28 de nov. de 2010

Oscar 2010 - Melhor Atriz Coadjuvante

Mo'Nique discursando, logo após receber o prêmio das mãos de Robin Williams..

Dando continuidade ao que fizemos nos posts anteriores, vamos agora nos dedicar à análise das atrizes coadjuvantes. Vale ressaltar que, diferentemente de todas as outras categorias que já vimos e ainda veremos, essa categoria foi a única a contar com duas pessoas indicadas pelo mesmo filme. Desse modo, as cinco indicações provieram de apenas quatro filmes – o que, afinal, não é tão incomum na história do Oscar. Para esse post, o convidado especial é o Wilson, que não representa blog nenhum, mas que já teve um texto publicado no Puxa Cachorra!, o qual vocês podem conferir aqui. Agradecemos também o Marcelo, o Thiago e o Renan, que continuam participando com as suas opiniões. Vamos ao que importa:

Anna Kendrik, por Amor Sem Escalas – primeira indicação
No papel de uma jovem psicóloga, em Amor Sem Escalas, a atriz surpreende e pouco lembra o desempenho em Lua Nova. Sua atuação é correta e simboliza o perfeito contraponto ao personagem de George Clooney. Além disso, sua personagem era uma das mais complexas da trama, responsável por grandes momentos, que Kendrick segurou com desenvoltura e naturalidade, provando que não era apenas a “engraçadinha” da história. (por Marcelo)

Maggie Gyllenhaal, por Coração Louco – primeira indicação
Acho que não tenho muito o que falar da Maggie Gyllenhaal em Coração Louco. Ela atua bem e consegue passar a mensagem e o drama de uma mãe solteira que se apaixona por um famoso cantor bem mais velho. Como diriam, ela está OK. Nada de extraordinário, ou seja, boa o bastante pra ser indicada, mas não para ganhar. (por Renan)

Mo’Nique, por Preciosa – primeira indicação
Mo'Nique em “Preciosa” não me surpreende na interpretação da mãe relapsa e oportunista. Ela cumpre o seu papel, mas deixa a desejar, visto que a menina Preciosa só se torna esse ser híbrido em função da mãe. Faltou em Mo'Nique, durante o filme, o fardo de toda a responsabilidade por ter arruinado a vida de sua filha. Esse destaque só aparecerá nas cenas finais, com o desabafo para a assistente social proporcionando uma das melhores cenas protagonizadas pela atriz. (por Wilson)

Penélope Cruz, por Nine – terceira indicação
Nesse ano, Penélope recebeu a segunda indicação consecutiva – lembremo-nos de que ano passado ela ganhou a estatueta na mesma categoria, por Vicky Cristina Barcelona. Sua participação no musical de Marshall foi satisfatória, mas me surpreendeu que a Academia a tenha indicado, pois realmente não há nada, nada mesmo, em sua atuação que lhe coloque num nível superelogiável. Assim, sua presença na lista não se justifica, principalmente porque ela tomou o lugar de outras atrizes cujas performances foram bem melhores. (por Luís)

Vera Farmiga, por Amor Sem Escalas – primeira indicação.
Amor Sem Escalas recebeu duas indicações na categoria Melhor Atriz Coadjuvante em 2010, uma para Anna Kendrick e outra para Vera Farmiga,
que até então não era uma atriz tão conhecida assim do grande público. Acredito que ela conseguiu roubar a cena ao lado de George Clooney no filme, mas, na minha opinião, maior parte pelo seu charme que por uma grande atuação.

Como temos feito, vamos agora às opiniões pessoais, nas quais os votantes analisam não apenas uma indicada (como feito acima), mas consideram o conjunto de toda a lista e também podem comparar com filmes e atrizes que nem sequer foram nominadas.

• Luís
Concordo com a opinião da Academia: Não.
Sobre a categoria: Penso honestamente que Mo’Nique tenha recebido todos esses prêmios devido à sua personagem e não devido à sua atuação. Interpretando aquela mãe monstruosa, aposto que muitas outras atrizes despertariam o mesmo sentimento no espectador – logo tiro da atriz premiada a responsabilidade pelo feito. A presença de Penélope Cruz na lista me incomoda muito, pois sua atuação é bem inferior à de sua colega de elenco, Marion Cotillard, que figuraria mais justamente na lista. O grande problema dessa categoria é a ausência de Julianne Moore, por Direito de Amar. Sua interpretação é tão fantástica que eu não hesitaria em que lhe indicar e premiar, afinal parece senso comum que essa atriz maravilhosa merece logo um Oscar. Assim, a minha lista seria formada por Gyllenhaal, Farmiga, Kendrik, Cotillard e Moore, sendo a última a vencedora do prêmio.
Quem eu premiaria: Haja vista que discordo de terem premiado a Mo’Nique e a atriz em papel secundário que é a minha preferida nem sequer foi indicada, considero que a atuação mais potente – exatamente pela singeleza e sinceridade – é a de Maggie Gyllenhaal, a quem eu daria o prêmio.

• Marcelo
Sobre a categoria: 2010 foi, para mim, o ano das coadjuvantes. Fato.
Concordo com a opinião da Academia: Sim
Quem eu premiaria: Por seu desempenho como a violenta Mary Jones, de Preciosa, premiaria Mo'Nique, embora goste bastante da atuação de Maggie Gyllenhaal, em Coração Louco.

• Renan
Sobre a categoria: Essa foi uma das categorias que não houve muita surpresa. Nenhuma nas concorrentes chegou a ameaçar o Oscar da estreante Mo’nique. Ela já havia ganhado (merecidamente) diversos prêmios como o Globo de Ouro, por sua personagem em Preciosa. Embora eu concorde com a escolha da Academia, considero a indicação de Penélope Cruz por “Nine” um absurdo tendo em vista que havia atrizes melhores para ganharem a honra de estar entre as cinco finalistas, como Julianne Moore em “Direito de Amar”.
Concordo com a opinião da Academia: Sim
Quem eu premiaria: Mo’nique.

• Thiago
Sobre a Categoria: Achei que nesse ano essa categoria deixou bastante a desejar, a única atuação que realmente me impressionou foi a de Mo'Nique, por isso, era meio óbvio a vitória da atriz.
Concordo com a opinião da Academia: Sim
Quem eu premiaria: Mo'Nique, ela realmente se destaca entre as outras indicadas dessa nessa edição, sua atuação em "Preciosa - Uma História de Esperança" é algo imperdível. Seria um grande erro premiar qualquer uma das outras concorrentes.

• Wilson
Concordo com a opinião da Academia: Não, como mencionado acima.
Sobre a categoria: Preciosa e Amor Sem Escalas apontam como favoritos.
Quem eu premiaria: Vera Farmiga, Amor Sem Escalas. Pela classe e expressividade inerte.

Como vocês puderam perceber, essa foi a categoria dentre as analisadas até agora que mais causou divergências. Três jurados - Renan, Marcelo e Thiago - concordaram com o prêmio concedido pela Academia e realmente creem que Mo'Nique foi a melhor intérprete das cinco indicadas. O Wilson, por sua vez, crê que Vera Farmiga foi quem mais se destacou enquanto eu votei na singeleza de Maggie Gyllenhaal. Assim, se nós fôssemos responsáveis pela entrega do Oscar, Mo'Nique ainda ganharia.

26 de nov. de 2010

Longe do Paraíso

Far From Heaven. EUA, 2002, 111 minutos. Drama.
Indicado a 4 Academy Awards: Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora.
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Primeiro: o que me levou a assistir a esse filme foi o tema dela e a indicação de Julianne Moore ao Oscar. O filme fala sobre uma mulher casada e com dois filhos cujo tempo se divide entre atender as necessidades do marido e dos filhos, promover festas e eventos sociais, dar entrevista a revistas locais sobre comportamento, etc. Um dia, ao levar o jantar para o marido, ela o encontra aos beijos com outro homem e descobre a partir daquele momento que sua vida não era tão boa como ela imaginava que fosse.

