25 de jul. de 2012

Pasqualino Sete Belezas


Pasqualino Settebellezze. Itália, 1975, 115 minutos, comédia. Diretora: Lina Wertmüller. Uma obra divertida acerca de uma personagem bastante peculiar.
O personagem-título é decerto uma figura bastante curiosa: o homem, Pasqualino, cresceu numa família de muitas mulheres – sua mãe e sete irmãs (as belezas a que o título se refere) – e sempre foi motivado por aquilo que lhe interessa. Nunca pensou em outra pessoa que não a si mesmo, configurando-se assim como verdadeiramente amoral – jamais considerou nada além de si mesmo. É justamente pela biografia dessa criatura que Lina Wertmüller tornou-se um marco na história do Oscar: fez por merecer a sua indicação na categoria Melhor Direção, tornando-se a primeira – e por 18 anos, a única – mulher a conquistar um lugar numa categoria notadamente de predominância masculina.

Preciso dizer que a direção é, provavelmente, aquilo que mais se destaca no filme. Lina conseguiu eficientemente escolher com excelência tudo que usaria no filme, optando desde uma edição bastante eficaz até os melhores ângulos que mais auxiliavam a tensão dramática de seus atores. Tenho a impressão de que as atuações são boas como são em parte por causa de todo o ambiente e do modo como ele é captado pelas lentes da diretora. O trato com os atores, aliás, é algo a se considerar e a elogiar – Lina soube bem extrair deles aquilo que era necessário para angariar sua produção e torná-la reconhecida fora da Itália.


Pasqualino: o malando boa-pinta que conquistar as moças por onde passa.

Acredito que o fator que faz com que simpatizemos coma figura de Pasqualino é a sua amoralidade. Tudo o que ele faz, bem percebemos, não é contra ninguém, mas ao seu próprio favor – mesmo que isso, eventualmente, implique ser conta alguém –, como se ele apenas pudesse distinguir as coisas entre o que lhe faz bem e, portanto, merece sua atenção, e aquilo de que ele precisa se afastar, custe o que custar. Não é à toa que tudo o que vemos na sua trajetória decorre exclusivamente da sua tentativa de se aproveitar daquilo que lhe é conveniente, ainda que a coisa, qualquer que seja, se mostra a ele desfavorável. Aliás, é daí que vem o humor do filme: parece que a vida de Pasqualino é uma trajetória de erros que, a princípio, pareciam ser escolhas não muito problemáticas, apesar de duvidosas, como vemos quando ele tenta amedrontar um homem apontando uma arma para ele, apertando o gatilho sem querer.

A trama começa com o personagem fugindo de algum lugar. A partir daí, começamos a conhecê-lo melhor através dos flashbacks que nos apresentam sua vida em Nápoles e o seu problema com um homem cujos investimentos financeiros faziam com que uma de suas irmãs – uma das sete belezas – se submetesse àquilo que Pasqualino considerava vulgar – o resultado: o homem acabou morto e Pasqualino, por conselho de um amigo seu, fatiou o corpo, colocou os pedaços em malas e tentou despistá-las. No entanto, devido às denúncias da irmã, acabou preso, recebendo carinhosamente a alcunha de “O Monstro de Nápoles”, o que acabou por colocá-lo no hospital, onde prestou serviços comunitários depois de já ter cumprido algum tempo encarcerado. Paralelamente, vamos conhecemos os momentos de Pasqualino enquanto foge e o seu passado, entrando, por fim, no seu novo estado: o seu prisioneiro num campo nazista, local onde mais uma vez fará o possível para sair ileso.


Pasqualino e o obstáculo pelo qual deve passar para garantir sua segurança no campo nazista.

A edição do filme lhe dá dinâmica, o que é fundamental, já que a história em si, a meu ver, não se mostra como suficiente para entreter o espectador. Apesar de a vida de Pasqualino não ser nem um pouco chata, o enredo dela também não me motiva tanto a ponto de ver quase duas horas daquilo que é contado. Parece contraditório: o filme é, afinal, bom e sua realização é muito interessante. O produto final é elogiável, mas, ainda assim, faltou aquela conexão entre mim e o objeto dessa obra, que, reafirmo – é boa.
 
Ao assistir a esse filme, há um momento dele que me deixou estarrecido. Esse parágrafo se trata, pois, de uma homenagem à cena que me deixou perplexo, tamanha a sua qualidade e encanto. Num dos percursos de Pasqualino, ele se vê capturado e preso num campo nazista, onde vê diariamente seus companheiros de quarto serem mortos. Decidido a sair dali, opta por seduzir uma das guardas, uma mulher notoriamente fria e cruel, mas plenamente capaz de se encantar por Pasqualino, como o rapaz mesmo crê. Por fim, consegue fazê-la acreditar no seu interesse por ela, apesar de se perceber que não há nada tragável naquela mulher bruta, de olhos mal encarados. O diálogo que antecede o sexo é lindo, sendo que os dois atores estão ora iluminados por um verde néon que lhes mostra parte do rosto, ora iluminados por um verde também néon que, embora focando seus rostos, parece mais escondê-los do que mostrá-los. A cena tem seu momento catártico no sexo, quando Pasqualino se esforça para ter qualquer motivação enquanto a carcereira simplesmente se mantém quieta, quase indiferente aos esforços do rapaz, que, posteriormente, acaba compensado.
 
Penso tratar-se de um filme que tem sua relevância no universo cinematográfico, sobretudo porque ele é um dos que mais provam a competência das mulheres por trás das câmeras. Além desse seu fator sociológico que muito me atrai, a obra tem qualidades irrefutáveis e é facilmente um filme acima da média, apesar, como disse, de seu enredo não me interessar muito. Ainda assim, a estrutura do roteiro permite que o filme aconteça sem cansar o espectador, que se diverte com ele. Enfim, vejam-no.

2 opiniões:

ANTONIO NAHUD disse...

Belíssima comédia. O Giannini é fantástico.

O Falcão Maltês

Unknown disse...

Cara, lembro de ver cenas desse filme em alguma madrugada da vida. Sem dúvida é um dos mais representativos do cinema italiano, mas como vc bem ressaltou, algo me afasta da temática...