine, onde trabalhava para o jornal estudantil. Aos 24 anos, conheceu Tabitha – que se tornaria sua esposa e seria a maior responsável pela sagração de King como escritor. Vários acontecimentos ocorreram em sua vida, nem todos positivos. Mas essa resenha é pra listarmos sua capacidade como escritor, não para avaliarmos como pessoa, então sugerimos que, os que estiverem muito interessados na biografia do autor (que inclui problemas com bebida), recorram a uma página que contenha tudo isso.

Já havia experimentado compor vários romances, mas o seu primeiro grande sucesso ocorreu quando publicou Carrie (que recebeu o péssimo subtítulo “A Estranha” no Brasil). Primeiro, achou-o fraco e acabou ignorando; posteriormente, depois de considerá-lo inferior, o escritor livrou-se dos escritos, jogando-os fora. Sua esposa os retirou do lixo, os leu e concluiu que o material era ótimo para uma publicação. Incentivou-o a procurar uma editora. O desenrolar vocês já sabem: número considerável de vendas, divisor de opiniões, o livro alavancou o até então desconhecido Stephen King. Dois anos depois da publicação, Brian De Palma adquiriu os direitos autorais e transpôs o romance para o cinema. E o resultado foi grandes elogios da crítica sobre o filme (e o roteiro, logicamente); uma indicação ao Oscar na categoria Melhor Atriz para Sissy Spacek em seu primeiro papel; e o mais esperado: aumento de vendas do livros, que incentivou King a produzir mais obras e nos presentear com mais ótimos livros.

Creio não haver livro algum de Stephen King que não deixe os leitores afoitos, temerosos, alguns tristes, outros angustiados... e sempre presente a ânsia para saber o que vem a seguir, que não nos deixa interromper a estória mesmo após horas de leitura. Para mim, em cada um de seus livros, é como se eu fizesse parte do cenário. É inegável seu talento (ou seria seu poder?) de envolver o leitor na trama, fazê-lo sentir, sofrer, desesperar-se junto com os reais personagens. O elemento interativo que o autor usa em seus livros é fundamental para que o leitor seja capaz de aproximar-se de alguns personagens e afastar-se de outros. King nos faz acompanhar psicologicamente a evolução – e às vezes regressão – de cada pessoa na história.

SK já se arriscou em muitos gêneros de estórias, sempre tendendo ao suspense, mas passando também pela ficção científica, pelo drama, por roteiros que têm tudo para serem reais (e que bem por isso nos assustam tanto), e sem dúvida pelo mais absoluto e paralisante terror. É importante citar que, embora seja um escritor conhecido pela sua ênfase no horror, King sabe muito bem nos mostrar gêneros que não se limitam ao desespero oriundo da carnificina. Alguns livros, por exemplo, trazem um terror bem explícito e físico, como é o caso de Desespero, que recentemente se tornou um filme; outros tantos nos mostram um lado psicológico e, por causa disso, mais amedrontador ainda. Desse grupo, podemos citar os títulos Carrie e O Iluminado, no qual os personagens principais (e no caso do segundo, os secundários também) passam por um sofrível processo de amadurecimento. “Amadurecer” tem aqui um significado perverso, uma vez que Carrie e Jack Torrance aprendem a se tornar perversos e vingativos, descobrem como ignorar o bom senso e se deixar guiar pelos instintos mais primitivos, como a agressividade como fim de preservação.

Ainda não tive a oportunidade de conferir, mas acredito que em todos as suas obras, ou em boa parte delas, há uma introdução na qual ele explica os motivos que o levaram a criar a estória, no que ele estava pensando quando a aterrorizante, ou comovente, ou intrigante idéia surgiu em sua mente. No livro Dissecando Stephen King, que foi lido a fim de ajudar na composição desse perfil, uma série de entrevista nos coloca a par de um autor brincalhão. E isso soa contraditório ao fato de que suas respostas divertidas não se encontram nas composições literárias que, quase sempre, nos mostra algo enraizado e profundo dentro das pessoas. Usualmente, a dor dos personagens transparece de maneira fácil, uma vez que a leitura é igualmente fácil (pois é prazerosa). O livro citado acima, que será comentado aqui também, nos revela algumas opiniões interessantes do escritor.

