Para esse post, mais um da série Original e Remake, conto com um convidado muito especial, que é o Luiz Santiago, editor-chefe do blog Cinebulição, que reúne excelentes análises cinematográficas, escritas por alguém que definitivamente entende do assunto. Como descobri recentemente os dotes fílmicos do Luiz, não demorou para que eu o convidasse para vir participar com algum texto. Hoje, ele co-escreve uma análise comparativa entre os filmes Ringu, filme japonês, e O Chamado, sua versão correspondente no cinema estadunidense. Desde já, quero agradecê-lo por ter aceito o convite.
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- Textos sobre Ringu, por Luiz Santiago.
- Textos sobre O Chamado, por Luís.
Ringu (1998) é a minha lembrança mais antiga de um terror japonês, e o ponto de partida para que eu admirasse muitíssimo os filmes desse gênero produzidos no país dos samurais. Há alguns anos, essas macabras películas nipônicas invadiram o mercado ocidental, tanto na distribuição dos originais quanto na refilmagem de diversas produções. Obviamente, a qualidade varia de uma obra para outra, e não raro temos as ocidentais cavando uma superioridade com base nos efeitos visuais e especiais. Ringu é um filme notável, e revê-lo a fim de escrever para este especial Original e Remake, foi, além de um encontro com o início de minha cinefilia, mais uma constatação de que bons filmes sobrevivem ao grande tempo histórico, que em nosso século, prima pela enxurrada de imagens e profusão infernal de sons. Nesse filme, não temos nada disso. Medo, silêncio e ângulos vazios dominam o Japão de Ringu.
Ringu (1998) é a minha lembrança mais antiga de um terror japonês, e o ponto de partida para que eu admirasse muitíssimo os filmes desse gênero produzidos no país dos samurais. Há alguns anos, essas macabras películas nipônicas invadiram o mercado ocidental, tanto na distribuição dos originais quanto na refilmagem de diversas produções. Obviamente, a qualidade varia de uma obra para outra, e não raro temos as ocidentais cavando uma superioridade com base nos efeitos visuais e especiais. Ringu é um filme notável, e revê-lo a fim de escrever para este especial Original e Remake, foi, além de um encontro com o início de minha cinefilia, mais uma constatação de que bons filmes sobrevivem ao grande tempo histórico, que em nosso século, prima pela enxurrada de imagens e profusão infernal de sons. Nesse filme, não temos nada disso. Medo, silêncio e ângulos vazios dominam o Japão de Ringu.
1. Personagens e situações
Original: A história de um curta-metragem que, ao ser visto, desencadeia uma maldição, é no mínimo um argumento interessante, principalmente pelos fenômenos que o acompanha: ao fim da reprodução o telefone toca, e em sete dias o espectador morre. Nessa coluna estrutural do roteiro, a personagem de Sadako, a origem da maldição, assume um papel interessante. Ao início do filme ela é apenas uma sugestão, mas no desenrolar da trama passa a fazer parte do filme, desencadeia uma busca jornalística com pitadas de “filme de detetive”. A repórter Reiko Asakawa é o motor da pesquisa, o elo entre a “isolada” sequência-prólogo e o irônico fim. Penso que a personagem amadurece durante o filme, e em situações muito diferentes se põe em diferentes níveis de importância dramática: as sequências da descoberta, quando ela entrevista jovens estudantes sobre as estranhas mortes, e quando inicia a investigação, ainda no escritório em Tóquio; a sequência do poço, quando ela enfim se depara com a origem da maldição; e a sequência final, quando ela dirige o carro em direção à casa do pai. Das personagens em cena, talvez o pequeno Yoichi seja o menos necessário. Entendo sua existência no filme como o deflagrador da emoção materna, a força que faz a mãe, num dado momento, seguir com mais afinco as pistas para o mistério de Sadako, mas de resto, ele não tem grande importância para o produto fechado. Da pertinência das situações, não há o que contestar. Vejo todas as situações trabalhadas por Hideo Nakata como necessárias para o bom desenvolvimento da história.
Remake: Em relação ao filme original, pode-se dizer que poucas coisas foram alteradas na obra refeita. Os personagens têm outro estilo de vida e portam-se de acordo com eles, então há naturalmente um tom estético mais dramático, voltado para uma acentuação da sutileza do filme que o originou. Aqui, a história narrada é praticamente a mesma e, haja vista que a sequência de eventos é quase a mesma, vou me ater ao diferencial. Rachel, interpretada por Naomi Watts, passa por muitos momentos tensos até a descoberta de todo o problema e até encontrar um modo de resolvê-lo. Numa das cenas, inexistentes no original, ela se depara com uma situação muito tensa, na qual está num barco e provoca involuntariamente reações nos animais que estão sendo transportados, causando a morte de um cavalo. O acréscimo de certas cenas, como essa, nos mostra claramente que o tom do filme é envolvido por intenções muito objetivas de trabalhar a subjetividade de um modo sutil – e desse modo, ele se aproxima do original.
