4 de mar. de 2012

Amor, Sublime Amor

West Side Story. EUA, 1961, 151 minutos, musical. Diretores: Jerome Robbins e Robert Wise.
Um musical que realmente não tem o mesmo encanto de outros títulos do mesmo gênero e que não entretém o espectador durante sua longuíssima exibição.

West Side Story foi o grande filme de 1961. Na cerimônia do ano seguinte do Oscar, o filme concorreu em 11 categorias e conquistou 10 estatuetas, inclusive a de Melhor Filme. Tornou-se o musical com o maior número de premiações da história dos Academy Awards. Parece que a “história do lado oeste” é apreciada por muitos cinéfilos e penso que muitos consideram esse como um dos melhores musicais já lançados.

Em claras referências à obra shakespeariana Romeu e Julieta, West Side Story nos apresenta a história de dois grupos rivais que disputam uma área de Manhattan. Os Jets têm origem anglo-saxônica e os Sharks são latinos, mais especificamente porto-riquenhos. A situação se torna ainda mais complicada quando Tony, um dos fundadores dos Jets, se apaixona por Maria, irmã do líder dos Sharks. 

 O casal chato que encabeça o romance no filme.

O filme foi baseado numa produção teatral para a Broadway que, por sua vez, se baseou no romance de William Shakespeare. O tempo todo nós percebemos as semelhanças entre o texto do autor inglês e a história desse filme estadunidense. Os Jets e os Sharks são evidentemente os Montéquio e os Capuletos, respectivas famílias de Romeu e de Julieta. Embora o filme dialogue a todo o momento com a obra literária, penso que o filme seja bem mais precário em sua concepção do amor dos personagens principais. Alguns podem dizer – como inclusive já li opiniões com esse argumento – que todo musical apresenta um romance que se inicia à primeira vez e segue a estrutura de West Side Story. Ao comparar esse filme com outro do mesmo gênero – Moulin Rouge, por exemplo – chegaremos à conclusão de que as estruturas são mesmo semelhantes. Tal como Maria, Satine também se apaixona à primeira vista; tal como Tony, Christian também se sente atraído logo no primeiro olhar. E o casal de 2001 repete praticamente toda a trajetória de amor e tragédia que acontece com o casal de 1961. Para mim, no entanto, há notáveis diferenças entre as duas obras e creio que elas se devam, sobretudo, à direção do filme.

Acho que falta clima em Amor, Sublime Amor. Tomemos como exemplo o primeiro encontro de Tony e Maria: num baile, enquanto os Sharks e os Jets rivalizam num ringue elegante de dança, os dois protagonistas se observam por três segundos e então se apaixonam. Embora haja um momento musical para esse momento deles, não há ênfase adequada para que aquele amor à primeira vista seja crível. Achei-o simplório demais, paupérrimo demais, insosso demais. Falta também uma intensidade maior em praticamente todas as cenas. Os números musicais são muito parados às vezes; algumas canções parecem desajustadas; o desenvolvimento de algumas cenas são tão absurdamente convencionais que me surpreendeu os dez prêmios conquistados. Voltando agora ao filme com o qual o comparei, poderemos ver que o oposto é percebido: Moulin Rouge é bem mais vívido, em todos os aspectos, do que Amor, Sublime Amor. Curioso, porém, pensar que Robert Wise e Jerome Robbins, diretores de West Side Story, foram indicados e receberam o prêmio por Melhor Direção – Baz Lhurmann, no entanto, nem sequer recebeu uma indicação por Moulin Rouge.