Já sabemos há algum tempo que as obras de Stephen King às vezes resultam em obras cinematográficas de gosto duvidoso. Bons exemplos são os filmes Christine – O Carro Assassino (mais uma vez o péssimo subtítulo) e O Apanhador de Sonhos, que têm qualidade inferior às demais composições, como Um Sonho de Liberdade, Louca Obsessão e o controverso O Iluminado, de Stanley Kubrik. Quanto ao último filme citado, considero-o ao mesmo tempo uma boa obra dentro das telas, porém uma infeliz adaptação. Kubrik deu a dinâmica necessária ao enredo de King, transformou-o num grande filme; pecou, porém, ao reestruturar a história, criando uma obra quase totalmente diferente do que lemos nas páginas do livro que o originou – ou o embasou, ou inspirou. Não sei exatamente qual termo usar. Em entrevistas, King disse que gostou de tantas obras, reprovou tantas outras e se sente indiferente a alguns resultados, pois disse que compreende as dificuldades de explicitar aquilo que antes se limitava à imaginação do autor/leitor. Conta também que tem medo de escuro, acha que há algo em seu quarto, que trabalha 6 horas por dia e que, como todas as outras pessoas, tem uma rotina bem normal.

Livros que já lemos do autor (em parênteses, está a inicial daquele que leu a obra; em itálico, os livros assinados sob o pseudônimo de Richard Bachman):

1) Carrie, a Estranha (C/L) - 1974;
2) O Iluminado (L) - 1977;
3) A Incendiária (L) - 1980;
4) Cão Raivoso (L) - 1981;
5) As Quatro Estações (L) - 1982;
6) O Concorrente (C/L) - 1982;
7) Christine (L) - 1983;
8) O Cemitério (C/L) - 1983;
9) A Maldição do Cigano (C/L) - 1984;
10) Angústia (L) - 1987;
11) Eclipse Total (L) - 1992;
12) Pesadelos e Paisagens Noturnas (L) - 1993;
13) Rose Madder (L) - 1995;
14) À Espera de um Milagre (C) - 1996;
15) Desespero (L) - 1996;
16) Tudo é Eventual (L) - 2002;
17) Celular (C/L) - 2006;
18) Love - História de Lisey (L) - 2006.
Vale lembrar que King é bastante reconhecido por seu trabalho como escritor. Constantemente nós vemos citações em algunas seriados e filmes, como é o caso de LOST e Premonição. No primeiro caso, na segunda e terceira temporadas, respectivamente, Henry Gale pede a Locke um livro de King para ler enquanto fica confinado e Juliet lê o livro Carrie no "clube de leitura" da Ilha. Já em Premonição, na primeira sequência da série, um garoto (aquele que morre esmagado por um bloco de vidro) lê Saco de Ossos. Num filme chamado O Pacto, que foi exibido na TV no último dia 9 pela Rede Globo, há uma cena na qual um professor discorre sobre os 4 mais importantes escritores da atualidade e Stephen King é um dos citados, sendo que o professor ainda acrescenta que O Iluminado é o seu livro preferido.
King, como escritor, não tem medo de invadir e explorar os mais diversos campos da nossa consciência. Não tem medo de mostrar até onde o imaginário humano pode chegar. Ele consegue atingir nossas maiores fraquezas, nossos maiores temores, e nossas maiores forças em um mesmo enredo.
Ciça e Luís

10 de nov. de 2009

Rebecca

Rebecca - A Brilliant Novel of an Unforgettable Woman, 1939, 396 páginas (Editora Abril), Romance

