11 de jan. de 2011

A Outra História Americana

American History X. EUA, 1998, 121 minutos. Drama.
A assombrosa dose de realidade é percebida nos diálogos firmes, nos argumentos aparentemente incontentáveis e o filme nos mostra que a violência funciona em retroalimentação: sempre gerando mais violência.

Havia algum tempo que gostaria de ver esse filme. Quando o pessoal do Um Oscar Por Mês se prontificou a comentou o Oscar de 1999, eu rapidamente me propus a vê-lo e resenhá-lo, de modo que seria útil e ao mesmo tempo saciaria a minha vontade de ver essa obra, cujo tema é realmente bastante delicado. O filme gira em torno de Derek, um neonazista que lidera uma gangue local e que propõem atitudes violentas contra todos que não façam parte das pessoas "limpas", ou seja, hispânicos, negros, orientais, etc., são tratados como pestes por sua turma. Depois de ser preso e descobrir o verdadeiro significado dos seus atos dentro da prisão, ele retorna disposto a ser diferente do que era. Porém descobre que o seu irmão está seguindo o mesmo caminho dele, tornando-se perdido em conceitos errôneos.

O grande trunfo do filme é fazer com que o espectador não tome partidos. Para isso, o diretor recorreu a um tom documental, que pode ser visto até mesmo nos diálogos. Ainda que o orgulho neonazista de Derek seja um estilo de vida, não é dessa maneira que o filme propõe o desenvolver da história. O espectador não fica a favor ou contra Derek, porque em suas palavras há verdades e em suas atitudes há exageros. Assim, ele trilha dois extremos, sem, porém, encontrar equilíbrio entre eles. Quando citei o caráter documental, me refiria a vários elementos, como, por exemplo, os intensos diálogos entre Derek e outro personagem, com destaque a um excelente debate durante um almoço, quando o personagem depõe falando a respeito de como a sociedade fica perturbada quando há fluxo de pessoas, que vêm em busca de algo melhor e sempre interferem na qualidade. Os monólogos dele são dotados de verdades duras e cortantes, que servem para determinar as atitudes dele e também para dar a chance de Edward Norton mostrar o quanto aquela interpretação era difícil.

Acredito que o roteiro do filme seja bem construído em vários aspectos, com exceção da transformação do irmão de Derek. O garoto tinha uma convicção, acreditava mesmo que aquele estilo de vida proporcionaria um futuro melhor e estava envolvido densamente com as pessoas que partilham das mesmas perspectivas. Diante das narrativas do irmão a respeito do que aconteceu na prisão, o garoto simplesmente opta por seguir com o irmão, sem qualquer conflito psicológico, sem qualquer confusão a respeito daquilo que ele realmente gosta - e fica claro durante o filme que ele gosta tanto do irmão como de chutar negros. A direção de Tony Kaye é bastante correta, primando por aquilo que é o essencial numa narrativa complexa como essa: informações e diálogos. O diretor soube como captar não somente o posicionamento do personagem como também a posição dos atores, as suas expressões mais e menos carregadas, as suas gesticulações. Edward Norton mostrou que é um grande ator - sua interpretação é irrepreensível e eu acho que ele deveria ousar tanto quanto ousou nesse filme. Não me restam dúvidas de que sua indicação foi merecida.

Considerando o filme como um todo, devo recomendá-lo. É uma obra consistente acerca de um tema dificílimo e facilmente poderia cair em algo caricato, ofensivo e desnecessário. O filme, porém, passa longe disso e se mostra totalmente coerente com a sua proposta de mostrar estilos de vidas, transformações e ajustamentos com a sociedade. Cada diálogo é um novo impacto, cada cena é um choque: certamente é um filme que cumpre o seu objetivo de maneira bastante válida!

3 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Eu acho esse filme perfeito. Tanto no roteiro que mostra questões de preconceito, racismo, intolerância, influências, marginalidade, etc

como nas atuações - Edward Norton, sem dúvida, impressiona com sua atuação, é lamentável ele não ter ganho o Oscar naquele ano. É um papel difícil e o ator aqui concebe uma caracterização assombrosa...e a transformação do personagem é interessante de se ver, dolorosa também.

abraço

Nelson L. Rodrigues disse...

A blogosfera nos reserva agradáveis surpresas. Conhecemos pessoas através de seus textos, entramos em contato para trocar ideias sobre interesses em comum, e um vínculo intelectual nasce.

Dessa observação sobe troca de conhecimento temático entre blogs, o FILOCINÉTICA e o CINEBULIÇÃO, nos unimos para criar um reconhecimento aos críticos e divulgadores da cultura cinematográfica. Nossa proposta, é premiar com o SELO INGMAR BERGMAN, bimestralmente, três blogs selecionados, que em nossa opinião e na opinião de nossos convidados para essa análise, trazem uma significativa contribuição para a crítica, reflexão ou divulgação da Sétima Arte.

Hugo disse...

É um grande filme, com magnífica atuação de Norton e uma história por trás da tela que daria outro filme.

Já citei isso numa resenha deste filme no meu blog.

Houve uma terrível briga entre o diretor Tony Kaye e os produtores que queriam montar o filme e cortar diversas cenas. A briga acabou na justiça e Tony Kaye conseguiu que o filme fosse montado a sua maneira, porém acabou no ostracismo em Hollywood. Apenas em 2009 ele conseguiu lançar um novo filme.

Abraço