De certo, penso que não haja muito que contar em Amor, Sublime Amor. O roteiro praticamente não mostra nada – tanto é que Tony e Maria se apaixonam num dia e no outro tudo acaba. O problema do não-desenvolvimento não consiste em a história acontecer num único dia; outros filmes têm estrutura de roteiro semelhante, como, por exemplo, Direito de Amar, no qual todos os eventos acontecem no último dia de vida do personagem central. O problema de Amor, Sublime Amor está no afastamento provocado pelo namoro monótono do casal central. Eu nem sequer achei que elas fazem jus à categoria de protagonistas da história. É um amor pouco envolvente, que não mostra quase nada. Infelizmente, isso foi mal estruturado. E nem sequer acho que os atores têm química. Natalie Wood parece se ajustar bem à personalidade de Maria: a atriz parece muito esvoaçante, completamente sonhadora; sua expressão demonstra puro afeto e simpatia. Richard Beymer, por sua vez, não acrescenta nada à correta interpretação da atriz, de modo que, nas cenas juntos, ele parece atrapalhá-la ou até mesmo reduzi-la. Considerando a química entre os atores, afirmo sem medo que eu não gostei do relacionamento deles.

A respeito das atuações, dou a Rita Moreno o grande crédito pela minha simpatia pelo filme. Adorei as cenas em que ela aparece, adorei ouvi-la cantar e dançar, adorei o modo como ela flerta com o espectador através dos olhares e das expressões. Sua cena de grande destaque decerto é aquela em que canta América e, já no final do filme, aquela em que conta uma mentira para entristecer Tony e fazê-lo desistir de Maria. Gostei mesmo de sua interpretação e achei muito válida a indicação. Como ainda não assisti à interpretação de todas as atrizes que concorreram com Rita Moreno, não posso dizer se achei o prêmio justo, mas garanto que ela realiza um brilhante desempenho como Anita. George Chakiris também se mostra bem em cena, mas não radia tanto quanto sua colega de elenco. Como Bernardo, ele compõem uma figura interessante, de trejeitos firmes e opiniões irredutíveis. No pouco tempo em que aparece, dança bem, canta bem e também interpreta corretamente. Não acho, porém, que sua atuação lhe é suficiente para a conquista de uma estatueta. Achei que lhe foi dado muito sobre valor.

Honestamente, creio que Amor, Sublime Amor seja um musical mediano. Não me agradou por completo, tanto é que algumas músicas me deixaram sonolento e até dei um flashforward, porque estava cansado da cantoria sem ritmo e não-melódica de Tony. Acho que é uma obra muito sobrevalorizada, inclusive pela própria Academia, que lhe concedeu tantos prêmios, colocando-o num patamar acima de outros bons filmes, como Julgamento em Nuremberg. A fotografia colorida e as coreografias são o que de Amor, Sublime Amor tem de melhor. Mas, mesmo assim, apesar de muito boas, não tornam o filme melhor. Como disse, é um musical bem mediano.

4 opiniões:

Rodrigo Mendes disse...

Discordo meu caro, respeito a sua opinião e você colocou o que acha muito bem, mas acho West Side Story um filme encantador e não entretém você não é? Seria bom não generalizar.

É um grande musical em minha opinião. Eu já me irrito facilmente com o Baz, seus filmes são histéricos demais, mesmo sendo visualmente notáveis.

Natalie Wood canta e encanta!
Eu gosto e gosto nem discutimos.

Abs.

Júlio Pereira disse...

Concordo. Fiquei bobo quando assisti, não consegui entender como levou 10 Oscars. Daqui alguns anos, vão questionar como O Discurso do Rei levou tanto prêmio e vão ficar também sem respostas, imagino. hahah

Mas achei sem ritmo, lento, não entretém mesmo - a mim -, as cenas musicais são sem energia e poder, só Natalie Wood salva. Mas não acho ruim também, tem lá seus aspectos positivos. O problema é a expectativa em volta dele.

Talvez os entusiastas do cinema clássico amem. Mas pessoas que conseguem avaliar um clássico assim como avaliam um filme moderno, podem se decepcionar.

Matheus Pannebecker disse...

Amo musicais, mas esse simplesmente não me convenceu. Não aguentei nem até o final...

Srta. N disse...

Este filme pra mim foi questão de estado de espirito... Um dia não consegui sequer ver até o meio e no outro vi e ainda chorei no final! Então minha opinião é dividida. Não é o melhor musical do mundo, mas se o expectador tiver o minimo de sensibilidade vai sentir o que o filme se propõe a mostrar =)