30 de nov. de 2011

Burlesque

Burlesque. EUA, 2011, 199 minutos, musical. Diretor: Steve Antin.
Diferentemente da maioria dos musicais que vejo, Burlesque parece desprovido de muitos aspectos que tornam um filme musical memorável. Nem sequer as canções compensam a ausência de roteiro.

Já disse inúmeras vezes e torno a repetir a cada nova vez que eu for escrever sobre um filme musical: eu gosto desse gênero. Gosto mesmo, gosto com sinceridade – posso passar a tarde toda assistindo à história de pessoas que, em vez de falar, cantam! No entanto, acho importante que um filme composto na estrutura de uma obra musical não use isso como desculpa para não apresentar um bom roteiro. Para mim, Chicago, Moulin Rouge, Rent, por exemplo, são filmes musicais em que, somado às boas músicas, há um roteiro interessante, que vale a pena ser analisado cuidadosamente.

Burlesque é um filme recente, que é encabeçado por duas estrelas primeiramente cantoras, o que deveria favorecer imensamente as cenas que primam pela qualidade vocálica. Não se pode comparar o talento vocal de Cher ao talento vocal de Nicole Kidman, porque nos seria evidente que a comparação seria um pouco injusta, principalmente quando pesarmos que, embora ambas trabalhem com a voz, Cher já está muito mais apta aos grandes esforços que cantar requer. Acrescentamos a esse fato – de que as lead actresses são cantoras profissionais – a informação de que Cher já conquistou um Oscar, o que nos faz supor que sua capacidade de atuação seja – ou tenha sido, um dia – boa. Aí, faço então a pergunta maior: como pode um filme com potencial para ser tão bom se tornar tão cansativo? A resposta é simples: o roteiro é mal estruturado e a história é mal conduzida.

Praticamente esses são os piores defeitos de Burlesque. Ouso dizer que a história de Alice, uma garota caipira que vai tentar a vida em outro lugar – no caso, a casa de shows que dá título ao filme –, poderia ser interessante, ainda que esse mote já esteja muito gasto. Deparamo-nos com uma história básica bastante clichê que não é explorada de um modo interessante, restando ao espectador pedaços de vários outros filmes e toda uma sensação de que tudo em cena já foi visto antes. Não sei o quanto eu devo comentar sobre Cher e Christina Aguilera, porque não sei exatamente se era esperado que elas atuassem: é visível ao longo do filme que a intenção principal do diretor era nos presentear com canções e números musicais de estética visual muito positiva e não exatamente com aquilo que as atrizes tinham para oferecer. Muitos alegarão que esse é, afinal, um filme musical, não um drama – aí se contrapõe o argumento, bastante sólido, de que todo filme deve apresentar os requisitos básicos para que seja considerado uma boa obra – direção eficiente, abordagem inovadora por parte do roteiro, atores empenhados, edição de cenas eficaz etc. Independentemente do gênero da produção cinematográfica, é necessário que certas regras sejam obedecidas.

Ainda que atuação não seja o aspecto mais marcante do filme – aliás, nem chega perto de sê-lo –, o filme aposta na estética visual e busca capturar a atenção do espectador com muitas coreografias. Isso não se mostra positivo, porque há números musicais em excesso para completar a ausência de história e para disfarçar o modo como os personagens são chatos e superficiais. Mal uma cena de música termina, já começa outra de dança; ao final dessa, surge uma nova cena. Isso parece tão interminável que o filme de duas horas parece ter cerca de quatro horas. Nem mesmo quando eu assisti ao filme Cleopatra, de 192 minutos, eu fiquei tão cansado quanto fiquei ao conferir Burlesque, que possui mais de uma hora a menos. Aliás, é também impressionante o modo como conseguiram estender um filme que, ao meu ver, não precisaria de mais do que 90 minutos para começar, se desenvolver e ser concluído – penso até que um bom diretor teria nos apresentado essa história em 70 minutos, nos poupando de toda a preguiça que surge conforme o filme se desenvolve (ainda que não haja qualquer desenvolvimento). Tudo em Burlesque é tão plano que cansa: os personagens são sempre os mesmos, as cenas são sempre as mesmas. Não é que seja impossível assisti-lo, afirmo com segurança que é fácil vê-lo; é preciso, no entanto, muito bom humor e paciência, ou, talvez, seja necessário ser fã de uma das atrizes-cantoras ou talvez das duas.