O sexo é um assunto bastante debatido hoje em dia, mas é inevitável não chocar as pessoas quando a abordagem é a homossexualidade. Assim, achei interessante ver esse filme porque ele não foca exatamente um relacionamento homossexual, mas na transformação causada pela descoberta de que alguém próximo tenha essa preferência. Longe do Paraíso contextualiza bem essa situação: a personagem de Julianne Moore segue uma vida exemplar e se enquadra no modelo-padrão de dama da high society. Como agir frente à revelação de que seu marido seja gay? Temos ainda que considerar que essa discussão torna-se ainda mais perigosa quando pensamos no ano em que os personagens estão inseridos. Se hoje já é difícil conversar abertamente sobre sexualidade e seus derivados, imagine como devia ser na década de 1950. A discussão que o filme propõe não pára por aí. A somar, há o pequeno "problema" na relação gentil entre Cathleen e Raymond, o seu jardineiro: ele é negro. Numa sociedade na qual os negros devem estar num patamar inferior, como manter-se fora do alvo das fofocas se se relaciona bem com um empregado que é negro? Numa época em que a segregação é clara, tratar-se com carinho é sinônimo de ser consdescendente, de modo a enteder que o negro - por ser negro - desrespeita a alguma norma da sociedade.

O filme é eficiente ao mostrar bem todos os aspectos pelos quais Cathleen, a personagem de Julianne Moore, passa.  Primeiro, o choque em relação à descoberta que fez sobre o marido; depois o relacionamento conturbado com o jardineiro. Inquestionavelmente, ela se choca ao saber do marido, mas permanece ao seu lado devido à crença de que, sendo doente e precisando de ajuda, eles podem voltar a ser felizes. Vale ressaltar que até 1986, homossexualidade era considerada patologia nos registros médicos. Dessa maneira, no ano de 1958, ser homossexual consistia em ser portador de um desvio de saúde. Dado o fato, cabia à boa esposa acompanhar o marido em seu processo de recuperação, mesmo ele percebendo que se tratava de um tratamento inútil. De tal maneira fonte de vergonha, era necessário manter tudo em segredo. Envolve-se amigavelmente com o jardineiro, tornando-se sua amiga, sobretudo. Nele encontra a fuga necessária para os seus problemas e, uma vez com ele, não se lembra de todos os problemas que encontra em casa. Pouco a pouco, percebe uma inversão de valores: as aparências enganam e a verdade se esconde. Não somente a homossexualidade e o preconceito estão expostos no filme, mas ele também aborda a fraqueza da sociedade. A pessoa ideal é aquela que presta caridade, ajuda as pessoas, convive bem com os outros - desde que esses "outros" sejam brancos. Temos ainda inserido no contexto do filme a grave hipocrisia das pessoas, que cada vez mais ampliam a diferença que se faz entre negros e brancos - desconsiderando, obviamente, que são todos iguais.

O destaque especial vai para a atuação de Julianne Moore, que em 2002 estava num dos melhores anos de sua carreira. Grande destaque para ela no filme As Horas e Longe do Paraíso. Tanto é que recebeu dupla indicação ao Oscar, por este como lead actress e por aquele como supporting actress. Eu confesso que sua interpretação realmente não me tocou como sua ótima personificação de Laura Brown, de As Horas, mas vê-la tão simpática e meiga em meio a um tumulto de sentimentos realmente valeu o tempo que dediquei a ver o filme. Sua performance é simples, bastante correta. Eu realmente não vi grandes cenas que favorecessem uma atuação mais densa, mas, ainda assim, Julianne Moore fez um trabalho notável. Já Dennis Quaid e Dennis Haysbert tornam-se pequenas figuras na trama - o segundo tem maior destaque, principalmente nas cenas em que o foco é Cathleen. Pode parecer estranho, mas é isso: nas cenas com ela, ele se destaca. Devo acrescentar também que o título é de extrema importância e é supercontextualizado: sua vida era perfeita até que ela descobriu não ser feliz e, como se não bastasse, virar alvo dos comentários das pessoas e chegar ao ponto de ver sua melhor amiga se afastar. Assim, ela estava realmente longe do paraíso em que pensava viver. Acredito que devido a direção simplória, o filme não atingiu o seu ápice. O tema debatido é tratado com muita suavidade, como se não houvesse consequências. Minha interpretação tornou-se mais potente do que aquilo que o filme mostra e, ao terminar de vê-lo, contentei-me mais com o que discorri do que com vi.

Acho que Longe do Paraíso seja um filme mediano. Ele tinha forças e elementos que o tornariam grandioso, mas se limitou as divagações emocionais da personagem principal e não abordou bem os vários outros elementos, que estão presentes, porém em intensidade menor do que poderia estar. Ainda assim, ele permite uma boa discussão e é por isso que eu o recomendo. Também vale a pena por ver Julianne Moore tão bela, tão simpática... Curioso que as duas indicações que a atriz recebeu foi por interpretar personagens com problemas familiares, que vivem mais ou menos na mesma época...

24 de nov. de 2010

Oscar 2010 - Melhor Ator Coadjuvante

Christoph Waltz, aclamado pelo seu vilão Cel. Hans Landa, de Bastardos Inglórios.

Dando continuidade à série de posts sobre o Oscar desse ano, hoje comentaremos sobre os atores nominados ao prêmio de Melhor Ator Coadjuvante. Pode-se dizer que, de certa forma, a Academia aproveitou 2010 para corrigir alguns pequenos deslizes – como jamais ter indicado o ator Christopher Plummer, de quem os cinéfilos, de um modo geral, gostam bastante. Dois atores já estiveram antes nominados e os outros três recebem as suas primeiras indicações ao prêmio máximo do cinema. Aproveito para agradecer ao convidado especial desse post – Vinicius Colares, que está por trás do excelente Dr. Caligari, que é um blog que reúne uma série de bons assuntos sobre cinema, desde opiniões sérias a comentários e brincadeiras descontraídos. Sem mais delongas, vamos ao que interessa: os indicados e as nossas opiniões sobre eles e sobre a categoria.

Christoph Waltz, por Bastardos Inglórios - primeira indicação ao Oscar.
Christoph Waltz foi um dos maiores vencedores dos prêmios cinematográficos mais importantes do ano passado. Ganhou o Globo de Ouro, o Critic Choices Awards e o Oscar. A minha impressão sobre a sua atuação em Bastardos Inglórios foi a melhor possível. Como vilão, ele conseguiu dar ao personagem todas as características de um militar mal, frio e ao mesmo tempo engraçado, de uma forma irônica. No início do filme, a cena em que ele mira na garota correndo e não atira é um ótimo exemplo do personagem em geral. (por Renan)

Christopher Plummer, por A Última Estação - primeira indicação ao Oscar.
Indicado pela primeira vez, o veterano ator deu vida ao escritor Lev Tolstoi, numa interpretação que, para muitos, foi vigorosa e surpreedente, principalmente nos momentos "e se de dia a gente briga, à noite a gente se ama" com a esposa, interpretada por Helen Mirren. Concordo em termos, já que, para mim, o ator sempre foi o Capitão Von Trapp - que definitivamente está longe de ser considerado o seu "melhor" desempenho. Mas sinceramente, no fim das contas, Plummer não me convenceu. (por Marcelo)

Matt Damon, por Invictus - segunda indicação ao Oscar.
Dando suporte ao personagem de Morgan Freeman, Matt Damon nos apresenta uma atuação linear, composta mais por sutilezas do que por grandiloqüência. Mas considerando o desempenho do ator nesse filme, não sei exatamente o que levou a Academia a nomeá-lo. Penso que sua atuação seja correta, mas definitivamente não há muito que lhe valide uma indicação. Estava ali pra completar a lista e penso que tenha tirado o lugar de alguém que merecia mais uma indicação. (por Luís)


Stanley Tucci, por Um Olhar do Paraíso - primeira indicação ao Oscar.
Stanley Tucci foi um dos cinco indicados ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2010. Assim que as primeiras imagens de Um Olhar do Paraíso começaram a pipocar na net, log de cara seu personagem já chamou a atenção dos cinéfilos, afinal, o ator estava irreconhecível. Com o lançamento do filme ficou claro, Tucci entregava ali seu melhor desempenho até o momento. (por Thiago)


Woody Harrelson, por O Mensageiro - segunda indicação ao Oscar.
Woody Harrelson, famoso por compor personagens excêntricos, vide 2012 e Zumbilândia, se sai maravilhosamente bem num papel de maior densidade dramática nesse O Mensageiro, filme sobre soldados que dispensados do combate passam a trabalhar na notificação de falecimento de militares no front a familiares, a história é pesada e é Harrelson que dá o tom do filme, inclusive, no terceiro ato, há um momento profundamente emocional envolvendo o seu personagem que acredito ser inédito na carreira do ator. (por Vinicius)

Agora que cada indicado foi analisado individualmente, vamos todos analisar a categoria de modo a comparar todos os nomes da lista e dizer o que achamos em relação da vitória do austríaco Christoph Waltz.