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Rebecca foi publicado em 1939 pela escritora inglesa Daphne Du Maurier, e foi muito bem aceito pela crítica, assim como os seus outros livros. Depois que acabei de ler o livro descobri duas curiosidades: o livro foi adaptado para o cinema por Alfred Hitchcock, e esse foi o primeiro filme que ele dirigiu e também foi o seu primeiro filme – e único – a ganhar o Oscar de Melhor Filme. O livro também foi acusado de plágio pela brasileira Carolina Nabuco, que escreveu um livro chamado A Sucessora (que foi adaptado em uma minissérie trasmitida pela Globo), e na vontade de ver sua obra lançada no exterior, mandou uma cópia do livro pra um editor inglês. Depois de um tempo, Rebecca foi lançado pela mesma editora para qual Carolina havia mandado o seu livro. Apesar de não ler muitos clássicos, Rebecca me surpreendeu bastante, pois apesar de ser um livro grande com letras pequenas (na edição que eu li) e ter uma linguagem bem antiga, em nenhum momento pensei em desistir de lê-lo. O romance narrado em 1º pessoa conta e estória de uma moça, que não tem seu nome revelado em nenhum momento da estória, que se casa com o viúvo Maxim de Winter, já que sua ex-esposa Rebecca morreu num acidente de barco e o viúvo é dono da famosa mansão de Manderley. O primeiro ponto que nos chama a atenção é o fato (citado acima) de em nenhum momento aparecer o nome da 2º esposa e colocado ao lado da quantidade de vezes que aparece o nome Rebecca temos um paradoxo interessante.

Logo já nos acostumamos e começamos a gostar da segunda esposa de Max, que tanto sofre pelo fantasma de Rebecca ainda rondar os pensamentos de todos, já que ela era tão querida. Mrs. de Winter se mostra uma moça educada, mas que tem um medo profundo de Rebecca mesmo ela estando morta, pois todos os móveis, todos os rituais diários, todos os jardins e todas as festas foram planejadas e executadas pela falecida, e tudo isso se junta em uma figura só: Mrs. Danvers, a governanta da casa que criou Rebecca desde pequena, e dentre os vários fãs que Rebecca conquistava pela sua beleza e pela sua graciosidade, Mrs Danvers foi a mais devota. Descobrimos também que Mrs de Winter não tem medo somente por isso, mas principalmente pelos sentimentos que ela acha que Maxim ainda nutre pela ex-esposa, pois em muitas partes, ele se mostra cabisbaixo e triste. Essa situação deixa o leitor bem perturbado, pois como ela diz em algum momento do livro, “com os vivos eu posso lutar, com os mortos não”.

A partir daqui haverá alguns SPOILERS pois gostaria de comentar alguns trechos da estória. Com o desenrolar da trama, temos alguns episódios notáveis como quando Mrs. Danvers incita para que Mrs. de Winter pule da janela, pois todos ficariam mais felizes com a sua morte, além disso, pulando da janela ela não sofreria nada, pois com certeza bateria a cabeça nas pedras e morreria instantaneamente. Há uma parte muito constrangedora também que é a do baile. A eficiência na narrativa da escritora fica presente, sobretudo nessa parte, pois ela faz com que o leitor fique apreensivo pois sabemos, desde o início que aquilo não daria certo. Mas com certeza o melhor do livro fica para o final quando descobrimos quais eram os verdadeiros sentimentos de Maxim por Rebecca e ainda quando ele próprio a matou para se livrar dela. Mesmo com os perigos (como uma prisão) que rondam esse assassinato escondido por anos, não podemos de nos sentir felizes, principalmente por Mrs de Winter que agora sabe que pode amar Maxim, pois ele a ama também. Outro ponto que chama a atenção no livro é a constante descrição de Menderley, que praticamente se forma na nossa cabeça como uma bela mansão, cheia de luxo com seus jardins incríveis que são destruídos pelas labaredas de fogo que a consomem nas últimas páginas do livro.

Renan

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8 de nov. de 2009

Melhor Atriz Coadjuvante - Oscar 2009

Há algum tempo atrás, um leitor do antigo blog nos deu a ideia de analisarmos as obras que concorreram a uma determinada categoria do Oscar e dizermos se concordamos com o prêmio ou se discordamos da escolha que foi feita. Logicamente que sabíamos não sermos aptos para discorrer sobre as 24 categorias presentes na cerimônia, então, nós selecionamos seis categorias e falaremos a respeito delas até o final desse ano e, talvez, até o começo do ano que vem. As categorias escolhidas foram: 1) Melhor Filme; 2) Melhor Atriz; 3) Melhor Ator; 4) Melhor Atriz Coadjuvante; 5) Melhor Ator Coadjuvante e 6) Melhor Roteiro. E hoje começamos falando sobre as cinco indicadas ao prêmio, com breves comentários a respeito delas e, por fim, diremos o que achamos da escolha da Academia. Os textos foram escritos por mim e pelo Renan. Eu escrevi sobre Penélope Cruz, Amy Adams e Taraji P. Henson; ele escreveu sobre Viola Davis e Marisa Tomei. Feita a introdução, vamos ao que interessa:


