24 de mar. de 2012

Atração Fatal

Fatal Attraction. EUA, 1987, 124 minutos, thriller. Diretor: Adrian Lyne.
Glenn Close compõe uma personagem de tal modo que nem depois que o filme termina nós somos capazes de nos esquecer dela!



Esse aclamado filme de Adrian Lyne rendeu ao diretor e aos atores excelentes elogios, foi indicado a vários prêmios e – me lembro bem – passava às vezes nas sessões de filmes tarde da noite. E eu sempre fiquei curioso em relação a essa obra; somente há pouco tempo, porém, pude conferi-la e chegar à minha conclusão acerca dela. Posso adiantar que Fatal Attraction me fez constatar três coisas – comentarei sobre elas abaixo.

Dan Gallangher é o advogado de uma editora. Durante o lançamento de um livro, no qual está com a mulher e com um casal de amigos, ele conhece Alex Forest, uma editora transferida recentemente. Algum tempo depois, num final de semana em que a esposa e a filha Ellen viajam para a casa dos pais dela, Dan e Alex têm um encontro casual e passam o final de semana juntos – o que mostra ser uma experiência sexual interessante para ambos. O problema é que Alex não compreende que foi um encontro rápido, sem intenções de se tornarem amantes. Ela então se mostra insistentemente inconveniente quando decide que fará parte da vida de Dan custe o que custar.

A primeira constatação a que cheguei foi: sexo casual pode ser perigoso. E eu não me refiro às doenças! A personagem Alex é provavelmente uma das personagens mais perturbadas do cinema. Ela simplesmente não aceita um não, ela não consegue compreender a realidade que a cerca e os limites que devem ser respeitados. Ela assusta mais ainda por ser absurdamente real. Tenho certeza de que todos conhecem alguém que já se envolveu com uma “Alex”. O que mais me agradou no roteiro foi a preocupação em trabalhar essa personagem, principalmente no quesito psicológico. Vamos analisá-la: primeiro, ela se mostra completamente centrada e madura, tanto é que usa esse argumento para convencer Dan de ir pra cama com ela. “Somos adultos”, ela diz. Depois, ela cobra dele algo que ele não havia lhe prometido, como por exemplo, passar o final de semana todo com ela. Ainda assim, ela consegue convencê-lo de modo muito espontâneo e sensual, o personagem e o espectador são envolvidos pelo charme dela. Destaque especial para a cena em que eles brincam de bola com o cão no parque, uma cena fabulosa! Mais tarde, a personagem surta entre um humor muito variável, que oscila entre a individualidade e o pensamento de incluir Dan em sua vida. Quando ela diz que está grávida, ele afirma que talvez seja a sua última chance de ter uma criança e que a decisão de ir adiante com a gravidez não tem nada a ver com Dan; mais tarde, contraditoriamente, ela fala com convicção que deseja que ele assuma as suas responsabilidades como pai do seu filho e que faça parte da sua vida. Alex é uma criatura perigosa exatamente por ser cuidadosamente invisível: destrói o carro dele sem ser vista, conversa com a mulher dele sem despertar suspeitas. Ela é um perigo sutil que o ronda e que coloca em estado de alerta toda a sua família.

Se o roteiro é muito generoso com Alex, ele falha em outros aspectos. O primeiro de todos refere-se exatamente a Alex: o roteiro a engrandece, mas lhe limita o espaço no filme, tornando-a quase coadjuvante dentro de uma história na qual ela é uma das personagens centrais. O affair entre Dan e Alex é tratado de modo muito insuspeito; Alex está em todos os lugares onde Dan está e os dois têm conversas estranhas na estação de trem, no escritório dele, na rua, no edifício onde ela mora. Na vida real, decerto a esposa dele ficaria sabendo rapidamente de que o marido provavelmente está tendo um caso devido aos boatos que ouviria. Achei o roteiro frágil nesse aspecto. Curiosa a cena em que Alex leva a filha de Dan e Anne para o parque. Fiquei me perguntando: que tipo de escola libera uma criança para alguém que não seja um dos pais ou para alguém que não esteja devidamente autorizado a pegá-la? Outra falha, bem grotesca, do roteiro, que somente teve a intenção de acentuar ainda mais a interpretação dramática da atriz que interpretaria a mãe de Ellen e a esposa de Dan.