• Luís
Concordo com a opinião da Academia: Não.
Sobre a Categoria: Eu realmente penso que essa categoria tenha sido a de menor destaque no Oscar desse ano. Ainda que tenham sido indicados nomes já conhecidos do cinema, tive a impressão de que nenhuma indicação estava diretamente correlacionada à atuação do ator. Creio mesmo que haja uma extrema sobrevalorização dos personagens Hans Landa e foi justamente essa sobrevalorização – somada à importância da obra de Tarantino - que rendeu à Waltz o seu Oscar. Considerando também outros trabalhos, acho também que Alfred Molina poderia integrar a lista no lugar de algum outro ator – Matt Damon ou Christoph Plummer, talvez.
Quem eu premiaria: a atuação mais espontânea e densa, em minha opinião, é a de Woody Harrelson, que compõe um personagem nas medidas certas, sem se deixar estereotipar e sem cometer deslizes – como Tucci faz algumas vezes – e sem atuar numa linearidade constante que impede o espectador de se impressionar – como fazem Damon e Plummer.

• Marcelo
Sobre a categoria: Não achei a briga tão boa quanto tantos insistiram em dizer. Damon, Harrelson, Tucci e Waltz? Definitivamente, a Academia teve anos bem melhores...
Concordo com a opinião da Academia: Sim
Quem eu premiaria: Christoph Waltz, pelo excelente desempenho em "Bastardos Inglórios".

• Renan
Sobre a categoria: Particularmente não houve surpresa sobre quem seria o ganhador, já que, como dito, Christoph Waltz tinha ganho tudo, contudo gostei bastante de alguns concorrentes também. Woody Harrelson (O Mensageiro) e Christopher Plummer (A Última Estação) foram ótima surpresas, principalmente porque comecei assistindo a ambos os filmes com má vontade. Stanley Tucci (Um Olhar do Paraíso) estava bem e o único que não gostei muito foi Matt Damon por Invictus. 
Concordo com a opinião da Academia: Sim.
Quem eu premiaria: Christoph Waltz.
• Thiago
Sobre a Categoria: Apesar de ter gostado bastante da atuação de Christopher Plummer em A Última Estação, e até mesmo dos outros dois indicados, mas a disputa nessa categoria era mesmo entre Stanley Tucci e Christopher Waltz. Ambos fizeram um ótimo trabalho, e conseguiram roubar a cena em seus respectivos filmes.
Concordo com a Opinião da Academia: Sim.
Quem eu Premiaria: Mesmo achando que Stanley Tucci está fantástico em Um Olhar do Paraíso, também premiaria Christopher Waltz pelo seu Coronel Hans Landa, um dos vilões mais queridos do cinema.

• Vinicius
Concordo com a opinião da Academia: Sim, embora o trabalho de Harrelson seja excepcional, o maior destaque do ano na categoria foi mesmo Christoph Waltz como o vilão de Bastardos Inglórios.
Sobre a Categoria: A Academia, independente da categoria sempre comete alguns tropeços, esse ano, por exemplo, Matt Damon não merecia uma indicação por Invictus, no qual, apesar de fazer um ótimo trabalho, principalmente para compor o sotaque sul-africano, é um papel que não traz nenhum desafio ao ator, mas a Academia errou feio mesmo ao indicar Stanley Tucci por Um Olhar do Paraíso, um dos piores filmes do ano que não merecia ser lembrado em categoria alguma, o personagem de Tucci no filme até começa interessante, mas se perde em uma caricatura ridícula como todo o resto do filme, algo que pode ser refletido diretamente no desfecho patético do personagem, outros fizeram muito mais no ano e mereciam a indicação, Jackie Earle Haley por Watchmen, Anthony Mackie por Guerra ao Terror ou Alfred Molina por Educação, são alguns que me recordo agora e que mereciam muito mais.
Quem eu premiaria: votaria como a Academia, Christoph Waltz por Bastardos Inglórios.

Se no primeiro post a respeito do assunto, apenas um votante concordou com a escolha da Academia (o Caio, no post anterior, tal como a Academia, optou por Guerra ao Terror, enquanto todos os outros preferiram Bastardos Inglórios), agora apenas um - eu - discordou do premiado. Se nós fôssemos responsáveis pela entrega do Oscar, Christoph Waltz, pelo seu desempenho no filme de Tarantino, teria recebido a estatueta dourada. Waltz, portanto, venceria por 4x1.

22 de nov. de 2010

Jogo Perigoso

Gerald's Game. EUA, 1992, 332 páginas (Editora Objetiva).
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Como todos sabem, sou muito fã das obras do escritor norte-americano Stephen King e, às vezes, quando me sobra algum dinheiro, eu não hesito em comprar algum livro dele que ainda não tenho. Então, minha última aquisição foi Jogo Perigoso, livro que há muito queria ler, porque sua sinopse sempre me remeteu a uma intensa viagem psicológica – e o melhor de tudo é que minhas expectativas foram correspondidas.

Não me restam dúvidas de que esse seja um dos romances mais psicológicas desse autor. Toda a situação criada praticamente pede que uma densa análise do interior da personagem seja realizada e King não falha ao nos dar isso. É tão evidente a sua intenção de desconstruir a personagem protagonista em dúvidas e medos que a primeira página do livro já nos mostra o que virá pela frente: Jessie e seu marido, Gerald, estão brincando de um jogo sexual no qual ela é atada à cama, presa por dois pares de algemas. O jogo, para ele, é extremamente excitante; para ela, no entanto, passou a ser desagradável, pois começou a não mais gostar da sensação de submissão que sente. Tentando resolver o impasse gerado pela divergência entre as opiniões, os dois discutem e, ao chutá-lo, Jessie faz com que Gerald, em sobrepeso e fumante, sofra um ataque cardíaco e morra. O grande problema é que ela continua algemada à cama e as chaves encontram-se longe demais.

A princípio, quem lê uma sinopse assim, pensa que nada é tão grave quanto parece sem, nem haja por que se desesperar tanto. No entanto, basta começar a ler para perceber que os problemas que circundam a situação de Jessie são realmente terríveis: estar numa cabana bem longe da civilização é um problema, afinal, muito provavelmente ninguém estará por perto para ouvi-la gritar por socorro. E, na busca por soluções e sem distrações suficientes, Jessie se vê presa consigo mesmo e com as suas várias personalidades – a Esposinha Perfeita, a Bobrinha, a Ruth e também a Nora, isso sem citar as várias vozes que lhe ficam falando na cabeça, causando-lhe maiores preocupações. Penso que o grande acerto do escritor tenha sido conciliar perigos potenciais de perigos psíquicos e torná-los todos muitos reais. A cada momento, tanto Jessie quanto o leitor partilham de um medo persistente, um medo que sabemos ser real.

