11 de nov. de 2012

Aniversário Macabro

The Last House on the Left. EUA, 1972, 86 minutos, terror. Diretor: Wes Craven.
Atores toscos, situações estúpidas, efeitos cômicos em momentos inadequados, falta de verossimilhança - e ainda assim uma obra que registra o surgimento de um dos maiores nomes do cinema de terror da atualidade.

The Last House on the Left é o filme que deu a Wes Craven o status que ele tem hoje. Na verdade, o filme apenas o lançou como um dos nomes mais freqüentemente relacionados a filmes de terror. O seu debute foi no ano de 1972 e até hoje "Aniversário Macabro" é um filme bastante cultuado, ainda que seja meio tosco se comparado aos filmes atuais.

Eu mesmo escreveria um resumo desse filme em duas ou três linhas, mas prefiro usar um texto já pronto, que vem a seguir, que, advirto, contém spoilers. "Mari está completando 17 anos de idade e junto de sua amiga Phylis, as duas irão comemorar em um show de rock. Na busca delas por carona, acabam sendo abordadas por uma gangue que as seqüestram. Elas são levadas para um lugar não longe da casa de uma delas, as estupram e matam. A gangue, por engano, acaba procurando refúgio na casa de uma das garotas. Após seus pais descobrirem que eles acabaram de matar sua filha, decidem embebedá-los e matar um a um de forma incomum e dolorosa". (fonte – cineplayers.com)

 Momento do rapto e tortura das garotas.

É exatamente por ler o texto acima que eu confirmo o quão tosco "Aniversário Macabro" é. Por essa sinopse, embasada em algo que provavelmente não é o filme, temos a impressão de que estaremos diante de uma obra repleta de situações tensas e enervantes, nas quais tanto os personagens quanto os espectadores ficarão chocados e sem reação. Não nego que há no filmes momentos bastantes sádicos, nos quais Craven capta bem os eventos agonizantes pelos quais passam as mocinhas do filme, Mari e Phylis. No entanto, essa obra está bem longe de ser isso que a maioria das sinopses que circulam na Internet sugerem. A começar, não entendo a qual parte do filme esse trecho se refere: “[...] Na busca delas por carona, acabam sendo abordadas por uma gangue que as seqüestram”. Carona? Se eu não me engano, elas estão procurando maconha. E a parte final, que diz que os pais embebedaram e mataram de modo incomum e doloroso é igualmente fantasioso. Então, sugiro que, antes de tudo, você não se atenham às sinopses que circulam por aí, porque elas são escritas pelos fãs fervorosos que aumentam exponencialmente tudo que é mostrado no filme – aí, quando resumem, saem essas pérolas.

Deixando isso de lado, vamos ao que interessa: o filme. Não me surpreende que o filme tenha atingido a quantidade de fãs que tem hoje. O filme de tal modo tornou-se cult que é difícil desassociá-lo da cultura que aborda a filmografia do gênero terror. Hoje, é impossível falar sobre filmes de terror sem citar Wes Craven e o seu primeiro filme. Isso provavelmente porque o diretor juntou uma série de elementos na sua obra – fez com que ela fosse bastante sádica, bastante violenta, bastante inverossímil, parcialmente cômica – e, exatamente por isso, muito tosca – e ainda conseguiu juntar um elenco ridículo de atores que fracassam no seu intento de nos convencer de que as situações pelas quais passam sejam reais. Admito que o filme não perde o seu charme por causa disso, acho até que isso lhe confere um ar mais interessante, haja vista que é perceptível que Craven não poderia ter feito um filme assim por erro – ele decerto o fez assim porque o queria assim (e também por inexperiência, eu acredito).

 Outro momento de tortura.

É difícil dizer o que é sério e o que não é no roteiro. Por exemplo, a situação das garotas parece bastante séria, não parece tratar-se de uma brincadeira. Toda a seqüência na qual elas são seqüestradas, levadas para o mato e torturadas parece ter intenções sérias, tanto é que o diretor atribui a essas cenas um caráter dramático notável. Não quero dizer que, por causa disso, as cenas sejam boas – elas não são porque o elenco é muito ruim e, dentre os bandidos e as duas garotas, só a intérprete de Phylis, Lucy Grantham, parece minimamente verdadeira em cena – minimamente, ressaltando. O núcleo que aborda os pais de Mari e a preocupação deles também parece bastante sério, o que me faria caracterizar esse filme como terror com um pé no drama. Há, contudo, o núcleo dos policiais e eles são totalmente anticlímax, porque eles desconstituem qualquer tentativa de fazer com que esse seja um filme de terror. Eles são tão estúpidos e as cenas que os envolvem são tão imbecis – há uma na qual eles tentam viajar sobre um caminhão que transporta galinhas – que não podemos dar credibilidade nenhuma ao filme.

É claro que as cenas intermediárias não nos chamam tanto a atenção como a estupidez máxima do ato final do filme. A suposta vingança dos pais de Mari contra os assassinos de sua filha é simplesmente medonha – no bom sentido, é claro. Eu confesso que ri com o maravilhoso plano elaborado pelos pais da menina. Vale ressaltar que eles foram bastante originais no seu repertório de vingança, pois incluíram facadas, eletrocussão, moto-serra, canibalismo e luta-livre. E o roteiro ainda torna tudo mais inverossímil e improvável, fazendo com que o espectador fique observando atentamente todas aquelas babaquices durante 15 minutos sem parar. Sério, não dou credibilidade nenhuma àquela seqüência toda, afinal, ela é muito sem noção para que eu acredite que haja qualquer menção a uma possível realidade ali.

Não posso deixar de citar que o filme é supostamente baseado em fatos reais. Não procurei informações para saber se essa informação é verídica ou não, mas de uma coisa tenho certeza: ele é fortemente inspirado – na verdade, é uma recriação, de um filme de Ingmar Bergman, chamado “A Fonte da Donzela”, de 1960. E também não devo me esquecer de que em 2009 foi lançado “A Última Casa à Esquerda”, remake dessa obra de Wes Craven. Ainda não o conferi, mas acredito que não seja muito melhor do que a obra original. Aliás, é difícil não ser “melhor” do que esse filme. Mas será que o remake manteve o charme cômico absurdo desse filme da década de 70?

5 opiniões:

O Narrador Subjectivo disse...

Quero muito ver pela história, para ver se ainda é assim tão violento e porque é do Wes Craven, mas acredito que já esteja algo ultrapassado. Gostei de ler!

http://onarradorsubjectivo.blogspot.pt/

Alan Raspante disse...

Conheço apenas o status que possui, mas não é um filme que me intriga a ver. Tem cara de ser bem dispensável mesmo.

Unknown disse...

hahaha... adorei seu texto. Para ser sincero, nunca assisti Aniversário Macabro, até porque sempre me falaram lhufas dele. Cuidado que os fãs do filme vão querer sua cabeça em um bandeja...rs

Abração!

Kamila disse...

Filmes de terror não são minha praia, mas confesso, com uma certa vergonha, que fico sempre curiosa para assistir aos filmes mais toscos desse gênero.

Ivanildo Pereira disse...

Só assisti o remake e achei péssimo. Sempre ouvi falar desse filme e nunca vi, em parte por ter um pé atrás com o Wes Craven. Pra mim, o único filme bom que ele fez em toda a sua carreira foi "A Hora do Pesadelo".