Assistir a Burlesque é, de certa forma, meio embaraçoso, pois percebemos que esse é um filme que não cumpre com nenhuma de suas propostas. Não entretém tanto quanto pretendia entreter, não anima com os seus números, não faz rir, não é dramático. É tão mediano que dois dias depois de vê-lo eu já tinha me esquecido de tudo, inclusive do nome da personagem principal, que eu nem lembrava mais se era interpretada por Christina Aguilera ou por Cher - aliás, querida, você já esteja bem melhor lá na década de 80, hein, principalmente em Moonstruck! Acredito que haja inúmeros outros filmes bem mais interessantes, com realizações mais cuidadosas e que merecem muito mais a nossa análise. Burlesque é um título que provavelmente será esquecido, até mesmo pelas pessoas envolvidas nessa produção.

7 opiniões:

Guilherme Z. disse...

Várias vezes já peguei esse filme na mão na locadora, mas sempre desisto. Lendo seu texto fiquei com vontade de ver, embora tenha um pé atrás com as protagonistas.

Mateus Marcelini disse...

Pois é, o tema do burlesco voltou, e podia ser muito bem explorado por um bom diretor, com um bom roteiro, pra trazer de novo à cena do cinema esse clima sensual, aliado ao humor bufão.

Me lembro de um espetáculo/festa burlesco apresentado por um grupo teatral de Curitiba, cujo nome não me lembro, que assisti/participei em Ribeirão Preto. Muito bem montado, envolvente, engraçado, sensual, excitante, enfim, tudo o que o filme deveria ser... mas não foi.

Alan Raspante disse...

O problema dele é realmente o roteiro, ou a falta dele. O roteirista apenas fez uma colação de outros musicais... Percebe-se varias "imitações". Não nego, que o filme me entreteu de certa forma, mas merece um 0 bem redondo pelo o que não é e queria ser.

Abs.

Rodrigo Mendes disse...

Eu também gosto de musicais Luís, assim como de ficção-científica e faroeste, gêneros na sua totalidade diferença que chegam a resultados limites. Mas nem todo filme de pessoas que cantam e falam pouco eu gosto. Alguns chegam a irritação como, desculpe, Moulin Rouge! que a maioria ama - gosto de algumas partes, mas depois o nível de dor de cabeça vai subindo - não posso dizer muito de Burlesco ( o filme), eu gosto das apresentações circenses e teatrais e ver mulheres com sua beleza particular e exótica fazendo grandes números no palco, mas desta premissa eu fugi. Não sou fã de Aguilera e já fui mais fã de CHER, no cinema. Bom, o posto de lenda diva no palco ainda é dela.

Abs.

Márcio Sallem disse...

Não resistiu mesmo a escrever sobre essa bombinha. Não gosto nem um pouco, especialmente da Aguilera que não é atriz, mas sim, tem uma voz pra lá de imponente.

Unknown disse...

tb sou fã de musicais, de todas as epocas e estilos, mas esse Burlesque com tantas criticas negativas me desmotivou um bocado a assistir. Até esperava algo parecido com Dreamgirls q acho palatavel, mas pelo visto é um arremedo de numeros musicais com um fiapo de historia, aff...

Kamila disse...

Eu também adoro musicais. É um dos meus gêneros cinematográficos favoritos. "Burlesque" é aquele filme ruim, mas que de tão ruim acaba se tornando extremamente tolerável. rsrsrsrsrrsrrs