A sutileza da relação de Jessie com as suas personalidades provém das sensações que ela sente. Um simples cheiro é capaz de remetê-la a um passado no qual acontecimentos desagradáveis lhe aconteceram e causaram-lhe mal por toda a vida. Essa relação da personagem com o seu passado é um dos atos do livro. Essa parte se dedica a nos relevar tudo o que aconteceu a Jessie quando criança – a abuso que sofreu do pai, o modo como ele lhe induziu a pensar que a culpa era toda sua, o jeito como foi obrigado a manter segredo a respeito disso durante toda a adolescência e vida adulta. Stephen King não se limitou ao conceber um passado escuramente doloroso para a personagem central do seu romance: fê-la sofrer bastante com os seus questionamentos a respeito do mundo e também a respeito de si mesma, fez com que ela criasse moldes para viver bem dentro deles, tornou-a oprimida por si mesma e por uma condição – no caso, o guardar segredo -, que, embora tenha sido criado por ela, não seja inteiramente sua responsabilidade.

O segundo ato é aquele no qual vemos a situação em tempo real, que é Jessie algemada à cama, sem ter como sair, sentindo sede, sentindo vontade de ir ao banheiro e ainda diante de problemas mais difíceis – como ser obrigada a presenciar a mutilação do corpo do seu marido morto quando um cão esfomeado invade a casa e começa a lhe devorar e a suposta presença de uma figura estranha no quarto. Nesse momento, toda dor é física e tudo que acontece à personagem causa dor semelhante no leitor. A sede que ela sentiu me causava secura na garganta e a sua tentativa de saciar-se é realmente perturbadora. A presença do cachorro também é muito incômoda, porque ele oferece perigo à mulher, que dificilmente poderia conseguir afastá-la, considerando a sua situação. Não posso me esquecer de que a situação dela também lhe causa problemas físicos tensos: as suas tentativas de se mexer na cama fazem com que as algemas lhe prendam os punhos, esmagando-os; e a posição na qual está – sem poder abaixar os braços, já que está algemada – lhe causa várias dormências e câimbras.

Ainda que eu tenha dividido o livro em dois atos – o que se refere ao plano psicológico e o que se refere ao plano físico –, não posso tratá-los como separados, pois eles se intercalam às vezes na estrutura narrativa, mas na prática, eles acontecem ao mesmo tempo, sendo que às vezes é difícil saber se o fato de estar presa faz com que ela pense em toda sua vida ou se o fato de ela estar pensando faz com que ela imagine que certas coisas estão acontecendo. Essa dubiedade transforma a narrativa em algo ainda mais interessante, pois em certos momentos é difícil diferir o real do imaginário e o leitor acaba inserido nos devaneios prováveis da personagem.

Eu realmente acredito que essa obra de Stephen King seja interessantíssima e totalmente válida. Diferentemente de outras obras suas – nas quais o elemento terror é participante ativo – aqui o pânico se mostra de modos variados: é o medo de si mesmo e também do outro; é o medo de continuar viver e também o medo de morrer; aqui, o terror é a dúvida. A análise proposta pelo autor é laboriosa, mas a dificuldade de analisar Jessie só aumenta o meu apreço pelo livro, que é asseguradamente recomendável.

20 de nov. de 2010

O Silêncio dos Inocentes

The Silence of the Lambs. EUA, 1991, 114 minutos. Suspense.
Ganhador de 5 Academy Awards: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Roteiro Original.
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É simplesmente dificílimo dizer o que achei desse filme, porque ele é grande demais para que eu possa descrevê-lo com eficiência. De maneira brilhante, o filme nos mostra sequências de thriller psicológico, com diálogos inteligentíssimos e correlações entre todos os elementos do filme, desde o título até as palavras aparente sem grande sentido das falas. A funcionalidade dessa obra é arrasadora e faz jus aos cinco melhores prêmios que recebeu na cerimônia do Oscar de 1992.

O filme narra a história de Clarice Starling e Hannibal Lecter. Ela é uma agente do FBI que é mandada a uma clínica psiquiátrica de segurança máxima para elaborar um perfil de Hannibal Lecter, ex-psiquiatra famosíssimo pela suas atitudes canibais e pelo seu poderoso poder influenciador. Aos poucos, os dois se envolvem num perigoso jogo: ela conta a ele assuntos pessiais e problemas com os quais teve que lidar e ele mostra que pistas ela deve seguir para conseguir o que quer.

O que faz desse algo tão grandioso é o excelente roteiro que prima diálogos inteligentes e uma relação extremamente dúbia entre os personagens. Podemos perceber que há muita afinidade entre eles, mesmo que haja também receio. Eles mantêm uma relação mútua, uma troca de favores, totalmente favorável à aproximação deles, porém pergiosa, exatamente pelo que eles representam um para o outro: Clarice cede, convida Hannibal a conhecê-la profundamente, deixa que ele entra em sua cabeça; ele, por sua vez, guia o relacionamento dos dois, torna-a mais forte, prepara-a para um perigo desconhecido. O quão fundo ele pode ir sem romper o elo que os mantém unidos? Quanto ela pode confiar nele? São perguntas que o espectador se faz o tempo todo. As conversas entre os personagens são cheias de armadilhas, perguntas disfarçadas que dilaceram o íntimo, ferem concepções pessoais. Por mais que haja receio, Clarice se refugia na experiência de Hannibal, que, por sua vez, acaricia a cabeça dela, fazendo-a parecer aprendiz - o que talvez ela possa ser. Uma cena brilhante que mostra isso é aquela na qual, depois da primeira entrevista com o canibal, Clarice é verbalmente agredida por um outro presidiário e, quando Hannibal a chama novamente para perto de sua cela, ela se aproxima demais do vidro, chegando a tocá-lo, ficando face a face com o doutor e desrespeitando uma das várias regras que lhe foram ditas.

Não torçam o nariz por pensar que esse seja o suspense que surge por causa de jogos de palavras. O Silêncio dos Inocentes é um filme denso, com direito a boas cenas assustadoras, como quando removem Hannibal de sua cela e deixam-no trancado num outro lugar: somos presenteados com uma excelente cena de perseguição, que inclui um pouco de violência, sangue e umas boas mordidas. Mais para o final ainda rola bons momentos que envolvem perseguição policial, que nos mostra a perspicácia de Clarice e como ela soube desvendar bem todas as informações implícitas que Hannibal lhe deu. Jonathan Demme, o diretor, fez um excelente trabalho ao captar cada momento expressivo do filme. Os cenários escolhidos para situar as cenas são realmente impressionantes e a iluminação utilizada é fundamental para que percebamos com destaque aquilo que ele quer nos mostrar. Alaranjada às vezes, a luz usada cria um clima bem diferente, acentua o suspense, enfatiza os rostos. Dou valor especial para os ótimos ângulos de câmera, que capturam várias perspectivas da mesma situação. Podemos ver Hannibal e Clarice conversando de frente, podemos ver apenas as expressões dela, depois somente as dele. Nas cenas de ação, vemos o suficiente - ficando implícito, cabe à nossa mente dar continuidade a algumas tomadas, o que torna o filme ainda melhor.

As interpretações do casal principal, Anthony Hopkins e Jodie Foster são simplesmente fantásticas. A partir do momento em que você vir esse filme, sempre se lembrará da expressão do ator quando o nome Hannibal for mencionado. Seu olhar penetrante e dilacerante, sua voz sempre calma, suas palavras irônicas e inesperadas - tudo nele é perfeito e o prêmio não poderia ficar com ninguém senão com ele. Analisar a interpretação de Jodie Foster requer mais cuidado, afinal sua personagem não é a caça de Hannibal, mas é assim que ela deve se portar, deixando-o entrar. Dessa maneira, Jodie mostra uma mulher forte e frágil, com perseverança e coragem e, ao mesmo tempo, aparentemente submissa, que cecedendo facilmente. O jogo de olhar entre os atores é magnífico: ele a invade, deflora suas lembranças; ela o deixa entrar, mas arranca dele aquilo de que precisa. Um quid pro quo na própria atuação dos atores, um dando suporte ao outro, fazendo com que os personagens cresçam juntos em cena. Ele não rouba o brilho dela; ela não chama mais atenção do que ele. Em sintonia, os atores mantêm o equilíbrio perfeito na atuação.