Viola Davis, por Dúvida - primeira indicação ao Oscar.
Viola Davis enfrenta alguns problemas com seu papel em Dúvida. Enquanto suas concorrentes têm grande participação do filme, Viola fica com uns 10 minutinhos. Realmente não acho que ela atuou mal, mas outras atrizes coadjuvantes - até Misty Upham, que não foi indicada por Rio Congelado - fizeram mais. Sua pequena participação em Dúvida (não nego, é boa) traz ao telespectador uma cena densa, mas logo que ela sai do filme, a trama principal faz o telespectador esquecê-la rapidamente.


Amy Adams, por Dúvida - segunda indicação ao Oscar.
Amy Adams está simplesmente encantadora em Dúvida. Embora já tenha visto filmes com ela nos quais atua em papel principal, acredito que ela se destaca muito mais quando é coadjuvante. Sua interpretação no filme – que rendeu indicações a todos os atores – é densa e muito bonita, nos provando que, mesmo jovem, é uma atriz talentosa. Sua indicação foi totalmente justificável, diferentemente do que aconteceu com sua parceira de elenco Viola Davis.



Taraji P. Henson, por O Curioso Caso de Benjamin Button - primeira indicação.
Sua participação no filme é fundamental, pois é ela quem dá carinho e protege o pequeno (e velho) Benajmin quando criança. Taraji se mostra bastante eficiente em sua atuação, bastante madura e significante. No tom correto, a atriz nos emociona com as atitudes de sua personagem e nos presenteia com sua presença em cena. Bastante justa a indicação.

Marisa Tomei, por O Lutador - terceira indicação ao Oscar.
Marisa Tomei tem o poder de encantar o público em O Lutador. Sua atuação é leve, fazendo com que simpatizemos de cara com ela. O casal formado por ela e Mickey Rourke também é agradável. Outro ponto a favor de Tomei é o corpo que ela exibe. Com 45 anos, Tomei deixa muita menininha com inveja de suas danças sensuais no longa. Voltando a atuação, como disse, esta é agradável, mas ela também sofre com as suas concorrentes que conseguem uma atuação mais eficiente dentro dos gêneros dos filmes nas quais estas estão concorrendo.

Penélope Cruz, por Vicky Cristina Barcelona - segunda indicação ao Oscar.
Penélope Cruz me cativou nesse filme. Recebeu sua segunda indicação ao Oscar ao interpretar a ex-mulher maluca do personagem de Javier Barden. Se em 2007 eu não havia entendido sua participação na lista das indicadas por Volver, esse ano eu compreendi absolutamente: ela está carismática, muito talentosa e esbanja sensualidade em todos os momentos em que aparece em cena. Belíssima, por fim.


Pois bem, apresentamos as indicadas e escrevemos um pouco sobre cada uma delas. Pelo que leram, vocês devem ter visto que, dentre as cinco, a única com a qual definitivamente não concordamos com a presença na lista é Viola Davis, cuja personagem, como o Renan bem disse, é esquecível tão logo que pensemos na trama em si. Sobre Marisa Tomei, embora sua participação mais se resuma a ficar pelada, achei-a simpaticíssima em O Lutador; Taraji, bastante austera e discreta, mostrou-se eficiente; Amy Adams, como a Irmã Jones, brilhou e Penélope Cruz me conquistou com seu charme espanhol. Vamos ao nosso veredito... Discordamos da opinião da Academia. Se fôssemos premiar uma delas, a vencedora seria Amy Adams, pela sua excelente e magnífica interpretação em Dúvida. Sua participação é extremamente importante e a atriz, em momento algum, nos faz duvidar de sua capacidade artística. Inquestionavelmente incontestável, Adams pôs-se à altura de Meryl Streep ao longo da trama e fez com que nós dois gostássemos muito de sua atuação. Certamente um momento memorável em sua carreira e um presente para os cinéfilos!

Luís e Renan