6 de fev. de 2010

Violência Gratuita

Funny Games, 2008, 106 minutos. Suspense.


Esse filme é uma regravação do filme hômonimo, de 1997. Não acho que onze anos faça um filme velho demais a ponto de merecer uma atualizada, mas o fato em questão não é a idade do filme; provavelmente é a ausência de estórias novas que possam ser apresentadas, fazendo com que remakes sejam necessários para manter a cota de filmes e manter a indústria cinematográfica lucrando. O primeiro Funny Games é uma produção austríaca falada em alemão e conquistou a crítica, embora não tenha atingido o público alvo, fazendo com que o filme fosse exibido por aí como mostra artística.

O filme fala sobre uma família - pai, mãe, um filho e o cachorro - que vai passar uma temporada durante as férias afastada da vida urbana. Logo no primeiro dia que chegam a casa e estão arrumando as coisas para o tempo que ficarão lá, eles conhecem dois rapazes (os que aparecem no pôster) e a família se vê dominada pelas brincadeiras engraçadas dos dois, que de engraçadas não tem nada! O que se segue é pouco mais de uma hora e meia de tortura psicológica, que incomoda os espectadores e mais ainda os personagens da trama. Segundo li, Violência Gratuita é uma refilmagem quadro a quadro do original, tanto é que até os mesmos ângulos e mesmos gestos podem ser vistos no remake. O que muda na recriação em relação ao original é apenas o elenco.

A respeito deles, gostei da escolha. Naomi Watts transmite com sinceridade a perturbação mental que os dois jovens provocam no casal e cabe a ela duas das melhores cenas do filme, mesmo que uma delas seja modificada logo em seguida. Tim Roth, intérprete de George, marido de Ann, personagem de Naomi, praticamente desaparece em relação à interpretação da atriz. O ponto mais certo do filme, e esse meu elogio vai para a criação original, é o contraste entre os dois assassinos, sendo que os dois matam por prazer, embora percebamos que um domina mais o outro, mas os dois se divertem da mesma maneira e, inclusive, se perdem em divagações e discussões até nos momentos em que estão realizando a tortura psicológica nos personagens. Muito bem elaborada também a falsa preocupação que eles parecem ter pela família, já que evitam que o menino olhe quando obrigam a mãe dele a tirar a roupa, só porque eles querem constatar se ela tem ou não pneuzinhos.

Outra coisa que gostei bastante foi alguns ângulos de câmera e esse é outro ponto certo do filme. Às vezes, um único personagem fica focado, porém não é ele o principal da cena, [SPOILER] como quando Peter atira em Georgie, filho do casal, e a cena seguinte se mantém por cinco minutos seguidos na tentativa de Ann para se levantar do chão, já que está amarrada [FIM DO SPOILER]. É importante notar que, embora o filme faça uma alusão à violência barata, mostrando os jovens maníacos que falam coisas absurdas, assim como agem absurdamente e matam quaisquer pessoas pelo simples prazer de matar violentamente, o filme mesmo não mostra uma única cena explícita de morte. Ouvimos tiros, vemos os corpos largados, quase se fundindo ao cenário; deduzimos o que acontece, mas não vemos o sangue que a cena sugere que tenha havido nem a violência usada pelos dois. A única morte que vemos de fato acontecer, não é nem um pouco violenta, embora também não seja agadável! Outra coisa que gostei foi o tom asséptico da fotografia: tudo muito branco, muito claro, desde as roupas dos malucos até os móveis da casa do família. Não existe contraste de cores; ou é tudo muito branco, como as cenas na cozinha, ou é tudo na penumbra, como nas outras cenas.