É preciso estar preparado para ver esse filme. Vê-lo despreparado implica em atribuir-lhe defeitos que ele não possui. O Silêncio dos Inocentes é uma obra ampla, um thriller psicológico que causa prazer inconstestável, uma obra que não envelhece e que permanece vívida em nossas memórias. Infelizmente, nenhum das continuações possui a mesma qualidade e, de um modo geral, não tem o mesmo brilho e charme que esse filme tem. Recomendo que vejam-no acompanhados, à noite, preparados para uma das melhores obras que o cinema já apresentou.

18 de nov. de 2010

Pulp Fiction: Tempo de Violência

Pulp Fiction. EUA, 1994, 154 minutos. Drama / Policial.
Ganhador do Oscar de Melhor Roteiro Original e indicado às categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (John Travolta), Melhor Ator e Atriz Coadjuvantes (Samuel L. Jackson e Uma Thurman) e Melhor Montagem.
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Nessa resenha, vou simplesmente elogiar tanto quanto puder esse filme de Tarantino. Muitos poderão dizer que gostei do filme, porque gosto do diretor, mas o fato é que Pulp Fiction é uma obra extremamente complexa e ampla. Não somente é uma das melhores obras de Tarantino - há, aliás, alguma que não seja boa? -, como também é uma excelente amostra do talento dos atores.

Acredito que a esse filme apresenta situações envolventes dentro de todos os gêneros, não apenas o dramático e o policial. Vemos um pouco de comédia, humor, suspense, ação - tudo numa única obra. Como os mafiosos Vincent e Jules, John Travolta e Samuel L. Jackson - possivelmente na melhor de suas atuações -, compõem uma dupla realmente fabulosa, que choca o espectador com a frieza com a qual lidam com seu trabalho. Ao mesmo tempo, nos surpreendem com momentos incríveis: que matador recitaria passagens da Bíblia antes de dar vários tiros na pessoa que catequizava momentos antes? A somar, há a confusa participação de Mia Wallace, personagem de Uma Thurman. A mulher representa a catarse de Vincent Vega e também o perigo com o qual ele lida. Por sua vez, ele representa certo assombro a ela: tratá-lo como amigo ou como subordinado do seu marido? Bruce Willis é, de certa forma, o intérprete cujo personagem passa por mais problemas: é obrigado a adminstrar os problemas provindos de com o acordo que ele não cumpriu, um relógio pelo qual tem afeição e, mais tarde, com o próprio chefão. Os personagens parecem não ter muita conexão, mas o roteiro brilhante de Tarantino os coloca num ciclo retorcido, conectando-os brilhantemente.

Cada personagem tem seu momento de destaque e todos - principais ou coadjuvantes - são importante para que possamos intricar a trama, compreendo o exato momento em que uma determinada cena aconteceu. O elenco do filme está em perfeita sincronia e na minha opinião o grande destaque vai para Uma Thurman, que está excelente no papel que lhe rendeu, até hoje, sua única indicação ao prêmio. Sua Mia é uma personagem de gestos e expressões, de presença firme e imponente. Em cena, ela atrai os olhares e no episódio entre Vincent e Mia, ela é a personagem principal. Destaque também para John Travolta, extremamente expressivo, certamente num dos melhores papéis de sua carreira. Pulp Fiction ainda conta com a presença do próprio Tarantino, num trecho próximo ao final do filme. Bruce Willis continua com o seu jeito canastrão, mas até dele Tarantino conseguiu tirar o tom certo de seu personagem. Com o seu jeito característico de editar seus filmes, Tarantino obriga o espectador a pensar e encaixar as partes vistas nos lugares a que pertencem. A obra tem uma ordem cronológica não-linear, o que aumenta ainda mais o meu apreço pela produção. Os episódios que são mostrados para nós são fragmentados e cabe a nós enxergá-lo em sua totalidade, conforme acontecerão cronologicamente.

Muitos podem se questionar a respeito do título do filme. É importante ressaltar que o "tempo de violência" é um subtítulo acrescido, não presente no nome original do filme. "Pulp" é um termo que designa o material rudimentar e pouco durável de revistinhas lançadas a partir da década de 20 e eram voltadas para a classe social popular. Como os autores sérios trabalhavam para outro tipo de revistas, as "pulps" eram escritas por homens sem grande cultura literária, de forma que os temas abordados eram aqueles comuns às pessoas daquela classe: sexualidade, violência, crime, etc. Como alcançável um grande público, as "pulps" foram as primeiras revistas a se tornarem filmes e foram sumindo com a aproximação da Segunda Guerra Mundial.

Tudo no filme é muito válido e coerente: o gênero das revistinhas têm tudo a ver com a proposta do filme que, por sua vez, tem tudo a ver com aquilo com que Taratino gosta de trabalhar. Tudo aqui funciona bem e nós presenciamos uma obra extreamente ágil, com ótimos diálogos - destaque especial para aquele entre Mia e Vincent -, boas cenas de violência e outras tantas de humor. As sete nominações que o filme recebeu apenas mostram o quão bom ele é. Vale realmente a pena vê-lo.

16 de nov. de 2010

Vôo Noturno

Red Eye. EUA, 2005, 85 minutos.
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Uma garota pega o avião na companhia de um jovem executivo. Durante parte do vôo tudo parece normal e surge uma atração embre ambos. O rapaz, no entanto, esconde um misterioso segredo que colocará em risco a vida dela e de todos a bordo.

Vôo Noturno é um filme bastante direto. Sem muitas enrolações, somos apresentados à história de Lisa e Jack, que descobrem-se adversários poderosos. Quero dizer, ainda bem que ela não é a típica mocinha estúpida de filmes do gênero; ele, por sua vez, não é o mais cruel e inteligente sequestrador. Assim, ambos conseguem se equivaler, nos mostrando alguns momentos legais e outros bem estranhos. O filme foi dirigido por Wes Craven, famoso diretor que já nos trouxe obras como Pânico, A Hora do Pesadelo e o cult Aniversário Macabro. A direção é regular até um pedaço, mas depois fica um pouco exagerado e se perde conforme o final se aproxima. O mesmo pode ser dito sobre o roteiro: intercala bons e maus momentos, mas, já no final, perde um pouco o foco quando amplia as possibilidades de fuga de Lisa.

Acho que todos já estamos um pouco cansados das incoerências ou situações forçadas que filmes como esse nos apresentam. Por exemplo, como realmente vamos acreditar que tudo aquele jogo de gato e reto tenha ficado em segredo quando os dois personagens conversam em tom de voz bastante audível num ambiente fechado, como aquele avião? E não havia ninguém ali que estivesse acordado para ouvir aquela conversa? Destaque especial para a cabeçada que Jack Rippner dá em Lisa; a parte interessante é que o movimento é extremamente brusco, faz um barulho horrível (mistura do som das cabeças se chocando e do grito dela) e ainda assim todos continuam dormindo! E há também aquela criancinha implicante que, sem motivo algum - já que ela mesma não presenciou nada - se mostra totalmente contra Jack, o que facilita bastante a vida de Lisa.

Rachel McAdams é uma atriz por quem tenho simpatia. Não a acho assim tão talentosa, mas ela é bastante carismática e isso definitivamente é um fator positivo. Não posso negar que a prefiro em filmes românticos, porque ela me inspira a delicadeza e o platonismo dos grandes romances. Aqui não há espaço para amores, mas ela continua bonita e com algumas cenas inspiradas. Acho que o problema é Cillian Murphy, afinal ele é a mesma coisa em todos os filmes. Vi uns quatro filmes com esse ator e ele é sempre igual, sempre atuando no módulo automático, deixando que somente suas falas tenham certa expressividade - não total, porque é necessário o tom de voz certo para deixar uma fala completamente crível. Jayma Mays, que interpreta Cynthia, dá o tom bobinho de comédia que o filme tem em alguns momentos - nada que estrague o que o filme tem de bom nem nada que faça com que ele se torne pior.

