12 de jun. de 2011

Pecados Inocentes

Savage Grace. EUA, 2007, 96 minutos, drama. Diretor: Tom Kalin.
Não se trata de uma obra espetacular, dessas de que sempre nos recordaremos. Trata-se de uma produção mediana, com bons aspectos e a presença muito notável de Julianne Moore, absurdamente linda nesse filme.

O que me atraiu nesse filme, primeiramente, foi a capa dele. Uma capa tão bonita, mostrando uma mulher madura e um adolescente, mais o título “Pecados Inocentes” fez com que eu ativesse meu olhar nela um pouco mais. Então, li o nome da atriz principal: Julianne Moore. Conferi a sinopse no verso do DVD e gostei do que li, me pareceu que renderia um bom drama.

Barbara Baekeland, uma mulher espontânea e alegre, sempre teve com o esposo e com o filho um bom relacionamento. Ela e o filho tinham tanta afinidade que Brooks, seu marido, lhe dizia que o filho acabaria assumindo a posição dele um dia. Desde pequeno, o filho demonstrava tendências a homossexualidade e, ao mesmo tempo, tornou-se bem mais próximo da mãe, tornando-se quase confidentes. Então, com a brusca separação do marido, Barbara começa a entrar num estado de depressão, que a faz agir destrutivamente.

A primeira coisa que concluí ao assistir o filme foi: a sinopse escrita no verso da capa do DVD não corresponde a esse filme. Os personagens são os mesmos, mas o foco da história é bem diferente. Pecados Inocentes é um drama biográfico que busca mostrar a vida de Barbara a partir do momento que seu filho nasceu. Desse modo, somos apresentados à história que começa em 1946, em Nova Iorque, e que retrata a vida dessa mulher até a sua morte, em 1968. Sem a intenção de focar-se exclusivamente no relacionamento incestuoso entre Barbara e o filho, o roteiro do filme mostra o relacionamento dela com a família e o seu caminho em direção autodestruição a partir do momento em que o marido decide abandoná-la. Então, se você que, como eu fiz, busca o filme com o básico intuito de ver o desenvolvimento da relação entre os dois, mude de idéia, porque esse filme é vendido enganosamente.

Com um drama biográfico, o roteiro do filme funciona. Ele consegue bem mostrar as várias situações necessárias para que possamos conhecer várias faces da personagem principal. Conhecemos o seu lado carinhoso, o seu lado divertido, o seu momento espontaneamente agressivo e também conhecemos a sua vertente destrutiva e inconseqüente. Talvez o seu problema resida no fato de que, embora ele vá mostrando os acontecimentos de forma bem resumida, ele parece se arrastar. Na metade do filme, passamos por três estágios da vida de Tony, o filho de Barbara: vemo-lo bebê, criança e adolescente, encaminhando-se para a fase adulta. Eu tive a impressão de que o ritmo até então estava bem interessante, porque eu estava vendo o que era necessário, sem enrolamento. A partir da segunda metade, comecei a ficar meio cansado da súbita lentidão em que o roteiro entrou: a história parecia mostrar muito sem se desenvolver. Enquanto Barbara é personagem central o filme todo, Tony apenas passa a sê-lo a partir da metade – e é justamente quando são mostradas as cenas dele que o filme parece ir bem devagar. Tudo é narrado a partir do seu ponto de vista; entre as cenas, há comentários do personagem sobre como a sua mãe lidava com determinada situação e sobre ele mesmo, incluindo pensamentos que ele tinha e os seus sentimentos em relação às pessoas ao seu redor. Eu honestamente prefiro que as biografias sejam contadas em terceira pessoa – acredito que esse recurso dê a elas mais credibilidade.

