Má Educação é um adorável presente aos cinéfilos. A união entre Almodóvar e Gael Garcia Bernal resultou num filme forte e impactante, com uma química perfeita entre ator e diretor, que conduz o espectador a um corredor de sentimentos novos. De maneira excepcional, Almodóvar transforma seu filme numa pequena pérola do cinema, com direito a romance, drama, sensualidade, crimes - e uma agressiva crítica à Igreja.
Ignácio é um jovem ator de teatro que, depois de vários anos, reencontra Enrique, um amigo com que, na infância, teve um relacionamento amoroso. Estudantes de um colégio católico, Ignácio sofreu abusos do padre Manolo, professor de literatura e diretor do colégio. O breve envolvimento entre Ignácio e Enrique fez com que Manolo expulsasse o segundo a fim de que o priemiro o esquecesse. Anos mais tarde, os três personagens se reencontram e isso trará consequências para os três.
Dentre os filmes de Almodóvar, este, por enquanto, é o melhor que já vi. Achei-o totalmente inspirado, com ótimas atuações e, de um modo geral, excepcionalmente brilhante. O roteiro soa meio confuso a princpío, pois não conseguimos identificar exatamente o que são as passagens mostradas: confundimos ficção com realidade, passado com presente. E esse é o grande acerto, pois, conforme a história é tecida, somos apresentados as vertentes do filme produzido dentro do filme e do relacionamento dos personagens, que se tornam maiores, mais profundos e, consequentemente, mais perigosos. As cenas em que Gael aparece travestido soam como flashbacks, mas, ao mesmo tempo, fazem o espectador saber que não são flashbacks. Destaque especial para o momento em que são mostrados os jovens Ignácio e Enrique, em cenas bastante delicadas, que mostram com suavidade o começo do relacionamento entre dois garotos de dez anos. O mais interessante é a contextualização: num cinema da pequena cidade, os dois assistem a um filme enquanto começam a se masturbar - um ao outro. Uma cena rápida, porém de forte impacto. A ideia de criar uma história dentro da outra faz com que o filme se fortaleça, que se torne mais interessante e, ao mesmo tempo, mais difícil de ser visto, porque o espectador precisa ir decifrando o que vê.
Como já devem ter percebido, adorei Gael no filme: como homem ou como mulher, ele exibe um charme que torna sua interpretação ainda mais lapidada. Seu parceiro de elenco, Fele Martínez, fica aquém, mas, mesmo assim, realiza um bom trabalho e, juntos, os dois provam que às vezes o sexo é um jogo de mentiras - e como eles mentem bem! Javier Cámara, visto anteriormente no interessante Fale com Ela (também de Almodóvar), tem uma pequena participação como a amiga de Zahara, a versão travestida de Ignácio. A aparição do ator é pequena e relevante somente para o trecho no qual se insere, nada mais. Luís Homar traz uma maduridade física que não há nos outros atores e, com isso, o filme se fecha com um elenco muito bom, de atores capazes e fluentes. A somar-se ao elenco, há a maravilhosa trilha sonora, com direito a tons instrumentais impactantes e totalmente coerentes ao filme e a músicas bastante conhecidas, como a belíssima Moon River, cantada pela primeira vez por Audrey Hepburn, no clássico Bonequinha de Luxo. Aqui há uma versão em espanhol, cantada pelo intérprete de Ignácio jovem, numa cena muito boa. Tal como nos outros filmes de Almodóvar, a fotografia prima pelas cores ardentes, que, diretamente ou indiretamente, nos remetem ao sexo e às vontades dos personagens.
Má Educação é um filme forte, com qualidade altíssima, que deve ser visto principalmente pelosfãs do diretor! Nele há um misto de sedução e mentira, amor e perigo; tudo isso transforma essa obra numa das melhores que vi recentemente e, provavelmente, numa das melhores que verei nos próximos anos. Se eu o recomendo? Totalmente! Os que ainda não viram, tem que correr para a locadora, pegá-lo e apreciá-lo, porque realmente vale a pena.
Luís
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Almodóvar é um gênio! Mesmo não tendo tanto calibre para avaliar o diretor, até porque não vi tantos filmes dele, essa é a minha opinião. Ele dirige com perfeição, de forma sutil todos os seus filmes e Má Educação não é diferente. Começo a achar que diretores latinos como Almodóvar e Cuaron tem aquele "algo a mais". Focando no filme, vamos lá.
