18 de fev. de 2011

A Origem

Inception. EUA, 2010, 148 minutos, ficção científica. Diretor: Christopher Nolan.
Esse diretor me prova que é capaz de fazer um filme que atinge a massa e, ao mesmo tempo, tem muita qualidade fílmica.

Esse foi um dos filmes mais comentados do ano anterior e está presente na lista dos melhores filmes de todos os blogues de cinéfilos nesse ano. Eu confesso que não tinha vontade de assistir a essa produção, mas, devido a todos os elogios que ela tem recebido, decidi que é hora de conferi-la. E admito: trata-se de uma das obras mais interessantes lançadas no ano anterior.

A obra é tão positiva que nem mesmo os efeitos especiais a prejudicaram. Explico: eu simplesmente não entendo nem suporto essa mania hollywoodiana de inserir efeitos especiais nos “grandes” filmes a fim de atrair a atenção do público para o que acontece de fascinante da tela. Em A Origem, porém, os efeitos são extremamente necessários para que consigamos compreender toda a essência da trama, que nos mostra o mundo dos sonhos e o mundo da realidade, planos que às vezes se confundem no consciente e no subconsciente de uma pessoa. O personagem central dessa produção é Cobb, uma espécie de “ladrão”: ele invade a mente da pessoa através dos sonhos e lhe rouba informações importantes. Ele é foragido e perseguido pela lei, exatamente por isso não pode rever os seus filhos nem voltar para a sua vida antiga. Surge diante dele a oportunidade de modificar isso – uma última proposta de emprego lhe propõe que, em vez de roubar uma informação secreta, ele insira uma idéia na cabeça de alguém. Se bem realizado, sua tarefa garante sua absoluta absolvição e lhe permite viver dentro da lei novamente.

Como percebemos, a situação de Cobb é bastante delicada e também a sua capacidade lhe garante oportunidades únicas, como investigar a fundo o que uma pessoa pensa e quais são os seus mais valiosos segredos. Quando o seu trabalho não é mais roubar, e sim inserir um pensamento, ele é obrigado a reunir um time de companheiros para lhe ajudar a concretizar o seu plano. Eis que entram os outros personagens, como Ariadne, a responsável pela construção dos níveis de sonho; Arthur, ajudante de Cobb; Eames, um imitador, capaz de se fazer passar fisicamente por qualquer outra pessoa. O roteiro do filme nos apresenta a vários personagens, cada um com uma função importante na trama, então, mesmo que pareça haver personagens demais, o roteiro dá conta de explicar a finalidade deles e conceder a todos motivos racionais para a sua presença na trama. De certo modo, fui remetido ao filme Matrix, onde os personagens viver duas realidades: uma virtual e outra real. Algo semelhante acontece nesse filme, ainda que a proposta filosófica seja diferente. Em Inception, somos apresentados à estrutura do sonho – como ele funciona, como nós o presenciamos, como interagimos dentro dele. Não nego que é interessantíssimo ter consciência de certas coisas que, de tão cotidianas, mal percebemos, como o fato de sempre nos lembrarmos de um sonho no meio dele, nunca como ele começou. É interessante o modo como o roteiro cria subníveis dentro da trama e conecta perfeitamente uma coisa à outra, fazendo com que possamos compreender com bastante clareza o que está havendo. Decerto é um bom roteiro, que merece atenção especial.

O elenco do filme também é bastante elogiável. Na verdade, acredito que toda a força interpretativa se resume aos atores Leonardo DiCaprio e Ellen Page, ambos em excelentes momentos de suas carreiras, nos concebendo momentos de tensão e ao mesmo atuando numa sintonia muito notável. A garota praticamente aparece junto com DiCaprio e todas as suas cenas parecem estar relacionadas às dele, mas mesmo com essa intensa subordinação, ela consegue atrair a atenção para si. Os outros atores também estão muito bem, mesmo aparecendo pouco. Joseph Gordon-Levitt, mais memorável pelas suas personificações nos filmes Mysterious Skin e (500) Days of Summer, se mostra eficiente como coadjuvante e mostrando uma atuação consistente, mesmo que apareça em poucos momentos ao longo das mais de duas horas de filme. A coadjuvante de destaque é Marion Cotillard, intérprete de Mal, esposa de Cobb e um bug do sistema – ela é boazinha, é depressiva, é perigosa, é acolhedora, simultaneamente consegue desestabilizar qualquer sonho. Acredito que a atriz francesa foi a escolha certa para essa personagem, haja vista que ela requer um força interpretativa muito pungente, a qual Cotillard já mostrou possuir.

É claro que não dá pra falar desse filme sem comentar sobre as escolhas de Christopher Nolan. O diretor soube como registrar com eficiência os momentos desse filme, nos mostrando sem exageros aquilo que é relevante exibir. Ele soube como expor o melhor dos atores, soube como escolher bem os efeitos especiais e a hora certa de inseri-los na trama, soube como filmar os ângulos, os detalhes, conseguiu nos mostrar uma fotografia elogiável. Outro diretor provavelmente teria deturpado o sentido do filme, enchendo-o de coisas bobas e sem sentido, mas Nolan fez de Inception mais um de seus bons filmes – vale ressaltar que cabem também a ele os elogios pela nova vida do personagem Batman, relançando em 2005 com o filme Batman Begins e tendo sua continuação lançada em 2008, sob o título The Dark Knight.

Indubitavelmente, A Origem é um filme que faz jus a toda a massa sólida de comentários positivos que tem recebido. Para mim, trata-se de uma boa obra cinematográfica, capaz de cativar pela sua qualidade e pelo modo como entretém. Não há como negar que a dinâmica do filme é fantástica, haja vista que ficamos nos divertindo ao longo de mais de duas horas sem nem ao mesmo perceber que tanto tempo se passou. Recomendo com certeza que o vejam, porque vale a pena.

1 opiniões:

susana disse...

Se houve filme que trouxe algo de novo ao cinema, foi sem dúvida " A origem".