21 de dez. de 2010

Um Copo de Cólera

Brasil, 1999, 70 minutos. Drama.
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Não me lembro exatamente o que me levou a querer ver esse filme, mas desde que decidi vê-lo, conferi-lo tornou-se um martírio. Curiosamente, nenhuma locadora dessa cidade tem esse filme disponível no catálogo, o que me obrigou a pedir a um ex-professor - a quem agradeço mais uma vez - a me emprestá-lo. A desculpa que há por aqui é de que "é uma obra áudio-visual muito antiga" (o filme é de onze anos ou de cento e onze anos atrás?), mas, por fim, pude assistir a essa produção pra lá de estranha.

Nada no filme fica exatamente claro. O início mostra um casal que, pelo monólogo dele, se conheceu antes daquele momento, provavelmente tendo tido algum relacionamento no passado. Usando a tática de ignorá-la, mostrando-se indiferente a ela, ele rapidamente consegue o que quer: levá-la para a cama. Já no outro dia, durante o café-da-manhã, ele descobre que as saúbas destruíram parte da plantação e fica furioso, batendo de frente com ela, que começa a ironizar a sua raiva. Entre eles, surge uma forte briga, na qual os dois proferem xingamentos um ao outro.

Como eu disse: nada é objetivo o suficiente para que fique claro desde o primeiro momento. Nem sequer sabemos o porquê de a jornalista querer entrevistá-lo. O encontro entre eles parte de um motivo desconhecido, que não é mencionado durante o filme. A consumação do ato sexual parte, pelo menos ao que me pareceu, do simples desejo que ambos nutrem um pelo outro, mas mesmo isso não justifica nenhuma das coisas pelas quais eles passam. Muitos consideram as cenas desse filme bastante densas, muito picantes. O erotismo é mesmo bastante explorado no início do filme, tanto é que surgiu até o boato de que haviam feito sexo durante as cenas - o que acho improvável, afinal eles são bem profissionais e nenhuma cena requer explicitação, como muitos gostam de sugerir. Pouco depois do primeiro ato - que consiste basicamente na relação sexual - vem o que deveria ser o mais intenso dos atos: a discussão. No entanto, esse momento deixa a desejar e infelizmente é praticamente 3/4 do filme. Assim, essa obra deixa muito a desejar.

O grande defeito é a desconexão em relação aos diálogos dos personagens. Parece que eles não respondem às perguntas que um faz ao outro, já que não conectivo entre pergunta e resposta. Como se isso não bastasse, há ainda muita superficialidade na maeira como eles interagem, há excesso de expressões rígidas - num momento, por exemplo, depois que ri, ela mantém o rosto congelado na expressão de sorriso debochado de 15 segundos atrás. Há um tom teatral demais nos diálogos, que certamente estão cheios de referências a elementos literários que passam despercebidos e soam pedantes. Eu reconheci algumas alusões, mas não pude identificá-las efetivamente. E isso somente piora a situação, pois o espectador não somente não capta a essência da discussão, como ainda se sente imbecilizado. Alexandre Borges e Júlia Lemmertz apenas se repetem, interpretando a mesma cena por vários minutos sem parar, embasados apenas em uma ou outra expressão. As falas do texto são muito teatrais, muito rebuscadas, de difícil compreensão. E é muito exagerada a reação dele desde o princípio... não sei exatamente o que levou os atores a participar dessa produção, mas, decerto, não foram felizes na escolha.

Definitivamente, não recomendo esse filme. Ainda que ele te faça ficar curioso a respeito de como o embate entre os personagens será concluído, de resto nada presta. É difícil compreendê-los bem como a partir dos 18 minutos tudo soa superficial e exagerado. A química dos atores se encontra apenas na cena de sexo - talvez por já serem um casal. Alexandre até convence de que está mesmo irritado, mas, honestamente, não sou ator e consigo conceber interpretação semelhante. É por causa de filmes assim que muitos acabam torcendo o nariz para cinema nacional...

1 opiniões:

Rafael disse...

Ah, sim.
Filme com referências a elementos que não são compartilhados pelos que lhe assistem é tipo piada interna, né?
Por isso que eu não vejo nada do Woody Allen. O cara tem tipo uma seita de adoradores, que cultuam seus filmes e fazem tratados a respeito deles e de sua genialidade, dando a impressão de que você precisa de um tipo de pré requisito pra assistir aos filmes do cara.

Mas isso não tem nada a ver com o cinema nacional...

Não entendo nada de cinema, mas o que eu consigo perceber é que, pelo menos com a 'parte global' do cinema nacional, rola uma necessidade incrível de mostrar a formação culturalmente superior dos atores, seu conhecimento dos consagrados e essas coisas todas, você vê muito isso nas entrevistas do Jô Soares (haha), daí rola essas coisinhas forçadas que preferem expor as concepções que foram seguidas na criação à agradar o povo brasileiro sub letrado com diálogos rasos e com a inserção de anões na trama (quando trama voltada à comédia, obviamente).