26 de fev. de 2011

O Discurso do Rei

The King's Speech. UK, 2010, 118 minutos, drama. Diretor: Tom Hooper.
Muito mais do que eu esperava, esse filme me cativou principalmente pela atuação magnífica de Colin Firth, provavelmente no melhor momento de sua carreira.

Muito se tem falado sobre esse filme, produzido pela Austrália e pelo Reino Unido, no qual a história é centrada no Rei George VI, que antecedeu à atual rainha, Elizabeth II. Dentre os filmes dessa temporada de premiações, The King’s Speech lidera, recebendo indicações e prêmios nas principais premiações. E não podemos deixar de notar que esse é mais um dos filmes baseados em fatos reais, assim como The Social Network, de David Fincher, 127 Hours, de Danny Boyle e The Fighter, de David O. Russel.

Antes de vê-lo, eu realmente achei que essa seria uma obra bem chata, sem nada que fosse realmente interessante. Devo dizer que fiquei surpreso ao terminar de conferi-lo, pois, embora a história realmente não tenha nada de interessante, a direção de Tom Hooper e o elenco estão bastante corretos, o que confere uma qualidade extra ao filme em relação a pelo menos dois dos filmes contra os quais concorre, no caso, The Social Network e The Fighter. A história do Rei George VI nos é contada desde que ele atendia pelo título nobre de Duque de York e que era, a mando de seu pai, o Rei George V, a pronunciar-se publicamente, anunciando alguns avisos da corte ao povo. O problema disso residia no fato de que Albert – primeiro Duque, então Rei – tinha muita dificuldade com a fala, gaguejando demais, o que lhe tirava parte da sua credibilidade e da sua confiança.

O roteiro, como disse, nos apresenta uma história que, ao meu ver, não precisava virar filme, porque ela é deveras banal. Pessoas que têm algum tipo de dificuldade, seja motor, seja mental, seja social, e que depois sucedem realmente não é algo desautomatizador a ponto de ser uma das obras mais celebradas pelas premiações. E honestamente penso que o cinema precise de obras mais marcantes, não tão passageiras como essas tantas que foram lançadas esse ano – devo dizer: ainda que eu reconheça a qualidade de The King’s Speech, trata-se de uma obra que, em curto prazo, é esquecível. Ainda assim, também alego que, como obra fílmica, cuja única função é relatar uma história e entreter, esse filme funciona perfeitamente bem e possui qualidades notáveis, como a boa direção de Tom Hooper, que pareceu bastante seguro do trabalho que fazia, realizando um filme bastante maduro. Penso que seja esse o melhor elogio: maduro. A obra de Hooper tem um tom muito refinado e uma beleza notável, ainda que eu não tenha conseguido enxergar muita originalidade nos seus ângulos de filmagem, na sua postura diante dos atores ou mesmo uma característica tipicamente sua nesse filme. Mas considerando os recentes filmes, todos pertencendo a uma massa quase indiscernível, não me restam dúvidas de que devo elogiar esse trabalho de Hooper.

Não importa a história do filme ou a direção de Hooper. Colin Firth é a essência dessa obra. Embora eu possa imaginar alguns atores que competentemente conseguiriam realizar uma performance elogiável como a de Firth, prefiro apenas atribuir a esse ator os elogios pela sua interpretações, pois é notável que ele se agarrou a esse personagem com um furor gritante e então tornou o Rei George VI uma figura de destaque entre os indicados a melhor ator na 82ª edição dos Academy Awards. Para dar suporte à personificação de Firth, há Helena Bonham Carter e Geoffrey Rush, ambos já bastante conhecidos por alguns de seus papéis no cinema; no caso dela, podemos citar Marla Singer, de Fight Club, enquanto dele pode-se citar Quills. Honestamente, achei muito reconfortante ver que Helena Bonham Carter consegue interpretar personagens comuns, que não são particularmente esquisitas ou exageradas, nem que sejam embasados por um retrato caricatural. Como a esposa de Albert, o Duque de York, Carter faz um excelente trabalho, justificando os elogios que tem recebido. Sua atuação é contida, bastante singela – e é exatamente isso que a torna exponencialmente grande, atraindo os olhos dos espectadores para ela a cada cena em que aparece. Quanto a Rush, devo dizer que ele me parece correto. Não vi nada espetacular em sua atuação, embora isso não signifique que ela deixe a desejar, muito pelo contrário: ele está tão bem quanto os outros atores, mas penso que haja um pequeno sobrevalor que vem sido dado a ele. Indubitavelmente, dos filmes vistos até agora, esse me parece ser aquele em que o elenco está em melhor sintonia, não destoando em nenhum momento um ator do outro, todos numa evolução linear muito válida.

Dentre as coisas que já disse, reafirmo algumas. Ainda que a história por si só não seja realmente interessante, Hooper conseguiu torná-la dinâmica e vê-la é uma atividade muito válida. O elenco merece elogios pelo seu trabalho e o trabalho de cinematografia aqui é realmente elogiável, destaque especial para a cena em que Albert e Lionel caminham na neve. O Discurso do Rei não é, definitivamente, um filme marcante, mas nele há boas características capazes de torná-lo um bom entretenimento e um filme que merece prêmios – o de melhor ator, sem sombras de dúvidas!

2 opiniões:

Guilherme Z. disse...

Não assisti o filme ainda, mas pelos trechos que vi em reportagens na televisão o filme tm um visual super caprichado e rico em detalher e Colin Firth teve uma preparaão especial para viver um gago digna de quem busca o maior prêmio do cinema.

http://acervodocinema.blogspot.com
http://memoriadasetimaarte.blogspot.com

susana disse...

Fui ver este filme ao cinema e desde logo o nomeei, como o melhor de 2010. Não concordo que fosse um filme banal que se baseasse sómente na terapia da fala, foi muito mais que isso. Mostrou o lado "negro" da Realeza que também sofre por negligencia,pressões sociais maus tratos e falta de atenção e carinho. Sei sempre quando um filme vale a pena,quando este me marca e este ano, foi sem dúvida o " O discurso do Rei".