Original: Um bom roteiro de filme de terror deve saber equilibrar medo, simbolismos e tensão e distenção do espectador (algo parecido com o McGuffin do Hitchcock). Os roteiristas de Ringu não só conseguiram chegar a esses pontos como lograram ao espalhar deixas pelo caminho inteiro, para uni-las depois. Revendo o filme, pude perceber como esses pontos inicialmente contraditórios com o que até então havia sido apresentado, alcança um prazeroso significado ao final da obra, como o fato de o telefone não ter tocado quando Ryuji assistiu ao curta-metragem da maldição. Destaco também as incursões de mini flashbacks, momentos que poderiam descarrilar a história, mas que são tão bem escritos, objetivos e apresentados, que só enriquecem o espectador de informações. Mas o melhor do roteiro está no final. Primeiro, quando imaginamos que o filme terminaria, numa sábia extensão da história, somos levados para o que poderia ser muito bem um “final alternativo”, coisa tão típica nos filmes a Oeste de Greenwich. Essa extensão da história dá ao filme o seu clímax, especialmente quando somos apresentados à imperiosa ordem do mundo obscuro: para que a vida continue é necessário disseminar a morte.
Remake: indubitavelmente, não é o melhor já construído, mas não nego que haja elementos espalhados pelo filme que sucedem em seu propósito: instaurar a tensão. Pouco a pouco, somos apresentados a momentos em que o clímax é crescente. De certo modo, penso que o filme se torna bem recomendado porque ele vai mostrando peças importantes e permitindo uma construção lógica, ainda que acabe deslizando algumas vezes em saídas fáceis quando poderia ousar. A jornada de Rachel e Noah é marcada por um desenrolar às vezes frenético, que dinamiza a história; em outras horas, porém, o ritmo lento determina o tom sombrio da trama. Não posso dizer que o roteiro seja ruim, porque ele de fato não o é.
3. Direção e elenco
Original: Hideo Nakata estabelece a espontaneidade como regra para seus atores. Em L Change the World, um spin-off da série Death Note, o diretor parece não dirigir, apenas direcionar seus atores, algo que de certa forma também faz em Ringu. As atuações da versão americana estão um tanto melhores que essa original. O elenco é bem entrosado, mas fora a personagem da jornalista, não vejo um desenvolvimento psicológico dos atores em cena. Todos parecem cumprir o papel do “causar impacto momentâneo”, algo que faz com que sejam esquecidos ao final da película, algo que não acontece com o roteiro, por exemplo. A planificação de Nakata é extremamente limpa. Não há trepidações, câmera na mão, excesso de travellings e zoom. Os primeiros e primeiríssimos planos são usados de forma cinematograficamente correta, e mesmo a fusão entre música e ruídos dá um brilho todo especial ao mundo acusmático do filme. As cenas dos flashbacks são tremendamente bem filmadas, e os planos e ângulos usados destoam daqueles que vimos durante todo o filme, gerando um maravilhoso efeito de estranhamento – embora muita gente não tenha identificado “o que havia de diferente ali, além da cor. Gosto de todo o plano-sequência em Oshima. O diretor capta maravilhosamente, junto a atmosfera densa do filme naquele momento, aquilo que o cenário lhe oferece, com planos um pouco mais curtos e mais escuros que o resto do filme. Os ângulos vazios, desfocados e os silêncios também se sobressaem com louvor, integrando-se de forma muito sutil a todo o filme.

Original: No plano artístico, Ringu perde feio até para outros filmes asiáticos do gênero, como Espelho, Silk e Gin guai, mas mesmo assim se mantém como uma boa produção. A tonalidade do filme é geralmente muito escura, não monocromática, apenas escura. Os figurinos seguem a mesma tendência, com exceções dramáticas: Sadako, a origem do mal, é a única que usa branco. Não há, além dessas observações, muita coisa a destacar. Ringu é um filme artisticamente medíocre.
Remake: a estesia provocada pelos recursos artísticos surgem principalmente pelo uso de uma fotografia intensa, que revela momentos climáticos bastante diferentes entre si. Podemos perceber claramente que características serão apresentadas quando observamos o filme e as suas diferentes tonalidades de cor e de iluminação. A trilha sonora é bem executada na maior parte do filme, mas é inegável que Verbinski cai no erro comum dos cineastas de filme de terror e, então, tenham acontecido sustos provindos de um aumento inesperado da música. Mas isso não é um problema para o filme, que se desenvolve bem artisticamente.
