27 de jan. de 2011

Curtas-metragens: Homossexualidade

Recentemente, descobri o prazer de assistir a filmes que, num pequeno período de tempo, registram todas as informações que querem passar, ou seja – os curtas-metragens. Vi poucos, alguns por sugestões de colegas no Filmow, outros porque encontrem elogios na Internet, e alguns por outros motivos, como simples curiosidade. Todos os filmes abordam diretamente ou indiretamente a homossexualidade – e evidentemente não foi uma coincidência a junção desses títulos nesse post. Decidi listá-los, então, e apresentar alguns títulos a vocês. Reafirmo: todos eles abordam direta ou indiretamente a homossexualidade. Então, abaixo segue a lista contendo cinco filmes a que assisti recentemente.

Amor Cru – Argentina, 14 minutos. Qualidade: boa.
Katja Alemán nos conta a história de dois garotos nos últimos dias de escola. Enquanto um jovem enxerga a amizade que ambos têm como “apenas amizade”, o outro espera algo mais, tendo um carinho especial pelo amigo. Parece que em pouco tempo conseguimos entrar no pensamento do rapaz, conhecendo as suas vontades e anseios em relação ao outro. A narrativa começa mediana e ganha força nos momentos finais, fechando com um flashback estarrecedor, que nos faz ver uma amizade na qual afinidade e intimidade estão intimamente ligadas.

Bramadero – México, 22 minutos. Qualidade: insatisfatória.
Trata-se da obra mais estranha dos filmes que selecionei para esse post, porque parece haver nele uma intenção muito forte de criar um contexto simbólico, mas isso tudo acaba meio perdido nas cenas explícitas de sexo que são apenas gratuitas. A história dos dois homens que se encontram – não se sabe se intencionalmente – numa construção qualquer e então realizam os seus desejos sexuais me soou interessante a princípio, mas não demorou dez minutos para que eu percebesse que o filme pendia mais para o pornográfico vazio do que para aquilo que pretendia. E o problema, para mim, não está nas cenas de sexo explícito; o problema reside na sua superficialidade.

Café com Leite – Brasil, 20 minutos. Qualidade: muito boa.
O romance entre Marcos e Danilo é abalado quando Danilo torna-se responsável pelo irmão menor depois de que seus pais morrem. De modo muito resumido, esse é o tema do filme e devo dizer que Daniel Ribeiro, o diretor, soube como registrá-lo muito bem, passando-o para o espectador com extrema veracidade. Os atores também estão em perfeita sintonia, o que faz com que nada nessa produção pareça vulgar ou incômoda. Talvez o seu único problema seja o final aberto demais, que não nos responde a uma pergunta básica: Marcos e Danilo se adaptaram, afinal, à nova situação? Eu sei que é algo bastante relevante, mas mesmo assim esse “defeitinho” não interfere na qualidade do curta-metragem, de um modo geral.

Lucky Blue – Suécia, 30 minutos. Qualidade: média.
Esse é um filme que nos cativa mais pelo elenco, direção, fotografia e trilha sonora do que pelo roteiro, que nos conta a história de Olle e Kevin, dois garotos que descobrem que têm afinidade depois que Kevin começa a ajudar Olle a organizar o pequeno festival de karaokê da cidadezinha onde moram. A direção é despretensiosa, o que ajuda muito – então, esse enredo é tratado com simplicidade e sutileza, tornando-se agradável para quem o vê. Mas ele não dura muito na memória, esquecemo-nos dele rapidamente.

Quero Seu Amor – EUA, 14 minutos. Qualidade: ruim.
Quero mais uma ver repetir: cenas de sexo explícito não me incomodam. Então, o que me fez avaliar esse filme como “ruim” não foi o fato de que vemos relações sexuais em 75% dessa obra. O enredo aborda uma noite em que dois amigos – melhores amigos, pelo que entendi – bebem um pouco a mais e acabam transando. De certo modo, é bastante bonito o que vemos em cena, porque Travis Matthew conseguiu captar tudo com extrema veracidade, diferenciando o seu curta-metragem de um filme pornô, o que facilmente poderia ter acontecido nas mãos de um diretor com menos sensibilidade artística e estética. Mas eu me pergunto: a intenção era só mostrar sexo? Assistir a esse curta-metragem é como parar diante de uma criança que, sentada na sarjeta, chupa um pirulito totalmente distraída. Ou seja, não há nada desautomatizador aqui. É só sexo, é um registro do cotidiano, uma seqüência de pequenos eventos que não nos fazem pensar em nada além daquilo que se vê. Sem referências ao histórico dos personagens, sem alusões ao seu futuro, os catorze minutos de filme tornam-se apenas aqueles catorze minutos de filme – sem nada que o precede nem nada que o sucede.

Em breve, cada um desses filmes curtas-metragens terão a sua resenha individual. E assim que eu assistir a outros, eu faço uma pequena lista deles e ponho de novo aqui, dentro de um tema específico ou dispersos mesmo.

4 opiniões:

Jean Douglas disse...

Dos filmes listados só tive a oportunidade de assistir "Café com Leite", que considero um curta muito interessante! Com diálogos bem construídos e uma trama que nos faz nos identificarmos com situações diversas da vida.

E aproveitando o embalo, quero te indicar Luís, um curta americano chamado "Thirteen Or So Minutes". Tem a mesma temática e achei bem interessante por sua sutileza e maturidade. Bom... espero que você o assista e quem sabe dar sua opinião posteriormente.

Fico por aqui, um forte abraço e até mais!

Cristiano Contreiras disse...

Acho "Lucky Blue" sensível, belo. Mas, de fato, "Café com leite" é mais real e impossível não se identificar, de alguma forma, com os personagens. Além disso, é material brasileiro que atinge o público queer.

Os outros vou conferir, ainda!

Parabéns pelo post!

Marcelo A. disse...

Olá, man!

Desses listados acima, só conferi "Café Com Leite"- excelente, por sinal - e "Quero Seu Amor". Do último não gostei. Não vi nada que me atraísse na história - aliás, o que falta ali é história. O mote, que tinha tudo para resultar num bom roteiro, é deixado de lado, e o que vemos, durante quase quinze minutos, são dois rapazes se "pegando" intensamente.

Sugiro que confira, também do Daniel Ribeiro, o sensível e bem conduzido "Não Quero Voltar Sozinho", uma das minhas grandes supresas no gênero.

Beijo!

Matheus Pannebecker disse...

Recomendo MUITO que você assista "Eu Não Quero Voltar Sozinho", que é de uma sinceridade IMPRESSIONANTE!