Agora vem a única coisa que me desagradou totalmente no filme: [SPOLER] em um determinado momento, Ann consegue pegar a arma e matar Peter, um dos malucos. Paul pega o controle da TV e volta a cena para o momento antes de ela atirar no amigo dele e a impede de fazer o que ela já tinha feito [SPOILER]. A partir desse momento, eu achei quase impossível levar o filme a sério, já que a onda de irrealidade foi tão assustadora que eu simplesmente tardei a acreditar que todo o processo de caracterização da perturbação dramática dos personagens tenha valido a pena. A partir desse momento, achei que ficou super sem graça. Quando o filme terminou, eu ainda o achava sem graça, mesmo com o final que vai contra as expectativas do espectador (que provavelmente já sumiram) e se revela bem interessante. SIM! É um final contraditório, porém óbvio; o que ele contradiz, na verdade, é a mania de Hollywood nos fazer acreditar que tudo possa terminar bem.

Não sei ao certo o que dizer. Não sei se o recomendo ou não. Leiam acima e concluam por si mesmos, levand em consideração o que eu disse: o filme tem atuações boas, uma bela direção, filmagem e fotografia bem elaboradas e e grande parte coerente; há também, no entanto, uma única cena que parece pôr tudo isso a perder.

Luís
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15 opiniões:

Jean Douglas disse...

Assisti a este filme há um tempo, por me dizerem ser muito bom. E de fato me deparei com uma obra até interessante. Todos os pontos ressaltados na crítica como: A filmagem, as atuações, a fotografia, foram realmente válidos.

Do ponto em que "a tal cena" aparece em diante, realmente me levou a desistir de assistir. Mas creio que ela tenha sido elaborada, exatamente para criar uma expectativa. O diretor acabou brincando com o público, e foi uma brincadeira de muito mau gosto. Preferia vê-los sofrer até o fim com as brincadeiras engraçadas a ter que ter qualquer esperança de que tudo aquilo pudesse ter se revertido.

Também não sei dizer se recomendo ou não.

Abraço!!!

Ricardo Martins disse...

Olá, Luís!
Assisti este filme há pouco meses! Antes passando de canal em canal em 2008, descubro o filme original, e o assisto! Achei sombrio, meio angustiante.

Logo, aluguei esta versão! Sinceramente achei um dos filmes mais brutais que já vi! A cena que estraga o filme (a do Spoiler) é algo que nos indigna, tinha que ter acontecido aquilo!!!

E as torturas e a cena da Naomi Watts no barco (Brutal)! Sem falar a do garoto!
E nem preciso comentar não gostei nem um pouco do final do filme!

Mas em geral, as atuações foram ótimas! E interessante mesmo utilizarem os mesmos ângulos do original e senão me engana a mesma casa!

Abraço

Flávio Gonçalves disse...

Um filme poderoso, sem medos, crítico e actual. Muito bom mesmo.

Abraço

Roberto Simões disse...

Ainda só vi o original de 97, comprarei amanhã esse aqui.
"A tal cena" é das coisas mais brilhantes do filme, reforçando a relação meta-diegética das personagens com o espectador e enfatizando a artificialidade de qualquer representação (seja de violência ou não; artística, por exemplo).

5*

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Marcelo A. disse...

Também não assisti essa versão e a original vi há muito tempo atrás. Há filmes que me fazem mal e esse é um deles. Um amigo me falou que não gosta do título em Português. Já eu, o acho perfeito.

Também li algo, na época do lançamento do remake, sobre essa refilmagem quadro-a-quadro. O diretor é o mesmo, não é?

De qualquer modo, não tenho vontade de assistir essa "nova versão". Mesmo tendo a gostosa da Naomi Watts...

E a cena do controle? Putz! Nada a ver...

Abração!

Beto disse...

Adoro este filme, ao contrário de muitos conhecidos! Pertubador e forte. Bem bacana o blog, parabéns! Topa fazer umaa parceria de links ? www.umblogdecinema.blogspot.com
Abs!

Cristiano Contreiras disse...

Este é um filme que realmente...incomoda!