O roteiro é excelente. A sexualidade, o tom religioso e o mau caratismo, todos esses aspectos são levados de forma densa presenteando o telespectador que vê com satisfação a 1: 40 de filme passar rapidamente. Sem usar hiperboles ou eufemismos me emocionei mesmo vendo o longa. A cena mais emocionante do filme todo sem dúvida é a do jovem Ignácio cantando Moon River, interpretado por Audrey Hepburn. É uma cena linda, chegaria a dizer perfeita em todos os sentidos que a palavra "perfeita" dá. Este trecho é de uma pureza incrível, aliada a alegria dos outros garotos brincando na água e a bela voz do jovem ator, sem citar o lado técnico que aliou uma fotografia belíssima com o por-do-sol. Acabei de abrir uma página no youtube pra procurar essa cena novamente.
Voltando ao roteiro, há de se notar que o filme não entrega tudo de mão beijada para o telespectador, ele dá algumas voltas e por algumas vezes confunde o telespectador, e no final acaba se abrindo revelando uma essência fantástica. Como dito acima e pelo Luís também, há temas provacantes no filme como a homossexualidade e a igreja, e o que poderia ser mais polêmico que isso? A resposta é simples: os dois juntos. Almodóvar não faz questão nenhuma de, depois de um tempo, redimir seus personagens. Eles são bastante humanos nesse ponto e personagens como o Padre Manolo é um ótimo exeplo disso. Seus pecados no passado voltam a acontecer.
Quanto a atuação, mais uma vez nos surpreendemos. Gael Garcia Bernal está incrível ali. Esse é o terceiro filme que vejo com ele, e a cada obra ele se prova um ator competente, independente se ele seja um revolucionário, um enganador ou um travesti. Não acho que ele tenha beleza, mas o charme do cara é indescritível. Esse charme também está presente no seu colega de cena Fele Martínez, e concordo que ele fica um pouco escondido ao lado da atuação do Bernal, mas mesmo assim ele convence como o cara que tem remorço pelo que aconteceu no passado. Não há como não notar a atuação do elenco infantil do filme, que por vezes parece ser melhor que a dos atores mais velhos. Nacho Pérez que interpreta Ignácio quando jovem, e que também estampa a caixa do DVD faz uma atuação monstra levando em conta sua idade; suas expressões são fantásticas. Os cenários escolhidos para o filme (e para o filme dentro do filme) também são bem bonitos principalemte quando se junta com uma iluminação e um contexto certos, tornando o resultado melhor ainda.
Depois dessa exaltação nem preciso dizer que recomendo demais o filme, principalmente pra quem gosta de fugir de vez em quando do circuito norte americano e ver um filme falado em uma lingua forte como o espanhol. Aposto que quem assistir a obra de Almodóvar não irá se arrepender em nenhum momento.
Renan
4 opiniões:
Já percebi que deliraram com o filme! ;D É, de facto, e como o Luis diz, "um adorável presente aos cinéfilos". Um filme esteticamente aprumado, apurado e com grandes interpretações. Almodóvar um tanto ou quanto diferente daquilo a que nos habituou, mas na minha opinião naquele que é o seu melhor filme.
5/5
Cumps.
Roberto Simões
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Má Educação é o filme menos linear e mais negro de Almodóvar, mais uma vez uma homenagem maior ao Cinema que, de certa forma, faz lembrar Mulholland Drive (2001), de David Lynch. É verdade que são incomparáveis até certo ponto, mas a forma como desconstroem a mente do espectador, numa história passível de vários olhares, tornam-nos semelhantes até na visão corrosiva do Mundo. Pedro Almodóvar cria uma obra difícil de classificar: ora imaculada, ora corrompida. Deixa de certa forma um sabor amargo.
Devo ser o único que detesta esse filme. Acho que, dessa vez, o Almodóvar pesou a mão e foi frio demais. Faltou emoção ali.
Eu fico tão feliz quando vejo declarações apaixonadas como essas pelo Almodóvar, porque eu simplesmente ADORO o cara! Vi Má Educação na época do lançamento e saí da sala com sensação parecida com a do Renan. Essa semana, aliás, pude revê-lo, pois o Telecine Cult o exibiu. Não resta dúvida: uma obra-prima de um dos maiores realizadores do cinema - de todos os tempos.
=)
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