13 de ago. de 2012

50 Maneiras de Dizer Incrível

50 Ways of Saying Fabulous. Nova Zelândia, 2005, 90 minutos, drama. Diretor: Stewart Main.
Poderia ser uma obra notável dentro do universo cinematográfico, mas, por algum motivo, se torna simplesmente uma obra comum e esquecível.

Alguns filmes realmente parecem ter uma premissa verdadeiramente interessante, pois as suas propostas parecem amplas o suficiente para uma série de abordagens profundas a respeito de temas atuais e não suficientemente discutidos, como a relação da criança com a sua sexualidade, os seus métodos de escapismo, as suas idealizações e o modo como ela interage com o mundo.

Foi exatamente por causa desse pensamento – o de que esse filme abordaria o conteúdo mostrado acima – que eu me propus a vê-lo, assistindo a história de Billy e Lou, dois primos que vivem em dificuldades de lidar consigo mesmos: ele é notadamente afeminado enquanto ela se veste como um menino e age como tal. Os dois dividem os seus segredos e partilham de uma afinidade notável enquanto experimentando sensações novas que mantêm guardadas sem revelar um ao outro.

Inquestionável que o filme alcança um nível ousado, principalmente quando não busca omitir a notória inversão de gênero dos personagens. Billy é afeminado e quer tanto ser menina que se ele projeta vivendo como a personagem de sua série de televisão favorita, até mesmo adota “Lana” como seu codinome e é assim que ele é chamado pela sua prima, Lou. Esta, por sua vez, está definitivamente ligada às características masculinas, recusa-se até mesmo a vestir sutiã e enrola os seios com uma faixa para disfarçar o seu crescimento. E essa produção neozelandesa também consegue atingir bem a sua força quando apresenta publicamente a relação desses primos: as confidências deles são bastante conflituosas, eles conversam abertamente sobre muitos assuntos, desde os problemas familiares até os desejos sexuais.

Stewart Main, o diretor do filme, também não teme em suas tomadas, e por isso mesmo eu dou certa credibilidade a ele, porque acho importante saber ousar, principalmente quando os filmes atualmente estão presos numa moralidade assustadora, que impõe regras e delimita uma apresentação artística às cenas “não-impactantes”. O diretor captou bem dois momentos muito importantes na vida de Billy: primeiro, a descoberta da sua sexualidade com Roy, garoto que veio transferido para a sua escola, e depois o modo como ele projeta as suas expectativas num novo amor. Percebemos claramente o desenvolvimento desse personagem, principalmente psicologicamente, construindo então um garoto bastante complexo. Acredito que seja esse o mérito do filme – ainda que, lamento dizer, seja só esse mesmo. Num primeiro momento, conhecemos Billy concebendo a sua homossexualidade. Ele encontra em Roy alguém semelhante a ele: os dois são excluídos dos grandes grupos, são quietos, possuem características que lhes garantem constantes agressões (Billy é gordo, Roy é frágil e delicado demais) e são homossexuais ou têm tendências à homossexualidade. Então, o encontro dos dois resulta numa aproximação aparentemente inevitável – depois, isso se desenvolve e se transforma em constantes encontros nos quais os garotos se masturbam – um ao outro, inclusive.

Essa primeira construção é quebrada quando Billy conhece Jamie, um rapaz que vai morar num cômodo de sua casa, a fim de ajudar nas colheitas daquela época do ano. Então, a sensação carnal conhecida por Billy e compartilhada com Roy é substituída por outro sentimento – uma paixão mais torrencial, porém bastante comedida, por Jamie. O rapaz mais velho causa em Billy uma fascinação profunda, fazendo com que ele passe a rejeitar Roy em função de suas expectativas com o novo “amigo”, que, notamos, agüenta-o para ser educado e não está realmente interessado em manter qualquer tipo de relação com o garoto, mesmo que esse o idealize e se sujeite a momentos bastante tensos por ele. Penso, por causa disso, que Billy seja uma personagem bastante complexa, talvez muito ampla e redonda para a estrutura desse filme neozelandês.

Ainda que haja a característica positiva que citei acima, o filme peca por alguns exageros e momentos muito dispersos, quase caricaturais, que não apenas afetam o desenvolvimento da trama como ainda lhe tiram a credibilidade. Subitamente, a história de crianças entrando no mundo mais adulto se torna uma história de crimes e acidentes mortais, chocando o espectador pela perda de foco. Devido a isso, o que poderia ser uma grande história – ou potencialmente um filme notável –, torna-se um filme cuja dinâmica é ruim e cujo enredo parece meio bambo, perdido entre os diversos temas que o roteirista tentou inserir na história. Pode-se dizer que o roteiro, de um modo geral, seja o problema maior, haja vista que a direção, embora não perfeita, é mediana, as atuações – principalmente Andrew Patterson, que dá vida a Billy – são favoráveis. Mas, infelizmente, algum elemento dá errado nessa mistura e o filme se torna apenas “mais um filme”. Eu me lembro bem pouco dele hoje e o vi há pouco tempo.

1 opiniões:

Unknown disse...

Taí um filme q nunca ouvi falar, mas pela sua resenha acho q não verei. Apesar de polemizar, não me instigou como deveria, mas trazer um filme da Nova Zelandia é louvável.