5. Entretenimento
Original: Muito mais que servir como entretenimento, Ringu serve como experiência cinematográfica. A história e o modo como é contada nos coloca em uma situação muito estranha ao final. Esse sentimento vai muito além do cinema como reprodução mecânica e do espectador como consumidor passivo de quilômetros a rodo de ópio óptico. O final de Ringu nos toca, faz ter um pouco de raiva ou incita o riso nervoso. Ao invés da erradicação do mal, a sua propagação... Muito bom. Recomendado para todos os que gostam de um bom terror psicológico.
Remake: O Chamado surgiu como sucesso imediato. Parece que todos que o viram simplesmente o consideraram a melhor estória de terror já contada e então todos que não viram desejaram ver. E eu, honestamente, não conheço quem não goste do filme. Penso que ele entretenha e que, mesmo tendo alguns erros, seja uma boa obra para entreter e divertir o público. Compreendo que muitas pessoas não entendem o tom psicológico do filme e consideram-no bom apenas ele é capaz de causar medo. Mesmo que não seja totalmente anticonvencional, o filme de Verbinski não é uma obra mediana – ele é mesmo recomendável, principalmente para quem gosta do gênero terror com enfoque numa vertente dramática psicológica.
• Opinião do Luiz Santiago
a) Você acha o remake válido? Sim. A versão de Gore Verbinski (diretor que um ou dois filme ótimos no currículo) traz elementos técnicos e um apuro estético mais pontual, o que o retira da lista de remakes descartáveis. Não o acho melhor que Ringu, apenas válido, e com pontos técnicos melhor trabalhados.
b) Você acha que o remake faz jus ao filme original? Guardados os parâmetros culturais e diferença de quatro anos de um para o outro... sim. É inegável que a atmosfera macabra permanece no filme de Verbinski – claro, filmada de outro modo – o que o faz se aproximar de sua fonte.
c) Qual obra te agrada mais? Ringu, de Hideo Nakata. Mesmo com os tropeços técnicos, o filme convence e traz um tema que me chama muito a atenção. A filmagem do diretor e o trabalho com o roteiro me agradam bastante também, muito mais que a versão estadunidense.
• Opinião do Luís
a) Você acha o remake válido? Acredito que seja válida por mostrar diferenças culturais em relação ao Japão e ainda por ser esteticamente mais trabalhada. A produção estadunidense, ainda que recorra a alguns artifícios meio bobos se comparados ao original conseguem imprimir um tom mais feroz de assombro.
b) Você acha que o remake faz jus ao filme original? Acredito que sim, porque, como disse, o filme consegue reestruturar a história para que ele caiba dentro de sua proposta (que é mostrar a cultura americana diante de tais fatos) e ainda consegue aprimorar algumas coisas que ficam no nível mediano da outra obra.
c) Qual obra te agrada mais? The Ring, de Gore Verbisnki. Não tiro a qualidade do filme japonês, mas penso que a qualidade técnica seja consideravelmente melhor no filme americano e conseqüentemente eu acabei mais envolvido no enredo do filme quando pude me transportar para perto dele e isso principalmente ocorre pela boa interpretação de Naomi Watts, que é inominavelmente superior que a protagonista do filme original.
2 opiniões:
Primeiramente gostaria de parabenizar a vocês dois pelas ótimas palavras e dizer que adorei essa ideia de "Original e Remake".
Bom... Não cheguei a assistir o filme original, portanto não posso dar uma opinião comparativa. No entanto, pude conferir O CHAMADO. Lembro-me bem quando eu estava em uma roda de amigos, e um deles nos contou a história deste filme. No mesmo instante fiquei muito interessado por conferir. Achei a história bem diferente de tudo que eu já tinha visto em outros filmes do gênero.
No mesmo dia eu aluguei o filme, e nesse mesmo dia, acredite... o assisti exatamente 6 vezes! Sim, pode soar como exagero, mas o filme me intrigou. Eu buscava a cada vez que o assistia pontos diferentes, observava atenciosamente cada diálogo, a construção da história chamou muito minha atenção.
Mês passado o conferi novamente com amigos, e assistimos a sequência também. Todos preferiram o segundo filme ao primeiro. Exceto por mim. Acho o primeiro indiscutivelmente melhor! Não tenho o que acrescentar em termos de qualidade do mesmo. Acho que vocês disseram tudo na resenha e não discordo de nenhum ponto. Amei o filme, recomendo e pra mim é um dos melhores do gênero.
Um forte abraço, continuo aqui de olho nas novidades! :)
Olá, sorry pelo sumiço!
Ando bem sem tempo!
Adorei esse post, vi os 2 filmes óbviamente, gostei de ambos, mas sou + o original, é difícil algum remake americano ser melhor q os filmes de terror asiáticos!
Abs! Diego!
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