Crazy Heart. EUA, 2009, 111 minutos. Drama. Dirigido por Scott Cooper.
Vencedor do Oscar de Melhor Ator. Indicado em Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Canção Original.
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Crazy Heart é a obra que concedeu, em 2010, a estatueta dourada de Melhor Ator a Jeff Bridges, cujo histórico de indicações incluía quatro indicações anteriores, tanto como Lead Actor quanto como Supporting Actor. Sendo indicado também em outras categorias, como Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Canção Original, o filme parecia aqueles “pequenos grandes filmes” que, embora não caiam imediatamente no gosto popular, têm uma vertente artística muito apurada.
Eu penso que seja exatamente esse o caso de Coração Louco. Há nele uma simplicidade dramática que não o torna pesado, mas também não atenua as dificuldades e o desequilíbrio apresentados. Não posso deixar de dizer que o roteiro, de certa forma, me remete ao igualmente “pequeno grande filme” O Lutador. Bad Blake é um cantor de música country frustrado porque sua carreira está em declínio e tudo o que ele faz é ser comparado a Tommy Sweet, que fora seu “aprendiz” e que hoje faz muito sucesso. Ao conceder uma entrevista a uma repórter, acaba se envolvendo com ela emocionalmente e fica dividido entre as várias opções que têm em relação a como lidar com a sua vida.
Antes de começar a falar efetivamente sobre o filme, gostaria apenas de sustentar um pouco mais a minha opinião de que esses dois filmes se parecem. Ao analisarmos as obras, perceberemos inúmeras semelhanças, a começar pelo perfil psicológico dos personagens. Tanto Bad Blake, de Coração Louco, quanto Randy, de O Lutador, são pessoas fracassadas na vida e acometidas por algum tipo de vício e problemas familiares. Os dois não se relacionam bem com os seus filhos e tentam compensar isso de outro modo – os dois, por exemplo, adquirem extrema simpatia pelos filhos das mulheres de quem gostam, a fim de compensar a ausência de afeto que seus filhos próprios lhes deram. Os dois envolvem-se com mulheres que ficam em dúvida em relação ao quanto é adequado se envolverem numa relação mais séria. E, entre idas e vindas, os dois acabam por perdê-las. E talvez os momentos finais dos filmes dos quais são protagonistas confirmem ainda mais a semelhança entre eles: ambos escolhem viver intensamente. De modos diferentes, isso fica evidente, já que Bad Blake decide se desintoxicar e ficar sóbrio e Randy opta por desrespeitar as recomendações do seu médico, o que poderia levá-lo à morte – ainda assim, os dois optam pela mesma coisa: fazer o que querem, independentemente das conseqüências disso. Não há realmente nenhum motivo que intensifique o que Coração Louco é por causa da comparação que fiz; apenas quis fazê-la, porque para mim há muito em comum entre essas obras.
A linearidade do roteiro me agrada e me desagrada. Ao mesmo tempo em que ela favorece, tornando a obra mais fácil de ser vista, já que tudo acontece numa cadeia crescente de eventos, ela também o torna um pouco previsível, nos permitindo saber antecipadamente algumas coisas que acontecerão. Cito, por exemplo, a cena em que Jean confia a Blake o seu filho e ele se perde da criança – o roteiro, pela sua cadência, dá a entender que aquele seria o momento dramático e que o dano seria evidenciado em breve. A história de Bad Blake não é muito nova, aposto que todos já vimos personagens como ele no cinema e situações semelhantes acontecendo – para provar isso, até usei um parágrafo para compará-lo a outro personagem de um filme do ano anterior. O que torna Bad Blake um bom personagem é o carisma que ele nos causa – sua personalidade forte o impulsiona a agir conforme quer e isso também é causado pela bebida, haja vista que seu café da manhã é uma dose de uísque McClures. O contraponto de sua vida aparentemente arruinada é Jean Craddock, a repórter por quem Blade se apaixona e por quem decide mudar sua vida.
Talvez o melhor do filme sejam as atuações, eu realmente gostei de todas, inclusive Colin Farrell, que nem sequer foi creditado pelo seu personagem, Tommy Sweet. É claro que o destaque é o casal: Jeff Bridges e Maggie Gyllhenhaal estão muito bem em cena e mostram que são verdadeiramente bons atores. A princípio, não achei que os dois combinassem em cena, mas não demorou muito para que eu constatasse que eu estava errado e que eles têm química juntos. Não me surpreende que ambos tenham conseguido indicações ao Oscar, afinal, ambos estão mesmo bem. Maggie Gyllenhaal, por quem eu tinha simpatia, se mostrou talentosa e provou que sua capacidade dramática é notável. Dentre as indicadas à categoria, excluindo-se a vencedora, Maggie é a minha preferida. Quanto aos atores, creio que o prêmio concedido a Bridges tenha sido mesmo válido, pois o ator realmente concebe uma interpretação elogiável. Penso que apenas Colin Firth competia verdadeiramente com Jeff Bridges, porque Morgan Freeman atua apenas corretamente e George Clooney se mostra correto também. E o histórico de indicações de Bridges auxiliou-o a ficar na frente. Não posso também deixar de elogiar Scott Cooper pelo filme que dirigiu. Poucos diretores debutantes conseguem criar algo tão condensado em sua primeira vez.
Coração Louco é ainda ilustrado pela canção Weary Kind – a qual mostra um pouco mais do quão bom o filme é. Não posso me esquecer de comentar sobre a trilha sonora, afinal ela embasa o filme e o intensifica. Decerto, Coração Louco pode parecer um filme chato para algumas pessoas, mas eu o recomendo e afirmo com bastante segurança: é um filme denso, com as doses certas de drama, de alegria, de tudo. Bastante equilibrado, e totalmente válido.
1 opiniões:
Muito bom seu texto, eu acho que este filme tem seus pontos positivos, mas ainda coloco em questao o Oscar dado a Bridges. Eu prefiro a atuação e composição de Colin Firth no Direito de Amar.
abs
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