O filme não entretém muito. No começo, há um clima legal de claustrofobia, mas isso dura apenas 10 minutos, porque logo dá espaços a umas cenas mais bobinhas, menos racionais, como aquelas que citei acima. Não é necessário um grande esforço para assistir a esse filme; não há, porém, grande entretenimento. Mais uma das várias obras medianas que surgem a cada ano e que, no momento oportuno, vira produto da Tela Quente. Se alguém puder, por favor, me explique o título original...

14 de nov. de 2010

Sexta-Feira 13 (2009)

Friday the 13th. EUA, 2009, 103 minutos. Terror.
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Advertência: a resenha a seguir apresenta muitos spoilers.
Todos sabemos que o cinema tem entrado numa grande incursão pelo universo dos remakes. Não quero dizer com isso que regravações não existissem antes, mas atualmente esse tópico se intensificou. Vários filmes que fizeram sucesso anos atrás estão retornando numa versão mais moderna e provavelmente mais ridícula e várias são as obras que já passaram por isso e são várias também aquelas que passarão pelo mesmo processo: Halloween, Violência Gratuita, [•REC], A Névoa, A Hora do Pesadelo, Brinquedo Assassino, etc. Estava óbvio que a série Sexta-Feira 13, já em desgaste com as suas nove continuações e um spin-off (a tosquice nomeada Freddy x Jason), seria transformada em um novo filme, nos mesmos moldes das recentes modernizações.

Para ser sincero, não considero que esse filme seja um remake do original de 1980. Se fôssemos tratá-lo como um remake, deveríamos assumir que Batman Begins, filme de 2005 que marca a nova cronologia da história do Homem-Morcego, seja remake do filme de Tim Burton, de 1989. E todos sabemos que isso não é verdadeiro. Com isso, quero dizer que o novo Sexta-Feira 13 não se trata daquele filme embasado nos eventos de outros. Para se ter uma ideia, ocorre aquele final-surpresa no filme original, quando descobrimos que a pessoa por trás das mortes na verdade é Brenda Vorhees e não Jason, como todos pensávamos. Nesse remake, logo nas primeiras cenas somos apresentadas àquela que correponde a uma das últimas cenas do original: a mocinha desesperada decapta a insana mãe de Jason. Assim, o final do filme original é o início do filme recente, deixando claro que esse não está vinculado aos eventos gerais daquele. Sabemos, então, que o remake mostrará cenas novas e também sabemos que não haverá elementos-surpresa em relação ao assassino, uma vez que logo no começa Brenda foi morta.

Assim, para mim, esse filme marca uma nova cronologia da série. E, logo no primeiro episódio, se mostra bastante ruim. Os que assistiram ao filme original sabem que os jovens perseguidos pela mãe de Jason tinham um motivo real para estar ali: eles eram monitores e, portanto, o lugar mais adequado para o qual deveriam estar. Nessa versão, que conta com uma bizarra introdução de 25 minutos, os jovens são estereotipados e chatos, birrentos e desagradáveis e cabe a nós detestá-los. Eles não vão exatamente ao Crystal Lake, mas numa região próxima a ele. Num filme da cronologia antiga, uma personagem diz que ninguém é morto se não invadir a área do Jason (e pouco depois essa informação se mostra errada). Supondo que a casa não tenha sido construída ali do dia para a noite e, pelo que parece, os pais de um dos jovens tinha aquela casa há um bom tempo, não fica muito claro por que o Jason insiste em persegui-los numa região fora de sua área. Questionamento desse gênero são desnecessários, afinal o personagem matador desse filme já chegou a ir a Nova Iorque atacar as pessoas de lá!

A princípio, os personagens não invadem lugar nenhum. O máximo que fazem é se divertirem no lago Crystal e esse parece ser o mote para que Jason comece a persegui-los sem parar. Dentre os personagens, destacam-se Clay, interpretado por Jared Padalecki, e Jenna, vivida por Danielle Panabaker. Ele é o mocinho que está à procura da irmã desaparecida (que estava presente naquela introdução imensa) e ela é a outra mocinha, que, embora estivesse com os jovens babacas detestáveis, é bem dócil e simpática à causa de Clay. Logo de cara sabemos que são esses os personagens que não irão morrer, afinal eles são os perfeitinhos - não transam, não bebem, são simpáticos, são bonitos e, de certam maneira, estão engajados em uma causa maior. Os outros personagens - os que se masturbam, os que ficam bêbados e os que trepam como coelhinhos - tornam-se os alvos prioritários do matador. Sem nenhum real envolvimento do espectador com a história, os jovens começam a ser mortos de maneiras bastante toscas, desde cozidos até empalados, e nós ficamos observando uma série ridículo de corre-pra-cá e corre-pra-lá. A ânsia por matar é tão compulsiva que o xerife é morto depois de bater na porta da casa, sem nenhum diálogo decente.

Vale ainda ressaltar que não há motivos para que Jason mantenha capturada a irmã de Clay. Não fica claro em momento nenhum o que ele pretende fazer com ela e eu até acredito que não há razões para aquilo. A função básica é fazer com que gostemos da ação salvadora de Clay, que realmente consegue tirar a irmã de lá. Como troca, porém - e para minha surpresa -, a outra mocinha perfeitinha acabou morrendo, numa cena bem porca. O roteiro tenta fazer com que haja uma correlação entre a introdução medíocre e o final e isso obviamente se mostra frustrado.

Considerando todos os prós - que são poucos - e os contras, eu realmente recomendo que, se quiserem ver, fiquem com o filme original, de 1980, que pelo consta com bons efeitos de maquiagem, uma fotografia sombrio mais interessante e um clima bem melhor do que esse, que só mostra gente correndo e morrendo. Na minha opinião, uma obra totalmente descartável, que não se aproxima da produção que a originou.

12 de nov. de 2010

Jogos Mortais II

Saw II. EUA, 2005, 93 minutos. Terror.
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Em 2004, surgiu o filme Jogos Mortais. Criado a partir da ideia de um dos roteiristas, Leigh Wannell, que também atuou no primeiro filme como o personagem Adam e que viria a escrever mais duas continuações para a série, o filme tornou-se um grande sucesso. Como arrecadou bastante nas bilheterias, fica óbvio que um novo filme surgiria e cá está ele: a primeira continuação da série.

A identidade de Jigsaw não é mais um mistério: ele é John Kramer, paciente com câncer terminal do dr. Gordon, que participou do jogo no primeiro filme e decepou seu pé para buscar ajuda. Agora, com mais especialistas no caso, os policiais precisam encontrar o esconderijo e possíveis novas vítimas do homem. Para a surpresa do Detetive Mathews, o seu filho foi capturado e está junto com outras pessoas, todas aparentemente sem nenhuma ligação, numa casa qualquer, que ninguém sabe com precisão onde é. Em frente a John, o Detetive deve fazer parte de um jogo para que reveja seu filho vivo: ele tem que conversar com John por duas horas, tempo que uma toxina liberada na casa matará todos que de lá não saírem.

A proposta do filme é interessante. No primeiro, havia apenas duas pessoas num mesmo ambiente; agora, há mais pessoas num ambiente maior, mas isso não faz com que seja menos claustrofóbico do que a primeira situação. E como se não bastasse, há ainda maior dramaticidade porque o personagem interpretado por Donnie Wahlberg tem que ficar conversando com o sujeito, esperando que o outro lhe diga qualquer coisa a respeito do filho. A somar, há a pressão psicológica que a detetive Kerry faz, já que ela tem estudado o perfil de Jigsaw e precisa que Mathews realmente converse com ele, a fim de arrancar tantas informações quanto possível. A casa onde estão aprisionados os jogadores é bem grande, com vários cômodos, bem lacrada - e o pior: uma armadilha para cada personagem. Vale ressaltar que o roteiro foi bastante generoso nas armadilhas, porque elas são realmente complexas e perigosas, nos apresentando no mesmo filme duas cenas bastante cruéis. Primeiro, um personagem é torrado numa máquina de cremação e depois, Amanda, a única sobrevivente do primeiro filme, é arremessada por outro personagem em uma piscina de agulhas. Duas cenas que incomodam bastante o espectador...