Mas, eu confesso ter gostado, principalmente pelas atuações e pela direção. E sim, prefiro o remake ao original e tenho dito. Acho mais estiloso, mais direto, mas bem cuidado.

Abraço!

Vinicius disse...

Um filme que exalta a violência e a barbarie. Sinceramente não vejo outro objetivo senão esse. Se o diretor tem prazer com sua obra. O diretor desse filme é um sádico então. Fiquei incomodado com o filme e acho que perdi meu tempo. A cena do controle remoto coroa o sadismo e a psicopatia retratada no longa.

diego disse...

O lance do remake não foi só pela ausência de historia, é que o publico americano não é fã de filmes legendados, então geralmente fazem um remake ou dublam o filme. Um bom exemplo de um remake é quarantine remake americano do filme argentino Rec.

Mas esse filme é sem dúvida um ótimo filme,

Carolina disse...

REC argentino??? meu deus, isso quebrou meu coração. REC é um filme ESPANHOL (e ótimo, na minha opiniã0).

essa cena polêmica do controle é muito legal. concordo com o Roberto F. A. Simões quando diz que enfatiza a artificialidade artistica, até porque este filme é claramente uma crítica aos clichês hollywoodianos.

joao claudio disse...

Sinceramente este filme e o retrato do anti entretenimento. fugindo á lógica que nem sempre queremos com requintes violentos e atiações psiquiatricas de dois lúnaticos de fato. nota zero para odiretor depois daquela docontrole remoto.

Anônimo disse...

Monótono, sem graça, sem enredo, pálido, pueril e completamente parvo.

Um filme como este seria o resultado perfeito mais provável se adolescentes idiotizados, como Beavis & Butthead, pegassem uma câmera e resolvessem fazer um longa.

Se a intenção do diretor foi a de manifestar isso, então merece aplausos apesar do tempo que me foi perdido.

Caso contrário, espero muito que a estas horas esteja trabalhando como balconista de alguma loja de sapatos ou manobrando carros na porta de algum restaurante de quinta categoria.

Thaís Milena. disse...

Bem, eu fiquei em alguns momentos sem entender.
A maioria dos filmes, sempre o bonzinho se salva.
Finalmente caiu a ficha! Michael Haneke brincou com os expectadores. A cena do controle remoto expressa isso.
Acredito que ele conseguiu de fato mostrar que os filmes incentivam a violência explícita onde, infelizmente os telespecadores se agradam.

Anônimo disse...

Filme extremamente pobre de enredo, de roteiro, de fotografia (nem comento!), filme totalmente monótono, aliás não senti essa angústia relatada por vários aqui. Assisti com a minha esposa, que odeia filmes do gênero, e olha que ela achou "tosco"! Quer se sentir angustiado? Assista, Triângulo do Medo, O Iluminado, até Ilha do Medo passa bonito desse Violência Gratuita. Foi como um leitor relatou em outro comentário: é como se dois adolescentes nerds e sem conteúdo quisessem fazer um filme de terror, acho que sairia algo desse naipe. A cena do controle remoto desafia qualquer intelecto, mesmo que não-humano.

E li um comentário de um pobre rapaz, Roberto Simões, dizendo que a cena do controle remoto reforça a relação meta-diegética do personagem com o espectador... Cara, primeiro estude cinema, antes de querer posar de diretor. Foi o típico comentário ignorante de quem quer mostrar que sabe algo, mas no fundo não sabe nada. Enfim, aquele velho ditado: As vezes é melhor ficar de boca fechada e acharem que você é burro, do que abrir e terem a certeza.


filmezinho fraco, estaria na minha lista de filmes não-recomendados! Mas como o ser humano gosta de desperdicar seu tempo, seiq ue muitos assistirão! Boa sorte, risos!

lucas disse...

a historia é boa,mas ficou muita coisa sem entender,por exmplo a tal cena do controle,e eu não entendi porque eles fasem isso,desde quando e muitas outras coisas.