É muito relevante para a história mostrar as cenas em que Barbara se mostra muito próxima do filme, ao ponto de percebemos que há, entre os dois, confidências silenciosas. Dou destaque à cena em que o garoto está tomando banho e os pais encontram François dormindo na cama deles – o que sugere que os garotos provavelmente dormiram juntos (embora, pela idade do garoto, creio que o sugerido foi dormir mesmo, ainda que saibamos que isso quer dizer a propensão à homossexualidade da qual falei no começo). Mais tarde, há uma cena de três personagens na cama – Barbara, um rapaz e Tony, nessa ordem – num envolvimento sexual bastante cúmplice e tenro. Assim, nós realmente temos a noção de que há entre a mulher e o filho a afinidade necessária para que houvesse mesmo uma relação amorosa e sexual. E é justamente quando esse momento chega que o roteiro estraga o filme: o tal relacionamento incestuoso que é vendido como assunto principal do que filme só acontece no final do filme – e só há uma cena, bem curta, que mostra o que aconteceu entre eles. A partir daí, o roteiro falha totalmente ao mostrar algo muito simplório, que exigia uma atenção bem maior. Os personagens parecem extremamente indiferentes ao que aconteceu com eles; como se não lhes tivesse feito bem ou mal, como se não tivesse significado nada. Depois, Tony toma uma atitude que provém de uma mente profundamente perturbada, mas o roteiro não havia mostrado antes que o grau de sua insanidade era tão grande. Eu tive apenas a impressão de que ele era um garoto triste, não que ultrapassa a linha da racionalidade. Posso depreender que, ao considerar tudo pelo que ele passou, seja aceitável a sua ação de livrar-se um peso, como ele mesmo diz, mas mesmo assim acho que era obrigação do diretor de incluir uma amostra do quão perigoso o garoto se tornara. Só para constar: achei que o clímax foi totalmente anticlimático, já que deixou muito a desejar.

Nem preciso dizer o motivo pelo qual vale a pena ver o filme: Julianne Moore. Me impressiono com a beleza dessa atriz. Não apenas a sua beleza física, mas também a sua beleza artística – mesmo em filmes ruins ou medianos, como é o caso desse, Julianne Moore se mostra sempre eficiente. Como Barbara, sua atuação é bem correta e ela nos mostra com eficácia os altos e baixos da personagem. Não sei o que pensam os outros cinéfilos, mas eu gostei muito mesmo da sua interpretação e eu facilmente a indicaria ao Oscar, mesmo com o grande problema que ela enfrenta pela má direção nos minutos finais. Eddie Redmayne, o intérprete de Tony, infelizmente está aquém das expectativas – sua atuação é muito chata e o ator parece não estar fazendo nada em cena a não ser ficar com uma expressão que seja naturalmente sua. Stephen Ducane e Elena Anaya, intérpretes de Brooks e Blanca, têm participações pequenas demais pra influir efeito negativo ou positivo no filme, mas mesmo assim estão corretos.

Não faço a mínima idéia do pensamento que passou pela cabeça da pessoa que escolheu o título nacional de “Savage Grace”, mas decerto a pessoa achou que apelar pelo recurso poético de criar antítese seria legal e nomeou o filme de tal modo. Lamentável, é o que eu digo. Não sei qual é a inocência dos personagens nem sei como ela se une aos seus pecados – só sei que isso implica um pensamento que é bem diferente do que o filme mostra. Vou explicar: juro que pensei que os personagens, por pura atração, que é involuntária (logo não é premeditada e por isso, talvez, considerada inocente), começaram o relacionamento incestuoso. Nada disso. O que acontece entre eles é impulsivo e totalmente consciente e voluntário; se o pecado existe, a inocência, não – e o título acaba não significa nada, como muitos títulos que conhecemos.

Eu honestamente achei que se trata de um filme interessante. Não é uma grande obra, é apenas mediano, mas mesmo assim merece ser conferido, principalmente pela excelente interpretação de Julianne Moore, que está belíssima. O filme pode cansar a alguns, porque ele realmente não é muito dinâmico, porém é capaz de entreter se você não o conferir com uma visão muito crítica.

Luís

3 opiniões:

Alan Raspante disse...

Tenho curiosidade em conferir pela presenção de Julianne Moore e nada mais...

Rafael W. disse...

Achei bem chatinho, mas vale pela Julianne Moore.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Matheus Pannebecker disse...

Esse é aquele tipo de filme que tinha tudo para ser marcante, mas não foi. Com exceção da Julianne Moore e dos bons figurinos, tudo é frio e distante. Não aprovei.