Duas coisas que eu definitivamente não gosto. A primeira é a absoluta má explicação dada àquela casa. Como alguém consegue simplesmente criar um sistema de segurança máxima numa casa abandonada? Isso é bastante estranho. Alguns alegam que Jigsaw é super inteligente, mas daí eu devo advertir que, embora ele faça armadilhas realmente impressionantes, ele não pode criar com a mesma facilidade uma casa lacrada como aquela, porque uma casa fica exposta, é muito grande. Soou para mim como se o roteirista tivesse achado a ideia boa e a colocado na história, sem se preocupar em explicá-la porque, talvez, pensasse que nenhum espectador fosse querer saber o porquê daquilo. O outro fator problemático é a caracterização deveras soberba que Tobin Bell deu a Jigsaw. O personagem, que deveria apenas fazer com que a pessoa ficasse frente à morte e soubesse como lidar com ela, tornou-se um sujeito chato, com comportamento de vilão sabe-tudo. Esses dias mesmo, estava conversando com o Jean - que inclusive já participou do blog resenhando o filme A Passagem - e surgiu o assunto a respeito do quão vilão Jigsaw é. E, para mim, não rola essa história de "ele só queria mostrar o quanto a vida é importante". Para mim, ele é vilão e dos mais sórdidos - não tem humor, não tem propósito, não é carismático. Logo eu esperava que ele apanhasse ou que fosse submetido a uma de suas próprias armadilhas... Pelo menos uma parte disse eu consegui.

[SPOILER]Tal como no primeiro, que há um final-surpresa, na primeira continuação da série o mesmo acontece. É com certo espanto que percebemos que o ambiente onde tudo está acontecendo é praticamente o mesmo do primeiro filme. A exceção fica por conta de que no primeiro filme o cenário era limitado a um cômodo. Eu entendi isso como uma tentativa de explicar como a casa havia sido totalmente lacrada: Jigsaw já a havia usado, assim tivera tempo para prepará-la para o seu próximo jogo. E, para surpresa maior, Jigsaw não está mais sozinho: agora ele tem uma companheira e cúmplice, que o ajuda com as suas armadilhas, já que ele está praticamente inválido. [FIM DO SPOILER]

Acredito que Jogos Mortais II seja superior ao filme que o originou - é bem mais interessante, as atuações são um pouco melhores e o entretenimento é bem maior do que o do primeiro filme. Vale ressaltar que alguns defeitos ainda continuam, como a insistente tentativa de tornar John um sujeito simpático, como se ele fosse vítima da situação que cria. Repetindo: para mim, ele é vilão. E por ser chato, mereceu o que aconteceu no final do terceiro filme.

Luís
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10 de nov. de 2010

A Jangada de Pedra

Portugal, 1986, 291 páginas (Editora - Companhia de Bolso). Autor: José Saramago.
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Confesso que nunca tinha ouvido falar desse livro e que somente tive conhecimento dele porque, para as aulas de Literatura e Cultura Portuguesa, tive que o ler. Como a nossa professora trabalha com as obras de Saramago, nós evidentemente trabalharemos com esse autor – o que significa que os próximos livros postados aqui provavelmente serão de sua autoria.

Evidentemente, não se pode esperar que Saramago escreva uma história simples. Mesmo que haja simplicidade na estrutura e no enredo, decerto não haverá nas entrelinhas. E é exatamente isso que acontece em A Jangada de Pedra, cuja narrativa discorre a respeito da separação da península ibérica do resto do continente europeu e das conseqüências disso. A somar, narra-se a viagem de quatro personagens rumo ao autoconhecimento.

O primeiro capítulo já é ilustrado com a imagem dos quatro personagens principais e dos acontecimentos incomuns que os levam a “causar a separação da península”. Ponho entre aspas porque em nenhum momento o autor evidencia que foram os quatro os responsáveis pelo evento geográfico. As suas ações são meio incomuns: Joana Carda riscou o chão com uma vara de negrilho e o risco feito jamais se apagou; José Anaiço viu-se cercado por estorninhos, que simplesmente não lhe abandonavam e ficavam voando ao seu redor; Pedro Orce levantou-se de uma cadeira, pisou o chão com força e sentiu-o tremer sob si; Joaquim Sassa, ao passar pela praia, viu uma pedra imensa e arremessou-a ao mar, fazendo-a ir muito além do que suas forças permitiam. Após esses eventos, acontecidos em concomitância, os Pirineus racharam-se e a península ibérica lançou-se ao mar.

Não posso simplesmente comentar as vertentes literárias dessa obra. Ainda que seja literatura, e exatamente por sê-la, o autor nos propõe uma análise bem mais do que a óbvia, na qual eu comentaria a respeito do desenvolvimento da história e da composição dos personagens. Definitivamente, A Jangada de Pedra é um livro de abordagem política. Saramago sempre defendeu o pensamento de que Portugal não tinha seu valor reconhecido pela Europa. Embora os portugueses tivessem ratificado a potência européia ao saírem mar afora na época das Grandes Navegações – e consequentemente conquistado riquezas para o seu continente –, atualmente não lhe respeitavam a participação política e econômica nas relações com o resto dos países europeus. Pela semelhança cultural e pelo momento político-histórico vivido pela Espanha na época em que o livro foi escrito (o ano era 1986; vale ressaltar que hoje o perfil do Estado espanhol mudou consideravelmente), a Europa via esse país tal como via Portugal. Aproveitando esse fato, Saramago reuniu uma série de dados e suposições para elaborar uma crítica feroz à atitude européia. Não nos restam dúvidas ao longo da obra de que a separação geográfica significa o afastamento político que há entre os países iberos e o resto do continente. O ato de vagar pelo mar é uma clara representação do modo como esses dois países buscam o lugar a que pertencem, o lugar onde encontrarão semelhanças culturais que lhe permitam uma identificação e autenticidade com suas próprias raízes – não é à toa que, ao final do romance, a ex-península, agora ilha, pára entre a África e a América, locais onde possuem colônias: lá se fala a mesma língua, têm-se costumes semelhantes.

Como obra literária, não posso criticar quase nada, afinal se trata de uma construção bastante elaborada. O único problema que eu encontro – e para o qual eu tenho argumento que o situa não exatamente como um problema – é o rápido envolvimento amoroso dos personagens, haja vista que tudo acontece muito rapidamente, sem o tempo necessário para que os romances se desenvolvam, ou que, pelo menos, os personagens se conheçam adequadamente. Não posso me esquecer, porém, de que não havia tempo: todos temiam a acelerada aproximação da jangada com os Açores, o que poderia significar a morte de muitos portugueses e espanhóis e definitivamente a extinção do arquipélago. Fora isso, todo o resto é válido.

A Jangada de Pedra é uma obra muito válida, que merece ser lida. Não apenas pelo seu contexto literário, mas principalmente pelo seu significado político e pela árdua crítica que Saramago faz à Europa e às grandes potências. Em alguns momentos, chega a reproduzir falas dos representantes dos Estados Unidos com uma perfeição inigualável, fazendo-nos quase crer que seja uma reprodução fiel de algum discurso já proferido antes. Não se furtem o prazer de lê-lo. Leiam-no, porém, se estiverem conscientes do que essa obra significa, porque o seu poder está justamente fora do universo literário.

8 de nov. de 2010

Oscar 2010 - Melhor Roteiro Original

Mark Boal, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original, por Guerra ao Terror.

