16 de jun. de 2011

Harry + Max

Harry and Max. EUA, 2004, 74 minutos. Drama.
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Ultimamente, tenho visto muitos filmes que abordam o tema homossexualidade, como Tempestade de Verão, e muitos que abordam relações incestuosas, como Pecados Inocentes. Curiosamente, Harry and Max é um filme cuja abordagem se foca na relação homossexual incestuosa dos irmãos que dão título à obra.

De forma bem direta, o filme se inicia com os dois irmãos planejando uma viagem e, pouco depois, já alojados na barraca onde dormirão, surge o diálogo que nos mostra um passado tumultuado entre eles – em Bermudas, eles tiveram o seu primeiro contato sexual. Mais tarde, numa cena interessante na qual os diálogos são prioridade, os irmãos falam sobre como começaram a ter desejos um pelo outro e Max fala para Harry que desde pequeno ele nutria vontades pelo irmão e que ele sempre soube que estaria pronto para ceder e que, por causa disso, existiria algo entre e esse algo acabou acontecendo em Bermudas.

Primeiro, o roteiro se foca no caráter sexual do relacionamento, mas em nenhum momento deixa transparecer que entre eles há apenas fome de sexo. Eles se amam e isso fica evidente. Eles tentam se agradar, buscam um no outro o conforto que eles não encontram na vida agitada que levam. São estrelas do rock, suas fãs sempre os seguem, suas relações profissionais parecem superficiais e movidas pelo interesse – e isso é bem mostrado numa das cenas finais, que exibe as conseqüências da quebra de contrato entre Max e sua própria mãe, que o gerenciava em sua carreira. Considerando todos os eventos comentados sobre a vida deles – o roteiro não se ocupa em mostrar flashbacks, apenas usa os diálogos para nos fazer conhecer o passado dos personagens e também fatos do seu presente -, me pareceu aceitável que eles se procurassem a fim de saciar a carência por relações realmente embasadas em afeição.

Tudo entre eles é tratado com naturalidade, desde o sentimento fraternal que o une como irmãos como o sentimento sexual que os coloca como amantes. O sexo entre eles tem como base a afinidade e afeição, então nós – que vemos o filme com o olhar crítico que a sociedade impõe para relações incestuosas – acabamos “aceitando” a situação tensa a que eles estão constantemente expostos. Talvez esse seja o maior acerto do roteiro: saber tratá-los como irmãos e como amantes sem deixar que uma característica se sobreponha à outra. Eles não são isso ou aquilo, eles são ambos e eles admitem essa relação para si mesmos. Não têm vergonha de suas conversas, não disfarçam seu amor, são personagens bem conflituosos.

E é talvez nesse ponto que resida o erro do roteiro. Embora o que seja mostrado permita muitas deduções, o roteiro se limita a insinuar e não aborda situações mais profundas. Todo o filme se resume às cenas nas quais aparecem Harry e Max: eles fazem camping, eles viajam, eles ficam num hotel, eles fazem muitas coisas. Acabamos conhecendo apenas a perspectiva dos personagens em relação ao relacionamento deles. O interessante seria expor uma opinião de fora, mostrar a sociedade enxergando o romance que eles vivem. Numa cena, isso tenta ser explorado. Harry, bêbado, conta a uma garota com quem tanto ele quanto Max já haviam se relacionado que ele e o irmão mantinham relações sexuais constantes e ela simplesmente reage como se ele tivesse falado algo que não repercutisse o suficiente para ofender a moral dos indivíduos. Querendo ou não, relações sexuais entre pais e filhos, irmãos e irmãos, etc., chocam as pessoas porque todos nós somos criados com o ensinamento de que não é certo envolver-se em relações intra-familiares. E a garota, que deveria ser a representante da “visão da sociedade” destoa nessa cena e a invalida totalmente. A somar, há o fato de que o roteiro parece não explorar a grandiosidade de Harry e Max. Harry, por exemplo, quer entender o que motiva o irmão a agir tão impulsivamente, envolvendo-se com homens mais velhos, como o professor de ioga dele; tenta então entrar na mente do irmão. Vai atrás do professor de ioga do irmão e cria toda uma situação que incentiva o homem a reproduzir com ele o que houve entre ele e Max – e essa cena parece ridícula no filme, porque ela não significa nada, de tão boba que ela se tornou quando o diretor optou por transformar algo obviamente tenso em algo coloridinho demais. Confesso que fiquei me perguntando: “Em que porra de mundo essas pessoas vivem? Todo mundo reage maravilhosamente bem quando descobrem que dois irmãos mantêm um caso?”. Não sou preconceituoso, mas não sou hipócrita para dizer falsamente que notícias como essas não me surpreendem a princípio. Os personagens desse filme são bem diferentes de mim; decerto vivem num lugar onde irmãos relacionam-se assumidamente.

Não cabe aos atores o espaço suficiente para desenvolverem um bom desempenho. Isso se deve ao outro problema do roteiro: focar-se muito no que os personagens sentem sexualmente e não expandir para outros caminhos. Então, resta a Bryce Johnson e Cole Williams apenas mostrarem-se eficientes – e isso eles fazem bem – no único tipo de cena: diálogos sobre sexo. O diretor não foi muito ousado, optou por cenas mais contidas, investiu pouco tanto na sexualidade quanto nos vários modos de retratar a mesma imagem daquele momento da vida dos personagens. Resultou num filme mediano e que, embora entretenha, soa um pouquinho repetido às vezes.

Há erros em Harry + Max e há também acertos. Infelizmente, não há equilíbrio e eu realmente tive a impressão de que os erros são maiores do que os acertos, principalmente no que diz respeito a suavidade dada a uma obra que requeria um teor mais dramático e tenso. Mas, de qualquer modo, Harry + Max me agradou com a sua história e eu me entretive, mas creio que eu estava num dia de bom humor – num outro dia qualquer, eu teria priorizado os defeitos e eu o teria considerado uma obra ruim. Então, cabe a você decidir: veja-o e me fale.

Luís

1 opiniões:

Jefferson Reis disse...

Nunca me interessei por este.