18 de jan. de 2011

Marcas da Violência

A History of Violence. EUA, 2005, 95 minutos. Drama.
Viggo Mortensen e Maria Bello em perfeita sintonia, num filme que mantém um clima de suspense interessante e ainda nos faz desconfiar até mesmo de quem conhecemos há muito tempo.

Como a cerimônia escolhida para ser debatida no mês de junho do ano passado no blog Um Oscar por Mês foi a 78ª edição, ou seja, a cerimônia de 2006, eu assisti Marcas da Violência para poder comparar a atuação de William Hurt com a dos outros atores também indicados naquela categoria. Visando basicamente vê-lo em cena, me surpreendi com um enredo bastante interessante, que capta a atenção do espectador e que mostra sem grandes devaneios o quão perigoso pode ser estar ao lado de alguém cujo passado é desconhecido.

Tom Stall é o dono de uma cafeteria no centro da cidade e um dia, ao tentar proteger os clientes de sua loja, acaba assassinando dois homens que invadiram o seu estabelecimento com más intenções. A partir de então, é aclamado como herói local e, para sua surpresa, se torna alvo de um sujeito estranho, que começa a rodear Tom e sua família, acusando-o de ser outra pessoa, alguém de passado sujo. Então, a simples desconfiança toma proporções gritantes quando a perseguição à família se torna mais intensa e fica difícil saber em quem se deve acreditar.

Confesso que o primeiro fator que me deixou feliz foi a escolha dos atores. Viggo Mortensen e Maria Bello, logo no começo, já parecem estar em harmonia, e isso causou a minha rápida simpatia. Não creio que sejam dois grandes atores, mas admito que o entrosamento deles em cena é realmente muito bom e isso perdura do início ao fim do filme. O roteiro prima pela dinâmica, então somos surpreendidos rapidamente com o mote que dará sentido a toda a trama. O mais interessante na construção da história é a ampla divergência inicial; são sugeridas, mesmo que implicitamente, três possibilidades: Tom Stall está sendo confundido, Tom Stall é um cidadão sendo apoiado pelo sistema de proteção à testemunha (e isso implica no fato de que ele deve ter presenciado ou mesmo participado de algum crime) ou mesmo que Tom Stall é Joey, o sujeito que Carl Fogarty procura. Todos essas possibilidades fazem com que a família toda esteja insegura, afinal a qualquer momento uma revelação - ou mesmo uma ação decorrente dessa revelação - poderia afetar para sempre todos os membros envolvidos na trama.

[Parágrafo com bastante spoilers] O que mais me interessou no filme é a dualidade dos personagens. Todos têm dois lados, o bom e o ruim. Tomemos como exemplo o próprio Tom Stall, que é também Joey - o sujeito por quem Fogarty procura. Podemos ver nele os dois lados bastante explícitos: enquanto Tom, ele é um homem honesto, de fala calma, voz macia e totalmente atensioso à família; como Joey, ele é agressivo e ágil e absurdamente impiedoso. O mesmo se aplica ao seu filho, Jack, que no começo busca resoluções através de diálogos, mas depois se torna agressivo e questiona com selavgeria não apenas a função enquanto membro familiar, mas também investe pesadamente contra aqueles que lhe desagradam. Talvez o melhor momento para mostrar o quanto os personagens são movidos pelos seus instintos - e aí fica evidente a dualidade que os rege - seja a cena em que Tom e Edie fazem sexo. No primeiro momento em que isso ocorre, a relação deles é consumida totalmente pela ternura e pela paixão, percebemos isso até mesmo pelo modo como ela se veste (adolescente, provavelmente representando inexperiência); já no segundo momento, há entre eles sexo agressivo e rude, sem toques de gentileza, movidos pelo tesão apenas, caracterizando o seu sexo como animalesco. Essa cena, talvez, seja a melhor do filme - decerto é aquela da qual mais gosto.

Marcas da Violência é um filme cujo título ficaria bem melhor se traduzido literalmente: um histórico de violência. Isso talvez se adeque melhor a tudo que o filme tem a mostrar. O que me deixou realmente surpreso foi a atuação de Maria Bello. Como Edie, esposa de Tom, ela se mostra muito eficiente - não foi à toa que o Golden Globe a nomeou como Melhor Atriz Dramática em Papel Principal. Aliás, outra coisa que me chamou a atenção foi a atuação de William Hurt - como a Academia pôde indicá-lo por uma atuação tão simplista e comum como aquela? Ao lado dos outros atores, ele se mostra totalmente apagado. A sua participação na história de vida violenta de Joey é fundamental, mas até a simples imagem de Joey é mais impressionante que a sua.

Marcas da Violência é um filme que merece ser visto. Muitos podem achá-lo simples demais, talvez até um pouco exagerado, mas eu não vejo nada de absurdo nele. Não duvido nada de que haja muitas pessoas que convivem com Joyes e Tom Stalls e que desconhecem esse fato e que, por conta disso, acabam dormindo com o inimigo achei que o momento fosse bom para uma alusão infame a outro filme. Não hesitaria em conferi-lo mais uma vez, porque ele realmente me entreteve com a sua história e é uma obra que passa despercebida, mas que deveria ser recomendada pelas pessoas que trabalham em locadoras quando os clientes pedem por bons filmes.

4 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Esse filme era bem recomendado nas locadoras daqui, rs

Eu acho que as atuações de Bello e também de Mortensen são densas, intensas, me surpreendeu bastante também.

Parabéns pelo texto que descreve bem o princípio e essência da obra!

abraço

Hugo disse...

Ótimo filme, Cronenberg acerta em cheio no suspense e cria um cena de sexo selvagem na escada entre Mortensen e Mario Bello.

Indiquei um selo para você no meu blog.

Abraço

Matheus Pannebecker disse...

Gosto desse filme, mas ainda estou para encontrar uma obra do David Coronenberg que me conquiste por completo...

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Premiei teu blog com o "Selo de Qualidade".

Ó o link com a postagem: http://cinebuli.blogspot.com/2011/01/selo-de-qualidade.html