 Assim como fizemos no ano passado – analisar seis categorias do Oscar -, esse ano eu resolvi fazer diferente: convidei vários blogueiros e cinéfilos, pessoalmente que realmente se dedicam aos prazeres do filme, para analisarmos juntos oito categorias do Oscar 2010. Primeiro, vou explicar brevemente como os posts foram organizados: em cada categoria, quatro “jurados” fixos mais um convidado especial participará, somando então cinco opiniões sobre cada indicado e depois sobre a categoria como um todo.

Antes de ir direto ao ponto, gostaria de agradecer às pessoas a seguir. São todos convidados queridos, eles possuem trabalhos que eu aprecio e inclusive recomendo para os que me lêem. Os convidados fixos são: Marcelo Antunes, do blog Diz que Fui por Aí...; Thiago Paulo, do Conexão Cinema/TV e o Renan, que por bastante tempo dividiu o blog comigo. Dentre os convidados que participação rotativamente, são eles: Vinicius Colares, do blog Doutor Caligari; Wilson, que não representa nenhum blog, mas que me deixou conhecer o seu bom gosto por filmes; Cristiano Contreiras, do polêmico Apimentário; Ewerton, colega de classe e dono do A Cereja do Bolo; Matheus Pannebecker, do recomendado Cinema e Argumento e Kamila Azevedo, autora do Cinéfila por Natureza. Para estrear essa nova sessão, eis o blogueiro Caio Colleti, do blog O Anagrama, a quem gostaria de agradecer por ter aceitado o meu convite de participar do meu blog. Sem mais delongas, vamos aos indicados e, posteriormente, às nossas conclusões.

Bastardos Inglórios - Quentin Tarantino

Dentre os concorrentes, esse é, de longe, o que eu mais gostei. Quentin Tarantino dá a um tema batido (a II Guerra Mundial) uma nova roupagem que fixa o telespectador. Com um roteiro extremamente inteligente vemos tiroteios, mortes inesperadas e muita vingança, tudo de extremo bom gosto. (por Renan)


Guerra ao Terror - Mark Boal
Escrito por um ex-correspondente de guerra, o roteiro de Guerra ao Terror rendeu ao filme de Kate Bigelow, o primeiro Oscar na premiação desse ano. A história do desarmador de bombas e de seus companheiros é envolvente e pertubadora, prendendo o espectador nas suas mais de duas horas de duração. (por Marcelo)

Um Homem Sério - Ethan e Joel Coen

Os irmãos Coen têm um respeitável currículo de indicações: já receberam nominações por Onde os Fracos Não Têm Vez e Fargo e desta vez conquistam outra indicação. A história de Larry Gopnik, um professor que vê seu casamento afundar e ainda começa a ser ameaçado por cartas anônimas. Com um humor refinado (e às vezes bem sutil), o roteiro nos mostra uma história bem interessante, mas que, em sua totalidade, não supera nenhum de seus concorrentes a essa categoria. (por Luís)

O Mensageiro - Oren Moverman e Alessandro Camon

O Mensageiro é um drama anti-guerra de eficiência incontestável, mas é evidente para quem experiência o filme de uma forma analítica que tal força se deve muito mais a performance do elenco, em especial da brilhante dupla principal formada por Ben Foster e Woody Harrelson, do que pelo trabalho acurado de Alessandro Camon e Oren Moverman na condução do roteiro. De forma linear e sem grandes arroubos, o script nos leva as conseqüências completas de sua premissa, e se mostra eficiente em desenvolver os personagens. Mas nada que realmente salte aos olhos. (por Caio)

UP - Pete Docter e Bob Peterson

Up - Altas Aventuras não possui um roteiro tão bom assim, qualquer um dos seus concorrentes consegue ser bem melhor nesse quesito. Se formos ver, a animação, que começa de maneira sensacional, se perde em vários momentos. Se ela mantivesse o nível do seu começo, certamente teria um dos melhores roteiros do cinema. (por Thiago)

Agora vamos às opiniões particulares de cada jurado. Cada um dirá brevemente se concorda com a Amademia ou se discorda dela e apresentará os seus argumentos para justificar o seu posicionamento.
 
• Caio Coletti
Sobre a categoria: Permanece incontestável o mérito da Academia de ter escolhido os cinco melhores roteiros originais do ano. No entanto, é notável o quanto os seus membros priorizam as narrativas que se atém ao modelo pragmático de teóricos como Syd Field, que resultam em experiências burocráticas por si mesmos, ainda que sua excelência possa ser impulsionada pelos outros fatores que compreendem a realização de um filme. Quentin Tarantino ainda é o escritor mais pessoal, mais idiossincrático (no bom sentido), que os acadêmicos deixam entrar em sua seleção, seguido de perto pelo frescor de idéias do time da Pixar, dessa vez lembrado merecidamente por Up – Altas Aventuras. De resto, a comédia-cabeça dos irmãos Coen não deixa dúvidas que, entre os indicados, Mark Boal levou o prêmio não apenas pela importância do seu trabalho, mas também pela escolha sempre estratégica da Academia.
Concordo com a opinião da Academia: Sim

• Luís
Concordo com a Opinião da Academia: Não concordo.
Sobre a Categoria: Todos os filmes indicados nessa categoria tiveram seus méritos, mas realmente acho que a Academia falhou ao esquecer, por exemplo, de indicar (500) Dias Com Ela, cujo roteiro me agradou muito mais do que Um Homem Sério, ainda que este também seja uma obra interessante. Ter premiado Mark Boal por Guerra ao Terror apenas serviu como desculpa para conduzir o filme de Bigelow ao prêmio principal. Honestamente, creio que o roteiro tenha sido avaliado bem, mas o ter premiado foi errôneo, pois havia obras mais originais e mais bem estruturadas.
Quem eu premiaria: Embora não tenha me sentido próximo da obra de Tarantino, creio que esse seja o melhor roteiro original dos indicados. Decerto, Tarantino fez história ao desconstruir um momento político-histórico que marcou extremamente a população mundial – e ele conseguiu fazer isso com humor e refinação. Não me sobram dúvidas de que o seu roteiro era o melhor dentre os indicados.

• Marcelo
Concordo com a Opinião da Academia: Não, apesar do mencionado acima.
Sobre a Categoria: Foi um ano de grandes trabalhos, embora a superioridade do filme de Tarantino seja notável.
Quem eu premiaria: Bastardos Inglórios. Tarantino não só contou uma história originalíssima, mas também prestou uma grande homenagem à sétima arte.

• Renan
Concordo com a opinião da Academia: Não.
Sobre a categoria: Tenho que destacar que me senti extremamente ignorante assistindo “Um Homem Sério”, e sendo assim, não entendi nenhuma de suas indicações. No páreo estão bons filmes como “Up” e campeão da noite, “Guerra ao Terror”. Mesmo tendo gostado do último, achei o roteiro de Bastardos Inglórios tão criativo e tão inteligente que deveria ter ganhado.
Quem eu premiaria: Bastardos Inglórios, pois como dito acima, tem um roteiro inteligente e divertido.

• Thiago
Concordo com a Opinião da Academia: Não.
Sobre a Categoria: Acredito que, tirando Up - Altas Aventuras, todos os outros indicados realmente mereceram estar na disputa do prêmio de Melhor Roteiro Original. Gosto bastante de Guerra ao Terror, mas, a meu ver, o filme possui o segundo melhor roteiro, porque Bastardos Inglórios consegue ser muito melhor.
Quem eu premiaria: Bastardos Inglórios, pois Quentin Tarantino conseguiu desconstruir toda história com bastante originalidade.

Conclusões:
Como vocês puderam perceber, Bastardos Inglóris recebeu quatro votos a seu favor e apenas um de nós concordou com a Academia. Ou seja, se a estueta fosse entregue conforme a vontade das cinco pessoas que analisaram essa categoria, o filme de Tarantino facilmente teria conquistado o prêmio de Melhor Roteiro Original. Aliás, tendo-o reconhecido uma vez pelo sua capacidade criativa, penso que agora seja hora de reconhecê-lo como diretor, afinal, os seus filmes são muito eligáveis.