A segunda conclusão a qual cheguei é: Michael Douglas pode ser um bom ator. Vi alguns filmes com ele que não me convenceram exatamente de que ele era bom em atuar, mas, ao ver Atração Fatal, concluí que ele é capaz de proporcionar uma interpretação consistente e admirável. Como Dan, ele me fez ficar tenso também, me convenceu de que sentia cada momento de incômodo e angústia. Por isso, eu o elogio. Glenn Close me surpreendeu também, mas eu nunca desconfiei que ela fosse uma atriz pela metade. No entanto, credito à sua personagem o mérito pelo meu apreço. Esse é um daqueles casos em que a personagem é bem maior que a atuação da atriz. Se não fosse Glenn, talvez a atuação fosse um pouco menor – provavelmente diferente -, mas creio que qualquer outra atriz do seu nível que a substituísse estaria bem em cena. Anne Archer não me surpreendeu muito, para mim a sua atuação é aceitável e correta, com pequenas escorregadas, principalmente no que diz respeito ao seu modo tranqüilo de falar mesmo em situações que requeriam um tom de voz mais determinado e agressivo. Não entendi bem o porquê de sua indicação, considerando que vi no seu trabalho apenas o tom correto, nada que a eleve a um patamar que lhe valha uma indicação.

A direção de Adrian Lyne ostenta as nuances de que o filme precisava para se estabelecer como obra cinematográfica recomendável. O diretor soube captar os melhores momentos e melhores ângulos, tanto dos personagens quanto das cenas, independentemente de quais sejam. Nas cenas de sexo, o diretor soube bem como filmar o encontro agressivo, o desejo instantâneo e o êxtase dos personagens; nas cenas de perseguição, como quando Alex vigia a reação de Dan no estacionamento e depois o segue na rua; na cena final, muito bem dirigida e ensaiada, pecando apenas pelo clichê da surpresinha da quase-morte de Alex.

A terceira conclusão a que cheguei é: um telefone com ruído estridente que toca insistentemente ao longo de duas horas de filme consegue irritar qualquer espectador, mesmo o mais calmo deles. Acho que esse é outro problema do filme. No começo, o telefone que toca causa pressão no personagem e no espectador; ficamos pensando que pode ser Alex ligando para atormentar Dan ainda mais. No final, enquanto Dan está agoniado e tenso com o telefone, eu estava simplesmente com vontade de assistir o resto do filme com o mute ligado, de modo a não ter que ouvir aquela porra tocando. Ficou evidente para mim que aquele foi o recurso utilizado para esconder a falta de criatividade do roteirista, que não conseguiu pensar em nada mais assustador do que um telefone que toca. Falo sério, devo ter ouvido aquele irritante “trrrriiiimmm” oitocentas vezes!

Creio que Atração Fatal seja um filme interessante, que rende um entretenimento bom a quem o vê. Não é nenhuma obra-prima, eu mesmo esperava bem mais dele, acreditava que veria um thriller muito maior. Atende às expectativas, mas não chega a ser incrível. Destaque para a boa fotografia e trilha sonora, que acrescentam intensidade maior às grandes cenas do filme. Sabem, depois de ver o filme, o que me ficou na cabeça foi: “com quem será que posso repetir a cena do elevador?”.

5 opiniões:

Alan Raspante disse...

A atuação de Glenn Close é, pra mim, a melhor coisa do filme. Claro que a personagem ajuda, e muito, mas creio que outra atriz não teria feito um trabalho tão bacana como ela.

Repetir a cena do elevador?
Nem te falo nada, hahaha

Kamila disse...

Eu gosto muito desse filme. Acho a história muito bem estruturada, especialmente na forma como mostra o relacionamento entre a personagem da Glenn e o do Michael se tornando uma verdadeira obsessão por causa do caráter doentio da Alex Forrester. É uma grande atuação da Glenn Close. E, se esse filme pudesse ensinar aos homens algo é que eles não podem sair traindo por aí com qualquer uma! rsrsrs Existem muitas Alex Forresters por aí! rsrsrs

Rafael W. disse...

Não acho filme em si grande coisa, mas Glen Close, de fato, faz tudo valer a pena. Ela está assustadora!

http://cinelupinha.blogspot.com.br/

Hugo disse...

Mesmo não sendo um grande filme pelas falhas no roteiro que vc citou, o filme é competente nas cenas de sexo e na feroz interpretação de Glenn Close.

Na época o filme assustou muito homem casado que tinha amante...rs

Abraço

Júlio Pereira disse...

Um dos meus pecados cinéfilos é nunca ter assistido o tão comentado Atração Fatal. Dito isso, fiquei instigado com seu texto - já que nada me motivou muito a ver o filme até hoje. Quanto ao Michael Douglas, ele é um dos maiores atores vivos. Claro, não é tão bom quando seu pai. Mas chega a espantar seu desempenho em Wall Street e Traffic, por exemplo.